Muita gente
pensa que os viciados em Zap-Zap e Facebook, pelo fato de escreverem muito,
também leem exageradamente. Ledo engano. Temos ótimos escritores, sensacionais
comentaristas, mas pode ser que seja lido por uma meia dúzia de gatos pingados.
Posso dizer isso de cadeira: fiz uma longa pesquisa e ficou esclarecido com a
maior clareza que ninguém perde seu “precioso” tempo com o que pensa, de
antemão, que nada irá lhe acrescentar. E me perguntam: “E você, também não lê?”
Tenho a coragem de responder: só o que me interessa. Falta sempre tempo e o
brasileiro é, por natureza, um semi-analfabeto declarado. Ouço as pessoas
dizerem desde antigamente: “Não leio as notícias de jornais; prefiro passar os
olhos nas manchetes.”
Mas o
interlocutor insiste e quer saber mais: “Mesmo sabendo que ninguém o lê, ainda
tem a coragem de escrever? Afinal, para que ou para quem você escreve?” Digo
que escrever é um vício inevitável, é uma espécie de desabafo, um despejo de
ideias que se estabelecem no nosso apartamento interior. Fico com pena de
algumas pessoas, catedráticas, portadoras de conhecimento de causa, que
praticamente todos os dias deixam um longo ou vários longos textos de graça
para uma plateia imensa. Em vão. A minha pesquisa foi feita assim: comecei a
postar no Zap-Zap e no Facebook chamadas de temas que pouco tinham a ver com o
link anexado. Conclusão: os comentários fugiam radicalmente do assunto. Motivo:
não era aberto o link relacionado.
Desde a Idade
Média, ou mesmo antes dessa época longínqua, o ser humano gosta de falar,
sempre falar, só falar. Nunca ouvir, ouvir, ouvir. As pessoas até são
engraçadas mesmo. A gente passa por uma turma conversando nas ruas, avenidas,
praças, ônibus, salões de beleza, velórios, botecos e esquinas, e observa.
Normalmente, alguém está gesticulando. O interlocutor é obrigado a ouvir, se é
que tem educação ou interesse no tema. Se o falador já ultrapassou a serra da
boa esperança na vida, com certeza tem mais vontade de abrir o bico para contar
causos. Isso é um impulso que nasce sempre na terceira idade.
Leio muito,
desculpem-me dizer isso, se é que ofende. Os que detestam livros não gostam do
assunto. Não sou um bom ouvinte, a não ser se encontrar um ambiente arejado,
por causa de minha baixíssima audição. Quando entro num papo interessante, seja
sobre história, geografia, política, polícia, esportes e humor, sou todo
ouvinte e até aumento o volume de meu aparelho auditivo. Fico observando:
alguém começa a contar um caso, chega uma terceira ou quarta pessoa e
interrompe o bate-papo. O contador de causos é interrompido e, normalmente,
ninguém volta ao assunto. Até porque ele percebe que tudo era apenas
fingimento, ninguém queria mesmo ouvi-lo.
Exemplos de
desprezo são dados por pessoas que não respondem sequer a mínima mensagem de um
amigo. Julgam, às vezes, o assunto encerrado, quando o outro, do lado de lá,
aguarda um sinal de que está na hora de parar ou de continuar. Alguns, quando
não lhes interessa o tema (uma cobrança, algo que pede decisão etc.) os
espertinhos simplesmente ignoram a mensagem. Só quero concluir assim: quando
você me ouvir numa palestra, se ouvir, vai perceber que esse ato de desprezo
precisa ser combatido. Falo muito a este respeito. Afinal de contas, a nossa
felicidade não pode ficar nas mãos dos desleixados sem educação que só vivem
para si e a sua vida particularmente egoísta.
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