sábado, 26 de janeiro de 2019

TRAGÉDIA DE BRUMADINHO PODE FAZER VALE REPENSAR ITABIRA


Não sou profeta. Talvez venha ser no futuro. A bíblia prevê, por não sei qual autor, capítulo tal e versículo também tal (não aprecio decorar leis, quanto menos sagradas, prefiro acreditar nelas e segui-las), que “vossos filhos profetizarão”. Mas não é este o meu caso e vou deixar  aqui apenas como evidência estarrecedora. Eis o óbvio para este quase profeta: a Vale vai embora do Sistema Sul (região mineira), cujo polo mineral está em Itabira há quase 77 anos.

Aliás, a empresa já anunciou, por meio de seu presidente, Flávio Schvartsman (o mesmo que chorou ontem durante a tarde inteira deste fatídico 25 de janeiro, numa reportagem sobre a tragédia de Brumadinho),  que em 2028 a mineradora encerraria  suas atividades no Sistema Sul. Contudo, porque o ser humano gosta de teimar muito e de sentir-se naquele pensamento retrógrado chamado “me engana que eu gosto”, autoridades itabiranas e até mesmo representantes menos graduados da empresa começaram a inventar um monte de motivos para negar o anúncio presidencial.

Apareceram os preguiçosos e medrosos com as justificativas divididas meio a meio entre infundadas e aceitáveis, usando  argumentos próprios para esquinas, botecos e velórios, mais ou menos os seguintes:

- podemos melhorar a qualidade do minério de ferro do Sul e quase igualar o percentual ferrífero ao de Carajás, que roubou a nossa liderança;
- as instalações industriais de Itabira são caríssimas e não podem ser desmanchadas a bel prazer de abandonar semi-riquezas espalhadas em Conceição do Mato Dentro, Morro do Pilar, Mariana, São Gonçalo do Rio Abaixo e outros setores minerários;
- ainda há grandes reservas na região, que podem ser “enriquecidas” se levadas a instalações de concentração que não poderão ficar ociosas;
- o itabirito duro acaba de ser chamado de terceira safra do minério de ferro, cuja usina entrou em funcionamento recentemente em Itabira. E por aí vai...




É de se notar que apenas o presidente da grande empresa e uma meia dúzia pingada de diretores defenderam seus pontos de vista, enquanto parte menos votada da mineradora ficou dando asas aos políticos que temem ter que enfrentar sozinhos a onça da realidade, qual seja de dar uma guinada de 360 graus na vocação econômica.

É certo que o prefeito Ronaldo Magalhães já está negociando com a Vale e também anda cuidando de fazer parceria com chineses na busca do caminho para consolidar a Universidade Federal, criar o Parque Científico e Tecnológico e tornar tangível o Aeroporto Industrial.  Com certeza,  ele e sua equipe estão trabalhando com planos  A, B e C, é claro, para se ter mais segurança.

Mas o solitário Schvartsman, que derramou lágrimas ao vivo e a cores nesta terrível sexta-feira, parece que a ele restou se manter  apenas  cantando, mesmo e apenas no banheiro, ou emitindo som inaudível no apelo da melodia de Tim Maia, “Me dê motivos”.  O diretor-presidente cantava, sim, até mesmo quando nada tinha a fazer nos fins de semana e, sem esperar, dentro da angústia que demonstrou  ao Brasil inteiro, que o motivo de sair de Itabira e do Sistema Sul estava decretado por uma ocorrência brutal e que nunca mais será esquecida na história da grande mineradora nascida em Itabira, em 1942. Motivo, sem tirar nem pôr nenhum substantivo, adjetivo, advérbio ou uma metáfora: Brumadinho, onde mortes incontáveis estão sendo multiplicadas por números quase infinitos.

Agora, gente brasileira, mineira e de Itabira, a saída é ter coragem, tornarmos machos e fêmeas  de verdade e não covardes e preguiçosos, e  arregaçarmos as mangas. O objetivo:  partir para salvar Itabira economicamente, e a região,  porque já acordamos, pelo menos aqui e sabemos que as oito barragens ameaçadoras não podem mais receber toneladas desta bomba atômica cruel chamada rejeito de minério de ferro.

José Sana

26-01-2019

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