sexta-feira, 22 de outubro de 2021

É HOJE O “DIA D” DO CENTENÁRIO DE DOM MÁRIO TEIXEIRA GURGEL: REMEMORANDO SUA VIDA RESUMIDAMENTE

Nesta data (22/10/2021), Dom Marco Aurélio Gubiotti celebra, missa às 19 horas, na Catedral Diocesana de Itabira, em intenção da alma de Dom Mário Teixeira Gurgel, marco de seu centenário de nascimento.


SÍNTESE DA CRONOLOGIA DE DOM MÁRIO




22/10/1921 – Nascimento de Jésus Teixeira Gurgel, em Iguatu (CE), filho de Mário Gurgel Teixeira Guedes e Ana Alda Teixeira Guedes, sendo componente de uma plebe de 20 irmãos.
02/02/1938 – Jésus faz profissão religiosa na Congregação Salvatoriana do Rio de Janeiro.
29/06/1944 – Ordena-se Padre, também no Rio de Janeiro.
10/07/1944 – Inicia sua vida sacerdotal nas cidades de Jundiaí (SP), Parangaba e Barbalha, ambas no Ceará.
14/05/1967 – Faz ordenação episcopal (torna-se bispo), quando foi titular da Sesta e Auxiliar do Arcebispo Dom Jaime de Barros Câmara, no Rio de Janeiro. A partir dessa data, passa a chamar-se Mário Teixeira Gurgel, em homenagem ao pai, adotando seu nome para toda a vida.
18/06/1971 – Nomeado pelo Papa Paulo VI, assume a Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano.
21/09/1993 – Comanda uma estratégica reunião na Catedral de Itabira, com autoridades e representantes da sociedade civil organizada. É criada a Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira (Funcesi) que se agiganta a partir do ano seguinte.
01/01/1993 – Ocorre uma verdadeira história de êxitos em Itabira e em cidades vizinhas que serão resumidas em vários tópicos. São 25 anos com o bispo sendo titular da Diocese e mais dez carregando o título de Bispo Emérito, dando sequência ao seu trabalho. Destaca-se o fato de sua escolha: continuar a vida em Itabira.
26/06/1994 – Missa em ação de graças celebrada por Dom Mário na Catedral de Itabira pelo cinquentenário de ordenação sacerdotal dele próprio, ocasião em que recebeu uma mensagem especial do Papa João Paulo II.
16/09/2006 – Ocorre seu falecimento, num sábado, às 11h16, no Hospital Nossa Senhora das Dores, Itabira.
17/09/2006 – Às 18 horas, seu corpo desce à sepultura na Cripta da Catedral de Itabira. O ritual de encomendação ficou a cargo do então bispo Dom Odilon Guimarães Moreira.

SÍNTESE DE ATIVIDADES DE DOM MÁRIO




A partir da posse, Dom Mário desenvolve uma série de atividades, tanto nas Comunidades Eclesiais de Base, na Caritas Diocesana, atividades na Associação de Proteção à Maternidade e à Infância de Itabira (APMI), Conselho Municipal do Bem-Estar do Menor (Combem), Provedoria do Hospital Nossa Senhora das Dores, Asilo São Vicente de Paulo (Lar de Ozanam, ligação com entidades internacionais (Estados Unidos e Alemanha) para abastecimento de leite e medicamentos na APMI.
Suas ações mais diretas, resumidas:
— Implantação da Gráfica Diocesana;
— Construção da Catedral de Itabira;
— Construção do Seminário de Itabira e João Monlevade;
— Participação constante na vida comunitária itabirana e busca incansável de recursos no exterior (EUA e Alemanha).
— Dedicação quase total à saúde e à educação, tendo como foco a Funcesi e o Hospital Nossa Senhora das Dores.
— Criação e continuidade no trabalho da Pastoral da Criança;
— Criação e participação na Legião de Maria;
— Pontual dedicação à comunidade mais pobre de Itabira, do Bairro Pedreira do Instituto e início de construção de uma igreja no bairro.

COM O PAPA E SEU TESTAMENTO




Dom Mário sempre teve acesso a todos os papas de seu período no bispado de Itabira e Coronel Fabriciano. Um deles, o Papa João Paulo II sempre enviava a ele constantes mensagens.
Podem ser consideradas suas últimas palavras o que ficou registrado em seu testamento, a mensagem lida pelo Padre Francisco Guerra durante a missa de sétimo dia: “Recomendo-me às orações de todos, especialmente dos sacerdotes, a quem peço um momento da Santa Missa”.

José Sana

Em 22/10/2021

Fotos: Arquivo de Silvério Bragança
Foto 1 - Dom Mário com o Papa João Paulo II;
Foto 2 - Dom Mário e Dom Lelis Lara com o Papa João Paulo II
Foto 3 - Mensagem do Papa João Paulo II no quinquagésimo aniversário de ordenação sacerdotal de Dom Mário Teixeira Gurgel.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

FALTAM 2 DIAS PARA A “DATA D” DO CENTENÁRIO DE DOM MÁRIO: SEU “BRAÇO DIREITO” DURANTE 35 ANOS FALA SOBRE ELE

José Sana – Silvério, você se lembra qual foi a última foto de Dom Mário? Silvério Bragança – Foi exatamente a tirada por seu filho Júnior quando eu saía com ele do Hospital, em Belo Horizonte ou Nova Lima, o Biocor. Naqule dia, para levantar a sua moral, o médico achou melhor que ele viesse de carro para Itabira. Paramos na entrada da Serra da Piedade e lembramos as vezes nas quais ali estivemos. Quando chegamos, permanecemos na porta da Capela do Santíssimo na Catedral e fizemos orações, agradecendo e pedindo a Deus por sua melhora, depois fomos para sua casa. Dias depois, infelizmente, era chegada a sua hora, ele faleceu.



“BRAÇO DIREITO”



J.S. — Você foi, na verdade, o “braço direito” dele. Praticamente todo mundo em Itabira sabe disso. Concorda? S.B. – Talvez, por obra do destino, estivemos sempre juntos desde sua chegada a Itabira, em 1971 até o instante final dele. J.S. — Também acompanhamos os passos de Dom Mário na Diocese, à medida que nos foi permitido e sempre notamos você sempre presente. Pode descrever, resumidamente, em quais ações você mais atuou? S.B. – A comunidade itabirana e regional teve esse privilégio. Nas ações indicadas por Dom Mário, tanto na APMII, em que eu era o presidente; na Funcesi também; no Hospital Nossa Senhora das Dores eu era vice-provedor; na Caritas Diocesana também como vice; ajudei a receber medicamentos enviados por entidades internacionais administrados pela APMII; e assim muitos outros, como centros de construção e manutenção de sedes comunitárias, mutirões de casas etc., tudo consistia em trabalho efetivo até nos fins de semana. Você presenciou em muitas vezes que estávamos acompanhando sempre por influência e confiança dele.





NÚMERO 1 E ESPONTÂNEO
J.S. — Tudo enquanto ele era titular da Diocese, tendo escolhido viver o resto da vida em Itabira? S.B, — Sim, ao todo, 35 anos, pelo menos dez como escolha de permanência e escolha dele. E não é minha a palavra, mas sim dele, às vezes escrito pelo próprio Dom Mário. Veja, por exemplo, o seu autógrafo no livro “Só rindo”, que lançou: “Ao meu amigo número 1, o primeiro exemplar, com gratidão, + Mário. Itabira 31/1/2004”. J.S. — A sua identificação com ele foi algo espontâneo e instantâneo, de repente os dois se entenderam? S.B. — Verdade. E você me conhece e sabe da minha conduta, mas em alguns momentos é importante mostrar o lado omisso da história. Dom Mário me deixou uma lembrança muito forte: abria sempre o coração e deixava transparecer toda a sua franqueza. Este seu trabalho de respeito de Dom Mário que você está fazendo, é importante para, realmente , mostrar o quanto ele foi e é valioso para Itabira e região. São tantas ações que vale a pena você continuar mesmo após esta contagem regressiva. E, pelo que tenho visto, você é pioneiro. Temos uma outras iniciativa: vida de Dom Mário está resumida em depoimentos gravados por um amigo, que tem o direito autoral , a meu pedido. Tenho a gravação original que está sendo editada e espero publicar em breve. As piadas, contadas ao vivo por ele, têm outro valor também


MEMÓRIA VIVA



J.S. — Fale mais sobre ele... S.B. — Itabira, que deve ao prestígio dele a solução de uma série de questões, pode agarrar-se à sua memória como incentivo. Acredito que nós, verdadeiramente itabiranos, não podemos nos afastar de seus exemplos, suas lembranças e mantermos acesa a chama da memória dele. J.S. — Agradeço muito a você pela sua ajuda neste nosso propósito da memória viva. Não vamos deixar seus exemplos serem apagados, que todos os verdadeiros itabiranos nos ajudem da mesma forma.


    DOM MARCO AURÉLIO GUBIOTTI




Marco Aurélio Gubiotti (Ouro Fino, 21 de outubro de 1963) é o atual bispo diocesano de Itabira-Coronel Fabriciano. Foi ordenado sacerdote em 14 de janeiro de 1989, em Ouro Fino, Arquidiocese de Pouso Alegre. Foi nomeado pelo Papa Bento XVI no dia 21 de fevereiro de 2013, como novo bispo da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, sendo ordenado em 26 de maio do mesmo ano em Ouro Fino. Assumiu a Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano em 16 de junho de 2013. Coincidentemente, nesta data, hoje (21 de outubro) Dom Gubiotti comanda as celebrações referentes ao centenário de nascimento de Dom Mário, cuja data natalícia ocorre amanhã. Parabéns a Dom Gubiotti! José Sana 21/10/2021


Fotos: Foto 1 - Silvério e Dom Mário (Júnior Sana); Foto 2 - Em ato cívico (Galvani Silva); Foto 3 - Dom Marco Aurélio Gubiotti (Redes Sociais).

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

FALTAM 3 DIAS PARA A “DATA D” DO CENTENÁRIO DE DOM MÁRIO: VEJAM E APRECIEM PALAVRAS DE UM SEU ADMIRADOR PRÓXIMO

O professor e mestre José Carlos Fernandes de Lima escreve a nosso pedido:

A partir da criação da Funcesi, tive a alegria e a honra de poder aprender muito com Dom Mário. Foi um líder visionário inspirador, de espírito ecumênico e sempre aberto para o diálogo. Sua capacidade de mobilizar, aglutinar e envolver pessoas contribuiu substancialmente para a implantação e desenvolvimento de várias iniciativas e projetos em Itabira.

 

A comemoração do centenário de seu nascimento está sendo uma excelente oportunidade para resgatar todas as contribuições de Dom Mário a Itabira, desde quando aqui chegou até sua partida para o descanso eterno.




Sua convicção no “emponderamento” da sociedade civil organizada manifestou-se claramente na criação das Comunidades Eclesiais de Base (Cebs); das Associações de Moradores, dos Clubes de Mães, nos mutirões e na criação da própria Funcesi, que ele considerava como o seu “gol de placa”. Exerceu na plenitude o seu papel de Bispo assumindo as responsabilidades inerentes do seu cargo, bem como enfrentou inúmeros desafios em Itabira e nos municípios pertencentes à jurisdição da Diocese.

 

Um Bispo piedoso, absolutamente convencido de que o poder da fé e da oração são capazes de transformar as nossas vidas. Além de piedoso, também “piadoso”, pois sempre ilustrava suas pregações, suas palestras, suas reuniões e conversas com piadas e pitadas de humor que ajudavam a quebrar a rigidez das formalidades, propiciando espontaneidade, leveza e compreensão dos assuntos abordados. Dom Mário Teixeira Gurgel, eterna ausência presente, que continua nos animando e guiando a missão de construir uma sociedade mais justa, fraterna e solidária... ‘O presente é tão grande, não nos afastemos. Não  nos  afastemos muito, vamos de mãos dadas’ (CDA)”.

 

Texto de: José Carlos Fernandes Lima. (professor, ex-diretor de várias áreas da Funcesi desde a sua criação, em 1993).

Fotos: Arquivo (Foto 1 - Professor José Carlos Fernandes de Lima, autor do texto); Foto 2 - Dom Mário faz pronunciamento em solenidade na Funcesi).


(OBS. O texto está também publicado no Facebook)


terça-feira, 19 de outubro de 2021

FALTAM 4 DIAS PARA A “DATA D” DO CENTENÁRIO DE DOM MÁRIO: POLÍTICA, SEQUESTRO E MULTIDÃO

É claro que Dom Mário Teixeira Gurgel não era um santo. Claro também que tinha os declarados “inimigos” políticos. Ele mesmo contou que uns próceres da vida pública itabirana foram a Brasília pedir a sua saída da Diocese. Temos este e outros  casos ou causos a narrar agora. Entre os outros, um tal sequestro, negado por ele, além de uma tarde inesquecível no Estádio Israel Pinheiro.  

Com certeza,  dirão os céticos, os quais existem às  dúzias, ou resmas, que o prelado nordestino-itabirano tinha as suas preferências partidárias e derrubava candidatos até considerados invencíveis. Vamos acreditar que tal crença seja verdadeira. Para tentar descobrir o segredo, fiz com ele uma série de entrevistas, algumas publicadas na imprensa local.

 

DOM MÁRIO, UM  POLÍTICO?




A pergunta seguinte partiu de um jornalista e a presenciei, bem como a resposta: “Dom Mário, o senhor demonstra explicitamente que tem simpatia por um fulano candidato; é verdade?” Ele: “Fujo definitivamente de levantar polêmicas, mas se me provocam me torno mais claro na resposta; declaro com todas as letras: é lógico que tenho os meus candidatos preferidos, mas somente Deus, a urna e eu sabemos quais são” — eis aí a sua réplica. 

 

DOM MÁRIO SEQUESTRADO?

 

Em outro tema, a pergunta partiu de mim: “O senhor foi sequestrado um dia ou tentaram raptar o senhor depois de uma missa celebrada da Catedral Diocesana de Itabira?” Resposta: “Não tenho conhecimento deste fato, até porque não sou celebridade sequestrável. Pergunto: haveria resgate e qual  ou quanto seria? Que vantagem levaria o sequestrador por manter-me em  um cativeiro? Concluo, então, que não tem fundamento  esse rapto imaginário”.

Outros fatos ocorreram e  tenho sugestões de amigos dele  propondo-me continuar narrando a história do clérigo. A proposta tem um aceite, desde que possamos montar um grupo e esse trabalhar com afinco.

 

DOM MÁRIO EM DIA DE GLÓRIA

 

E vou contar um fato em que fui um coadjuvante. Briga entre nós — sim, ele, o cara e eu o insignificante — fizemos sair faíscas de palavras no ar. Teimoso e  interessado na verdade, fui rude publicamente ao trocamos farpas metafóricas. Segui um conselho dado por ele mesmo, até que Deus transferiu o eterno lema de sua vida, suponho — “como aquele que serve” —para alguns minutos de minha vida.

Tentando resumir: Silvério Bragança, seu amigo número 1, nomeado por ele próprio, o bispo Dom Mário, liga-me e me convida para filmar o Dia da Diocese, evento anual celebrado por todas as paróquias. Tarde de domingo, 22 junho de 1986, 21 anos da Diocese e um outro marco na família do titular .

Aceitei o desafio, era dos poucos que tiveram acesso ao centro do gramado do Estádio Israel Pinheiro. Vinte mil ou mais católicos se acotovelavam nas arquibancadas. Momento máximo da festa: Dom Mário fala, ao vivo, com sua Mãe, Ana Alda Teixeira Guedes, que estava, como sempre, no Ceará. A multidão caiu no delírio como se fosse um gol épico do Valeriodoce contra o Botafogo, fato ocorrido em 17 de fevereiro de 1957 no mesmo palco.

Nos alto-falantes ressoava o carinho de Dom Mário pela  genitora que, coincidentemente, fazia aniversário: “Mamãeeeeeeee”, soltou ele retumbantemente a voz, que percorreu todas as fontes auditivas ali presentes. Registrei tais  momentos e este especialmente, dobrei-me, de joelhos ou deitei-me na grama, no palco, no alambrado,  em busca de todos os ângulos possíveis. Num instante ele, depois de alguns meses de inimizade, sorria para mim, convidando-me a viver em paz, como se traduzisse o seu gesto floreado de sorriso pacífico.

 

DOM MÁRIO: “VOCÊ É UM CRISTÃO”

 

A festa terminou, edito a fita e guardo-a, esperando o momento certo. Ligo para a residência do bispo uns dias depois.  A resposta vinda da casa episcopal: “Pode vir hoje às 15 horas”. E assim aconteceu. Mas não entrei, preferi entregar o objeto todo fechado num envelope a uma funcionária da casa. Outro telefonema: ele me chamava para ver a fita com ele. Tremi todo.

Marcamos a data e, novamente, encaminho-me à residência do prelado. Convida-me a uma sala. Liga a TV e o videocassete. Assistimos em silêncio, que parecia, em cada momento um grito de emoção. Para os costumes da época, era  eu um emérito carregador de câmera. No momento da fala dele — “Mamãeeeeee” — agradeci a Deus por eternizar a sua felicidade. Gratificante.

“Eu não vou agradecer pelo que você fez, mostrando a sua humildade no esforço de  filmar um momento importante de minha vida.  Gesto muito espontâneo, muito bom  que retribuo assim: “Você é um cristão legítimo!” Se eu já estava mudo, fiquei engasgado.

Instante de ir embora, depois de um café bem acompanhado. Ele me abraçou e repetiu as palavras, atribuindo-me o título benemérito de “cristão legítimo”. Também não respondi, não agradeci, nada fiz. Mas tinha a certeza de  que naquele momento nascia uma grande amizade.

A afetividade duraria, como durou e dura,  para sempre.

José Sana

Em 19/10/2021

Foto: Arquivo (Dom Mário em São Sebastião do Rio Preto)

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

FALTAM 5 DIAS PARA A “DATA D” DO CENTENÁRIO DE DOM MÁRIO: NOSSO BISPO ERA UM “POLÍTICO”?

Já deixo minha opinião que, com certeza, não puxa nem tem a pretensão de agradar a ninguém: político, sim, na acepção correta da palavra. Alguns chamados de socialistas o taxavam de capitalista; outros, desse lado ou neoliberais, apelidavam-no comunista.


FATOS E EVIDÊNCIAS


Contei o fato de tê-lo conduzido a um evento para benzer suas instalações comerciais. Os donos do comércio eram, ou são, declaradamente de direita radical. E lá estava ele, Dom Mário, o benzedor. De cabeça erguida.



Numa outra semana, levei-o a uma missa ao ar livre que celebrou no Bairro Pedreira do Instituto. Na igrejinha inacabada, tinha o emblema bem conhecido dos moradores como de iniciativa de Sua Excelência Reverendíssima. Por aí se vê que seria, então, um socialista capitalista ou o contrário. A meu ver, repito, Dom Mário nunca ocupou um lado ideológico, mas carregava a cruz da Igreja Católica, Apostólica e Romana.


A Salvatorian Mission dos Estados Unidos e a Misereor da Alemanha Ocidental, de países definitivamente capitalistas, enviavam mantimentos a Itabira em vagões da Estrada de Ferro Vitória a Minas. Representavam que tipo de ideologia seguida por ele? Evidentemente nenhuma. Esse processo de doações durou quase os 25 anos de trabalho de Dom Mário na Diocese Itabira-Coronel Fabriciano.


A liderança de Dom Mário no salvamento da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Itabira (Fachi), transformando-a no primeiro braço forte da Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira (Funcesi), demonstra claramente que ele imaginou uma entidade forte, como fundação comunitária, portanto, nos moldes itabiranos, eminentemente um povo operário e liderado pelo capitalismo de uma empresa de negócios internacionais, transformada em sociedade anônima. E a mineradora, hoje denominada Vale, é uma das acionistas da Funcesi, graças a influências do bispo.


Quando, no início dos anos 2000, o Hospital Nossa Senhora das Dores estava à beira do fechamento, falência prevista por ditos setores da economia, restou aos membros da Irmandade Nossa Senhora das Dores recorrerem ao bispo nordestino, entregando-lhe a provedoria. 


E qual foi a primeira ação do prelado, paralelamente à frente de uma grande diocese, com 50 paróquias e ancorando o ensino superior, mesmo com balanços de números negativos, avermelhados? Dom Mário mexeu com os pauzinhos, tomou providências e anunciou a instalação de UTIs com atendimento de alta complexidade. Hospital salvo.


Perguntado qual seria a sua lógica por investir sem dinheiro, o religioso foi claro em dar uma resposta taxativa: “Temos que evitar a transferência do enfermo para a capital por falta de atendimento de nível elevado e, paralelamente, tornar a nossa casa de saúde não só prestadora de serviços aos segurados do SUS, mas também a particulares e a planos de saúde. 


E, assim, depois de salvar a Fachi, transformando-a em Funcesi, resgatou o HNSD, fazendo-o eficiente e lucrativo. Para tornar viável os investimentos, bateu em portas e buscou recursos, enquanto os investimentos retornaram rapidamente.


Vale dizer que o atual provedor, Márcio Labruna, também já vinha e está adotando tais medidas.


José Sana

Em 18/10/2021

domingo, 17 de outubro de 2021

FALTAM 6 DIAS PARA A “DATA D” DO CENTENÁRIO DE DOM MÁRIO GURGEL: “DEIXEI A DROGA DO BISPO EM ITABIRA..."

Dom Mário Gurgel tinha um carinho todo especial para com a Paróquia de Nossa Senhora do Rosário em Santa Maria de Itabira.




Por muitos anos, toda quinta-feira santa ele celebrava a Instituição da Eucaristia e o Lava-pés. O meu pai, Getúlio Bretas, por várias vezes, o buscava em Itabira e, após a missa, o conduzia de volta à sua residência.

Numa das vezes, próximo à Barragem Santana, seu fusca foi parado numa blitz policial. O agente se dirigiu ao meu pai dizendo que receberam denúncia de tráfico de drogas e precisavam revistar o veículo.

Meu pai, disse:
— Tudo bem, senhor policial, pode revistar. Mas, eu adianto: a única droga que eu estou transportando aqui é o bispo Dom Mário. Vocês vão levá-lo?

O policial olhou assustado dentro do fusquinha e disse:
— Sua bênção, Dom Mário! Desculpe-nos! Podem ir!

Dom Mário riu muito do fato e relatou isso para os amigos.

Ao retornar de Itabira,, novamente os policiais pararam o veículo e questionaram sobre o tráfico de drogas.

Meu pai, disse-lhes:
— A droga do bispo? Deixei em Itabira.

E logo foi liberado.

Texto: Arlete Guerra Bretas (arletegbretas@yahoo.com.br) de Santa Maria de Itabira.

Fotos: Arlete Guerra Bretas

(Este texto está também no Facebook de José Sana).


José Sana
Em 17/10/2021

sábado, 16 de outubro de 2021

FALTAM 7 DIAS PARA A “DATA D”: “USE LIMÃO NO LUGAR DE SAL”, DIZ O BISPO DOM MÁRIO AO SEU MOTORISTA

O telefone toca, atendo, e era um pedido, ou melhor, uma ordem. A ligação vinha do inseparável amigo de Dom Mário durante anos a fio, Silvério Bragança. Ele me pergunta se estou ocupado às 20 horas. A resposta: “Estou, mas não estou; ou melhor, faço-lhe uma pergunta: “O que me propõe fazer?”. Ele: “Às oito da noite você pode buscar Dom Mário em sua casa e levá-lo a um tal lugar?” (“Esse tal lugar” não vou revelar, desculpe-me quem eventualmente me lê). Outra resposta e minha afirmação: “Pode deixar que farei o que pede, com muito prazer”.


Dom Mário, com Silvério Bragança, saindo do hospital: última foto do Bispo, de Júnior Sana

 

Às 19h45 estava eu em frente à Igreja de Nossa Senhora da Piedade, no Bairro Campestre, já aguardando o bispo, que também não se atrasa. Dom Mário entra no carro e, depois dos cumprimentos protocolares, bombardeio-o de perguntas, entre as quais esta: “O senhor sabe aonde vai?” Ele responde: “Sei sim, é num tal lugar assim, assim, assim”. As perguntas continuaram de mim para ele que até mais tarde preocupou-se com elas. Deve ter questionado de si para si: “Este moço nunca conserta!”

 

Seguimos com calma a curta viagem. Num minuto, chegamos ao destino proposto. Parei na porta do tal lugar e ele me pergunta “Você não vai descer?” Respondo-lhe: “Não”, e acrescento que o Silvério ficou de cumprir a essa tarefa daqui a aproximadamente uma hora. Ele, então, tenta rasgar um meio-verbo: “Quando você puder e caso queira, vá lá à minha casa que preciso conversar com você”. Ok, dei-lhe a resposta ao assumir a perplexa e impaciente curiosidade, tanto que no dia seguinte atendo o seu pedido, toco a campainha no horário mencionado como possível, às quatro da tarde mais ou menos.

 

Ele me acolhe sorridente ao abrir a porta e me aponta uma cadeira: “Você veio depressa demais! Pelo seu jeito, acho que não dormiu bem” (rs... rs ... rs...). Achei graça na frase e fui ao possível assunto logo ao ocupar a cadeira: “O senhor está me condenando porque fiz uma condenação?” Ele, que não era nada bobo, retruca: “Não estou condenando porque não condeno ninguém; aliás, a questão clara é que você ficou se estranhando  por eu ir dar a bênção àquela casa”.

 

Fez bem clara essa explicação, ainda mais extensa, que aceitei como fantástica.  Realmente, me intriguei com aquela bênção um pouco fora do padrão que eu seguia. Preferi não queimar  as mãos e a língua, economizo essa manifestação. Registro o seu maneiroso esclarecimento: “Olha, já foi o tempo em que os padres e bispos deixavam até de visitar os que estavam na boca do povo como maus; hoje, não, o esclarecimento que temos está no Evangelho, sintetizado assim: ‘não julgueis para que não sejais julgados’; fique tranquilo que só queria lhe dar uma orientação e digo que não faço parte de nenhum conselho de sentença”.

 

Fecha assim o prelado a conversa que parecia fora do contexto: “Não coma sal; evite essa malícia; use limão em seu lugar e nunca mais reclamará que a comida está destemperada”. Realmente era verdade, sal é veneno e pode ser substituído, principalmente porque requer muita água como o julgamento sugere um incômodo de consciência.

 

Abraçamo-nos,. Que lição esplendorosa tive naquela tarde! Considero-me  um privilegiado por receber tanta graça! Nunca mais esquecerei, embora possa errar porque esta situação é humana. No meio da conversa havia lhe perguntado: “Silvério buscou o senhor?” A resposta veio na ponta da língua: “Buscou, sim, ele nunca falha”. Mais uma pergunta: “O senhor receitou-lhe limão no lugar de sal para ele?” Seu imediato retorno: “Ele já sabe”.

 

Conclusão: sou um ser humano teimoso e pecador, é claro que sou, mas um conselho sigo ao pé da letra: evito o sal, tanto de cozinha quanto do dia a dia desde aquele belíssimo diálogo.

 

José Sana

 

Em 16/10/2021


OBSERVAÇÃO: Contagem regressiva do Centenário de Dom Mário Teixeira Gurgel está sendo publicada no Facebook de José Sana.