Apesar de eu ter virado a serra dos entas —
quarenta, cinquenta, sessenta e setenta — mantenho ligações estreitas com
jovens de mais de 15 e menos de 20 anos de idade, não por ser, como dizem
alguns amigos, “metido a jovem”, mas pelo simples fato de não querer perder a
carruagem da vida em que viajamos neste mundo ainda desconhecido. Além de
alunos com quem me relacionei como estagiário de História e Letras, incluindo
do Premen, Centro Educacional Campos e Fide/Sebrae, acompanho acontecimentos e
escritos sobre o tema a que agora me dedico, o intelectual.
Li, por exemplo um bom texto do amigo
Marco Martino, compositor e ativista cultural, no conceituado “A Notícia”, de
João Monlevade, de 14 de agosto passado, intitulado “Por que a maioria dos
políticos odeia os intelectuais?” Somando ao reflexivo texto, deparei-me com
alguns ex-alunos por aí que me fizeram a intrigante pergunta: “O que significa
a expressão ‘intelectual’ e quem são os maiores intelectuais de hoje?”
Declinei-me, não respondi, mas fiquei na obrigação de satisfazer pelo menos em
parte a curiosidade dos jovens estudiosos de nossos bons educandários
itabiranos.
Na preguiça que me assola nesses dias
de luta contra uma detestável e já bimensal Herpes-Zóster, preferi fazer
algumas consultas em minha biblioteca particular. Vejam que
encontrei centenas de personificações que definem esse tal de
intelectual e acabei escolhendo um de meus escritores preferidos, exatamente
porque ele viveu e escreveu na década de 1970 e, no meu entendimento, suas
palavras continuam valendo para os dias atuais.
Refiro-me a Nelson Rodrigues, jornalista, escritor, dramaturgo, aplicando as suas
normais hipérboles, que o único intelectual que o impressiona no Brasil é
Gilberto Freyre, exatamente o que os “intelectuais de hoje” renegam. Diz que
que a vida intelectual no Brasil parou e complementa: “Ninguém faz nada. Os
romancistas não fazem romance, os poetas não inventam uma metáfora, os
dramaturgos não criam um personagem. Temos uma literatura que não escreve. Se
aparecer um Dante, um Shakespeare, um Proust, ou sei lá, ninguém vai saber
porque não temos mais uma consciência crítica. Só há um sujeito, que é um
grande artista, cuja potência criadora não tem outra igual no Brasil: Gilberto
Freyre (eu complementaria Drummond). Não precisaria acrescentar uma linha a
mais na sua obra excepcionalíssima. Perguntam: — e por quê?”
“Porque os intelectuais
exigem dos intelectuais atestado de ideologia. Ou o artista é comunista,
socialista, esquerdista, inocente útil, ou que outro nome tenha, e terá toda a
cobertura promocional. Mas se for um solitário, um independente, um original —
não terá uma linha em jornal nenhum. Dirão vocês que a inteligência de esquerda não
manda nada. De acordo. Não tem poder, mas o exerce. As redações estão
infiltradas. E assim as rádios. E assim a televisão. Qualquer notícia sobre o
grande autor de “Casa grande & senzala” vai para a cesta. Leiam os
nossos jornais, as nossas revistas.”
Prossegue o grande Nelson
Rodrigues: “O intelectual de hoje é o sujeito que não toma banho, não escova os
dentes, passa a usar uma barba e uma cabeleira de assassino de Sharon. É a
chamada ‘inteligência hippie’ que vai para a redação descalço. Coça a cabeça
com os dez dedos. Ou, então, senta-se na diretoria e raspa , com gilete, a
própria santa. Escreve com um mico no ombro, de chinelo de dedo, bermuda e
camiseta de motoqueiro”.
Então, eu diria ao Marco
Martino que não deve se acercar de intelectuais na sua ocupação eventual de um
alto cargo de direção, porque eles não existem. E complementar aos meus
ex-alunos de História e Língua Portuguesa que façam o inverso caso
queiram ser realmente inteligentes. A geração que se veste de letrada e gaba-se
de ter piolhos do tamanho de uma lagartixa haverá de ser passado que,
determinadamente, será esquecido. Para sempre.
José Sana)
Em 17/08/2019
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