Quando Deus fez
o mundo, deu a última oportunidade ao homem e à mulher de serem santos. A dupla,
habitante do paraíso, não soube aproveitar a chance ao se submeter às tentações
de um animal rastejante, eternamente sem crédito, e meteu os dentes numa simplória
maçã, outra simplicidade que não cabe em nossa cabeça.
Inexoravelmente,
o Criador expulsou Adão e Eva do éden, atitude que, hoje, os tais direitos
humanos considerariam arbitrária e própria de um poder imperial e ditador. Pode
ser simbólica a passagem bíblica, mas tem, contudo, um cunho de verdade. E esta
verdade se estende a um patamar que o ser humano evita entender, ou interpreta
erradamente. Deus cassou a possibilidade de ser encontrado uma santo ou santa
na face do Planeta Terra a partir daí e tornou homem e mulher exímios
pecadores. Fazer o quê?
Ferrados da
cabeça aos sapatos, o casal pioneiro partiu para viver no mundo das ilusões,
como Alice em seu país das maravilhas. Fez de conta que continuava na sua
bem-aventurança inicial, mesmo se dando mal, segue errando e levando cacetadas
cruéis. Só não desconfia porque a idiotice humana é mais vasta que o buraco
negro do universo.
Os tolos
mundanos, nós no plural, não aplicamos a percepção da burrice inicial – depois vou
me dedicar inteiramente a esta questão – que é o desconhecimento do local em
que vivemos, do que somos e da falta de resposta à pergunta: o que estamos
fazendo aqui?
“Conhece-te a ti
mesmo” – nem o autor da frase se ateve a definir este indefinível desafio sob a luz de um novo sentido humano,
além dos cinco muito conhecidos. Platão atribuiu a Sócrates a frase, mas, em
resposta, o sábio da antiguidade soltou outra sentença crucial: “Só sei que
nada sei”. Depois, tudo se agravou porque todos ficamos copiando milhares de frases
antigas, fazendo o papel de ainda mais estúpidos que os nativos pré-históricos.
Para mostrar que
prefere ser idiota a se domesticar, a raça que habita o planeta sai por aí à
cata de seres puros, limpos e perfeitos. Ou seja, pesquisa o manancial dos
inexistentes, tipo fantasmas, ou super-heróis, os tarzans, capitães américas,
zorros, hobins hoods e outros protagonistas menos votados.
Durante tal busca desenfreada adota o seguinte critério:
se Joaquim chama Manoel de bandido, ladrão, safado, corrupto, descarado, cheio
de defeitos, automaticamente, o acusador precisa ser uma criatura divinal.
Qualquer deslize que o denunciante cometa, está, irremediavelmente, invalidada
a acusação. Babaquice maior não há, embora aqui não seja um supremo tribunal
universal.
Vou encerrar.
Nada mais a dizer. Precisamos nos conhecer. E tenho a primeira receita: vamos criar
forças-tarefas na busca de solução cabível para esta dúvida? Cancelemos todas
as outras acusações anteriores, julgamentos, ideias, filosofias, leis (exceto
as naturais) e pensamentos, e vamos suspender a caça aos santos em covil de
belzebus.
Mãos à obra...