sexta-feira, 8 de novembro de 2024

ATENÇÃO: BURACOS ITABIRANOS ESTÃO DE VOLTA E SÃO DURÍSSIMOS NA QUEDA

 


Percorri ruas, avenidas e becos de Itabira, e pude gravar alguns diálogos entre eles, os orifícios sem fundo cuidaram nomes ou números para si próprios

 

O termo buraco talvez existisse  antes das grandes navegações portuguesas. A origem é controversa, embora, provavelmente, se ligue de alguma forma ao verbo latino forare, “furar”, Mas sou obrigado a contestar todos os dicionários, inclusive o Latim, e a conclusão é uma só: quem inventou o buraco foi, comprovadamente a Companhia Vale do Rio Doce, nome antigo, hoje chamada simplesmente Vale, ou Vale S.A., vale muito para alguns e vale nada para outros.

 

Quando a Vale chegou a Itabira só existiam morros e matas, ou alguns monumentos, como a Igreja do Rosário e casas merecendo ser tombadas pelo ainda inexistente Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan).

 

Para mudar tudo, a chegaram várias empresas. Ninguém acreditava que a ideia da existência de minério de ferro em abundância e qualidade fosse se transformar numa parafernália buraqueira. A etimologia trouxe várias informações e, por incrível que pareça, um parentesco bem perto com o termo advindo do japonês “buraku”.

 

Estou falando desses  furos, que eram normais, fazia-se uma perfuração para alicerces, curta abertura  apenas para sustentar, por exemplo, o muro de arrimo, a rachadura. Os donos das palavras, sempre começando por neologismos, deixaram entender que seria preciso acompanhar um diálogo, ou muitos bate-papos, para se entender onde vão chegar as descobertas.

 

 Concluindo, antecipadamente, e repetindo, quem inventou o buraco foi a Vale mesmo, não adianta fugir do pau. Pronto, parágrafo fechado. Lembrando que Danielle Miterrand esteve em Itabira em fins de 2011, fotografou e quase desmaiou diante das super crateras, com ângulo de cima para baixo. Agora o seguinte: por que esqueceram de inserir na história itabirana esse feito inédito da histórica participação da mineradora renomada internacionalmente?  

 

Aberta a fenda inicial, a fome de riqueza chegou, depois, a ganância e a certeza de que na escavação estava o futuro, não de Itabira, mas dos exploradores. Arrancaram o minério de ferro e pronto. Agora as frestas se imortalizaram: ocuparam e ocupam praticamente todas as ruas itabiranas. O maior furador de gretas chama-se Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) e depois os demais autores, como politicagem, safadeza, esperteza. 

 

Os buracos itabiranos conseguiram enricar os principais tatus de fora da cidade. Vieram sem nada, de bolsos vazios e furados e saíram estufados de notas de 50, 100, 200, não apenas reais, mas dólares, euros e libra esterlina.

 

Deitaram e rolaram. Estou esperando a informação dos vereadores, eles que se virem em apresentar as contas, essa separadamente: quanto ficou o total dos somatórios das crateras tapadas às pressas? As eleições chegavam e saíram tudo na correria?  E para provar que os orifícios urbanos estão de volta, basta dar uma voltinha, não de carro, mas pode ser a cavalo porque assim dói menos.

 

Percorri as ruas, avenidas e becos de Itabira, e pude gravar alguns diálogos entre eles, os orifícios sem fundo cuidaram nomes ou números para si próprios. Acompanhe apenas um pequeno trecho:

 

BURACO NÚMERO 1 — Oi, você aí, BURACO 98, onde está morando?

BURACO 98 — Estou na Rua Platina, Bairro Major Lage de Baixo, mas hoje, depois de quase três meses de existência, resolveram me tapar com blocos de concreto.

 

BURACO 1 — Estou aqui pensando num coitadinho que está localizado na Rua Água Santa, esquina com João Rodrigues Bragança. Muito movimento em cima dele, informam-me que está gemendo de dores.

 

BURACO 3.202 — Não vou nem comentar nada de meu sofrimento porque devido ao número elevado, estou me sentindo com vergonha. Eu sou apenas um, mas estou valendo exatamente o número que me deram. Algumas pessoas me chamam de Percival Farquhar, nem sei o motivo, espero que me expliquem. E existem o Micaria, o Rogerinho e Carlinhos.

 

BURACO 3.202 —  Olha, seu Percival, eu aceito o desafio que dá. Percival Farquhar foi o primeiro estrangeiro que lhe arreganhou para o mundo. Você é o mais famoso, o pioneiro, o primogênito. Parabéns!

 

BURACO  MISTER  ROBINSON — Estou feliz com o meu nome porque sou inglês e recebo um quinhão maior de dinheiro, meu número é vergonhoso, anote aí: 16.024.


E continuei anotando e apurando informações sobre esses buracos. Um geólogo, que não ser identificado, disse que os buracos de Itabira são originais da qualidade do solo. Mas alguns religiosos preferem culpá-los como praga deste mundo. 

E assim deixo as minhas informações que devem ir para registro em cartório.

Amém. 

José Sana

08/11/2024

Imagens: Redes Sociais

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