quarta-feira, 25 de setembro de 2024

"O SILÊNCIO DOS INOCENTES"

 



Espera-se o despertar da salvação, apesar de  ferrenhos ataques do inimigo cruel e ameaçador

 

Vamos viver um grande filme? Ou melhor, já estamos  vivendo esse romance de terror? Denominemos a peça o mais rápido possível, nada de surpresas. “O silêncio dos inocentes” é o filme que se expõe em cartaz.

 

O ingênuo também sai logo do armário e se chama Itabira, ou itabiranos. E que a cidadezinha qualquer resista e nunca se entregue ao mal. Rica para sempre, pobre sempre, cabeça de cuité,  diz um cidadão que quase entra para a Forbes, mesmo vindo  de um lugarejo deste nome mesmo, perto de Santa Maria de Itabira. É o Cuité, sim, Seu Zé.

 

Melhor dizer logo que a rica e penosa nunca soube de seu poder, ou tomou  conhecimento por meio de forasteiros. O inesquecível João Bragança afirmava taxativamente que “Itabira é como o boi, não sabe a força que tem”. Uns vieram para explorar, outros para alertar quando a vaca está praticamente dentro do brejo.  

 

A obra tradicional  foi escrita por Thomas Harris e publicada em 1988. Agora, do outro lado do disco, existe uma das mil interpretações sobre a terra de Carlos Drummond de Andrade.

 

Disse Drummond:  Na cidade toda de ferro as ferraduras batem como sinos. Os meninos seguem para a escola. Os homens olham para o chão. Os ingleses compram a mina. Só, na porta da venda, Tutu Caramujo cisma na derrota incomparável”. Isso é tudo, diria um juiz de tribunal.

 

Acreditem os incautos, por aqui vinham os sonhadores com riquezas minerais. Chegavam a estas bandas displicentemente, por vir. Por acaso, talvez. Eram vistos como uns malucos de pedra, com bengalas, chapéus  e sem rumo, e nada para  ou por fazer. Falavam “línguas emboladas”, como um tal de  Percival Farquhar que, apesar de animado e quase falando o português, vindo da América do Norte, aproveitou-se para começar a praticar o seu jogo e envolver os nativos.

 

 

No ano de 1910 lá na Suécia estava o teimoso Percival procurando tornar-se líder em Estocolmo ao participar do I Congresso Mundial de Mineração. Foi ele próprio que deu início à guerra do minério, ou soltou os cachorros ao cravar quem numa cidadezinha qualquer, nada mais que uma com o sobrenome Mato Dentro, detinha a maior concentração de hematita, própria para a siderurgia, rica em ferro.

 

E essa aglomeração de fortunas, para início de tudo, chama-se Cauê, antes pico e agora cava. Na verdade ele, Percival, já tinha adquirido, por preço de banana, aquele aglomerado que acabou sendo o início da formação da fase de maior atração humana a esta terra.

 

O Silêncio dos Inocentes  no filme era a caça ao canibal, um serial killers de alta periculosidade. Transportado para Itabira, trouxe um maior criminoso chamado Buffalo Bill, preparado para morrer caso fosse correto o plano, espera-se ainda.

 

Em Itabira, a tática foi passar pelo  homem perigoso, o Hannibal, até chegar em Buffalo Bill, dominado por uma mulher, uma grega exportada, para transformar a cidade em uma trupe de inocentes pessoas, todas silenciosas, com surpresas para colocar em prática, quem sabe!. É o capeta contra o demônio com satanás no apito. Confusão, portanto.

 

O romance mais que aterrorizante e de suspense  desenvolve-se a mil por hora. Veremos o que pode ocorrer em 6 de outubro, o Hannibal violento espera a vitória, os inocentes continuam silenciosos. Diz a sabedoria caipira mas atenta que em boca de urna, barriga de mulher e vontade do povo tudo pode acontecer.

 

José Sana

Em 25/09/2024

Imagem: Arquivo

domingo, 22 de setembro de 2024

A “PAPAGAIADA” APITOU NA CURVA IMITANDO O TREM PARA ALERTAR BABACAS MAUS PESQUISADORES

 



O tradicional e da velha política  Festival de Besteiras que Assolam Itabira (Febeatabira)  chegou, finalmente, para quem ganha eleição antes de começar. E manipula...

 

Saí por aí como um “doido de pedra”, expressão popular que pode significar, também, uma pessoa atualizada, por dentro de tudo, à procura de informação segura, sem amigos protetores, perguntando nos botecos, salões de beleza, esquinas e velórios o que seria mais importante neste momento, as pesquisas ou a conversa ao pé de ouvido.

 

Caminhada de ida e volta, no retorno nem parecia ato de pesquisador querer saber algo sobre o Festival de Besteiras que Assolam Itabira (Febeatabira). Cada um deu o seu palpite, mesmo alguns reconhecendo-se  trôpego, considerando que, no decorrer dos 23 pleitos eleitorais passados, de 1972 até o deste ano e aqui computados, em todos a história se repete insistentemente, as  trapaças se empilham sobre trapaças.

 

Como sempre houve, tem candidato que mata até a mãe para não largar as tetas  da prefeitura originárias de hematitas holandesas, japonesas, americanas, alemães  ou chinesas.  Temos pseudo formadores de opiniões que, embora não entendam a filosofia do grande político e escritor que foi Nicolau  Maquiavel, desenvolvem  a mania de copiar o que entendem de seu pensamento filosófico. É um jogo de rato e gato, não se esquecendo de que tudo não passa de “papagaiadas”, como bradou um bem escolado opinante.

 

No primeiro contato, recebemos  palpites nascentes  de uma roda de  cervejeiros em que um emérito consumidor da artesanal puro malte assim registrou no caderno de apontamento, como já disse : “Já começou a papagaiada das pesquisas”. Mais na frente, um despretensioso, palpiteiro parece ter dado uma sequência lógica ao tal entrevistado, soltando o seu verbo: “As maiores anedotas e barbaridades do mundo ocorreram em Itabira e, aposto, vão se repetir neste faminto ano de pleito eleitoral”. A invasão forasteira não trouxe novidades, continua em ação a velha polícia dos tempos de José Maria Alkimin, Benedito Valadares e outros menos votados.

 

ANO: 1972

 

Não existiam pesquisas naquele tempo, simples enquetes, embora denominadas com  nome científico.  O mais cotado para vencer  o pleito seria Virgílio Gazire, mas a previsão indicava Wilson Soares, da mesma coligação, o voto era por legendas encabeçadas por MDB 1, MDB 2 e MDB 3, ou  Arena I, Arena II, Arena III. Virgílio estava sendo impugnado perdera na primeira e na segunda instância. Venceu na etapa justiça federal e, considerando a revolta popular, deu uma senhora balaiada nas legendas da Arena. Quem vivia e vive lembra-se disso.

 

ANO: 1976

 

Os pesquisadores eram os jornais que faziam enquetes no comércio e pequenas empresas, além de setores da Vale. “O Passarela” acertou em cheio o resultado do pleito, repetição de legendas emedebista x arenista. Padre Joaquim Santana de Castro era forte candidato, mas não teve forças para enfrentar Jairo Magalhães Alves, “o homem do sapato branco”.

 

Aí lembrava-se  aquela previsão do tipógrafo Emílio Novaes: “Este ano a eleição vai terminar empatada porque todos dizem que vão ganhar!” Novaes acertara, sim, ou quase, em 1963, na memorável disputa Wilson Soares x Jodi Machado, diferença de 3 sufrágios que, recontados viraram 4 a favor de Wilson. Essa história Dr. Colombo Alvarenga contou em seu livro publicado recentemente.

 

ANO: 1982

 

Terceira etapa do período militarista que continuava com grupos chamados de legenda em que os votos se somavam. Era agora o PDS contra o PMDB. A ideia de resultados continuava sendo baseada no seguinte : “Em mineração, barriga de mulher e boca de urna ninguém sabe o que vai sair”.

 

Mas sabia, sim. O Passarela, jornal que circula há mais de 50 anos em Itabira, previu a vitória de Virgílio Gazire, que acabou vencendo as eleições.  Além do fator pesquisa, que já era hilário, surgiram os causos do candidato que fingiu saltar de paraquedas e outro sendo sequestrado de mentirinha. Tudo ajudou ou atrapalhou ou engordou o previsto pelo jornal que assinava “Grupo Felmar” (Felíciano e Marcos Gabiroba).

 

TEMPOS MODERNOS


Na era moderna, ou contemporânea,  o homem aprendeu a fazer pesquisas que, a princípio, pareciam cheias de lógica, carregando o epíteto “estudos científicos” Os bobos acreditavam,  iam na conversa porque pensavam que todos os eleitores itabiranos tinham sido consultados, menos ele.

 

Com 2 mil questionários aplicados ou até menos, é possível chegar a resultados precisos sobre as preferências de um universo de 90 mil votantes, como é o caso de Itabira? Sim, mas se for observada a lei de distribuição de pensamento dos grupos. Por isso tornou-se fácil manipular os números e as caras moradoras em locais determinados, escolaridade e idades. 


O Bairro Praia, por exemplo, sempre foi o preferido dos eleitores da marca esquerdista. Populoso também, o Jardim da Gabiroba destaca-se como direitista. Os espertinhos sabem disso e fazem a vontade do encomendador das pesquisas sem que a própria ciência descubra. Trata-se de características diferentes itabiranas. Por isso, o primeiro observador deu o seu palpite irrefutável: “papagaiada”.

 

Vou dar um exemplo de resultado em Itabira em que se deu um fato diferente, extraordinário, foram do embasamento das pesquisas. João Izael era candidato a prefeito em 2004 e todos esperavam que vencesse, segundo as pesqusas. Contudo, um instituto de pesquisa fez um levantamento no meio da semana antecedente ao pleito e constatou o seguinte: a vitória seria de Damon Lázaro de Sena. Também disputavam Jackson Tavares, Ângela Guerra e Ciganinho.

 

No último dia de comícios, o pessoal estava com levantamento do  “meio de semana” em que Damon ganhava disparado. O comitê secreto, instalado num bunker escondido por aí, de João, agitou-se. Foram chamados os “entendidos” para analisar o quadro. Triste conclusão para a turma de Izael, que perderia com frente massacrante.

 

E O QUE DEU?

Todos foram para o comício final acabrunhados, cabisbaixos, derrotados. O encontro seria na ponta da Avenida Mauro Ribeiro e poderia se estender pela nova via itabirana construída por Ronaldo Magalhães. Surpreendentemente, calculadas 20 mil pessoas  expandiram-se pela avenida afora, ocupando todos os seus espaços.

 

Inacreditável, os  analistas de pesquisas tornaram-se incompreendidos entre si. Enquanto  que as concentrações dos outros candidatos eram compostas de  meia dúzia de “gatos pingados”, não concluíram seus raciocínios.  Aí veio  a claridade não ofuscante de uma luz assim definida: “pesquisa só é válida em Itabira se feita em fim de semana”. Tornou-se lei natural. Por quê? Ora, ora, ora, os donos da casa, homens e mulheres, estão no trabalho. O “meio de semana” entrevistava crianças ou domésticas. Por isso, o resultado das urnas foi o seguinte:

 

JOÃO IZAEL (PL)                  28.308        43,98%

DR. DAMON (PAN)               17.538        27,25%

DR. JACKSON (PT)               15.756        24,48 %

ANGELA GUERRA (PFL)      1.959          3,04%

CIGANINHO (PSDC)                802          1,25%


 

Na conclusão deste trabalho, fica uma homenagem ao senhor fulano de tal, que pediu para não ser mencionado seu nome. A sua frase ficou para a história dos chutes itabiranos dos novos tempos: “Já começou a papagaiada das pesquisas”...

 

Para reforçar o exemplo acima claro e incontestável, no ano 2000, o ex-candidato à reeleição Jackson Tavares, favorito em tudo, com 86% contra 16% de Ronaldo Magalhães, perdeu o pleito. Tratava-se de outro erro de cálculo e de manipulação de pesquisas. Quem venceu não foi Ronaldo, acreditem. O vencedor foi, inevitavelmente, a lenda mais que viva chamada Pé de Pato. Mas isso é outra história. 

Será que o itabirano aprende?

 

JOSÉ SANA

Em 22 de setembro de 2024.

Fotos: Arquivos


domingo, 15 de setembro de 2024

CONVERSA PARA BOI DORMIR

 Quando concluir a leitura deste texto saberá se ganhou ou não o que pleiteava: prefeito, vice-prefeito, vereador ou  puxador de charrete

 


Você venceu? Agora sabe. Mas não fuja imediatamente para o fim deste texto, confira uma a uma cada medida que tomou durante cerca de três meses. Se fez tudo certo, vendeu.

 VOCÊ COMPROU, COMPROU, COMPROU?

Claríssimo. Comprei todo mundo: empresas, botecos, atas até em São José do Cata Preto, divisa com a Venezuela. Comprei, também, adversários, os mais ferrenhos e até os ricaços. O ser humano tem uma queda radical pelo dinheiro e eu sei disso. Acertei em cheio.

 

VOCÊ MENTIU MUITO OU NADA MENTIU?

Inicialmente, fiz um curso especial, depois pós-graduação em “Mentiras Sofisticadas” e saí aprovado com a nota máxima entre 23.780 candidatos brasileiros nas próximas eleições. A única verdade que agora falo é que nunca falei a verdade.

 

COMEU DO BEZERRO QUE RI? (OU RIA?)

Isso aí não foi nossa culpa. Enquanto cem funcionários prestavam serviços num desses bairros nossos, chamou a atenção um belo bezerro. Isso não foi na roça, mas numa fazendinha bem urbana. Fui lá apenas três vezes para comer daquela carne deliciosa. O bezerro não riu mais. E sabe que aprendi a comer bezerro cm fubá.

 

VOCÊ PARTICIPOU DO “PÃO E CIRCO”?

Para decidir que no meu governo estariam proibidas as construções de obras, estudamos com afinco o projeto instituído por governantes que atuaram no Império Romano. O programa se chama “Pão e Circo”. A política do pão e circo tem como objetivo apaziguar a população. Promovemos grandes banquetes, festas e eventos esportivos e artísticos, como lutas de gladiadores, brigas de cães e galos. O povo caiu de patinho na conversa e estamos com a mão na taça.

 

CLEÓPATRA, A RAINHA DE DOIS ESTADOS

Cleópatra reinava no Egito. Enquanto isso,  Antonius era o braço direito de Júlio César, uma espécie de mini imperador.  Uniram-se /Cleo e Tônio, que acabaram se suicidando. Miramos na ganância: Cleópatra mandava mais que Antonius e saímos mortos, sim, mas de barriga cheia.

 

O CARA CHAMADO “NÃO FEZ” QUER SER “NÃO FARÁ”

Vencemos a falta de água, sem a qual ninguém vive. A solução foram as lives, café com leite, pão e banquetes.  O imperador Nero também, no decorrer do tempo, entrou no plano, botando fogo em Roma. Estamos queimando a cidade da qual somos donos pouco a pouco.

 

A SUJEIRA VEM AÍ ATÉ QUE O POVO PEGUE NA VASSOURA

Não temos empresa catadora de lixo, nem transportadora, nem de tratamento. Então, o que fizemos: contratamos 2.400 varredores e alguns caminhões até o dia seguinte às eleições. O lixo está arrebentando o lençol freático e azar de quem bebe dele. A Central de Resíduos seria para a Vale construir, de acordo com a LOC, mas somos súditos da empresa, azar é nosso.

 

IMPÉRIO ITABIRANO DO OCIDENTE E ORIENTE EM AÇÃO

Já é decisão tomada: os bárbaros ameaçaram tomar o Império Romano e acabaram invadindo as terras e dominando tudo. É o que faremos depois de nossa vitória. Como Roma resolveu fazer eleições, para despistar e mostrar democracia, vamos copiar, mas já sabemos que ganharemos. Saibam o seguinte e não façam confusão: hoje estamos no Império Romano, depois seremos os bárbaros. Assim funciona a política moderna.

 

TEREMOS O GOVERNO DAS APACs

Não construir presídio é a regra geral. Sou contra prender bandido. Ele é um ser humano como nós. O que faremos? Vamos encher a cidade de Apacs. Eu sou o rei das Apacs. Sobre o preso ter a família aqui ou nos Confins do Judas, problema de cada um.

 

PASSAGEM DE COLETIVOS URBANOS

Já fizemos o que podíamos fazer: abaixamos a passagem de ônibus para 3 reais. Se ganharmos as eleições, o que esperamos, sim, vamos passar o preço para um pouco mais, e vamos esperar. A solução será  injetar milhões na empresa transportadora de pessoal e ver se ela nos atende.

 

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO É PAPO FURADO

Já temos dois distritos industriais. Não vamos mexer mais com esse balaio de gato. Para quê? Arrumar emprego para o povo é comprar briga com donas de casa. Elas querem seus maridos em casa, descascando alho, cebolas, molhando a horta, varrendo a casa e lavando roupas. Deixem de preconceitos!


UNIFEI É CONVERSA PARA BOI DORMIR

Dissemos, há muito tempo, que não íamos e nem vamos investir em projetos federais. A Unifei é problema de Brasília e não nosso. Chegamos a 3 mil alunos e agora temos mil e poucos. Deixe esse povo se virar.

 

FUTURO? QUE FUTURO?

Nossos filhos, netos, bisnetos, tataranetos, trinetos que se arrumem. Eles que pensem no futuro deles. O nosso já acabou. A maioria de arrumadores do porvir trouxemos para nossa cidade, os chamados forasteiros.

 

José Sana

Foto de: redes sociais

Obs: Este projeto, ou plano, de eleições é para 2028. Não confundam

sábado, 14 de setembro de 2024

POR QUE OS MORCEGOS DA IGREJA DE BAIXO NÃO SOSSEGAM?


Uso o exemplo de 1963, quando demoliram o Templo do Rosário; só espantaram vampiros que os atacam até hoje; a pergunta que não cala: por que querem acabar com as 7 Maravilhas da Cidade?




Era 1961, férias do primeiro semestre, e acabava de chegar a São Sebastião, vindo de Belo Horizonte, onde estudava no Colégio Anchieta, turma de Medicina, já pensou? Estava usando óculos, com ‘grauzinho’ pouco significativo. Acredite quem quiser, era uma forma de garantir desculpas pelas notas vermelhas que estavam se acumulando. Só me destaco mesmo em Português, História e Geografia e tremo em cima dos sapatos quando me falam o nome deste idioma, Inglês. Tenho um professor, Pedro Souza, que já me despachou e me aconselhou a desistir da língua saxônica.

 

O ASSUNTO DE HOJE

O tema deste texto é outro. Usei o parágrafo anterior como citação de meu próximo livro, “Direito de Ouvir”, que será lançado em breve. Então, vou ao tema que nos interessa agora. Como sempre curioso, mexo nas gavetas de meu pai, ele acostumado a escrever tudo, da sua história de vida aos entreveros com um ou outro cidadão.

 

E, de repente, deparo-me com uma forma de comunicação chamada “circular”, assinada pelo pároco local, padre Raul de Melo. Tratava-se de uma decisão, unilateral, sem mesmo apelação, de derrubar a histórica e culta Igrejinha de Nossa Senhora do Rosário, templo de existência anterior à Igreja Matriz, essa erguida pelo Cônego Manuel Fernandes Madureira e padre Joaquim Higino de Almeida, no alto da subida chamada Morro do João Paulo.

 

HIROSHIMA E NAGASAKI

 

Ora, ora, ora, eu tinha apenas 16 anos, mas me incomodei com o teor da missiva endereçada ao povo de São Sebastião do Rio Preto  pelo padre. Imediatamente, convoquei os comandantes que se reuniam no nosso “front de guerra”, exatamente o adro da igrejinha abandonada. Os tenentes-coronéis eram José Vieira Reis, ou Teia do Roque; João Guadalupe de Almeida, ou Joãzinho Pão de Queijo, ou Kaki; José Flávio de Almeida Dias, o Zé Flávio; e eu. Esse penúltimo, o primeiro sobrevivente, o segundo sou eu.  A convocação foi atendida e passamos o resto da madrugada discutindo o que faríamos para evitar a tragédia anunciada pelo vigário local.

 

O primeiro ato de nosso protesto foi o bombardeio nas ruas. Todas as vias, exceto o Morro do João Paulo, que era calçado com pedras chamadas “pés de moleque”. Terra pura, de outro morro, o do ‘Mingôla ’estendido até a rua do Noé, passando também pelo Bonfim, onde se caminha para ir ao cemitério local. Emendamos mais de quilômetros de estopins, entremeados com bombas chamadas de “12 tiros”, que “furtei” na loja de meu pai sem que ele percebesse.

 

Madrugada adentro, escolhemos a meia-noite para atacar, quando “os fantasmas se agitam”, de acordo com o mestre Machado de Assis. Arrebentamos o arraial com um tiroteio antológico, digno de serem denominados Hiroshima e Nagasaki. Não houve uma alma que se negasse a ficar na cama. Nosso amigo Somiro (Clodomiro Duarte Lage), que amava sentar-se na porta da igreja  quando havia lua cheia, comentou: “Oh, moço, até os mortos levantaram de suas covas para ver que festa era aquela”.

 

PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL

 

Não foi festa, mas apenas um aviso de que começava a ocorrer a ‘terceira guerra mundial’, considerando a segunda encerrada em 1947 com o Tratado de Paris. Começamos a bolar a segunda estratégia para evitar a derrubada do templo. De início, a avaliação das riquezas que precisam ser anunciadas para ser cobradas e são, em nossa listagem, o seguinte: dois sinos de barulho inconfundível, que chamam a atenção da comunidade para o momento mais importante da celebração litúrgica, a consagração do Pão e do Vinho, e se tornam o Corpo e o Sangue de Cristo. Havia outro valor deles, foram doados por Dom Pedro II, no mesmo rol de entregas feito em Brejaúba e Santo Antônio do Rio Abaixo.

 

Ah, muitas outras importâncias anotamos e nos foram fornecidas pelo ilustre conterrâneo Dr. Sebastião Ferreira de Oliveira, então presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Escreveu ele artigo publicado no nosso jornaleco “Folha Sebastianense”: “Tínhamos pinturas valiosas de discípulos do Mestre Ataíde (Manoel da Costa Ataíde) estampadas no teto do templo e um relógio do século XIX, de parede, alemão, marca R.A, mostrador com algarismos romanos, caixa de madeira, além de imagens indescritíveis”. Esse bem material ficava dependurado na sacristia e determinava o tempo de início e término das cerimônias.

 

UMA  AÇÃO QUE ADIOU A DEMOLIÇÃO

 

Preparamos a ação mais importante. Como é sabido, estávamos na praticamente Idade Média e naquele tempo acreditavam fantasmagoricamente na existência de  assombrações. A Rádio Tupi do Rio de Janeiro exibia, às sextas-feiras, dias em que os fantasmas machadianos mais se agitavam, o programa “Incrível, Fantástico, Extraordinário”. São Sebastião do Rio Preto tinha sido palco de inúmeras cenas assombradas. A mais destacada ocorrera com o fazendeiro Manoel Bispo Nascentes e sua família, que tinham sido alvos de ataques espectrais  durante toda a madrugada de um dia de 1960.

 

Daí, a nossa ideia que consideramos genial. Conseguimos dezenas de metros de fios de “nylon”, portanto resistentes, para amarrar nos dois sinos que badalavam um tom grave e agudo, alternadamente. As batidas eram fúnebres, que mais assustavam. O local para localização do sineiro era uma de um janela do sobrado de meu avô Seraphim Sanna.

 

Mas havia uma tarefa importante a cumprir: o sineiro, que era eu, teria de subir para o casarão por uma janela do segundo andar e ficar invisível. Para acesso à janela Teia do Roque buscou uma escada que ficava disponível na porta da carpintaria de Benedito Buty, o nosso Nelson Mandela, fisicamente idêntico, embora não tivesse sido, naquela época, muito conhecido.

 

Pronto. Estava preparada  a forma de amedrontar a população e que se resumia no seguinte aviso, feito boca a boca, durante mais de um mês: “As Almas do Purgatório não querem que derrubem a Igrejinha do Rosário”.

 

Todas as sextas-feiras, novamente lembrando os romances machadianos, os badalares quebravam o sono de cada morador local. No dia seguinte, os comentários corriam de casa a casa. Até que, finalmente, descobriram o quarteto que comandava o espetáculo. Teia do Roque, por si só, decidiu, então, usar as vestimentas roxas que são  guardadas no porão do cemitério. Além desses apetrechos, havia um gancho para pegar caixão e esticá-lo ao fundo da sepultura. Zé Reis usava-o como forma de tornar barulhenta a sua ação, e amedrontar os que defendiam a derrubada da igrejinha.

 

Fica, então, esclarecido, o porquê nos chamavam de “capetinhas” e “encapetados”: tínhamos um objetivo sublime que era garantir a preservação do templo histórico, entre outras causas que defendíamos. Na época, o povo morria de medo de padre e citava a expressão “Deus me livre da praga de padre!”

 

Além das bombas de fim de guerra e da badalação de sinos, soltamos um bando de morcegos que habita a torre do templo. Eles migraram da ameaça de morrer ouvindo rezas para as casas que nos xingavam pela ação pouco simpática, mas necessária.

 

 Zé Flávio e eu chegamos a frequentar um terreiro espírita em Belo Horizonte, porque não arrumávamos  empregos e  as pessoas atribuíam ser essa a “praga de padre” que algum vigário nos rogou.

 

A FALTA DE PIEDADE  FUNCIONOU




 (Antes era assim)


Ficamos fora de nossa terra quando completei 18 anos. Empreguei-me na antiga Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira (CSBM), em João Monlevade, em  maio de 1963. Um mês depois recebi uma carta de um partidário do padre, comunicando-me que “estamos derrubando a sua igreja e construiremos outra na Vila Bom Jesus”. Acrescentou, para  intimidar-me, a frase: “Não implique mais porque agora está tudo resolvido”. Tudo resolvido entendi que a Igrejinha fora ao chão e meu emprego saiu.

 

Contei esta história da demolição de nosso Rosarinho para lembrar que agora parece quererem atingir a Igreja Matriz. Esses são acima de demônios e são chamados de capirotos. Fico a perguntar de mim para mim: minha sina é evitar a queda de igrejas? E perder as paradas? Será que vou perder mais uma? Advirto: não será somente eu o perdedor, mas é a religião, a história, a cultura, a tradição, o povo.

 

Querem e querem e insistem em convencer a Promotoria Pública que, para construir rampas para deficientes físicos é preciso arrebentar as praças que circundam o templo dos lados direito e esquerdo (atrás, não). Olhem, faço uma ameaça: não desistirei. E tenho centenas de filhos de São Sebastião pensando assim. Mais ainda: homens, mulheres e crianças, vivos e mortos.

 

CUIDADO, ESSA IGREJA PODE IR AO CHÃO!



                                                                (Agora está assim)


Viventes humanos sabem como foi fincada a estrutura da Igreja Matriz de São Sebastião do Rio Preto? Sabem que a casa religiosa foi erguida em 1890 por aí? Sabem que, a exemplo de grande parte das casas da cidade, a igreja não tem alicerce seguro? Sabem que a fraqueza do alicerce foi testada recentemente, quando a empresa mineradora Anglo American usou as ruas para passagem de seus caminhões? Sabem que houve um grande alvoroço na cidade porque as construções balançavam seguidamente na passagem de máquinas e veículos? Sabem que algumas casas foram até indenizadas? Sabem que ocorreram dezenas de reuniões e a Anglo American chegou a tomar mais uma  providência: reduziu o trânsito sequente para evitar pânico na cidade? Tudo isso que relato neste parágrafo foi ocorrência recente, de cinco anos passados.

 

AO MINISTÉRIO PÚBLICO E AO JUIZADO

 

Agora, espero  que a Promotoria Pública de Ferros e a Justiça de modo geral considerem o seguinte: não troquem o certo pelo duvidoso. Há pouco tempo, um templo religioso desmoronou-se em Dores de Guanhães, em nossas proximidades.  Até hoje não o reergueram e sequer sabem quem o destruiu. O verbo evitar é um bom conselho e só cabe no entendimento de pessoas inteligentes, principalmente as que nos representam na Justiça. Se o templo atual já treme, é um ato de prevenção. A expressão “balança mas não cai” pode ser alterada, desmoronar como um jenipapo.

 

CONCLUSÃO


                                 (Antiga Igrejinha do Rosário - pintura de Márcio Freitas)


Concluindo, fui testemunha ocular e presencial, além de meu primo José Flávio, da impostura usada em 1963 e a desnecessidade de demolir um templo histórico, o  Rosarinho, rico e fantástico.

 

Estou traumatizado até hoje, mesmo 61 anos depois. Não façam São Sebastião do Rio Preto perder mais uma parte de suas riquezas. 

 

Onde podemos encontrar a cabeça de quem é favorável a esse absurdo? Não para que possamos cortá-la, decepá-la, pendurá-la nos postes como fizeram com os inconfidentes mineiros. Mas para que possamos pedir, de joelhos, se preciso,  e jurando eternamente que não vamos deixar essa caravana nos destruir. Ajoelhados, prometemos lutar. Pedimos, pedimos, suplicamos, solicitamos. Mas os morcegos jamais sossegarão.

 

Pelo amor de Deus, que o nosso patrimônio seja conservado e preservado. Amém.

 

José Sana,

jornalista, professor de letras e historiador (pós-graduação em História do Brasil e Patrimônio Histórico e Cultural)


Fotos: Arquivo e colaboradores (Dra. Leone Valério, Sibele Almeida e redes sociais)

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

E AGORA, BASTIÃO?

 




                  A lateral direita da Igreja Matriz estava assim. Veja no fim deste texto como ficou


Para salvar um patrimônio público e religioso, tive que recorrer ao poeta maior da humanidade

 

E agora, Bastião?

A festa de setembro acabou

O povo picou a mula

Nos salvar agora nem o Lula.

Ou só você saindo do atoleiro,

tirado pelo nosso Padroeiro?

 

E agora, Bastião?

E agora, você?

Você que é um moço ajeitado

Que não  zomba dos outros,

você que nem  versos faz

Eu também não, Bastião.

 

E agora, Bastião?

Gente boa dos Quintão,

você sabe que o estimo.

 

E agora, Bastião?

Você, que é teimoso

dizem que também manhoso

Só acredito no seu feito jeitoso.

 

Bastião, a ideia é fazer uma rampa

Deficiente quer ir à missa,

Deficiente quer comungar, quer batizar, quer casar

Então, faça a rampa e não uma campa para nós.

Com uma merreca de dinheiro faz tudo.

Rampinha à toa, nada de neca, uns dez contos só

E não precisava causar um terremoto.

 

Mas, olhe, Bastião,

Nós da velha guarda de cutucar temos pavor

de ver igreja no chão.

Temos traumatismo, Bastião.

E agora, Bastião?


Pergunte aos mais velhos o que é perder um emissário

Os santos da Igrejinha do Rosário.

Temos dispneia pré-agônica

Temos obsessão, caro Bastião.

 

Você se lembra, Bastião,

A Anglo passou caminhão na rua e deu confusão,

a igreja tremeu, até o sino bateu.

E eu? E você? E o Geraldo Zaqueu?

Por que você quer acabar com tudo? E se a igreja cair?

Se derrubar, puxada por baixo, aonde você vai enfiar a cara?

Bastião, acalma!

 

A igreja balança, coitada, com uma bicicleta passando

E você vem com trator e quer jogar tudo no chão?

Pra quê, Sebastião, se nosso protetor, São Sebastião,

se cansou de segurar o roldão? E você é xará dele, respeite!

E se Ele resolver nos castigar? Ou escolher só você? Não teme?

 

E agora, Bastião?

Sua doce palavra

Teima feito uma mula,

Sua esperança de gula ...

... é pra quê, Sebastião?

 

E agora, Bastião?

Aproveite o tempo no Promotor e peça perdão.

Você teimou e fez uma miniatura lá embaixo de anão. Mas não!

Você quer acabar com as paredes consertadas pelo Alexandre?

Erguidas de adobo de barro,  de 1800 e Zé Vaqueiro?


Olha que não sou profeta

mas já disse na minha meta

com igreja não se mexe, da blefe.

 

E agora, Bastião?

O Rosarinho se foi. Sabe quem pecou?

Foi um padre, todos sabem. E vieram outros

que pecaram também, até levaram enfeites e lustres, sinos e patenas.

Agora vamos acabar com a Matriz também?

Bastião, e agora?

 

Se você gritasse

Se você cantasse

a valsa de São Sebastião,

Com arroios que serpenteiam

Quem sabe daria certo. Bastião?

 

Mas você foi no promotor buscar o quê?

Uma decisão de "bicho-do-mato?"

Ele não vai te ajudar porque conhece  a história da arte.

um patrimônio público e cultural também.


Bastião, queremos você do nosso lado, não teime com o Padroeiro

E e os outros santos do altar, e até o renegado São Godofredo?

Estão com a verdade e ensinam a você a humildade.

 

Não se desgaste, Bastião! 

O que fica em São Sebastião

é somente poluição, água suja, lixo contaminado e esgoto fedido?

 

E agora, Bastião? 

Não seja machão,

você é ainda um meninão.

Siga os conselhos do seu tio Marino Quintão!

E que Deus abençoe o seu coração!



 

                   Quebradeira do lado direito de acesso à Igreja Matriz. "Obra" que ameaça o templo

 

José Sana (plagiando Drummond)

Em 13 de setembro de 2024

 

Fotos: Arquivo e colaboradores (Dr. Leone Valério e Sibele Almeida)