quarta-feira, 28 de agosto de 2024

POEIRA, BARULHO, OCUPAÇÃO DE ESPAÇOS, NEGAÇÃO AO DIREITO DE OUVIR E DE VIVER

 

Espera-se agora, na corrida eleitoral, maior combate ao  verdadeiro “inferno” em que transformaram  Itabira; Justiça tenta coibir abusos, mas ainda  está longe dos objetivos




Itabira é a cidade do barulho.  Da poeira. Dos congestionamentos. Do abuso e preconceito. Já foi do ouro. Em breve deixará de ser do ferro. Eternamente apenas Drummond honra pra sempre seu destino. Quisera que o poeta, na sua quase solidão cultural, pudesse carregar o nosso sustento  econômico.

 

O tema de hoje não para por aí. Entramos no período teatral, digo, eleitoral. Hora de captar votos, momentos dos tapinhas nas costas, oportunidade  de vislumbrar quem pode salvar Itabira. Agora, sim, não aos  marqueteiros oportunistas, amantes de Maquiavel, aqueles que não aprenderam como chegar ao progresso, mas, sim, como mentir, enganar e trapacear.

 

Temos conhecimento pela imprensa que a Promotoria Pública de Itabira já tomou suas providências referentes aos espaços públicos. Proibidas bandeiras aqui e ali. Certo. Palmas para o bom senso! O itabirano poderá transitar mais à vontade, ou fazer suas caminhadas nas avenidas João Pinheiro e Mauro Ribeiro, as mais ocupadas por pedestres na terra drummondiana. Falta, no entanto, dar mais atenção a outros itens e detalhes, prometo ajudar, se é que me leem.

 

 Os autores não são apenas as motos  turbinadas, nem caminhões desregulados, nem  sons-volante, nem os amantes dos alaridos. As madrugadas itabiranas deixaram de ser noites tranquilas, como disse Drummond em Confidência do Itabirano: “... brancas, sem mulheres e sem horizontes”. Tornaram-se  algo que perturba muito mais que não amar e nem trabalhar.

 

Doces inimigas não só da poluição do ar e do som,  cito as Três Marias,  residentes na Avenida João Pinheiro (uma de longe, sentindo). Há anos elas brigam na Justiça, sem resultado positivo, contra dezenas de poluições que perturbam o itabirano. Quem conhece a fábula do elefante e da formiga tem noção da bandeira que elas erguem destemidamente.

 

Assíduas frequentadoras do fórum para audiências em defesa de conhecidos e desconhecidos ,  ninguém aparece sequer para bater palmas. A julgar pela coragem, cidadania, vontade de contribuir com o bom senso, um eventual turista que aparecesse por aqui anotaria em seu caderno: “Jamais vi três  pingos d’água apagarem o fogo da floresta como se fossem beija-flores!”

 

A oportunidade eleitoral quem sabe fará  bem a esta altura do tempo. Bom seria que a lei fosse aplicada com mais rigor e se estendesse para até quando Itabira exista. Assim, haveria mais paz na terra preconizada por Tutu Caramujo, como alerta,  do temível exemplo de  “derrota incomparável”.

 

Esperamos que entenda a comunidade ao juntar  às Três Marias num coro de patriotismo, o que fazemos com coragem e orgulho. E falarei mais deste tema em breve, quando pretendo lançar meu terceiro livro, “Direito de Ouvir”. 

 

Só para encerrar, não deixaremos os políticos honestos sobrarem, eles poderão, também atuar, na defesa do bem, longe de promessas fajutas e da queima de dinheiro do povo à revelia.

Que a Justiça dos homens e de Deus nos proteja.

 

José Sana

Imagens:  Notícia Seca

sábado, 17 de agosto de 2024

“VOTE NOS TRÊS: WILSON, JODI E CAIO”


Brincadeira de adolescente quase muda o cenário de disputas eleitorais há 62 anos



Ano de 1962. Carrego, além centenas de queijos para a venda em Itabira, 17 anos  de idade nas costas. E , sem carteira, dirijo um jipe,. Subo a quase intransitável Rua Santana, íngreme e esburacada. É essa a minha tarefa quinzenal, enquanto  penso  no que fazer da vida. Nesse tempo quase todo mundo trabalha e não estuda. Sigo a regra.

 

Politiqueiro, sim. Já dizem que enxergo longe, certo ou errado, fazer o quê? A monotonia da vida faz mal à saúde, dizem médicos e entendidos.  Gosto de ver as disputas. Tudo na vida é conflito, controvérsia, do futebol ao aprendizado escolar. Quem é o melhor de bola? Quem é o melhor da classe? Quem namora a moça mais bonita?

 

Além de negociar queijos, resolvia problemas, ora no Banco Comércio e Indústria, ora na Tipografia Novaes, ora em Magalhães e Companhia e no comércio  animado de Zé Rosa, que se torna meu amigo. Se duvidarem, perguntem à Rosário Rosa, lenda vida do ensino itabirano.

 

A cabeça voltada para as eleições, entroso-me com as agitações itabiranas. Meu amigo Carolino Salles, “danielista” de carteirinha, conta-me casos e causos interessantes. A atenção que dá a todos  o barbeiro Seu Minô, atleticano de belas conquistas, desde os tempos dos “Campeões do Gelo”, também entra no contexto

 

Mas o maior interesse pelas disputas eleitorais  itabiranas ocorre a partir de ficar esperando a impressão de notas fiscais para o Bazar São Geraldo, de meu pai, Tãozinho, e outras encomendas de meu avô, Seraphim Sanna, ambos de São Sebastião do Rio Preto. Seu Emílio, dono da Tipografia Novaes, rompe-se do fundo de sua indústria trabalhosa e proclama  quem deseja  ouvir: “Este ano as eleições em Itabira vão terminar empatadas”.

 

Os candidatos a prefeito Wilson do Carmo Soares, José de Oliveira Machado (Jodi) e Caio Martins da Costa  enfrentam-se no palco daquela quente idade média (até hoje é assim). Saio dali com os nomes dos próceres gravados na memória: Wilson, Jodi e Caio. E havia um candidato a vice-prefeito, José Machado Rosa, eleito neste pleito, sozinho na chapa. Na época, os vice-prefeitos tinham disputa individual.

 

Inspirado no atrito de Itabira, peguei um pincel e saí na madrugada de São Sebastião pichando muros, casas e barrancos  a torto e a direito. A frase era uma só, que virou cântico popular:  “Tô com Wilson, “Jodi e Caio e daqui não saio. Além dele, o famoso “Vote em Wilson, Jodi e Caio”.

 

Aí veio a confusão: São Sebastião do Rio Preto era distrito da comarca de Conceição do Mato Dentro, na época distante e sem estradas. Em Conceição disputavam Jorge Safe e Francisco de Almeida Costa. As cédulas aceitavam até palavrões dos mais indecorosos.

 

O alvoroço se estabeleceu e balançou nas contagens de votos em Conceição — “Vote em Wilson, Dodi e Caio” chamou a atenção dos contadores de votos. Além de São Sebastião até em Santo Antônio do Rio Abaixo pingaram votos alienados. É claro que esses receberam o carimbo de “nulos”. Mas agitaram.

 

O resultado: primeiro, as patadas porque a briga estava acesa. Depois, a vitória de Wilson Soares por 3 votos de frente sobre Jodi Machado.  Aos trancos e barrancos foi forçada  a recontagem de sufrágios, enquanto patadas seguiam-se agitando os chamados correligionários. A recontagem deu 4 sufrágios a mais a favor de Wilson.

 

Segundo fonte fidedigna, que trabalhou nas apurações itabiranas, houve ainda uma  tentativa de inserir 100 votos ilegais contra Wilson Soares, mas o juiz de Direito Dr., Clarindo Silveira, descobriu a tramoia a tempo e proclamou  vitorioso o real vencedor, Wilson do Carmo Soares.

 

Algo ficou confirmado: Emílio Novaes era “expert” em previsões, um profeta tipográfico mais novo que Nostradamus. Ele acertou no chamado “empate técnico”. Também, as brigas na porta do fórum deram a noção de que as eleições daquele ano terminaram “em... patadas”.

 

Agora chegou a vez de alguém dizer: “As eleições deste ano (2024), em Itabira,  correm o risco de ficar em...pancadas ou patadas Tomar que reine a paz e que vença o menos egoísmo”.

 

José Sana

Em 17 de agosto de 2024