segunda-feira, 13 de novembro de 2017

COMO UM SURDO SOBREVIVE?

Um surdo é um sujeito qualquer, um cidadão que tem importância, sim, se você precisa dele. Tal sujeito pode lhe emprestar uns quebrados nas horas amargas ou lhe fazer favores que ninguém faz. Trata-se de quem tem mais tendência a ser prestimoso, pois quase sempre um surdo procura afirmação e o faz ajudando, contribuindo, sendo solidário.

Um surdo tem a chatice de querer ouvir o que a turma está falando. Aproxima-se muito,  e sempre mais, chega de mãos encubando as orelhas, você percebe, vê aquilo como desagradável, mas fazer o quê? O pior, você nunca fala para ele, fixa os olhos em outra pessoa, pois sente que não quer perder tempo. Você acaba de cometer um crime inafiançável perante as leis naturais.

Um surdo é, ao mesmo tempo, um chato, chamado de “mala”, que fala muito. E fala porque não pode, quase sempre, ouvir. Você não percebe o porquê de ele ser tagarela. Mas saiba agora: fala demais porque detesta a marginalização e no pleno direito de participar. Um detalhe maior: quando você enxergar um surdo caladão, recuado, isolado, quieto, saiba que ele tem a seguinte doença grave: depressão.

Da depressão, aliada a um trauma acumulado através dos tempos, o surdo, quando não tem preparação religiosa, ou espiritual, ou reflexiva, sempre planeja um suicídio, principalmente se tiver pequena experiência de vida. Isso ocorre porque é marginalizado. É fácil saber como um surdo, principalmente o mais jovem, enfrenta as torpezas da sociedade: cada vez mais desanimado, aturdido, desapontado, triste, soturno, decepcionado.

A escola nunca, jamais, em tempo algum, caso continue remando contra a correnteza, entenderá o que é ser surdo. Especialistas em Educação Inclusiva admitem o não ouvir, a falta de barulho, a existência de um terrível silêncio na vida de seu cliente. O surdo, tira tudo isso de letra, consegue driblar, não tem medo algum de peitar em sua vida cotidiana e escolar. O que dói é o que foi escrito acima: o pouco caso, a marginalização, o abandono, o tratamento de forte desprezo. Sem carinho, somente com um meio paralelo de viver — religião, conhecimento, estudos, meditação e reflexão — é possível enfrentar o mundo com esperança de vitória. Quantas oportunidades de sucesso ele não perde sempre?

Ainda para a escola, o canal de percepção do cidadão surdo é a visão. O corpo em movimento é seu instrumento de “fala”, mesmo quando usa aparelhos. Contudo, para facilitar, se o surdo faz uma pergunta a quem quer que seja e você é esse quem quer que seja, responda “sim” ou “não”. Não faça nenhum rodeio, vá direto ao assunto. A expectativa dele é de positivo ou negativo. Intimamente, zanga-se com os verborrágicos, os que ficam como determinados políticos, isto é, a turma do  “muito antes pelo contrário”.

Há o surdo que faz uso de próteses, carrega um aparelho pendurado nas orelhas. Tal procedimento hoje em dia é normal. Até os que fizeram implantes. Só que o aparelho auditivo aumenta a capacidade de captar sons, mesmo da mais moderna tecnologia. Aí, o surdo é acometido de terríveis agressões. Imagine-o como um cão que, todos sabem, não tolera a agressividade das cidades grandes, do trânsito incontrolável, das motos que parecem verdadeiras trombetas em altos volumes de decibéis, o roncar dos caminhões, o tiroteio de fogos de artifício, enfim, o barulho de verdadeiras bombas atômicas. O aparelho eletrônico, muito aperfeiçoado, ainda não conseguiu definir para quem o usa a origem do som. Daí o seguinte: o seu usuário precisa ser muito e muito e muito atencioso para identificar de onde vem, em que lugar é produzido.


Diante de tudo isso e da pergunta que é o título deste texto — Como sobrevive um surdo? — eu me candidato a dar mais alguns conselhos, usando a minha experiência de 60 anos nas lides com a sociedade cruel e massacrante:  1 - Um surdo merece mais atenção porque ele pode ser portador de boas ideias; 2 — Se você quer dizer que é humano, considere a surdez como a cegueira, ou seja, ninguém ri de um cego;  3 — Ajude um surdo a viver não gritando com ele e também não falando baixinho no ouvido de outro como que para ele não ouvir, e não o discrimine numa conversa em grupo; 4 — apenas mais um conselho: cuidado no modo de agir nas rodas com pessoas de baixa audição,  porque a percepção dessas é infinitamente superior a de quem ouve muito ou vê muito. 

Deus abençoa os surdos, dá-lhes muita percepção e, consequentemente, derrama-lhes torrenciais chuvas de bênçãos e lhes ensina a amar muito mais. A bondade pode ser o seu ponto de partida para superar a violência do mundo incutida no desprezo e na demonstração horrorosa do pouco caso. Amém para quem já conhece essas regras, mesmo tendo audição normal. Volto depois. Abraço.


domingo, 12 de novembro de 2017

Enem surdo, mudo e cego. Mas foi o primeiro passo

Prezados, não sei como são escolhidos e eleitos os temas de redação do Exame Nacional do Ensino Médio, o popularíssimo Enem. Provavelmente, há uma ou mais reuniões de especialistas nas quais colocam em pauta propostas atuais, importantes e abrangentes. A ideia, com certeza, vem de um lugar não sei qual; que Stephen  Hawing, o maior cientista da atualidade, define como Cosmos; aterrissa na mente de um, que sopra para quatro ou cinco; todos discutem, mexem, alteram, aceitam e proclamam.

Este ano o Enem balançou o coreto brasileiro de norte a sul, leste a oeste. Antes de conhecer a ideia dos mestres, declaro desconhecer a razão — ressonância, intuição, coincidência, ou sei lá o quê — porque produzi a minha redação particular, descompromissada, e a publiquei no site www.defatoonline.com.br antes de ser anunciado seu título para redação dos pleiteantes: “Desafios para Formação Educacional de Surdos no Brasil”.

A repercussão foi uma quase bomba nacional. Digo: bomba do Enem e não da antecipação deste simplório escriba. Vi e ouvi professores protestando e tentando justificar que seria mais interessante que se preferisse o tema surdo acrescido de mudo e cego. Li também alguns comentários de articulistas — professores, médicos, fonoaudiólogos, sociólogos. Todos abordaram o assunto com cautela e bons olhos, fazendo valer um louvável espírito humano e comunitário. Houve um texto, muito compartilhado nas redes sociais, no qual o autor preferiu enfatizar metáforas sobre a surdez como se fosse uma situação de negligência e ociosidade de nossos governantes.

Teoricamente, o mundo inteiro pode falar e escrever sobre o surdo e a surdez sem ser questionado ou incomodado. Os quatro milhões de candidatos que prestaram as provas tiveram a oportunidade. Na prática, todavia, quem conhece o surdo sabe de sua saga, seus dissabores, suas agruras, seu sofrimento pessoal, é somente ele, o deficiente auditivo. O conceito do cidadão, professor, especialista, quem quer que seja, é apenas este: surdo é a pessoa que não ouve, não escuta, e ponto final. É muito vago. Anotem a real e inquestionável definição de quem carrega tal problema: surdo é o humilhado, discriminado, pisoteado, que sofre bulliyng com tapas nas orelhas e zombarias cruéis e inimagináveis. Padece como se tivesse culpa disso. O sinônimo de surdo para a sociedade é tolo, idiota, besta.

Para evitar exatamente o bulliyng, o surdo tenta se manter firme no seu dia a dia desafiador, bancando até o herói, mas o herói-otário. Eis o que ele faz: oculta o problema ao grau máximo de tolerância que consegue ou “per omnia saecula saeculorum, amen”. Aí entro com a minha e outras experiências de vida: conheço muitos casos assim e eu próprio tive não sei se a proeza ou a burrice de me esticar durante 30 anos nos quais ocultei o sério problema de não ouvir e, ao mesmo tempo, tentar exercitar outras percepções, porque é verdade que Deus nos tira uma faculdade e a substitui por outra e outras.

A Educação Inclusiva, disciplina que futuros professores estudam em Licenciatura Plena, tenta ensinar à nova geração como enfrentar o desafio de lidar com o surdo e o surdo-mudo, e ser-lhe útil. Mas a missão do mestre precisa, no meu entender, ir muito além da didática e da metodologia escolar. Primeiro desafio: descobrir quem, realmente, carrega a falta de ouvir sons pela vida afora. Em segundo lugar, denunciar aos cegos e também aos surdos órgãos públicos que a destruição do ambiente engloba a zoeira integralmente e condena os novos cidadãos do planeta. Em terceiro plano, a paciência que os moucos sofredores, sem drama, requerem por sua condição humana. Ludwig van Beethoven, compositor e pianista alemão do período de transição entre o Classicismo e o Romantismo, era surdo. Como ser uma celebridade dessa envergadura, um músico notabilíssimo e não conhecer sequer o rufar dos tambores? Alguém precisa de mais um exemplo de como superar o sério desafio?


E ainda quero dizer: depois de três décadas de silêncio profundo no mundo em que vivi e muitos outros vivem, mesmo debaixo de caminhões com motores portentosos que arrebentam tímpanos de elefante, consegui vencer pelo caminho de desenvolver novas percepções, sem usar o sistema Libras. No lugar dele o tapa na cara, nas orelhas, o deboche crudelíssimo, a pregação da estima estilhaçada. Prezados, só quero agora enaltecer o Enem surdo, surdo-mudo e cego, que fez com que o Brasil desse o primeiro passo no rumo do respeito ao cidadão. Por hoje é só.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

O mundo acabou. Então, fechem os hospitais

Em toda a vida em que  me entendo como gente já tremi em cima dos sapatos algumas vezes, principalmente, quando ouvia ou lia o seguinte assunto: o hospital tal, tal e tal corre o risco de fechamento. O motivo é sempre o mesmo: falta de verbas, falta de recursos, falta de tudo. A ameaça pesa como uma carga de pedras em burro magro.

Imediatamente após o tenebroso anúncio, a comunidade em que a casa de saúde está inserida, mobiliza-se e cai na rua pedindo socorro. Em pouco tempo ocorre uma novidade exuberante: o hospital não vai mais ser fechado porque a maioria da população impediu, fez o que pôde e a pátria foi salva. A comunidade, de repente, espalha a boa nova e volta a dormir tranquila e feliz.

Os fatos já ocorreram incontáveis vezes com o Hospital Nossa Senhora das Dores, de Itabira, fundado e dirigido pela irmandade do mesmo nome, em 1867. Algumas personalidades salvadoras apareceram para liderar o resgate da história e colocar a entidade em ordem. Cito dois exemplos de baluartes da existência do HNSD: Dom Mário Teixeira Gurgel, de saudosa memória, e Márcio Antônio Labruna, que vive aí entre nós, esbanjando energia e motivação.

O Hospital Padre Estevam, de Santa Maria de Itabira, já tirou a calma e a alegria de viver de muita gente só com ameaças. Essas nunca foram produzidas externamente, mas arquitetadas por problemas técnicos e administrativos. Graças à presença constante do santa-mariense, “garrucheiro”, por obra de coragem intimorata nas suas determinações, o pior já passou. Felizmente, aí está o valente Padre Estevam desafiando os pessimistas e os profetas das nuvens negras.

O Hospital Regional de Guanhães é mais um antigo cliente das crises momentâneas. Já esteve no CTI várias vezes, com maus agouros de fim de atividades. Com todas as forças que são possíveis ser sugadas — participação do povo, entrada de políticos em ação e mobilização dos próprios funcionários — o esteio guanhanense tem se sustentado. No meio de uma de suas dificuldades, acabou dando um salto fenomenal: deixou de ser uma casa de saúde apenas de Guanhães para expandir-se regionalmente.

Todos esses lembretes fiz porque não tenho palavras, compreensão e entendimento para absorver a estupefata notícia: a Câmara Municipal de Morro do Pilar reuniu-se no último dia 30 de outubro e decretou, pela decisão de 5 votos a 4, que está sumariamente extinta a Fundação Hospitalar Joaquim Bento de Aguiar, que se agigantou como mantenedora do hospital do mesmo nome durante 39 anos.

Em 1978,  como presidente da Câmara Municipal de Itabira, fui convidado a participar da inauguração da casa de saúde de Morro do Pilar. Recordo-me as salvas de fogos, os aplausos dos morrenses, as bênçãos do Padre Tarcísio Nogueira, os discursos dos políticos — dentre os quais do prefeito Geraldo Matos e de deputados. Está vivo em minha memória um trecho do pronunciamento do deputado José Machado Sobrinho. Ele soltou, parecia, uma bomba atômica no meio das palavras eloquentes: “Este hospital é uma prova de que Deus não existe”. Engoliu uma seca saliva, ergueu um copo d’água, consumiu o líquido, e arrancou gritos da expectativa da multidão que se acotovelava no meio da via pública: “Repito que Deus não existe;  Deus é, simplesmente é!” — fez o verbo retumbar-se sua abaixo e rua acima.

Em sua metáfora retumbante, o deputado quis e conseguiu provar que aquele empreendimento tinha, sim, o timbre sagrado de obra do Criador. E foi ovacionado até o fim da festa. Então, aí está um óbvio que ressoa como uma benção desde aquela ocasião: o Hospital Joaquim Bento de Aguiar, também prestigiado pelos prefeitos que governaram no tempo sequente, e idolatrado pelo povo como uma obra de Deus, repito, sobreviveu às intempéries de amarguras que assolam praticamente todas as casas de saúde brasileiras.

Mas, eis que um fato surpreendeu todos: em plena atividade, esse hospital recebe uma punhalada nas costas ao ser declarado extinto. Contudo, crime covarde não atinge os maiorais que são gatos pingados, mas em cheio a gente trabalhadora e sofrida. A reação vai acontecer? Acredito que sim. Creio que os nobres vereadores morrenses, pelo menos um dos cinco que foram ludibriados pela sensação de fazer o certo e correto e agiram em sentido contrário da maioria do povo, vai rever o seu posicionamento.

A esperança se reacende na mobilização que começa a ganhar vulto por meio do   Ministério Público Estadual. Sentindo a decisiva manifestação de cidadãos da cidade nas redes sociais, deve buscar, em primeiro lugar, a anulação da sessão fatídica e espúria de segunda-feira passada; depois, se preciso for, graças à vontade popular, transformar os 5 a 4 em, quem sabe, num contundente 9 a 0.

Não há o que discutir mais. Um comentarista da notícia postada na internet disse o seguinte: “Uai, o povo de Morro do Pilar não adoece mais?” A resposta seria nada mais, nada menos a seguinte: “O povo morrense agora é de aço. Esse aço está fabricando seres imortais, com a volta triunfal ao Morro de Gaspar Soares do empreendedorismo. E estamos em 1809, a terra é administrada por  Manuel Ferreira da Câmara Bittencourt e Sá, o Intendente Câmara”. Não há justificativa para, numa sessão legislativa, ser tratado um assunto  tão lúgubre, ao invés de algo promissor. Para justificar o ato só mesmo o seguinte: o mundo acaba de acabar agora.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

ANTIGAMENTE

Antigamente, eu ficava bem preocupado com o que os outros pensavam de mim. Hoje tenho consciência de que sou uma pessoa digna e honesta, e sei que as pessoas vão pensar o que quiserem, e isso em nada afeta meu modo de ser e quem eu sou em essência.

Antigamente, eu queria provar algo aos outros. Hoje descobri que, na verdade, sentia uma grande insegurança, e por isso tentava demonstrar algo, não às pessoas, mas a mim mesmo. Hoje vejo claramente que, quando se tem confiança naquilo que somos, não precisamos provar coisa alguma.

Antigamente, eu fazia de tudo para os outros gostarem de mim. Hoje sei que as pessoas precisam sentir afeição por quem eu sou, e não por quem eu pareço ser. Sei também que pessoas que mendigam o afeto das outras quase nunca conseguem o que desejam. Por ansiarem tão vorazmente o amor e a admiração dos outros, elas passam a ser aquilo que os outros esperam que elas sejam, e assim, caem num abismo profundo de um eu fantasioso e irreal.

Antigamente, eu acreditava que poderia esconder meus problemas não pensando neles e me concentrando nas questões objetivas do mundo. Hoje sei que por mais que se tente, não se pode fugir das emoções profundas que estão armazenadas dentro de nós. Podemos tentar burlar, dissimular, distorcer, etc, mas a verdade é a verdade. Ela não se modifica por nossa vontade. Hoje sei que, somente encarando de frente aquilo que nos assola é que se pode dissolver os nós profundos das feridas interiores e seguir em frente.

Antigamente, eu achava que o mundo deveria corresponder aos meus anseios e necessidades. Achava que os outros tinham que me servir e sempre lutava pelos “meus direitos”. Hoje vejo que cumprir meus deveres é muito mais importante e digno, e que de nada adianta tentar modificar o mundo e as pessoas; ninguém se curvará  às minhas pretensões de como o mundo deve ser. O mundo é o que é. Não quero mais que as pessoas sejam da forma que eu acho que devem ser, eu me esforço por aceitar, sem me acomodar, à realidade que se apresenta. Hoje busco apenas melhorar a mim mesmo e ajudar a quem necessita.

Antigamente, eu pensava que podia viver uma vida superficial e mesmo assim ser feliz. Vivia vendo novelas, bebendo, fumando, jogando conversa fora, fazendo sexo sem amor. Hoje vejo que, para ser feliz é necessário olhar a vida como ela é, além do véu aparente que encobre a existência. Não é possível cortejar a ilusão e ser feliz. Ou se vê a realidade para ser feliz, ou se vive uma vida de quimeras e devaneios que só poderá trazer a solidão e a infelicidade.

Antigamente, eu queria ajudar as pessoas a todo custo. Via-me como uma espécie de salvador que poderia socorrer muitas pessoas com minhas capacidades. Hoje sei que cada pessoa tem total poder de lidar com seus contratempos e dissabores, e negar isto é recusar-se a crer no potencial espiritual que cada pessoa tem de crescer a partir de seus próprios percalços , conflitos e limites. Compreendi que, por superestimar minhas habilidades, acreditei que poderia “salvar” as pessoas. Mas entendi que só as próprias pessoas se salvam, e que o máximo que podemos fazer é indicar o caminho e dar um suporte quando necessário. Por outro lado, de nada adianta ajudar aqueles que não querem ser ajudados.

Antigamente, acreditava que deveria ter um compromisso com o sucesso; deveria me debruçar sobre os melhores cargos, os melhores salários; ser alguém de destaque, alguém com uma imagem intocável nos negócios. Hoje sei que buscar a todo custo o sucesso é fazer um contrato com a infelicidade. Ninguém pode ser feliz buscando o sucesso e a fama a todo custo. Quando chegamos ao topo o único caminho possível é o da descida. Quem não valoriza aquilo que possui vive desejando aquilo que não possui, e não há maior pobreza do que viver a vida ansiando ter aquilo que não tem. Quanto maior o desejo e a expectativa, maior a frustração; quanto mais criamos um ideal de como tudo deve ser, mais vivemos numa ilusão criada por nós mesmos. Quando desejamos o destaque e o status quo acabamos por não dar valor às coisas simples da vida, que são as mais importantes.

No final das contas, é o cheiro da grama, a brisa que sentimos num final de tarde, a chuva caindo sobre nós, o abraço do ser amado, a visão de um pôr do sol, o canto dos pássaros, o contato com a simplicidade e naturalidade da vida, do cosmos, do infinito… é isso que nos faz felizes de verdade. Não se deixe tragar pelas miragens do mundo, pelas imagens que seduzem, pelas formas exteriores, por aquilo que é consumido pelas correntezas do tempo… Busque o real além da ilusão, e terá paz e felicidade jamais sonhadas.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

O GALO QUER UM TREINADOR? RESPOSTA: ESTOU DISPONÍVEL

Treinador de futebol  tem que  saber os fundamentos principais de um jogo. Primeiro: como se defender e como atacar. A maior parte de um jogo ocorre no meio de campo. Precisa-se, pois, de jogadores habilidosos nesse setor.

Num time de futebol que se declara como tal não pode haver um perna de pau qualquer.  Todos os jogadores teriam que saber dominar uma bola, recebê-la e amortecê-la como ela merece, não deixar que ela se distancie mais de 30 centímetros do seu pé.

Sou convidado para ser técnico do Galo. Nesse aspecto vou seguir a linha João Saldanha. Esse só escalava feras. Quero, portanto, habilidade, competência, segurança em cada setor. Para início de papo, converso com todos os atletas disponíveis.

Cada um vai dizer e um auxiliar escreve numa prancheta para as devidas respostas: tem velocidade? Cai pela direita? É bom no drible? Sabe tocar a bola, fazer tabelinhas? Bom cabeceador? Ótimo para fazer lançamentos? Chuta dos dois pés.

O time está montado. Nada de inventar regras diferentes. Essas nunca existiram. O segredo é cada um fazer o que sabe e tomar conta de seu pedaço de grama. Nada de alguém fazer o que não sabe; por exemplo, Robinho marcar, Gabriel atacar etc. e tal.

Agora começa a conversa ao pé do ouvido. Cada um tem um encontro com o treinador pelo menos uma vez por semana. Conversa sobre os problemas. Bate-papo que colhe  também as sugestões. Tudo anotado. Em seguida vem a psicologia positiva tal como a vida é bela.

Chega o momento de preparar para um jogo. Veem-se os vídeos do próximo adversário. Cada um faz as suas observações. Discutem-se qualidades e defeitos do adversário. Novas conversar particulares. O treinador precisa saber como levantar a moral de cada atleta.

Concentração. Motivação. Fim do medo. Hora de dizer cada um para si: “Eu sou. E vou fazer o que sei!” Futebol é muito simples. Ganha quem se dedica mais  em grupo e sabe enganar o adversário como num jogo de truco.

Tem que trapacear, sim. Como? Vamos jogar com um time mais fraco e sabemos que esse time ficará na retranca. Perder um bom tempo jogando também na retranca. É preciso mostrar ao adversário que está cauteloso e com um pouco de medo. É preciso enganá-lo. Será essa uma forma de fazê-lo mudar de ideia: atacar ao invés de defender.

Uma outra forma de jogar é começar o segundo tempo de tática mudada e diferente da anterior. Agressividade total. O time parece dopado. O adversário se assusta e se perde. É preciso dar a esse oponente agora uma certeza: de que vai massacrá-lo. Não estou inventando nada. Essa tática era de Elba de Pádua Lima, o famoso Tim.


Nada mais a fazer senão comemorar a vitória. Mas somente depois do apito final. Sem abraços quando ocorrem os gols. Comemora-se uma vitória depois de terminada a peleja. Simples assim. Ninguém segura o meu time. Preço de meu contrato: zero real e livre de roupa suja e barriga lavada.

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

TERRORISMO NO MUNDO. EM ITABIRA SÓ UMA BRINCADEIRA INOCENTE?

Barcelona, Espanha, 17 de agosto de 2017 — A polícia espanhola confirmou a morte do marroquino Younes Abouyaaqoub, suspeito de ter sido o motorista da Van que atropelou e matou 13 pessoas na última quinta-feira numa das avenidas mais movimentadas da cidade.

Itabira, 18 de agosto de 2017 — Telefonema anônimo levou a polícia ao prédio do antigo Hotel Pousada do Pinheiro e Centro de Ensino Superior de Itabira (Censi), onde foram encontrados seis corpos em uma espécie de banheira cheia de formol. Até 2012, a faculdade mantinha estudos de cadáveres no local.

Marselha, Sul da França, 21 de agosto de 2017 — Uma pessoa morreu e outra ficou gravemente ferida nesta data, depois de terem sido atingidas por um veículo numa garagem de autocarros. Suspeita-se de terrorismo.

Agora, convido o leitor a seguir o rumo do pensamento comum e normal: os casos ocorridos na Espanha e na França têm características de terrorismo e preocupam o mundo. O mundo morre de medo desse nível de violência. A bem da verdade, é bom citar que Bin Laden, logo depois do atentado às Torres Gêmeas em Nova York, em 11 de setembro de 2001, disse que os Estados Unidos (tradução: o mundo) nunca mais teriam paz. Não tiveram e não têm.

O fato ocorrido em Itabira, apesar do zum-zum e algumas notas na imprensa local, não tira o sono de ninguém. A prova é que nem um jornaleco de outra cidade, sequer os canais sensacionalistas de TV, mencionam a descoberta inusitada. Cadê o ponto de exclamação? Cadê as famosas manchetes de oito colunas? Aposto que o Espinhaço vai trazer um monte de versões, entrevistas, e colocará o ocorrido no topo das notícias apreciadas pelo leitor do interior.

Os seis corpos do Pousada — masculino e feminino, meio a meio — são de gente mesmo. Tanto que essa gente era estudada em laboratório. Nasceu pelo mesmo processo. Morreu ou foi matada. E, pelo menos o noticiário até agora não informou que são fulanos de tais, brasileiros, solteiros, casados, mortos em trombadas, assaltados, estuprados,  atacados pela violência etc. e tal. Diria que não seja importante que a meia dúzia que ficou pelo menos cinco anos tomando banho de formol não tem CPF, carteira de identidade, título de eleitor, atestado de vacina e deve ser completamente analfabeta.

E tem mais: não tem parentes, não amou em vida, talvez tenha sido odiada porque foi  morta, abandonada, achincalhada. Faz-me lembrar uma declaração em  entrevista que me foi dada, em certa ocasião, pelo então delegado de polícia de Itabira, Robson Matos Esteves: “Bandido não é cidadão!” Foi um tiro de canhão que estourou na cidade, meios religiosos partiram para um contra-ataque no front. Diante da ocorrência, resta uma pergunta: bandido não tem cidadania, certo? Ou têm?  Mas e as eis pessoas mortas, que bufavam num tambor de formol, não eram cidadãs? Seria outra história? Então conte essa piada para outra pessoa, para mim, tapo o ouvido para não ouvir.

Por essas e outras que concluo: quem entender o ser humano é mais maluco que qualquer um e deveria também ir para o manicômio como a meia dúzia do Pousada boiou no formol.

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

ITABIRA, CIDADE DAS SOMBRAS

Imagine você chegando a uma cidade, lê uma placa “Perímetro Urbano”, e nada vê de luzes senão o que o farol de seu carro mostra. Pense que são um 1.500 metros de uma avenida totalmente nas trevas, uma negrura de desanimar. Mas você imagina que houve um blecaute, deve ser uma situação repentina e que a energia elétrica será reestabelecida imediatamente. Mas você é curioso e vê que os postes não têm neles afixadas as lâmpadas. Leva um susto danado por constatar que a iluminação só parece normal adiante. Você está entre o antigo Bairro Sagrado Coração de Jesus, ou Vila do Explosivo, do outro lado o extinto aeroporto da Belle Époque da velha Itabira do Mato Dentro.

Quem está de ônibus — e são muitos os que atravessam a urbe  noite e dia — têm ainda mais tempo para ver e medir a extensão do problema: dificilmente aparecerá um cidadão que conhece uma cidade do porte de Itabira mostrando o seu lado de breu, escuridade, negridão, petrume, logo no início que começa com a Vale, antiga empresa que tomou a iniciativa de apagar ou arrancar as lâmpadas sem que ninguém percebesse. Pelo que vemos, sentimos e não compreendemos, apenas uma pessoa sabe deste segredo lúgubre itabirano: um secretário municipal antigo e eu. Diria que combinamos de manter segredo sobre o problema. — Mas, segredo? — diria algum curioso, se a negrura está estampada aos olhos de quem vê. Passam pelo local não menos que dez veículos por minuto, calculo eu na minha perrengue matemática.

Para medir a extensão do problema, várias vezes passei dirigindo na rodovia  de Belo Oriente, cidade às margens da BR-381, entre Governador Valadares e Ipatinga,, vindo para Itabira, via Viriginópolis e Guanhães. Nela existem 15 quilômetros de extensão totalmente iluminados, dos dois lados, ligando a cidade da Cenibra ao seu distrito de Perpétuo Socorro, também conhecido como Cachoeira Escura. Repito: dez vezes mais extenso que a escuridão itabira, com lâmpadas que clareiam de ambos os lados e tornam o espaço menos perigoso que se fosse um negrume, por onde passam estudantes, donas de casa e cidadãos comuns, a pé ou de bicicleta. Em Itabira, ao contrário de antigamente, quando era iluminado o trecho que leva às oficinas centralizadas da Vale, ainda passam pedestres, principalmente os que moram na Pedreira do Instituto, para onde, segundo o chefe da prefeitura, não citado, seria iluminado há 20 anos. Ou mais...

Todos os governos dos 20 anos decorridos leram ou ouviram os meus reclamos, pelo menos o executivo correspondente. Cheguei a falar com um ou dois vereadores, mas eles deram de ombro e sentiram que colocar lâmpadas em postes não dá voto nem aqui nem no fim do mundo, porque os 1.500 metros de extensão não têm neles fincados nenhum barraco, nenhuma casa, nem um escasso casebre. Somente cercas e equipamentos da poderosa Vale. Não cobro da empresa o fato de escurecer esse espaço. Quem deveria cobrar são as autoridades. Se um cidadão qualquer, que rabisca algumas linhas, requer que se faça o reparo do erro duocentenário, deixo escrito a minha suplica: senhora Vale, por meio de seus executivos, por favor, coloque lâmpadas em sei lá uns 50 postes, não contei, mas que foram subtraídos ou arrancados pela ação da mineradora.


Dia deste vi um filme com o nome de Cidade das Sombras. Trata-se de uma produção americana e australiana, de 1998, do gênero ficção, da Warner Home Video, sob a direção de Alex Prohas. Em uma cidade em que é sempre noite, John Murdoch (Rufus Sewell) acorda sozinho em um hotel e descobre que perdeu a memória, sendo o principal suspeito de ser o autor de brutais e bizarros assassinatos. Ele passa então a ser implacavelmente perseguido por um inspetor (William Hurt). Imediatamente liguei as trevas itabiranas ao enredo e concluí: a cidade é Itabira e os perseguidos são os pedestres que usam o turvamento todos os dias. Eu sou o Pehreber (Kiefer Sutherland) que ajuda os passantes do local a compreender o que acontece na nossa sombra urbana.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

FUTEBOL, NÃO QUERO ENTENDER DE VOCÊ!

Gente do mundo todo, pelo menos os doidos que me leem: detesto entender de futebol! Ou melhor, detesto achar que entendo. Como mais uma grande ilusão desta parte do universo — e o que aqui no Planeta Terra não é fraude? — queria ser ignorante total no esporte mais popular do Brasil. Aqui no mundo de dolo, traição, motejo, gostoso é ignorar as coisas. Queria entender somente de chuta pra lá, chuta pra cá e, como diziam no meu tempo de criança e ainda bradam em Portugal, “fura o golo!”

Para provar, pelo menos para os de boa vontade comigo, que entendo deste riscado, vou tentar pregar agora algumas lições que aprendi deste maravilhoso esporte. Maravilhoso porque é um esporte coletivo, que depende de bom entendimento para ser bem-jogado. Repito que gostaria de ser como aquele personagem de Nelson Rodrigues que vai ao campo de futebol e não se cansa de perguntar: “Quem é a bola?”

Regra número 1 — Todo time bom precisa de ter na meta um bom goleiro. Exemplo: o São Paulo Futebol Clube não é mais uma boa equipe porque o seu goleiro atual, Renan Ribeiro, é fraco, não inspira confiança e não lidera. Mesmo assim, o treinador Rogério Ceni, que foi um dos maiores guarda-metas do futebol brasileiro, e hoje é treinador do mesmo time, o São Paulo, não enxerga isso. Se enxerga, por que não exige uma contratação desta. Existe um grande goleiro sobrando no futebol brasileiro: Rafael, do Cruzeiro, que não deve odiar uma contratação deste nível.

Regra número 2 — A chamada “parede de beques”, os dois zagueiros, precisa ter rapazes altos, boons de cabeça e também limpos no domínio da bola rasteira. Vez por outra um time perde o jogo porque os dois zagueiros não se entendem, batem cabeça e não cortam as bolas cruzadas.

Regra número 3 — O meio de campo precisa ter um bom cabeça de área, aquele que guarnece a entrada do espaço de defesa. Os outros, talvez mais dois, devem ser os responsáveis pelas saídas de bola da defesa. Time que não tem essa jogada perfeita não é time que merece confiança. Diante do futebol moderno, dois bons alas ajudam bem.

Regra número 4 — Não é mais o tal camisa 10 tão badalado. Trata-se de um cérebro, aquele que comanda o espetáculo com habilidade, sabe fazer uma leitura do jogo, joga de cabeça alta, distribui bem as bolas e chuta também. Este é indispensável. Entrar em campo sem ele é mero suicídio. Exemplo: ontem o Cazares desempenhou esse papel e muito bem. Agora o risco: o dia em que ele não jogar, quem fará a tarefa? Ninguém, por enquanto.

Regra número 5 — Bons finalizadores. Indiscutível este item. Alguém que chuta dos dois pés e cabeceia e não um aleijado de direita ou de esquerda. Como exemplo, o Galo tem dois, Fred e Rafael Moura. O He-Man está em melhor fase. E precisa, para alternar esquemas de jogo, de velocistas. Ah, armar contra-ataques é um bom esquema.

Regra final — Um bom time precisa de “liga”, ou “engrenagens” funcionando. Às vezes um time vai mal, apesar de ter os mesmos homens em campo. O treinador pensa, arquiteta e age: coloca um cérebro que liga todos de uma vez. Eis a regra primordial de quem entende de futebol: um jogador só pode transformar o pior time do mundo, um tal de Íbis Futebol Clube, em um Real Madri ou Barcelona. E atenção: não se faz jogador mudar de característica – esse o pecado-mor dos treinadores, principalmente os brasileiros – para fazer o que o técnico pensa, mas pensar do jeito que o jogador é. Exemplo: Elias, no Galo, não joga bem atrás. Tem de fazer um esquema para ele encaixar a sua habilidade. Senão não se precisa dele, escale outro qualquer, um Pierre ou Leandro Donizete da vida. Repito que essa é a maior burrice praticada por 99% dos “entregadores de camisa”, como diz o meu amigo radialista Renato Martinho.


Antes de encerrar, um apelo dramático ou uma lamentação sincera, humilde e humilhante ao principal tema destas mal traçadas linhas: meu caro Futebol, não quero entender de você!

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Helena e José Diniz

Quem seria capaz de escrever a vida de um ser humano que viveu aparentemente oitenta e poucos anos e na prática uns nove séculos? Resposta: ninguém e nem caberia na maior enciclopédia que até hoje foi conhecida no mundo. Como uso sempre, a repetitiva expressão, muito mais longa história do que as Mil e Uma Noites, impossível. Do casal a quem me refiro agora, tenho recordações fantásticas e uma viagem mais que inesquecível na companhia dele. É aí que destaco um capítulo inimaginável.

Estou me referindo ao meu amigo José Diniz, cujo grande destaque é ter apenas Diniz no sobrenome, uma decisão inteligente de seus pais. Só um Diniz bastaria para acompanhar um prenome, e acabou, teria dito seu progenitor. E estou também me concentrando na figura de sua esposa Helena, não de Tróia, mas de Itabira mesmo, com muito orgulho dela e de sua família. Conheci o Zé em 1966, exatamente em maio, quando cheguei para Itabira e à velha Companhia Vale do Rio Doce. Pequeno na estatura, alto na voz retumbante e, mais ainda, crescido nas suas atividades de liderança no trabalho. Quantos já disseram: “Zé Diniz nasceu líder!” Deve ter dado ordem à sua parteira: “Por favor (ele nunca esquece a gentileza), me coloque naquele berço”.

Em chegando a Itabira mandaram-me para o setor de apropriação da conhecidíssima Oficina de Euclids, na “subloja” do andar de cima, o Cauê, na Jacutinga, onde Diniz era um dos chefes. O nome deve ter sido pela existência no local da ave da família dos cracídeos,75 centímetros de comprimento, 1,500 quilos, que come frutos, minhocas e insetos diversos, parente dos jacus. Provavelmente, era grande habitat dessas aves a Jacutinga, meu primeiro emprego rentável na vida depois de me arrastar pela imprensa de Belo Horizonte, ralando como um freelancer perdido de reportagens policiais e trabalho de revisão.

José Diniz ocupava o cargo de supervisor de turno, depois geral, depois operário padrão, depois homem da comunidade etc. e tal, sem contar pai de família. Impressionou-me logo de cara sua voz, que retumbava no ambiente como se fosse um trombone de vara. Lembro-me do Zé Prudêncio, esse o chefe dele, nos instantes de reuniões, que dizia: “Gosto de ouvir o Zé Diniz falar porque acho que ele tem um amplificador na barriga!”

Comunitariamente, José Diniz deixou outra impressão enquanto pôde conviver com os seus amigos — dentre os quais Jésus Nascimento Amorim, Zumário Ferreira, José Mário Vicente, José Damázio de Oliveira, Joaquim Camilo, Jujuca, Joaquim Carioca, José Cornélio de Oliveira, Helton de Oliveira Cabral, Maria das Graças e Darcy de Oliveira — quando essa turma, com ele, montou e fez funcionar uma das maiores organizações coletivas de trabalho comunitário de Itabira em todos os tempos. Eles agiam no inesquecível Grupo de Trabalho da Comunidade do Campestre, fincando obras por todos os cantos, socorrendo a comunidade no que desse e viesse. Foi algo que marcou a vida inteira ou umas três gerações de shows incríveis de solidariedade desprendida.

Com ele, é claro, o seu fidelíssimo freio de mão, Helena, de uma personalidade incrível, mulher que não sei como o Zé escolheu para ser sua companheira. Acho que Helena foi uma mega-sena única. Ambos, unidos e mais do que nunca cúmplices durante longos anos, completaram, neste 3 de junho, 60 anos de união abençoada. Repito: sessenta por extenso, que significam  Bodas de Diamante. Viver seis décadas é moleza, eu mesmo já passei disso. Quero ver é viver unidos como siameses. Ah, achei a palavra certa: tratam-se de siameses que um dia receberam as alianças e as bênçãos divinas. Depois os frutos sagrados da união: Denise, Hécio, Hedmo e Ana Carolina. E ainda seis netos e uma bisneta.

Sei de mais um capítulo importante da vida dos dois: em setembro de 2012, Marlete e eu, Helena e José Diniz, e mais 64 itabiranos, tivemos a grata alegria de conhecer a Terra Santa. Sim, atravessamos desertos onde pipocam guerras desde milhões de anos passados, uma busca de identidade, ou incrível desejo de domínio do pensamento religioso. Parece uma região atrasada, mas deve ter sido paralisada pelos acontecimentos que se dividem com os seguidores do alcorão, a bíblia dos muçulmanos, e os cristãos, além de poderosos terroristas. Abraão, Moisés, outros bíblicos passam por essa longa história.

Desvendamos os caminhos transpostos por Jesus Cristo e seus discípulos, pela Família Sagrada, e pelos difusores do conhecimento cristão. Estivemos em Nazaré, Galiléia, Jerusalém; conhecemos a cruz dos três condenados pelo regime dominante do Império Romano, a mesma que foi resgatada pelo primeiro imperador católico, Flavius Valerius Constantinus, por ordem de sua mãe, Santa Helena. De tantas viagens, caminhadas, orações e peregrinações, sem esquecer que houve batismo no Rio Jordão e novos casamentos na mesma sala  em que se realizou a Santa Ceia, tornamo-nos mais que irmãos, amigos que não se separaram nem se resolverem cortar o cordão umbilical imaginário, mas que existe, e nos une.

Ah, para atestar o amor de ambos os nubentes de 60 anos vividos o bom humor de José Diniz, a paixão da dona de seu coração, finalmente, bastou uma passagem no regresso no Aeroporto Internacional Ben Gurion,  de Tel Aviv, considerado o mais importante de Israel, que opera com destinos domésticos e voos internacionais no Oriente Médio, Ásia, África, Europa e América do Norte. Mesmo muito seguro, as suas placas e plaquetas deixam qualquer um tonto e zonzo ao mesmo tempo, mesmo com informações em inglês, a maioria em hebraico. E foi o que aconteceu com esse nosso sexagenário casadoiro radicado em Itabira: desviou sua rota, ou simplesmente, se perdeu.

Helena carregava tudo na sua milagrosa bolsa — passaportes, euros, dólares, reais, certidões e outras necessidades, além do terço e de livretos de orações — e José Diniz nem um escasso pente, que ele dispensa de letra. Pois os dois se separaram, embora sejam inseparáveis, e a multidão os confundia. As chamadas em hebraico e inglês se repetiam para o voo de retorno a Roma, via Viena, enquanto todos se alinhavam para as chatas e repetidas identificações. Todos presentes, os 67 componentes da comitiva itabirana, menos ele, o José. Ah, cadê o Diniz? Até eu me desassosseguei e fiquei mais perdido que cego em tiroteio naquela multidão de línguas diferentes, verdadeira torre de babel.

Enquanto ecoava de dentro do banheiro feminino os gritos justificados de Helena, cujo choro desabava lágrimas em sua fronte, zarpei no meio do povaréu e tão desesperado fui ficando à medida que ouvia também os clamores no alto-falante:  “This is the last call, 234 flight toward Vienna...” Até que depois de me embrenhar no meio daquela multidão de Maracanã em final de copa do mundo, avistei ao longe uma cabeça brilhando, era ele, sim, o quase inalcançável procurado. Por sorte ele viu também os meus cinzas cabelos grisalhos e aí tudo se resolveu, estabelecendo-se a paz na terra dos profetas. Apoderei-me de seus braços, arrastei-o como se faz com uma criança está procurando a mãe e, como um troféu também de copa do mundo, entreguei-o à Helena, sua legítima e bem merecida dona.

Parabéns e obrigado por existirem, caros amigos, Helena e Zé!

terça-feira, 30 de maio de 2017

Aqui pra nós: você não sabia que somos os bichos ainda desumanos do Planeta Terra?

Tudo bem, correto: o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus. E, segundo ainda a Bíblia, tem dentro de si a luz divina. Mas, será que você que me lê ainda não manjou, não sacou, não morou, que o resto de sua constituição física é uma podridão completa e fatal? A matéria que compõe a parte suja deixa o ser terrestre em ponto de se declarar para o mundo: “Sou um bicho”. O chamado bicho-homem, expressão do meu amigo Robson Matos Esteves. Reforçando a afirmativa, somos bichos, sim. E repito: bichos! (e ainda ouso acrescentar um ponto de exclamação).

Pronto. Dizer mais o quê? Só esclarecer que se você pensa de forma diferente, me desculpe, tire a venda dos olhos. Se me pedir algum esclarecimento, mesmo não solicitando, deixo algumas dicas: a vida é uma espécie de teste, exame, concurso, prova. Aqui estamos para enfrentar a onça pintada e brava, cada um do jeito que merece ou aguenta. A minha onça é mais feroz do que a sua, talvez, ou o contrário, depende da nossa qualidade de domador. Se somos fracos, a felina nos devora. E vai a nossa vida pras cucuias.

Quer um outro exemplo? Quando estávamos no instante de ser gerados num óvulo, tudo se esclareceu. Surgiu como uma ordem expressa: “Você vai começar a ser gerado, escolheu o pai e a mãe, daqui a nove meses vai nascer e encarar o mundo. Será uma rocha cheia de obstáculos, muitas dificuldades, só problemas; mas você terá as forças necessárias para vencer caso tenha confiança em si”. Agora, mais um esclarecimento a título de complementação. A voz nos diz: “Olha, caso você não queira viver, ainda há tempo; e você pode desistir também no útero, transformando-se num aborto; ou tem o direito de durar poucos dias, meses ou anos; se quiser viver muitas primaveras, faça já o seu roteiro”.

Não se trata de imaginação irresponsável. Tenho um amigo que me sugere escrever um romance de ficção. Ele acha que sou capaz de bolar, inventar, criar estórias como se fosse um emérito literato, um neo-José de Alencar ou Jorge Amado. Quem sou eu senão um pobre rabiscador de letras  e que tem, sim, uma memória fantástica. Agradeço a Deus por ser um memorialista de primeira. O que fiz no tópico anterior, ou em alguns outros meios de esclarecimento, foi uma espécie de comparação para que seja entendido. O entendimento não é representado em palavras simples como estão grafadas aqui, mas na capacidade que temos de acordo com a nossa evolução. Cada pessoa tem o seu grau de raciocínio.

Tudo o que acabo de relatar é para levar o caro leitor à seguinte conclusão: o que está acontecendo não apenas no Brasil, mas no mundo, e principalmente no Brasil, é apenas uma demonstração da normalidade, de tudo o que era esperado ocorrer. O noticiário político mostra que o Brasil está desgovernado. Mas pergunto: que dia foi governado? Quando foi que apareceu algum dono real da verdade e disse: “Olha, você tem de fazer isso, aquilo, precisa fazer assim, assado?” E no mundo, por que continuam pipocando as guerras religiosas, os conflitos por meras ideias, por pedaços de terra, por coisas banais que não alteram a nossa inteligência e o nosso conhecimento? Ora, ora, só quero dizer o seguinte: você continua sendo um asno tapado, desculpe-me a expressão. E se estiver eu enganado, desculpe-me também porque sou um burro de duas patas.

terça-feira, 23 de maio de 2017

Hoje, de novo, o turismo renasce em Itabira

Não sei se começo este pequeno texto (será pequeno?)  abordando fatos da criatura ou do criador. Não, vou começar da origem: por mais que algum idiota anônimo me conteste, devo repetir o que já escrevi e preguei na montanha do Cauê novo que quem inventou o turismo em Itabira tem identidade, endereço, nasceu na cidade, só não mora por aqui no momento. Seu nome de cartório e pia batismal é Rafael Clever Gomes Duarte. Virou professor, cresceu assustadoramente por causa de sua inteligência avantajada e zarpou mundo afora. Encontra-se em São Paulo, se não me engano. Rafa não apenas inventou, como fez um projeto e divulgou tal panorama para o futuro itabirano. Modéstia às favas, como editor da revista DeFato, idos da última década do século passado, divulguei a obra-prima inicial que nunca mais parou de brotar, crescer e render frutos em nossas bandas.

O maior fruto do turismo itabirano chamava-se Pouso Alegre, Aliança e agora tem a seguinte intocável designação: Ipoema . Que me desculpe a zona rural inteira e mesmo Senhora do Carmo, que tem uma tradição histórica invejável, mas Ipoema foi e é o esteio de Itabira, carregando no lombo os seus insofismáveis exemplos. Posso dizer os nomes quase todos, pelo menos alguns dos carregadores de piano que souberam unir-se em prol dos resultados hoje obtidos e inegáveis. Desisto de mencionar o dicionário dos grandes heróis da façanha e mudo de ideia: na terra do meu inesquecível amigo José Braz Torres Lage até os vira-latas da Praça da Igreja são importantes.

Mencionei o criador e agora vou me referir à criatura: Sérgio Mourão. O que fez Sérgio Mourão para o turismo itabirano? — perguntaria alguém meio atônito e talvez ignorante. Outros, como Roneijober Anadrade, fizeram também, mas o Cabeça Branca foi hoje. Explicando: ele emendou, encaixou, amontoou tudo o que se diz da terra de Saez Peña e espremeu num só livreto, ou melhor num guia. “Nenhum turismo sobrevive sem um guia”, escreveu alguém por aí. Não é preciso citar o autor porque, afinal, não é uma frase notável, mas é uma frase indispensável. Hoje, dia 23 de maio de 2017, à tardinha, os vereadores de Itabira, liderados por Decão da Loteria e presididos por Neidson de Freitas, deram um atestado de reconhecimento  — título de Honra ao Mérito — ao produtor de uma obra como tantas outras que fabricou, mas que essa é de hoje.

Quem é Sérgio Mourão? Conheço a figura graças a Roneijober Andrade, outro puxador de turismo na terra de Eleni Vieira e Reinaldo também Vieira. De José Braz, Torrinha, Torrão, Elio Quadrado, Raimundo Afonso, Gerardo Lage, Valério Adélio, Tangará, Zé Ignácio, Stael Azevedo, Ney Azevedo, Marco Antônio Lage, Aníbal Figueiredo, Harcy Lage, Dorinato, Onelvino Coelho, Família Geleia, Zé do Cachimbo, pronto, a memória é de disquete dos antigos. Desviei o assunto, um mal que me acomete devido á diade, estava me referindo ao Sérgio Mourão. Perdoem-me.


Sérgio tem, se não me engano nem se engana o Roneijober, 115 anos. Não, pode ser mentira, mas foi a minha calculadora a responsável pela soma de suas façanhas mundo afora. Ele é formado em Direito, Jornalismo, Fotografia. Foi assessor de Benedito Valadares a Ozanan Coelho. Contribuiu para a Proclamação da República, produziu mais de um milhão de fotos paisagísticas e históricas de Minas Gerais e foi o primeiro cidadão a xerocar o ato da Abolição da Escravatura assinado pela Princesa Isabel. Nada disso importa, se estou exagerando ou não. O que interessa agora é o seguinte e este seguinte sintetizo em dois fatos: primeiro, Sérgio deixou tudo para lá e se mudou para Ipoema; segundo, elaborou o Guia Turístico de Ipoema, Serra dos Alves e Senhora do Carmo. É o que basta: deu asas ao turismo. Um viva hoje para o turismo itabirano! Um viva para Sérgio Mourão, homenageado pelo povo itabirano! Um viva para o Decão que descobriu o Sérgio Mourão! 

OBS.: Só para esclarecer, a criação da alternativa econômica turística em Itabira foi anterior à arrancada de Ipoema, no advento da Estrada Real. Rafael Clever inventou o turismo de Itabira, baseado num projeto submetido à Vale e só engavetado porque surgiram novas opções com as descobertas de reservas minerais depois da privatização da empresa. Pode voltar a qualquer hora como uma solução fantástica. Vontade política é o que falta. Seu projeto consistia em aproveitar as anunciadas áreas da pós-mineração no Cauê e transformar o local em uma atração diferente, o Turismo Temático. Depois de Rafael, veio Ipoema, distrito que, deu certo. E sou testemunha também do Turismo Histórico que Eleni Cássia Vieira liderou no chamado Distrito Sorriso, assunto para uma nova discussão e texto. Entendidos?

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Por que somos tão babacas assim?

Faz dois dias que o Brasil acordou estupefato. Só se ouvia dizer por aí a frase: “Puxa! Você viu ontem no Jornal Nacional?” Abro um parêntesis para dizer que em nosso país tudo acontece nos jornais da Rede Globo de Televisão. Não somos ninguém, sequer existimos. A famosa Globo pensa por nós, diz por nós e toma decisões por nós. Somos felizes ou infelizes se a dona da audiência concordar. Fecho o parêntesis.

Uma pessoa que conheço mais ou menos desde quando me entendo por gente me surpreendeu de maneira espalhafatosa. Estava irreconhecível, pelo jeito que conheci dela em anos a fio. Dançava, rebolava, requebrava. Comemorava porque o tal de fulano de tal foi apanhado com a mão na massa. Tenho também uma prima muito amada e até idolatrada que me mandou uma mensagem mais ou menos assim: “E agora, o que acha do seu queridinho fulano de tal?”

O pior é que a ficha do brasileiro, ou do ser humano, não caiu foi nada. Entro por estradas nas redondezas e vejo carros com faróis baixos apagados. A lei federal determina: “Faróis acesos e baixos o dia todo”. E, claro, nas noites. Uns estão desligados, outros somente os faroletes acesos, outros nem se sabe se têm faróis. Uma fulana de tal bem instruída, de cursos superiores no cangote (acho que na cabeça só o antigo mobral) me confessou humilde e humanamente que não sabe discernir entre farolete e farol baixo. E tem carteira de motorista há quase dois séculos. Deus do Céu! A ficha fica sempre entalada no brasileiro em tudo. Como buzina nas ruas! Como fura a fila nos self-services! Como interrompe bate-papos! Chega!!!

Mas voltando ao Brasil atônito de anteontem, deu-se a impressão de que, finalmente, estávamos saindo do verdadeiro inferno e nos aportando no legítimo céu. Mas que tolice! Babaquice sem tamanho, vou acrescentar, deixando o ponto de exclamação por conta do cada cabeça. Tirando a Rede Globo, que pensa por nós, age por nós e argumenta por nós, parece que o cidadão mundial acredita piamente que o ser humano é puro, correto, limpo, certíssimo, perfeitíssimo. Mas tem uma anotação que precisa ser feita: somos divinos enquanto não descobrem que há canalhice por trás de tudo. Isso seria cinismo, fingimento ou hipocrisia?

Se me perguntarem o que devo dizer daquele tópico lindo, irretocável, fantástico do Gêneses, na Bíblia, “Deus fez o homem à sua semelhança”, direi técnica e sentimentalmente que é também uma verdade intocável e incontestável. Aí vem a pergunta que não cala nem na boca de idiotas: “Mas será que Deus é assim como os nossos políticos? - Ladrão, safado, corrupto, desgraçado, filho de uma viga ou prostituta? (desculpem-me essa, porque já penso que todos somos iguais, putos e putas)...

No esquentamento de uma suposta crise — uma tia minha me escreveu assim: “O trem tá feio!” — o ser humano não aproveita o barulho da lata e diz de si para si: “Precisamos refletir que se somos divinos, podemos ser, também, filhotes do demônio?”. Ou não parece? Ora um, ora outro, numa alternância insuportável! Minto? Que contradição fica ruminando o nosso interior! Precisamos sair dela. Urgente!

Ora, vou encerrar por aqui. Fico no pensamento de José Saramago: “Aprendi a não convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro”. Mas deixo no ar uma certeza: se continuarmos nessa grotesca canalhice, pode ser que o mundo passe e simplesmente alcancemos diploma de idiotas.


sexta-feira, 12 de maio de 2017

PALESTRA EM PASSABÉM: COMENTÁRIOS E QUESTIONAMENTOS

Passabém está para mim como estou para muitos questionamentos na vida e sobre a vida. Se alguém perguntar o motivo essa empatia, não posso dizer agora porque a nossa história – minha e de Passabém - foram de tapas e beijos, e abraços e xingatórios. Talvez diga depois, um dia, quem sabe. O que interessa agora é que no dia 9 passado, terça-feira, à tardinha, fiz mais uma de minhas palestras na escola estadual local.

Tudo combinado com a minha amiga Myriam Cristina, uma destacada supervisora da Escola Estadual Luiza dos Santos Ferreira. E aconteceu, na presença de prestadores de serviço do educandário. Minhas palestras não podem durar mais que uma hora, ou precisamente 50 minutos, como me ensinou a mestra Sílvia Patriani, com quem fiz curso em São Paulo. O curso, logicamente, não é cem por cento para ensinar a falar em público, mas como falar. E outras técnicas.

Geraldo Quintão, conterrâneo e amigo, já me prestigia pela segunda vez nesses eventos. É o cidadão mais fácil de se relacionar no mundo depois de outros reis da paciência, incluindo Jó, o da Bíblia. Se aparecer alguém no mundo falando mal dele, só se for porque tem cabelos grisalhos e não pinga neles nem uma gota de tinta. Outra presença marcante foi do jornalista Márcio Passos, diretor-fundador do jornal A Notícia, meu amigo desde quando Jean Dissandes de Monlevade fundou o primeiro alto-forno no então distrito pertencente a Rio Piracicaba. E foi uma surpresa bem forte: pegar o carro em Itabira e viajar 54 km é muita responsabilidade até para outro renomado palestrante. Para mim foi um peso nas costas. Mas também um incentivo.

Resumir 50 anos em 50 minutos é tarefa hercúlea, desafiante. Claro que nunca se pode, jamais, promover uma transformação radical em tão curto tempo, mas olha, é tentar falar mais tempo e entrar pela tubulação e virar seguidor de Fidel Castro, que falava sete horas sem parar. Também o que interessa é, antes de tudo, jogar uma sementinha, se é que na VIDA É BELA, título de nossas semeaduras de ideias, algo consegue ser plantado para o bem do ser humano.

QUESTIONAMENTOS OU COMPLEMENTOS

No início dos 50 exatos minutos da apresentação deixei um desafio aos participantes: escrever algumas meias dúzias de letras ou palavras sobre o que presenciaram. Pedi que não mencionassem o nome para ficassem mais à vontade. Assim foi feito.

Frases complementares as classifiquei como para engrandecer aqueles momentos. Por exemplo, alguém ilustrou: “A vida é bela; cabe a cada um de nós conduzi-la”.  Outro (a) me pede opinião sobre a frase de Carlos Drummond de Andrade, citada durante as explanações: “... a prudência egoísta que nada arrisca”. Acredito que a frase completa do poeta possa dar a resposta desejada. Ei-la: “A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.” Entendeu?  Só sofre quem é masoquista.

Mais um (a) participante complementou: “Nesta vida somos passageiros que precisamos partir em direção aos nossos sonhos e metas, sem voltar atrás”’. Muito bem. Excelente ilustração. Mais um comentário: “A vida é bela. Será que vou fazer tudo o que quero? Meus dias são rotineiros, é preciso mudança” Sim, os objetivos da palestra focalizam mudanças.

“Acho que entendi tudo”, afirma um (a) participante. Diz uma figura masculina ou feminina como sugestão: “Podia ter um tempo maior a palestra”. Aí, tenho de agradecer porque se quer mais tempo foi porque gostou. Ocorre, todavia, que seja por razões diferentes: nada ter entendido. No caso de considerar a exiguidade de tempo como inútil, os cursos que estou montando talvez resolvam. Um curso não deixa alguém falar sozinho como um pregador no deserto.

“Compreendo seu ponto de vista e gostaria de saber, já que você diz muito a respeito de sonhos e sucessos, que levasse em consideração uma percepção a respeito dos fracassos”. A essa ponderação (ou seria um alerta sobre a repetição de fracassos na vida das pessoas?) nos dá a noção da palestra em si. Ao se engajar na rotina dos fracassos, ao ser humano não resta o que fazer. Por isso falei da Lei da Atração que, se não observada devidamente, torna-se uma cruel provocante dessa situação indesejável e indesejada. Apenas para promover uma chamada ao tema, diria que o fracasso, tal como o chamam, precisa mais do que nunca ser ignorado antes que cave uma depressão profunda na alma humana.

Além de uma série de referências a temas já citados, um (a) participante sugeriu leituras diversas, como de “Grande Sertão: Veredas” (Guimarães Rosa), “Hamlet”  (William Shakespeare), além da de Álvaro de Campos, poeta português.

DICIONÁRIO BRASILEIRO DE LEIS NATURAIS

Eis aí o crasso erro de minha apresentação. Erro porque não deixei sobrar mais tempo para este tema: dicionário de leis, trabalho a que me dedico há mais de dez anos e que seria e será daqui para a frente o pano de fundo das palestras A Vida é Bela.  Será, como já é para este pobre escrevinhador e “inventor”, o guia teórico para a vida. Como são elaboradas e aplicadas as leis, o porquê delas, a verdadeira necessidade de ter um ponto de partida para a execução de ações.

Tenho em mãos um comentário. Esse vai ficar pendurado no varal de minha sala: “A morte é bela!!!” (os três pontos de exclamação são do (a) autor (a) da frase. Tentei com outras pessoas entender se foi ironia ou apenas uma distração. Vamos voltar ao assunto.

Ficou para o final o tema que mais chamou a atenção dos participantes Todos, basicamente os que deixaram mensagens, queriam que mencionasse algumas leis e seis significados. Atendendo, vou tentar resumir alguns significados. Para encerrar, eis algumas:

— APARÊNCIA — Toda aparência não é verdade, o nome já diz.
— AMOR— Como foram criados os instintos, que nos provocam a defesa da vida, também é indispensável a lei do amor, responsável pelo equilíbrio do universo. Nem sempre seguida, mas ela existe.
— ATRAÇÃO — Saiba pedir do jeito certo e você receberá. O positivo atrai o positivo e o negativo atrai o negativo. Se você só espera o que não é bom, eis que virá sempre o que não é bom. O contrário gera coisas boas.
— BARRAGEM — Atentado ao trajeto natural de córregos, regatos e rios; desafio inconcebível contra o estado natural de terrenos formados em milhares de anos.
— CAUSA E EFEITO —  Não há efeito sem causa (Espiritismo, Budismo, Max Weber). Se existe o filho é porque há, também, o pai e a mãe.
— DEUS — Deus é desde suas origens a divindade central nas religiões abraâmicas, preponderantes na cultura ocidental e na lusófona, da qual derivam-se, entre outras, três das mais influentes religiões da atualidade, explicitamente o cristianismo, o judaísmo e o islã. Naturalmente, Deus é simplesmente tudo, o conjunto, fazendo abrangência deste mundo, no planeta. Extrapolando da Terra, a sua dimensão é universal. Não tem formato. São energias agrupadas. Resumindo, é a própria Natureza.
LIBERDADE — Direito inalienável de todo ser humano. Sem liberdade não se pode viver ou não se cumpre a missão terrestre. Trata-se de um erro histórico do ser humano a tal punidade. Ninguém se conserta sendo castigado, punido, retirado de sua condição de liberdade.
— MENTIRA — Ato ou efeito de mentir; engano, falsidade, fraude; naturalmente, o que foi inventado, criado; uma ficção. Mais profundamente, mentira é tudo o que  vemos, porque para saber que alguém diz a verdade, usa-se o mundo da mentira.
— MISSÃO — Função, trabalho determinado, obrigação, compromisso, entendimento. Neste caso, o que todos
NATUREZA — Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma (Antoine Laurent de Lavoisier - França, 1743/1794). O conjunto e o equilíbrio dos fatos, coisas, acontecimentos, matéria, energia, poder, tudo enfim. Dona de tudo, comandante das coisas, fatos, organizações. Manda e, às vezes, desmanda.
— VERDADE — A palavra verdade pode ter vários significados, desde “ser o caso”, “estar de acordo com os fatos ou a realidade”, ou ainda ser fiel às origens ou a um padrão. O ponto final em que as pessoas se deparam depois de longa procura. Necessidade de ser encontrada, apesar de pouco perseguida.
— VIDA — A vida é bela. Um período definido em que cada pessoa vive na Terra para executar uma missão. Se não for assim, a vida não tem sentido. Se não tivesse sentido, Deus não existiria e não haveria mediador. E sem mediador, nada tem solução.

Esses comnponentes do dicionário são apenas exemplos. Há centenas ou milhares de verbetes.

CONCLUSÃO

Na palestra em Passabém, faltaram grandes outras citações, como: o porquê das drogas, ensinando a aprender e aprendendo a ensinar, meditação transcendental etc. etc. etc. Para tratar desses e de outros temas seguintes, vamos montar um curso em pareceria com comunidades.


Aos professores de Passabém e demais participante dessa palestra, MUITO OBRIGADO!