sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

A ALEGRIA INCONTIDA NAS PEDALADAS DO FAMOSO TED

Vou contar aqui uma história interessante e junto dela revelar quem é, o que faz, como viveu e agora vive uma figura chamada Ted. Antes, porém, devo reportar a uma cadela que era a mais querida de Itabira, foi encontrada no Contorno Rodoviário de Itabira, localidade do Barreiro. Os seus patronos foram meu filho André e sua esposa, Clarissa, na época, noivos. Amantes incondicionais de espécimes da raça canina, sem preconceito, porque nunca fizeram diferença entre nenhum cão de raça e outro vira-latas, captaram a personalidade do mundo mais amigo do homem. A figura encontrada estava à beira da morte, foi ressuscitada e recebeu o nome de Vida. Nós a chamávamos carinhosamente Vidinha e ela ficou até certo ponto lembrada na lista dos mais famosos de minhas crônicas.

Vidinha viveu uns bem esticados 15 anos sob a nossa proteção; teve o carinho que nenhum semelhante teve;  salvou-nos de vários furtos no quintal de nossa casa e namorou somente um também vira-latas, conhecido como Peludo, numa rua do Bairro do Pará. Teve com esse seu galã preferido nada menos que 30 filhotes, criados com carinho; foi deslocada para outro endereço, obrigada a trair o Peludo uma única vez e da união extra-conjugal nasceu apenas um filhote, nati-morto, cuja ocorrência abalou a estrutura de Vidinha. Vidinha faleceu, coitada, depois de uma doença de idade, estava mais pra lá que pra cá, e provocou uma crise de choro espalhada em toda a nossa família.

Quando Vidinha, de cor escura, partiu para o além, e foi para o céu, segundo a maioria de nossa turma, eis que um milagre da vida ocorre inesperadamente: aparece na porta da casa de meus filhos uma réplica dela, só que do sexo masculino. O recém-chegado, percebendo a existência de uma matilha desvairada num ambiente muito acolhedor, resolveu apostar num otimismo incrível: pernoitou duas noites na porta da residência dos quase uma dúzia de vira-latas e acabou sendo acolhido. De minha parte, tentei nomeá-lo sucessor da falecida, implantei na preparação de sua certidão de nascimento  o nome de Vidinho, mas não consegui emplacar a minha ideia. Minhas netinhas já estavam espertas e o denominaram Ted. Assim chegamos ao Ted e vou narrar a sua saga e seu deslumbrante currículo até o momento.
Ted esperando ser fotografado para sair feliz, pedalando seu biciclo

Levando a vida de deputado do baixo clero, Vidinho, ou melhor, Ted, aprontava  aventuras inimagináveis. Saía da casa de seus padrastos e vagava pelas redondezas, embora bem sinalada e com pedidos constantes de baixa velocidade dos veículos. Como era esperto, tinha um GPS bem avançado funcionando, sempre retornava ao lar, lugar por ele escolhido, graças à persistência tenaz que Deus lhe deu. Mas, eis que acontece um princípio de fatalidade: vem uma motorista desarvorada, ou desmiolada, e atropela o querido Ted. No atropelamento, um fato ficou como definitivo: perdeu a mobilidade das patas traseiras e, mesmo com o atendimento de especialistas em Itabira e em Belo Horizonte, de fisioterapias e outros cuidados especiais, não conseguiu a sua recuperação total.

Contudo, há de se considerar que a tecnologia atual está avançada e por ela acabou sendo premiado. Os donos dele correram atrás e descobriram uma solução: uma cadeira de rodas bem inteligente, fabricada com patente registrada, que lhe permite locomover-se como um automóvel potência 3.0. Esperançoso e, como sempre persistente, chegou o seu grande dia. Neste 7 de fevereiro, finalmente, tem o presente que a sua inteligência intuitiva pressentiu, o equipamento a que denominei “biciclo”, que o deixou completamente prazenteiro, ou mais que isso, com o  jeito de ser o vira-latas de raça mais feliz do mundo.

Foi-lhe colocado o equipamento. Abotoa daqui, puxa uma corrente dali e ele sente a liberdade tomando conta de si: saiu em desabalada correria pelas ruas, com certeza pensando que não pode ser atropelado mais uma vez. Está feliz e realizado. É o que merece pelo sofrimento vivido. Minhas netinhas, que ficaram, inicialmente, com medo de que ele fosse perder o equilíbrio, assustaram-se com a sua força de cachorro-equilibrista. E ficaram boquiabertas diante daquela demonstração de perícia de piloto do nível dos de Formula 1. Agora, o ex-sofredor Ted, que nunca reclamou de ter-se tornado deficiente físico, agora é e será admirado por quem conhecer esta belíssima vida canina.

Registre-se um novo quadro que virou fato corriqueiro no Canil Leal: Ted sai pedalando como um pássaro que levanta voo, enquanto os demais colegas de habitação olham assustados, todos os seus amigos batem palmas imaginárias de satisfação porque ele venceu na vida, persistindo e acreditando, exemplo até para os humanos. Viva o Ted!

José Sana

Em 08/02/2019

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