segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Picuinhas de Itabira que nunca são resolvidas

Semana passada escrevi sobre algumas pragas que assolam Itabira e impedem o seu progresso e desenvolvimento. Lembrando o que aqui deixei rabiscado: primeiro lugar - falta de água; segundo lugar - indústrias emperradas por causa da consequência da seca; terceiro lugar: educação, saúde e segurança. Agora vamos às picuinhas que agitam a cidade.        (A coluna da semana passada pode ser lida em http://www.defatoonline.com.br/colunas/jose-sana/19-12-2016/quem-topa-governar-itabira-do-mato-dentro).


Vou abordar os remoques que acabam se agigantando e denunciando a inércia e desorganização da prefeitura itabirana. Começo por chamar você para entrar na apelidada segunda casa do povo (a primeira seria a Câmara Municipal) e fazer um pedido qualquer, por exemplo, de atestado negativo de débito. Um mês depois, volte ao local em que requereu o documento. Sem padrinho para acompanhar o encaminhamento da sua solicitação, desista.

Depois, vamos ao chamado Almoxarifado do Bairro Pará e lá ver se conseguimos uma planta de qualquer imóvel construído de sua propriedade. Vamos admitir que vai reformar ou acrescentar algum compartimento em sua residência. Não vejo culpa alguma em uma pessoa que trabalha no setor “competente” por não conseguir resolver o seu problema. Dificilmente será encontrada a dita cuja planta. No meu caso, demorou dois meses e meio. Ou seja, não se tem uma pista da super-pasta onde se encontra a planta. A fonte de buscas é um caderno velho que parece aquelas marafundas de donos de botecos da roça em que anotam fiados do mané e da maria.

Meu convidado quer conhecer o patrimônio histórico e cultural de Itabira. Que luxo! Aqui pouco se fala nisso. Em 1983, foi feito o primeiro, se não me engano, Inventário do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac) de Itabira. Depois, veio o tombamento dos bens levantados. Na sequência, o conjunto recebeu o mesmo tratamento municipal, orientado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG). O tempo passou, vieram algumas outras normas e foi criado o ICMS Cultural e o ICMS Ambiental. Itabira caminha a passos de tartaruga dentro desse sistema. Ou seja, recebe uma merreca de ajuda do Iepha porque cuida pouco de suas riquezas culturais e históricas.

Os principais pontos históricos e culturais da nossa cidade estão degradados. Apelos à Promotoria Pública local não têm resolvido a questão. Mas, não vou muito adiante sobre a inércia até do Conselho de Cultura (não sei os nomes dos membros e nem quero saber) que permite tantas aberrações. Basta dizer que a  a Igrejinha do Rosário, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), está prestes a receber um novo “tombamento”. Agora ao chão. E não me venham dizer que o conselho nada tem a ver com isso.

Quantas picuinhas citei? Somente quatro? Infelizmente, o espaço é curto e não dá para me lembrar de todas. Concluo estas linhas mencionando a picuinha das picuinhas. Há aproximadamente 20 anos (ou mais) reclamo da escuridão que reina no perímetro urbano da Avenida João Soares da Silva, Bairro Campestre (em frente o Senai) até o antigo campo de aviação, ou Oficina Centralizada da Vale. Os postes foram mudados e arrancadas as lâmpadas. Os visitantes ficam boquiabertos ao ver aquela negrura que causa sério risco de segurança à população.


Provando que as autoridades não se importam com o trecho da via pública mencionada, há uns 50 anos existe lá uma placa que  consegue enfezar alguns filhos de uma simpática cidade vizinha: “Santa Maria do Itabira”. Repito: “... do Itabira” E a seta aponta para a frente. Um santa-mariense me disse que, em represália à placa retardatária, pretende instalar uma na saída de Santa Maria em direção a Itabira: “Presidente Vargas a 25 km”. Nós merecemos.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Assalto ao Carro ou Correio Pagador

Estamos em que ano mesmo? Dois mil e dezesseis? Não, engano, o ano de verdade é 1960, o mês de junho, o dia 14 e a hora, podem anotar, 8h30. Aconteceu no Estado do Rio de Janeiro, perto da Estação de Japeri, precisamente no km 71, o fato a seguir: um trem de pagamentos de funcionários-ferroviários da Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB) praticou o maior assalto a mão armada de todos os tempos neste país. Valores incalculáveis pelos números de hoje, em torno de 20 milhões de cruzeiros, foram surrupiados. Agora pulamos, de verdade, para o ano de 2016 e o  palco  é uma pequena cidade do interior de Minas Gerais, classificada entre as menores do mundo. Oh dó! Cinquenta e seis anos depois evoluírem de São Sebastião do Rio de Janeiro para São Sebastião do Rio Preto!

Tal como o Trem Pagador, que rendeu um filme dois anos depois — e até uma forte candidatura a Oscar em Cannes, na França,  e a centenas de prêmios —  o comboio tinha hora certa para sair e pagar, como no mês passado, em Passabém, e agora em São Sebastião. Dois bandidos, ou lambedores de rapadura, já foram devidamente algemados e remetidos às grades. Um fugiu, mas, coitado, está no mato sem cachorro, a delação, sequer premiada, ou pressionada, deve trancafiá-lo. O cronograma de ação deles revela que  em novembro foi Passabém, dezembro São Sebastião, ficando a certeza de que em janeiro seria Santo Antônio do Rio Abaixo. Esse é, realmente, o sinal forte do chamado crime organizado, premeditado e com ares de doutorado no caminho.

Vamos esquecer o Trem Pagador carioca ou fluminense, cujo desfecho  entrou na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes de todos os tempos no Brasil. E nos concentrar devidamente no caso de 7 de dezembro de 2016, em São Sebastião do Rio Preto. Acredito que o Assalto ao Carro Pagador, ou ao Correio que paga, renderá mais um filme da prima Regina, nome artístico Afra Sana. Ela não estava presente, girava pelo Brasil afora, mas já sabe o que fazer. Um helicóptero sobrevoou a região à procura dos assaltantes e do dinheiro, claro. Geraldo Quintão conseguiu filmar, às tremedeiras, o sobrevoo de um helicóptero da polícia.

Notável e lamentável o acontecimento. Mas para quem, como eu, não consegue tirar da memória os fins de festas ou de simples domingos na pequena Vila, lá pelos anos antigos, não é novidade. Antigamente, São Sebastião era assim: dado o fim de uma cerimônia de festividade religiosa, o povo armava na rua a confusão mais esquisita que se pode imaginar. Poeira subindo, animais empinando, tiros pipocando no ar. Tudo normal e poucos se importavam, menos eu que tremia em cima dos sapatos. Trabalhava como caixeiro ou balconista do Bazar São Geraldo, de Sebastião Cândido F. de Almeida, com ele escrevia, meu pai. Via cavaleiros entrarem montados numa porta de comércio e saírem em outra. Nada acontecia além disso, senão gargalhadas dos testemunhas nada amedrontadas.

Na rua, o espetáculo continuava. De vez em quando acertavam a orelha ou o pescoço de alguém. Alguns levaram balas corpo afora, sem morrer, ou morrendo de verdade. Havia também espetáculos dos mais grotescos, hoje chamados 0800, nas praças do arraial. Certo dia um bêbado da elite aprontou uma peça de teatro digna de um circo internacional ou diria atração do Coliseu de Roma: fechou a atual Praça Seraphim Sanna para aplicar chicotadas no pobrezinho do Nhonhô de Albertina. Nhonhô carregava o apelido de Jabutirica e apanhava sem saber porquê. Como foi chicoteado naquele domingo e ninguém o socorreu! Sou memorialista preciso: era 4 de dezembro de 1955. As chicotadas doíam e doem em mim como se me arrancassem a própria pele e não a do Jabutirica de Albertina, essa uma paupérrima doente sem marido.

Hoje, são ou não bandidos profissionais, ou metidos a vilões de filmes faroeste que povoam o palco do circo. Aliás, esses que levaram e deixaram no carro capotado em Passabém R$ 125 mil, são analfabetos em assaltar, estavam nas primeira lições sem mestre, mesmo alvejando, por pura imaginação de uma  bala perdida, a perna de um conterrâneo que nada tinha e nada tem a ver com a miscelânia. Fosse eu um dos atiradores dessa antielite, desistiria na primeira aula. Quem sabe constitui gente boa e não merecia estar aí? Sei lá! Que façam o seguinte: dedurem imediatamente o terceiro para que tudo termine num final feliz. São tão carentes que nem perceberam o fim da munição policial, provavelmente, também, do combustível. Felicidade para eles “comendo” uma boa cadeia. Talvez tenham participação no assalto do mês passado, que rendera limpinhos R$ 200 mil!

Antes de terminar, quero dar um conselho sincero aos ladrões, conselho objetivo e de boas intenções. É o seguinte: não só o crime não compensa como o assalto também e qualquer tipo de furto ou roubo. Foi o que uma senhora que não conheço, mas vi e ouvi, disse: “A vida de ladrão é muito difícil e complicada. Se eu fosse do meio deles, já teria me conscientizado!” A mulher de nome Dona Maria, explicou direitinho a forma que deveria servir aos bandidos. Ela disse: “Para um assalto dar certo, os marginais precisam de muita sorte, além de sangue frio e inteligência. Conseguindo chegar ao seu reduto com o dinheiro surrupiado, a hora de distribuir é problemática. Sempre há um sujeito ambicioso, o chefe, que quer ficar com uma parte maior. Aparecendo quem não concorde com a divisão dos valores, a probabilidade de atuação da polícia é muito grande. Depois ainda há o problema da consciência e vou ser bem esclarecida, cada um paga pelo que fez e faz mais cedo ou mais tarde”.

No fim, aproveitando o que a simples senhora declarou, sobra sabem o quê? Os que se julgam injustiçados vão para a imprensa, a boca do povo. Aí foi o mesmo que aconteceu no Assalto ao Trem Pagador, os do prejuízo acabaram com a festa dos bandidos. De qualquer forma, os assaltantes que foram presos irão mesmo fazer a devida delação. O pobre fugiu a pé e será pescado a qualquer momento. Então, era isso o que precisava dizer hoje e agora: o Carro ou o Correio Pagador de São Sebastião do Rio Preto vai mostrar, no filme da Afra, que assaltar, furtar ou roubar são ações de bobocas e babacas. Está fora de moda. Se acha que há desemprego, me procure que, aos bons de serviço, mostrarei um caminho. E chega de atormentar o povo simples do interior..

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

De que precisamos saber para não sermos idiotas integrais (1)

Neste momento, quero apenas ajudar você que me lê ou faz de conta que lê a ser gente decente. Tentar mostrar a quem acredita em si mesmo que já existem evidências determinantes sobre a moradia da verdade. Ela já tem endereço e cep. Se há pouco tempo, os filósofos diziam que havia verdades e nunca verdade, muitos passaram a esquivar-se porque pelo menos os caminhos para o encontro da realidade absoluta estão estampados e abertos bem defronte as nossas caras.

Você não precisa acreditar em mim. Mas pode fazer experimentos com as minhas sugestões. Então, lhe asseguro que, no meio do caminho estará plenamente dono de sua certeza. Para crer mesmo, tem de concordar pelo menos provisoriamente com o seguinte: enquanto o ser humano não souber a sua origem ele é um babaca-mor. Entendido? Como ele desenvolve questões sobre vida, morte, trabalho, certo, errado, doença, saúde, tristeza, felicidade, depressão, alegria — e muitas outras situações se não sabe nada sobre si mesmo? Os primeiros filósofos da civilização já questionavam sobre quem somos nós, de onde viemos, para onde vamos, o que estamos fazendo aqui neste mundo desconhecido e estranho. Embora sem resposta no decorrer dos tempos, as luzes foram sendo acesas e começaram a surgir respingos da verdade.

Então, você vai topar? Ser cobaia no lugar de estúpido. É bem mais confortável. Vou sugerir a você que, para início de conversa, tente entender os princípios aqui expostos. Entenda que a vida tem sentido. O sentido da vida é o trabalho de reconstrução do mundo, que está completamente fora do eixo. Mas como vamos entender isso? Ora, ninguém pode nem deve julgar ninguém. A única pessoa que julga você é você. Existe dentro de nós uma faculdade a que chamamos de Inconsciente. Muitos já sabem que ele é o órgão que registra a verdade do mundo. De lá ele executa tudo o que nós mandamos, ou seja, as convicções que ficam. Ele é o ser poderoso, capaz de mudar os rumos existenciais. Tem ligação estreitíssima com a origem. Há nele o poder de alterar o malfeito. Quem participou dos momentos iniciais foi o Inconsciente.

E há sempre o momento de quando alguém se desponta em choro copioso. Por que chora?. Antes disso, acerta-se usando o Inconsciente sobre a sua tarefa de vida no Planeta Terra. Sabe que vai pegar um planejamento de base, criando tópicos para as suas façanhas. Tudo inconscientemente até o dia em que acordar em prol da reconstrução terrestre e fazer a ligação com o consciente. Até chegar este dia cada ser humano trava dentro de si uma  luta contra o que não quer aceitar e a natureza. As crenças trabalham para todos serem felizes no mundo mas essa não é a proposta que o novo habitante assumiu. Todos percebem que a vida é realmente bela, mas não é o belo que nós criamos, mas a natureza criou para nós. Quer dizer, até então não sabemos nem o que é belo ou não. Triste vergonha para quem se julga o tal.

A nossa felicidade depende da eficiência de nosso trabalho. Enquanto o ser vivente ainda não se enquadrou dentro dos propósitos naturais, logicamente ele recebe uma dose de sofrimento para deixá-lo irrequieto e, assim, determinado a procurar uma saída. Dentro de nós formamos um código de mandamentos, que devem ser desmascarados ou mesmo levados à sublime certeza. Por exemplo, se você mata alguém, pode pagar com o martírio interior por mandar a culpa para o inconsciente; mas se você é muçulmano de  algum grupo de terroristas, a dor interna pode brotar em você caso não cumpra a incumbência de matar e até de morrer.

Só por saber que nos conhecemos, que temos um projeto muito grande, ou o descobrimos depois de muita luta interna e externa, assumimos o posicionamento de seguros, certos, corretos, motivados, otimistas, atentos e firmes. Então, a  ninguém precisamos imitar, copiar, tentar o falso entendimento de que é capaz de assim proceder. Disse Drummond a uma altura bem elevada de seu tempo: “Eu não sabia que a minha história é mais bonita que de Robinson Cruzoé!” A lição de Drummond vem calhar certinho em nossa procura do caminho. Aí não precisamos receber nenhuma instrução e nem lamber as botas de quem quer que seja, do pé-rapado  ao Papa ou  a Donald Trump.


sexta-feira, 26 de agosto de 2016

A ERA DO ATLETA DE FERRO? OU DE FALSO SUPER-MAN?

A vida no Planeta Terra é tão incerta que cientistas procuram afoitamente um outro planeta semelhante ao nosso para que seja possível transportar vidas daqui  para as suas dependências, com certeza pouco ou nada habitadas. Procuram daqui, pesquisam dali, até que acabam esbarrando seus equipamentos e olhares  num tal de Próxima b, esse talvez um nome provisório de planeta até então desconhecido.

Ao invés de tentar sair dessas turbulências, deveriam ir atrás de soluções para os nossos problemas ou mesmo empreenderem uma correção de tantos erros aqui cometidos contra o sistema natural que se encontra em completo desleixo ou mesmo total desarrumação. Não vou me estender às questões gerais, agarro-me agora tão somente ao futebol, que é mais fácil por ele fazer a minha defesa de uma despretensiosa tese.

A minha proposição é a seguinte: tudo muda no mundo mas a mudança que se fez na prática do futebol foi e é totalmente equivocada. É preciso fazer tudo de novo, de outro jeito. Era criança e me lembro da prática do futebol tanto no campinho de grama na minha terra quanto em estádios profissionais, como o Independência e os do Atlético, Cruzeiro, América, Renascença, esses em BH, além do Israel Pinheiro, em Itabira, e do Siderúrgica em Sabará, Metaluzina em Barão de Cocais, Meridional de Conselheiro Lafaiete e outros. Com 18 anos de idade, conheci o Maracanã e acompanhei, no tempo de repórter na Capital, a construção do Mineirão.

Bem, nos estádios citados, incluindo o tempo em que era apenas um curioso da bola,  comecei a entender o que era feito com aquela circunferência chutada de pé em pé, de cabeça, joelho, coxa, peito e outros membros do corpo, até de espertas mãos. O objetivo era a meta adversária, onde se chegava ao gol, comum em algumas partidas, fatalidade em outras e até representativas de placar mudo, o chatíssimo zero a zero. Então, havia futebol para homens e crianças, até mulheres começaram a jogar, todos com respeito e cientes dos seus limites.

Quase não ocorriam esbarrões durante um jogo de futebol. O árbitro não tinha a preocupação de marcar uma falta, senão bola fora das quatro linhas ou toque de mão. A chamada botinada, mesmo em peladas, era apenas própria dos pernas de pau, ou brucutus, ou cabeças de bagre, como dizia o Kafunga, mas que dificilmente tirava alguém de ação.. As expulsões, se ocorriam na várzea, não passavam de questões disciplinares. No interior, trocavam os árbitros ao invés de excluir o jogador expulso. Brigas, havia sim, até armas apareciam, tiros e facadas, mas não entravam para o mostruário do método dentro das linhas marginais do gramado.

E hoje? Ah, nem sei o que relembrar! Aos poucos foram formando professores de educação física, o chamado “personal trainner”, que pegou um modelo de super-homem para nele transformar o sujeito de carne e osso, quebrável, cheio de músculos, de uma fragilidade tal qual um faquir de exposição, em um super-homem ou em outro herói do cinema como, por exemplo, o Incrível Huck. Para jogar, era até permitida uma gordurinha aqui, um pneuzinho ali, quando a avaliação do preparador já apontava para um epíteto até mesmo engraçado: parrudo. Meu avô, dizem que era um craque, gabava-se de ser chamado de “beque forte e gordo”.

Hoje, ligamos a TV para ver aquilo que parece mais uma tourada. Antes do jogo que escolhemos há uma habitual atividade chamada aquecimento. Esse esquenta canela, como o chamam vez por outra, é tão puxado que, durante a sua prática, muitos atletas se machucam e são cortados da peleja e de outras sequentes.  Há uma série de contusões que possuem um verdadeiro dicionário de termos complicados e indecifráveis. Não vou citar nenhum dessa terminologia complicada porque basta ver o noticiário esportivo para listá-los nas entrevistas de médicos famosos ou “pé-rapados”.

Então, meus amigos, a minha tese é voltar o futebol ao que era e proporcionar aos seus adeptos, tanto os praticantes quanto àqueles que torcem, como é o prazer em acompanhar o que é sadio e respeitoso. O ser humano não é nem hipopótamo, nem elefante e nem touro ou camelo para aguentar tantas flexões dos músculos ou batidas de ossos de durabilidade limitada e tão frágeis quanto um pedaço de pau seco ou oco. 

domingo, 10 de julho de 2016

A ELEIÇÃO DO FLANELINHA

Flanelinha é aquele moço que fica na rua tomando conta de carros no estacionamento, por conta própria, e cobra alguma moeda dos seus proprietários. Além de vigiar, eles aceitam outros valores para limpar e dar algum brilho no quatro rodas. Ele também guarda o espaço para um outro que lhe paga adiantado. Em futebol, falam daquele time que fica durante um bom tempo na zona da elite, mas na hora final do campeonato é superado por outro que andava ruim das pernas. Na política, agora, flanelinha é o partido pequeno que, quando de verdade é deflagrada a reta final, arreda-se à traseira e apoia o candidato que imagina ser mais forte.

Neste inseguro ano eleitoral de 2016, esse flanela aparece pela primeira vez com mais definição e força. Antes, fazia uma aliança antecipada ou com a situação ou a oposição. Agora, não, considerando que andam falando mal de grupões. Neste momento, apresenta o seu candidato, mostra que acredita nele e vai levando até o instante derradeiro.

Você quer saber quais são os carros e os flanelinhas na eleição deste ano? Basta  conferir os nomes que são os mais falados e ver na listagem o número de pré-concorrentes. Procurem também os mais bem informados e/ou entendidos do assunto e eles vão dizer que Itabira terá neste ano de cinco a seis concorrentes. Ou mais, como diz o meu amigo e cantor Ânderson da dupla ele e Guto. Se somarmos os flanelinhas hoje chegaremos quase ao número 30. Alguns apenas querem testar a sua popularidade, outros estão brigando para ocupar a vaga de vice, os mais fracos aceitam alianças que os deem emprego garantido no próximo mandato.

Diz uma raposa itabirana aos quatro cantos que eu desaprendi a política. Ele talvez tenha razão porque me desapeguei do entendimento antigo a respeito das manobras. Agora estou vendo por outro ângulo como os que entendem temperam a comida para o mês de outubro. Sou realmente dos tempos antigos da cidade. Por exemplo, acompanhei a vez em que Daniel Grisolia deu cabo à vida, a catedral foi ao chão e Padre Joaquim Santana de Castro derrotou Renato Sampaio, esse, então, o favorito das eleições de 1970. Sou do tempo em que o único dono de gráfica em Itabira, ou melhor, tipografia, senhor Emílio Novaes, imprimia panfletos para todos e comentava no seu balcão: “A eleição este ano vai terminar empatada!” Ele se baseava no “já ganhou” que cada um se exprimia.

A partir de agora vai chover canivete aberto em forma de toques nas costas dos pretendentes. Quem tem culpa no cartório, que se previna. Aí, é iniciada de verdade a luta dos chamados gigantes. Os batedores de um lado pegam os defeitos que constroem a rejeição de uns para ampliá-la aos ouvidos e olhos do povão. Quem se preocupar com a defesa não tem tempo para se esquivar ou se defender. Acha melhor atacar também. Aí aparece o danado do baixo nível. O povo condena da boca pra fora as baixarias, mas, no fundo gosta, ama, adora. Pesquisas são bons indicadores, mas elas exprimem também a danada da tendência e, em muitas ocasiões, a canoa acaba virando.


Acredito piamente que neste ano quem decidirá a eleição para prefeito será o flanelinha. Caladinho, trabalhando ao pé do ouvido, ele espera que seu nome chegue pelo menos aos 4% nas pesquisas. Com esse percentual, tem absoluta certeza, entra forte para sentar-se à mesa com o verdadeiro proprietário da frota. Sei que muitos dirão que estou navegando em águas incertas, mas repito que os tempos mudaram. Se desaprendi de política é porque tudo muda, nada se mantém inalterado, mudei também. Não teremos sequestros, panfletos difamadores e outros recursos já fora da moda. Repito que temos já e teremos flanelinhas. Vamos aguardar.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

A bagunça politiqueira de Brasília a Itabira, passando pela Capital dos Mineiros

Como resolver os problemas do Brasil do jeito que segue o barulho da lata? Nunca! Jamais! Impossível! Em Brasília só se fala em corrupção, gravação, delação, cassação e outros ãos menos votados. Em Belo Horizonte não é diferente, com o governador quase preso numa jaula. Itabira não fica pra trás: há mais denúncias do que luta de box no canal Combate.

O que cada político tem na cabeça é se safar ou se eleger, ou não entrar na cadeia. Lá fora do Brasil dizem que o nosso país, finalmente, ganhou um apelido mortal: Pátria da Falta de Vergonha (PFV). País da Piada Pronta, do Zé Simão, está perdendo de goleada. Apesar da fama brasileira e da audácia dos nossos atuais governantes em enfiar a mão nos cofres públicos, há outros países também sem vergonha na cara. E mais: o mundo inteiro está mostrando a sua estampa de bandido.

Alguns ainda discutem que há gente boa na face da Terra, mas eu afirmo que os que resistem são apenas heróis sem causa, não entram na fornalha  da ladroagem. O dinheiro é o degradador do ser humano. Todos o querem. A maioria de qualquer jeito. O mundo é um antro de bandidos que já domina em todos os continentes e até dentro do mar. Cumpre a cada um de nós descobrir a missão, pegar nas ferramentas e ajudar a reconstruir o que foi aniquilado.

A pressa do ser humano em destruir o Globo Terrestre pode ser vista na atitude nefasta dos homens. De repente, o lado podre das pessoas se apresenta e parece que até se torna penitente. Para políticos e parte do empresariado, diante do abismo, denunciar o amigo não é mais afronta à fidelidade. De cara limpa e para se livrar do xilindró, cada um vai apontando o seu dedo. Ninguém consegue mais, no âmbito de Brasília, ou de qualquer outro lugar, estabelecer no mínimo um alicerce para governar. Não. Apenas a defesa própria interessa.

No interior brasileiro a luta pelo poder vai sendo conduzida em forma do que vier, seja na baixaria, ou na mentira, ou calúnia, ou sem escrúpulos. A segunda etapa está no Governo de Minas, que segue incerto, com denúncias cabeludas contra o chefe do executivo. As pessoas sempre dizem uma frase sobre votar certo ou votar errado. Na verdade não sobra um único e escasso eleitor que votou acertadamente. Todos nós nos ferramos.

Em Itabira, de acordo com a voz do povo, existem hoje mais de 20 candidatos a prefeito. Ninguém arreda pé e o pior, aparecem a cada dia um novo pretendente. Quem vai ganhar se sair toda essa turba de devotos do poder será fácil saber: o que detiver o maior número fixo de eleitores dependentes de uma só fonte de renda. Mas os otimistas acreditam que, na última hora, as alianças chegarão para aliviar o quadro. Desta vez, contudo, parece que na urna digital (mais fraudada que eleição na Venezuela) aparecerá pelo menos uma dúzia de nomes.

Bem, nada tenho a ver com isso. Só quero dizer que, diante de tantas sujeiras brasileiras, significa que não precisamos mais de governo. Vamos sozinhos. E volto depois para dar andamento a esta proposta nada indecente.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

CONTRA A DITADURA COMUNISTA: OU VAI OU RACHA! AGORA OU NUNCA!

De vez em quando sou surpreendido por um  conhecido ou até mesmo desconhecido no meio da rua. São muitos esses surpreendentes cidadãos, de todas as religiões e times de futebol, que exalam humor negro ou de A Vida é Bela. Alguns aparecem-me como assombração (daqueles de Machado de Assis ao descrever o horror da meia noite) com uma lista dos que morreram, outros dos nascidos. Uns declinam nomes de sobreviventes e outros de uma vida nova e cheia de luz. A maioria, contudo, traz uma resma de reclamações contra mim e contra tudo. Uma delas com a seguinte pergunta: “Por que você escreve pouco ou quase nada sobre política partidária municipal?” Olha, sei responder, mas fico mudo por uns tempos, a voz embargada dá tempo de meu interlocutor fugir no meio do povo na sua dura missão de atravessar uma rua que tem mais veículos que gente.

Como a mudez segue em frente e o cliente exasperado desaparece (hoje em dia ninguém quer ouvir ninguém, só falar), resolvo manifestar aqui a minha explicação. Primeiro, quero dizer que, ao me afastar da função jornalística desisti de fazer politicagem de boteco e esquina. De repente, entro na politicagem nacional por força de uma necessidade imperiosa. Ao farejar, ver, sentir e apalpar essa obrigação de engajamento ao sentido pátrio do termo, recordo-me que na ditadura militar brasileira fui um atacante de ponta-esquerda e ao mesmo tempo uma vítima. Não sofri repressões imediatas como se podia prever nos fatos que aconteciam e se repetiam, mas tive uma pena imputada e que até hoje me rende ação contra uma empresa.

Ao me lembrar dos fatos que começaram a se suceder em 1964, digo de mim para mim: 
que saudade tenho do Armando Bello! Prejuízo inestimável a sua partida prematura. Já disse isso, inclusive numa reunião do Rotary Clube de Itabira, que me agraciou com um troféu honrosamente emoldurado no nome dele. Armando combatia noite e dia o comunismo como se esse comunismo estivesse ali na primeira esquina. Fernando Silva e eu ríamos dele numa diversão que levava horas de debates.

Como, numa época anterior, o meu MDB era apenas contra o militarismo, não avaliei o que fosse uma simples ditadura. Um dia, porém, ele me convenceu. Foi tanto o convencimento que um ex-professor, catedrático, PHD, se exasperou comigo com a seguinte frase: “Retiro todas as notas máximas que lhe dei nos trabalhos acadêmicos, tanto em graduação quanto em pós-graduação, se você continuar escrevendo essas baboseiras sobre comunismo!”

Mais tarde, constrangido, se explicou: “Qualquer ameaça de comunismo no Brasil, os Estados Unidos intervêm, não permitem que ocorra aqui”. Mas discordei e cortamos relações políticas durante uns dois anos. O golpe de estado que está se armando contra o Brasil é sorrateiro, em conta-gotas e começou oficialmente com a edição do Foro de São Paulo, em 1990, documento assinado por Fidel Castro e Luiz Inácio Lula da Silva. Desde então, ou melhor, a partir do primeiro mandato de Lula, até mesmo os céticos já ouviram o ex-presidente explicar e detalhar os planos chamados de “Projeto do PT” que nos conduzem de olhos vendados ao fim do mundo. Logo em seguida, enfileiram atos lentos e gradativos no rumo da ditadura comunista, notadamente os mais incisivos assinados pela atual presidente, Dilma Rousseff, muitos doutrinados pelo dinossauro Franklin Martins. Não vou me alongar nesta tentativa de convencimento. Receito a leitura de um importante livro que ensina e alerta (CARVALHO, Olavo de (2013); O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. São Paulo: Editora Record, 615 p.).

O que me intriga de fato é a existência dos que ousam reclamar de mim, quando, a maioria, condena o chamado “golpe” por uns e “revolução” por outros, de 1964, e nem percebem uma conspiração silenciosa ocorrendo neste PPP (País da Piada Pronta, criação inteligente do José Simão) e  de estúpidos pseudoletrados, ou supostos intelectuais, rumo ao socialismo/comunismo (que são a mesma bizarrice), que degola a população, como estava sendo feito na Argentina e foi interrompido recentemente por Maurício Macri e em processo de extinção na Venezuela, pequeno-rico país que se tornou, em olhar incrédulo, uma pobre-coitada nação em que faltam até pastas de dentifrício e papel higiênico, para não dizer o essencial.

Amarga incoerência: ser contra a ditadura militar que não era comunista e a favor de uma  fabricante de lambedores de rapadura que são os povos conhecidos da América Latina, aos quais essa nossa futura ditadura ainda tem o descaro de enviar bilhões de dólares e de euros para cumprir os desígnios do maldito Foro de São Paulo.

O Brasil está à beira do comunismo, construído paulatinamente, às custas de uma paciência de Jó, com uma esperança da miséria total. As diferenças dos golpes são: de direita, na cara, imediato, como foi o de 1964; de esquerda, traidor, vagaroso, falsamente conduzido, como agora. Neste momento, indescritíveis escândalos de corrupção se escancaram às nossas vistas e bolsos, há uma pressa sendo imposta pelo petismo para acelerar a tomada do poder. E, então, a amada democracia escorre por água abaixo, queira ou não queira, não vê quem não quer. Mais desastrosa que corrupção, a falta dela abre caminhos para infinitos assaltos na calada dos decretos, MPs e até leis.


Se o que tento explicar do fundo do coração sincero não é entendido, vai o último apelo: basta a quem tem um mínimo de consciência e inteligência para ver a teoria e prática do que foi feito neste atual (des) governo e o que deu como resultado. Assim, está aí o meu desafio, a começar por Itabira, a que prometo me dedicar quando o pior for evitado: agora ou nunca contra as filosofias malogradas mundo afora. Nunca antes neste mundo nenhum regime da natureza dessas doutrinas criminosas deu certo. Nem Engels nem Marx, nem Lênin nem Stálin, nem Fidel nem Chávez! E não serão heróis os incapacitados Lula e Dilma!

A QUEM INTERESSAR POSSA




INTERROMPO AQUI A NOVELA DO INACREDITÁVEL...


AGUARDANDO MANIFESTAÇÃO DE INTERESSE.



terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

HISTÓRIA VERÍDICA DO INACREDITÁVEL

AMOR  A  TODO  VAPOR  E  DOR  A  TODO  CALOR
(Capítulo 7)
.Vocês estão ouvindo a Rádio Cata Prego, 95,7 FM e estamos no ar com o programa “Prego no Sapato e no Coração”. Bom dia, ouvintes! Hoje, 14 de setembro de 2009, segunda-feira. Que vocês tenham um excelente início de semana.
Esta a voz do locutor Nielsen José que, de segunda a sexta-feira, é líder de audiência no seu horário. O disc-jockey também é grande amigo de Karen que, quando pode, o ouve até esperando que decline o seu nome. Afinal, quem não gosta de ser lembrado? Sempre um abraço, como este agora:
— Alô, Karen Helena, pessoa feliz, menina ligada no programa. A você um abraço e muito grato por aumentar a nossa audiência.

Por perto, as colegas de Karen sorriem e uma ou outra resolve perguntar, admirada:
— Que felicidade é essa, hein Karen?
— Eu sempre sou feliz. Quando a felicidade não vem, eu vou atrás dela. — retrucou sorrindo a balconista da loja especializada em moda feminina. E o trabalho continua. Karen em pleno horário de trabalho e com alguns clientes sendo atendidos, outros aguardando atendimento.

Os comentários, mais frequentes às segundas-feiras, prosseguem entre fregueses da loja e vez por outra  na voz de Nielsen José, quase sempre se referem aos graves acidentes que ocorrem na BR-132, que requer duplicação. Algumas pessoas dizem que a obra foi iniciada. Mas, não, é apenas engambelo, “enrolo”, para diminuir a revolta do povo. Mais uma vez pessoas da cidade, muito conhecidas, perdem a vida ou são gravemente feridas na tenebrosa estrada que liga também os cata-preguistas à capital. Uma das clientes da loja, Maria do Rosário, traz nomes de pessoas e famílias que viveram dramas no último fim de semana.

A emissora também trata de problemas sentimentais, de coisas do coração.  Abraços e mais abraços de Fulana para Beltrano. “Maria oferece a José a melodia que vamos tocar agora e manda um recado: ‘venha me ver que estou com saudade’, e me faço de cupido” — floreia o jovem radialista muito ouvido na terra do sol quente sem mar, isto é, de Minas Gerais. Há comentários sobre textos nos sites locais e o horóscopo do dia paralisa várias pessoas para ouvir. É assim: desligam as máquinas de lavar roupa, as enceradeiras ou os liquidificadores que, por ventura estejam funcionando. A maioria, mulheres, diz que, ora não acredita nas previsões, ora comenta: “Meu Deus! Hoje deu certinho pra mim!”

A notícia mais esperada do dia não sairia divulgada no rádio, pois consistia  na concretizada transferência de Marcos Aurélio, de João Pessoa para Pinhais, ou seja, do Nordeste ao Sul do País.
— Ele está aqui bem pertinho de nós, Karen! Agora você pode vir vê-lo.
— Que nada, Nieta! Você me faz de boba. Estive olhando no “Google” e constatei que a distância ficou praticamente a mesma coisa. Então, estou feliz porque ele teve uma melhora salarial e ainda mudou de clima, se é que estava saturado do calor de sua terra.
— No detalhe clima, acredite, ele se assustou, mas isso passa. Aqui é um pouco frio para ele, que já adquiriu umas blusas. Que tal você dar a ele de presente um blusão de couro? — cutucou a amiga cupido.
— Boa ideia! Vou ver o preço aqui e você veja aí pra mim. Onde for mais barato e melhor nós compramos.
— OK.

E em breve, questão de duas horas e meia de intervalo, já estavam as duas com preços nas mãos.
— Achei um modelo aqui que custa caro demais, Nieta!
— Quanto?
—  Você não acredita: R$ 550,00, a que achei mais bonita.
—  Nossa! Aqui é muito mais barato, apenas R$ 425,00 e mercadoria excelente.
—  Então eu faço a transferência de depósito para você e você compra aí mesmo! Me mande a foto dela pelo Zap-Zap ou inbox. E também os dados de sua conta bancária.

Tudo foi feito e, em pouco tempo a transferência de valores estava realizada.

Agora o telefonema de agradecimento, tarde da noite, como sempre:
— Alô, querida Karen!
— Oi, Marquinhos!
— Que lindo!
—  O que lindo?
—  Você me chamar de Marquinho, ô xente!.
—  Uai, pode me chamar de Karinha.
—  Tá, Karinha! Que lindo o blusão de couro que me enviou!
—  Gostou?
—  Se gostei! Acabo de receber o seu presente. Nem era para me dar presente fora de época.  Meu aniversário é em maio, o Dia dos Namorados em junho...
—  É um presente de Natal adiantado.
—  Quero te ver lindo vestindo esse blusão!
—  Vou esperar você aqui.
— Combinado, Marquinhos! Vou aí, sim, estou combinando tudo com Nieta. Espero que ela cumpra comigo e iremos em fevereiro.Um beijo!
— Ela me disse. Vou ficar esperando. Mil beijos!

O namoro de Karen com Marcos Aurélio já caminhava para completar, em mês de fevereiro, um ano de profícua existência. Ambos mostravam-se felizes e havia uma expectativa muito forte para o tal encontro que planejavam. Apesar da expectativa, existia um controle feito até por Dona Querenina, mãe de Karen:
— Se eu fosse você esperaria um pouco mais de tempo para conhecer esse rapaz.
E Karen jamais discordava, pois via a mãe com todas as virtudes brilhantes e desejáveis. Contudo, Querenina não deixava de amenizar o seu palpite:
— Só quero que você seja feliz, desejo-lhe o melhor.
— Sempre concordei com a senhora, Mãe, mas conhecer o namorado é a primeira necessidade de um relacionamento amoroso, não acha?. Como vou continuar trocando mensagens com ele, já nos gostamos muito, mas sem nos encontrarmos?
— Não, filha, você está certa. Espero que faça o melhor! Isso foi o que disse.

A história continuava. O telefone, se não tocasse ao meio-dia e quarenta e cinco minutos, hora do almoço, chegavam mensagens via MSN. E na hora de dormir. Todo dia e toda noite, sem uma falta só, mesmo que ocorresse imprevisto chegaria imediatamente, justificativa, como: estava sem internet ou linha de celular; tive que me ausentar; precisei ir a um evento. As justificativas eram de ambas as partes. Ninguém falhava. Brigas? Não, nunca, pelo menos até essa altura do tempo. As fotos passaram a ser trocadas com mais frequência e foi por isso que, Karen conversava a respeito de uma imagem que mandou: ela estava ao lado de dois colegas de trabalho, dois rapazes. Comentou com a amiga Nancy, esposa de Nielsen:
— Ele fez um monte de perguntas sobre o Carlos e o Jerônimo, que trabalham na loja.
E Nancy:
— Já começou o ciúme! Tomara que não siga à frente.

Chegou o Natal e fizeram uma festa particular pelo telefone. Karen, que só bebe sucos, nem refrigerante aceita, fez um caprichado de laranja com adoçante, enquanto Marcos, do lado de lá da linha, abriu uma garrafa de vinho. Ele já está morando em Pinhais há duas semanas. O seu amigo Geraldo, namorado de Antonieta, preparou tudo e agora moram juntos num apartamento. Pagam aluguel, mas estão na expectativa de receber o apartamento do senhor Joaquim, pai de Marcos Aurélio. Ele está sendo pintado.

Também a família de Marcos já estava quase toda no Sul, mais precisamente em Curitiba: Seu Joaquim e Dona Francisca, mãe e pai dele. Coincidência ou não, os pais de Marcos já tinham imóveis no Sul, tanto em Curitiba quanto em Pinhais e também em Londrina. Um desses estava destinado ao Marcos e o amigo Geraldo. Mudariam mais tarde. Joaquim, aposentado, mas ainda empresário forte, vive de alugueis também, com imóveis em João Pessoa e em Recife, além de outros empreendimentos de loteamento e fábricas de “sei lá o que”, como diz Antonieta, que sempre completava:. “Um bem de vida ou bom da boca”, difundia, afirmando que Karen deu sorte até em entrar para uma família simples e rica. Seu Joaquim, autêntico cabeça chata da Paraíba, sempre desejou e conseguiu trabalhar no Sul por causa do clima e de um ambiente mais adequado econômica e financeiramente. Os outros filhos, irmãos de Marcos, dois rapazes e uma moça, ficaram na Paraíba por enquanto.

Os namoradinhos falavam em casamento. Sim. Assunto de todas as conversas. Em formar família. Apesar dos três filhos de Karen com Enéias, ela, com quase 35 anos, queria pelo menos um casal para completar a sua felicidade. Com encontro marcado para daqui a apenas um mês, Karen acabava de receber uma surpresa pelo Correios: a famosa “aliança de compromisso”, que gera uma expressão assim no Facebook: “em um relacionamento muito sério”. 

Além da aliança de prata, chegou uma foto de Marcos com Karen, que ela agradeceu surpresa, assim: “Meu gato, já estamos juntos! Que este sonho se realize!” Obra de um amigo de Marcos, foi feita uma montagem via photoshop e postada na página de ambos. E era nada mais, nada menos que os dois abraçados à beira de uma cachoeira. Paisagem indescritível ao fundo. Nunca tanta sede de amor desfilou pelas páginas internacionais do Facebook, se bem que trocadas apenas entre duas pessoas. Estamos ainda em janeiro e a expectativa do encontro deixava Karen de coração batendo mais forte. Quando abriu o seu Face, em Pinhais, já tarde da noite, o paraibano não se conteve  ao ler que era o gato e que estava junto da gatinha, se inspirou, em forma de agradecimento, por naquele momento, e postou a mensagem: 

“Te amo. Com todas as letras, palavras e pronúncias. Em todas as línguas e sotaques. Em todos os sentidos e jeitos. Com todas as circunstâncias e motivos. Simplesmente, te amo” — assinado: Marcos Aurélio. Nunca, em todo o quase um ano de namoro Karen se emocionou tanto. Chorou. As lágrimas faziam curvas no seu rosto arredondado como se não estivessem querendo cair. Ela não se conteve. Dona Querenina entrou no seu quarto e viu aqueles olhos vermelhos:
— O que é isso, minha filha? O que aconteceu?
— Nada, Mãe! É uma mensagem linda que recebi aqui. Depois mostro à senhora. Preciso aproveitar o momento de inspiração e ver se consigo dar resposta.

E a resposta não tardou: “Que não faltem bons sentimentos. Que nos falte egoísmo. Que nos sobre paciência. Que não nos falte esperança. Que cada caminho escolhido nos reserve boas surpresas. Que cada um de nós saiba ouvir cada conselho dado por uma pessoa mais velha. Que não nos falte vontade de sorrir. Que nenhum de nós se esqueça da força que possui. Que não falte fé e amor.” Assinado: Karen Helena. Depois disso, aliviada pelo susto de uma bater forte no peito, dormiu como um anjo faria, segundo dizeres das mais cândidas amigas.

Mas vem o imprevisível, nos últimos tempos rondando a vida de Karen. Foi o seguinte: Marcos não quis telefonar, alegou que estava muito ocupado com a nova mudança e encarregou a sua amiga Antonieta de resolver o assunto. Assim:

— Karinha, minha filha, tenho uma notícia para você. Nem o Marcos quis dá-la de primeira mão!
—  Meu Deus, o que aconteceu? Diga logo porque o meu  coração bate muito forte!
—  Acalme-se! É o seguinte...

E a ligação caiu. Demora de uns dez minutos e novamente o telefone toca:

— Alô!!! Essa porcaria de operadora de telefonia celular está me dando raiva — esbravejou Antonieta lá das terras de Pinhais.
— Me diga logo, antes que caia a ligação de novo, Nieta!
— É o seguinte: a empresa em que Marcos trabalha o convidou ou o promoveu a fazer um estágio em Portugal. Ele ainda não deu a resposta, mas quer que você se inteire do assunto e dê o seu palpite.
— Nossaaaaaaa! Que loucura! Estávamos pensando em uma ida aí em fevereiro, na data de comemoração de um ano de namoro. Não é possível!
—  Olha, Karinha querida, ele vai conversar com você. Pediu-me apenas para preparar a sua cabeça. Ele vai telefonar-lhe hoje mesmo, à noite, e expor a situação. Pelo que ele me disse, a resposta será sua. Marcos quer ouvir a sua opinião.
— Tudo bem. Vou aguardar. Quem sabe ele muda de ideia, né?
— Ou lhe mostra um planejamento mais interessante. Que tal vocês morarem em Portugal?
— Não sei não, viu? Tenho a minha família, a vida pra mim está mudando muito rapidamente, estou me assimilando, mas mudar de país agora não é meu desejo.

Despediram-se com Karen completamente muda, olhando para o teto, as pessoas fitam-na naquela hora de almoço também assustadas, cada uma com uma cor diferente. Wilton avança sobre ela:
— O que foi, Mãe?
— Nada! Vamos almoçar, querido!

Para aliviá-la — quem sabe! — entra em ação num parêntese, a famosa conselheira particular, a Onça Parda, lá da terrinha chamada Zumbeta e falar de amor. Mas logo uma onça? Ela, que aparece muito pouco, pelo menos é frequente nas ocasiões que ocorrem as emoções. E ela defende o amor incondicionalmente. Diz com euforia e autoridade: “Os brutos também amam”. E o intermediário desta descrição passional pergunta: “Dona Onça Parda, isso é nome de filme”. A resposta da selvagem: “Certo, correto, concordo. E se refere a um ser humano brutalizado. Como sou uma declarada feroz e selvagem, digo que entro no lugar do principal personagem, que é humano que se transforma”. Assim, a onça quer dizer que o amor existe entre os animais irracionais assim como os racionais, que se propõem a ser realmente humanos. Graças às palavras do segundo maior felídeo neotropical, menor apenas que a onça-pintada, pode ser esclarecido que amar por correspondência ou online também é amar. Depois de deixar a sua mensagem, a Onça Parda fecha o parêntese e se despede.

Chega a noite fatídica e Karen não tinha mais paciência de aguardar o chamado de Marcos. Mas, finalmente, lá pras dez da noite, a ligação ocorre:

— Alô, Karinha!
— Alô, Marquinhos! Não aguento mais esperar. O que está  acontecendo? Antonieta me massacrou com uma notícia que acaba com a nossa possibilidade de nos ver em fevereiro. Você não pode fazer isso comigo! Vem cá, pelo amor de Deus!
— Não, meu amor! Vou viajar para Portugal amanhã. É uma oportunidade que nunca mais terei na vida. Vou trabalhar numa empresa em sistema de treinamento e ao mesmo tempo de monitoria. Ou seja, vou ensinar e aprender. Nada está selado como definitivo sobre ficar lá ou não. Faço-lhe uma  promessa: já conversei por telefone com diretores da empresa e eles autorizaram a minha vinda em fevereiro ao Brasil. Então, desde já, adianto a você que o nosso encontro não está adiado. Palavra de honra que estarei aqui no país com você.

Foi um alívio para Karen que está cada vez mais apaixonada. Deixava transparecer, embora dissesse pouco. E aí estão as maravilhas acontecendo. Falta o quê? Logicamente, a promessa do encontro. Anteriormente, o dia 13 de fevereiro tinha sido marcado, agendado. Onde seria? Os detalhes iriam ser acertados mais na véspera. Agora o que interessava é que dois pombinhos seriam soltos em algum lugar de Belo Horizonte, ou Cata Prego, ou onde fosse, até mesmo no Jardim Zoológico.

Uma vida toda mudada. Karen nada queria mais na vida fazer, principalmente naqueles dias. Uma expectativa que não a deixava concentrar-se sequer no trabalho. Dia desses deu um troco errado para uma cliente na loja. Sorte que era amiga dela e também honesta. Seria um prejuízo para si própria, pois o caixa diário não fecharia. A menina tentava se concentrar, mas não conseguia.

Outra vez foi a uma lanchonete no centro da cidade e pediu um suco e uns salgadinhos. Depois um chocolate  — como ela ama essa guloseima! Ao sair, não pagou a despesa. Em compensação, esqueceu a bolsa numa cadeira. A movimentação de clientes na lanchonete ainda permitiu um milagre: uma garçonete pegou a bolsa e guardou. Junto dela estava a “comanda”. A bolsa foi aberta e lá estão, de cara, documentos de Karen. Em poucos minutos, ela recebe um telefonema. Era do local em que havia lanchado. Imediatamente, ela retorna e lá paga a despesa.
— Meu Deus, não sei o que está acontecendo comigo! — exclama com a balconista e a caixa.
— Fique tranquila, moça, você é de confiança! — essa a resposta que recebeu.

Conversas todos os dias. Desta vez internacionais. Falavam mais por mensagens escritas. Acertaram, finalmente: 13 de setembro, domingo, à tarde, Marcos chegaria ao Aeroporto Presidente Tancredo Neves, em Confins, região de Belo Horizonte. Só faltava confirmar a hora da chegada. Grande dia seria. Ela de aliança de compromisso e esperando que ele chegasse assim também. Haveria um abraço e um beijo cinematográficos. Karen já conhecia Confins de algumas viagens. Queria ir lá sozinha, mas Antonieta se adiantou e disse que iria com o seu namorado Geraldo Bonifácio.

Nas conversas entraram as belezas de Lisboa. O rapaz estava, parecia, também apaixonado pela terra de Camões e Fernando Pessoa. Lá ele conheceu grandes paisagens e se encantou com a educação do português. Não era um povo de que diziam absurdos como, por exemplo, piadas. E estava programando passear um dia com Karen nas cidades próximas, como Aparecida, de que ouvia falar belezas e mais belezas. Ele católico meio relapso e Karen mais dedicada um pouco, achava que gostariam de passar pelo menos algumas horas na cidade, distante cerca de 100 quilômetros. Ele descrevia as belezas de Portugal para a namorada, ao telefone. Aos poucos ela começava a gostar, também da cidade.

Contudo, vai chegando a hora do casal no Brasil. Hoje é 10 de fevereiro de 2010. O telefone toca e Karen se precipita para atender, atropelando cadeiras e mesas. A voz do lado de lá é de Antonieta, cujo zunido desaparece num segundo. Karen repõe o aparelho no gancho. Espera tocar novamente. Não toca. Resolve discar o número de Antonieta. Telefone ocupado, é o sinal que recebe. De novo no gancho, o telefone fixo da casa de Dona Querenina não toca mais. “Cadê o meu celular?” Wilton, seu filho, corre ao seu quarto onde ele toca também.  Atende-o e dispara escadaria abaixo para entregá-lo à mãe. Karen diz um alô quase afônico, já que aquele momento estava um tanto quanto tenso. Antonieta dá uma informação do lado de lá.

E Karen emudece. Esfria. O que aconteceu? Não acredita. Olha para cima e para os lados procurando constatar se era mesmo verdade a notícia que recebia. Nem um pio sai de sua boca. Respiração funda começa a chorar.

— Meu Deus! — só isso diz e parece desmaiar no sofá. Silêncio...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

HISTÓRIA VERÍDICA DO INACREDITÁVEL. (Capítulo 6)

O PASSO DIFÍCIL DA AMIZADE PARA O AMOR

Enéias chegou cedo à sua casa, viu e sentiu com um certo ressentimento, de vazio por dentro, que, agora, a separação estava consumada. Engraçada a questão, serve até para muitos exemplos aos casais que vivem procurando parâmetros em questões similares: enquanto o marido esperava reconciliação, a esposa Karen  simplesmente desejava ser reconquistada pelo próprio marido. Como nenhum dos dois tomou a iniciativa de uma conversa pacificadora ou romântica, deu nisso, ou seja, no nada feito. Quer dizer: nem sempre o silêncio é a solução para os quesitos de uma vida em paz, quanto menos a inércia.

Nessas horas, quem sabe, modestamente, um bom vinho tinto seco a dois, ingerido sob o silêncio da noite ou da madrugada, resolva. E, assim, ou seja, sem uma tomada de medidas inovadoras, passaram-se os dias sequentes para adaptação à nova vida da dupla que encerrava 17 anos de união. Karen volta para a casa da mãe e leva consigo  o “rapa de tacho” Wilton com pouco mais de sete anos àquela altura. Das meninas, Ana, a mais velha, fica com o pai e a do meio, Adília, parte para o Vale do Aço para estudar.

Enquanto isso, na Paraíba – eita João Pessoa boa! —  a vida queimava de calor e amor, saudade sem estrutura inicial, mas viva e forte, segundo palavras do já apaixonadíssimo Marcos Aurélio. Ele dispõe da presença de um amigo confidente, Geraldo Bonifácio, as notícias transmitidas à namorada Antonieta, e Karen, agitada e esperançosa de uma vida em paz na velha São José do Cata Prego. Tempos climáticos diferentes, quente no Nordeste, frio no Sul e temperado no Centro-Sul, mas o tempero de sentimentos se dava mesmo sob as rédeas de Maria Antonieta, só dela, dona de toda a situação, liderança inconteste.

Vamos colocar os pingos nos iis: Antonieta amava Bonifácio e este amigo de Marcos, que ama Karen, que não ama ninguém. Ou ainda espera por Enéias? Parece até aquele poema de Drummond...

“João amava Teresa 
que amava Raimundo
que amava Maria 
que amava Joaquim
que amava Lili
que não amava ninguém...”

Parece com a Quadrilha de Drummond,  mas não é. Virou apenas enfeite para o divertimento de muitos os que acompanham uma história de vida. Pois, então, muita gente quer saber o que vai dar esta história e não há pressa para seguir à frente. As pessoas são pacientes nas novelas de TV, mas por aqui preferem a brevidade. Tudo será narrado conforme o que se sucedeu, até com mais presteza. E, agora, há uma mudança bem acentuada ocorrendo na vida de algumas pessoas. Karen, por exemplo, está saindo do estado de expectativa de retorno à monotonia de uma vida de casada ou meio-casada, terminando a sua expectativa de ser reconquistada, estancando-se agora numa desilusão sem medidas. O que era intrigante neste caso até agora é que na vida de Karen e Enéias jamais um equívoco, uma discussão turvaram a felicidade conjugal. De repente, tudo vira de cabeça para baixo.

A desilusão era um vácuo coberto por uma amizade virtual bem adiantada, por sinal, com aquele “protegido” da cupido Antonieta. Realmente, Karen gostava de ser cortejada e o era por mensagens no MSN ou SMS e até Zap-Zap, Face ou ao telefone, por Marcos. Só que preferia que mantivesse aquela situação como amizade.

Pelas ruas da cidade, tortuosas e movimentadas, ela, Karen não ia além do que podia a sua simples imaginação. Com quase ninguém para conversar, reparava que todo mundo estava sempre ocupado ao celular. “Incrível, que mundo é este?”! Sentia a mudança nas relações pessoas com pessoas. Via amigos, amigas, conhecidos, desconhecidos, todos indisponíveis. É uma mania esquisita do momento, o mundo parece optar por contato online a um frente a frente, cara a cara, olho no olho. A maioria digitava, outra parte ouvia música. Nas caminhadas em alguma avenida, é comum encontrarem-se casais desligados, ou seja, cada um no seu fone de ouvido.

A vida, a que chamam de real, vai se transformando aos poucos em vida silenciosa. Reduzem-se os contatos interpessoais, poucos abraços e beijos. A tecnologia toma o lugar do sentimentalismo. Ela própria, na sua nova solidão, tentava se adaptar a esse novo mundo. E não era mais ninguém, a não ser as duas sagradas criaturas: Antonieta lá do Sul e Marcos, no Nordeste. Uma a empurrando ao amor que lhe era duvidoso e outro, terno e cada vez mais amável, confortando-a pela vida que considera sempre um desafio.

Ela própria entra em êxtase: “Não é desagradável ser esse relacionamento uma amizade pura”, comentava Karen com os mais próximos.  “Mas, por que, meu Deus, ele insiste em amor? Existe base para esse salto?” — Pensava consigo mesma ou às vezes com os  mais chegados. O que a intrigava era que, se ele não enviasse uma mensagem, não proferisse um alô, a tristeza e o vazio vinham logo, sentia que Marcos  está fazendo falta  com as suas palavras mansas e oportunas para cada momento. Mesmo porque não o conhece ainda pessoalmente. As reflexões valiam para conter o seu ardor de ávida por amigos. Tanto que ela teve esta conversa com Antonieta:

— Nieta, queria que o meu relacionamento com Marcos não passasse de amizade.
-— Também eu penso assim. Só que ele virou totalmente a cabeça e quer que seja um namoro sério e fiel.
— Impossível! Como vou namorar alguém que não conheço?
— Eu conheço e o abono pra você. É uma pessoa muito atraente, desejado por todas as meninas, sério e correto.
— Vou acreditar em você até que o veja, pegue em suas mãos e até possa ter ou não o desejo de beijá-lo. Enquanto isso não acontece, gostaria que ele me tratasse como amiga, ora, somos amigos! Fora disso não é mesmo razoável. 
— Olha, Karen, acho que você está certa. Vou ver se consigo fazê-lo entender e, assim, promovam um encontro físico, pessoal, tangível, total.
— Tudo bem. Um bom dia para você!
— Bye!

E assim aconteceu. Imediatamente, o panorama ficou mudado. De repente, Karen sentiu, pelos novos contatos, por escrito ou por fala, com Marcos, a sua mudança inesperada. Ela  estranhou a aceitação imediata ao novo sistema adotado por ele e e até quis perguntar o motivo. Ora, pensou consigo mesma, nem dava tempo para que Antonieta falasse com ele.Inteligente e cautelosa, calou-se. Na voz como sempre arranhada do amigo Marcos, percebeu que ele tinha sido advertido e, imediatamente, tomado a sua decisão. Até que houve uma conversa entre os dois assim:

— Marcos, você é mesmo meu amigo?
— Claro, isso está muito claro. Você tem dúvida?
— Olha, estou sentindo falta de umas palavras que me dizia e não diz mais... como, por exemplo, que quer me ver, que quer me dar um abraço, que gosta de mim.
— Acho que não preciso mais dizer isso a você, Karen. Quero que se sinta à vontade.
— O que você pensa de minha situação, de meu fim de relacionamento com o Enéias?
— Não faço nenhum juízo. Nenhum... Acho que você é madura para resolver tal questão com maestria. Você quer voltar pra ele?
—Queria, mas não quero mais. Não quero porque lhe dei a oportunidade da reconquista e ele não a aproveitou. E acho que agora está bem feliz com a sua antiga namorada.
— Se você tem a certeza de que ele tem outra namorada, acho que deve esquecê-lo imediatamente...
— Era isso o que queria ouvir de meu amigo.Obrigada.

E, então, ia o amor sendo colocado de lado, de molho, no banco de reservas. Ou como diz sempre Nielsen no seu programa de rádio, “os sentimentos sendo cozinhados como um galo duro”. Logo ele que é cruzeirense, torce pelo time azul, mesmo sendo comentarista de futebol, que respeita o rival Atlético como time forte e duro. E “vingador”, como está escrito no hino alvinegro. Mas, para a sua esposa, Nancy, é sempre assim, os casos se repetem. Sem nenhuma maldade, o locutor comenta em programa que tem sido cada fez mais frequente os namoros virtuais que acabam se tornando reais. E contou um caso interessante sobre um casal que se casou online sem se conhecer pessoalmente.

Todos, afinal, torcem para que haja um desfecho feliz naquele imbróglio romântico em que se transformara a vida daquelas pessoas, todas amigas, principalmente o casal Enéias-Karen, de sua família inteira e até mesmo Antonieta, que fora funcionária de seu empreendimento comercial, um restaurante feito com  amor de iguarias deliciosas. As sugestões do locutor, diariamente sobre o prato do almoço era um momento bem quente de seu horário. Muita gente se embriagava de fome pelas sugestões. Esse é o poder do rádio!

Aqui entra, num rápido parêntese, não apenas um intruso, mas acabam sendo duas oportunas criaturas metidas a sábias. Ele, o Gambá da Rua de Baixo e o Sapo da Ponte. E olhem que ficou na espreita a Onça Parda, decidida a dar um palpite também. Os dois curiosos, lá de outras paragens, da cidade vizinha de  Zumbeta,  pequenina e por isso chamada de Pílulas de Vida do Doutor Ross, isto é, que resolvem, começam a discutir entre si sobre o tema do momento, um papo cabeça entre bichos. Pode?

— Você acha, senhor Sapo, que é correto transformar amizade em namoro?
— Ora, isso já foi discutido, considero que entre os dois sexos é impossível. A amizade já é namoro.
— Então, por que chega com essa cara de reprovação?
— Você entendeu mal, seu Gambá bicudo! Sou contra transformar uma amizade virtual em amor virtual...
— Mas que tipo de amor você, Sapo, enxerga entre Marcos e Karen, se ambos estão a uma distância de mais de 2 mil quilômetros?
— Qualquer atitude de ambos é precipitação, amigo Gambá. Acho primordial que se conheçam pessoalmente. É preciso captar gestos, palavras, atitudes, sondar simpatia, empatia, tudo para se ver que há realmente sentido a continuidade dessa história.
— A empatia é fator primordial. Ela resolve tudo, meu caro Sapo. E chega de o senhor continuar coachando a noite toda, perdendo tempo em dizer a verdade. . 
— Então, vamos aguardar, seu fedorento! – finalizou a conversa o senhor Sapo da Ponte. E a Onça Parda, que funcionou espontaneamente como mediadora, pediu que fosse fechado o parêntese.

Tá certo!. Queira ou não queira o mundo ao redor, eis que a palavra amizade não comporta  mais neste presente caso, porque, de repente, ambos perceberam que não era mais possível um viver sem o outro, mesmo que fosse isto mesmo, online, a dois mil quilômetros de distância. 

E ocorria uma tentativa até certo ponto interessante: Geraldo tentava convencer Marcos a mudar de cidade. Estava  Geraldo prestes a conseguir uma transferência empresa ou mudança de emprego, seu objetivo agora seria levar consigo o amigo. Segundo Antonieta, que o instigava sempre, esse se tornou o objetivo, ou seja, praticamente o próximo passo da vida desse grupo dentro do qual um ama o outro. Nos seus encontros no centro da cidade, os amigos trabalhavam a ideia. Geraldo arrastou Marcos para um cafezinho, e aí foi demorando até cair a noite e começarem a pedir cerveja mais cerveja. Durante a conversa, regada a bebida preferida dos dois, havia uma condição: trabalhar noutra cidade, no Sul, comportaria mudar-se completamente. Marcos Aurélio tem pai e mãe, além de duas irmãs e teria que encaixar todos noutra cidade bem longe.. Mesmo que  a família tenha boa condição financeira, então, bastava para uma mudança de região, já que o pai de Marcos tinha de há muito empreendimentos pequenos em Curitiba.

— É muito trabalhoso, Geraldo, convencer meu pai e minha mãe a se mudarem para o Sul — asseverou Marcos Aurélio — mesmo com imóveis lá.
— Vamos combinar — concluiu o amigo — você toca no assunto com ele e o resto deixe por minha conta.

Despediram-se e em poucos dias, Seu Joaquim e Dona Francisca resolveram comprar uma casa na praia, perto de Curitiba, além de um apartamento no centro da bela cidade sulina. Mas ainda não arredaram pé de João Pessoa. Seria, no caso, como disse o pai de Marcos, investimentos. Mas o mecânico-metalúrgico Marcos esperava contato do amigo Geraldo Bonifácio para se desligar de sua empresa. Faltava um novo emprego para Marcos, o que também era questão de tempo, devido à sua competência, esse é o pensamento de todos. 

Por isso não durou muito e a sua saída de João Pessoa foi sentida demais pelos diretores com os quais ele trabalhava, mas, como dizem os experientes: as oportunidades não aparecem todos os dias e agora seria uma nova vida, numa região mais próspera. E estava, então, contratado o rapaz, ou melhor, os dois amigos numa mesma empresa, a Foster Co., multinacional metal-mecânica paranaense.

Movida pelos acontecimentos, sentindo apenas que essa mudança poderia ter sido melhor para os dois, ou seja, que Marcos viesse para São José do Cata Prego, Karen sentiu, geograficamente falando, que o “amigo” era uma bênção de Deus, pensou logo que ir ao Sul ver essa pessoa fosse infinitamente mais fácil. Na vontade de ir, no desejo que parecia ser de ambos, o ânimo tornou-se patente. E se misturaram desejos de encontro com a real situação do momento. Afinal, Karen e Marcos, que continuavam trocando mensagens, eram o quê? Amigos, namorados, desconhecidos especiais?

Depois da trégua que deram para conter o namoro, voltaram a parecer  espontaneamente, nas mensagens diárias o tratamento  “querida” “querido”, “meu bem” e até “meu amor”. Então, Karen, livre e desimpedida resolveu permitir ou deixar acontecer, como mandam as regras desse sentimento que, segundo os poetas, chega sem que se perceba, embora, um dia desapareça também, deixando ou não vestígios ou marcas. 

No caso de Karen e Marcos estava definitivamente feita a ponte da amizade para o amor. E nem se cogitava mais ouvir a expressão virtual. Era tudo real e fim.