sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

FELIZ NATAL, MANÉ!

Quem  me  conhece  na  intimidade  sabe que vivo desejando Feliz Natal a todos os amigos, a partir de 26 de dezembro de qualquer período a 24 do mesmo mês no ano seguinte. É um costume que adotei desde criança por ter achado graça nesse cumprimento para apenas celebrar um dia, embora seja uma festa significativa, mas que se exaure num piscar de olhos. Seria para mim o cumprimento apenas uma ironia inventada por uma criança sem maldade e curiosa com a cultura popular.

Até que, recentemente, apareceu o conjunto musical Roupa Nova e, com uma melodia contagiante, deu a verdadeira mensagem que sempre, do berço aos cabelos brancos, quis deixar para todos, com exceção do sarcasmo...

“Um clima de sonho se espalha no ar
Pessoas se olham com brilho no olhar
A gente já sente chegando o Natal
É tempo de amor, todo mundo é igual
Os velhos amigos irão se abraçar
Os desconhecidos irão se falar
E quem for criança vai olhar pro céu
Fazendo um pedido pro velho Noel

Se a gente é capaz de espalhar alegria
Se a gente é capaz de toda essa magia
Eu tenho certeza que a gente podia
Fazer com que fosse Natal todo dia

Um jeito mais manso de ser e falar
Mais calma, mais tempo pra gente se dar
Me diz por que só no Natal é assim?
Que bom se ele nunca tivesse mais fim
Que o Natal comece no seu coração
Que seja pra todos sem ter distinção
Um gesto, um sorriso, um abraço, o que for
O melhor presente é sempre o amor

Se a gente é capaz de espalhar alegria ...
Natal todo dia ... (todo dia é Natal).”

Uma pena que muitos não compreendem o valor da data. Logo hoje, um dia após a comemoração,  já ouvi várias pessoas dizerem que foram bem de Natal e que até não foram bem. Olhem só o que me disse determinado amigo agora: “Este ano fui mal de Natal porque comi uma maionese estragada.” Engraçado, não é? Como se o Natal estivesse no estômago do rapaz, oh, meu Deus!

Uma outra pessoa me disse offline que não comemora o Natal porque a data é falsa. Nossaaaaaaaaaa! Olha, não importa que algo seja falso neste mundo porque tudo é pérfido, totalmente imaginário aqui no globo terrestre, até que encontremos a verdadeira noção do verdadeiro. Não reparou que cada ser nasce e assume uma  consciência coletiva do meio em que vive? Um  nome,  que pode mudar no trajeto de uma rua, de uma ida simples ao cartório do registro civil? Nosso nome de cartório e pia batismal não é fruto apenas de uma busca, sugestão, ideia, algo nada concreto, cem por cento subjetivo? Que, no meio de uma imaginário espaço de opinião, tudo é diferente, nada unânime,  em cada lar, ou lugar, ou país, ou  continente, quer dizer que ainda não existe a consciência plena a vigorar.

E a nossa meta é encontrar esse caminho ou objetivo. Quebremos a cabeça até que, como diz o ditado, “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.”

E, atenção, já existem pelo mundo, vagando, ainda em lutas, muitas pedras furadas por águas persistentes.Viu seu Mané? Feliz Natal!

domingo, 21 de dezembro de 2014

REGRAS ENGRAÇADAS DE UM PORTUGUÊS ULTRAJADO

Se alguém perguntar ao espírito de Rui Barbosa, num terreiro de umbanda, ou mesmo numa simples reflexão da alma, qual a maior tristeza que teve na vida, com certeza ele dirá, sem meias palavras:  “Tristeza tenho ainda de ver a minha língua pátria maltratada e pisoteada”. Ele deve estar mais para feliz do que o contrário por nunca ter tido contato com a internet, ou melhor, não ouviu falar dessa força de desenvolvimento da informática e da modernidade e ao mesmo tempo de degradação humana em vários aspectos.

De minha parte, sem  perfeccionismo, acho que trilhei um bom caminho. E explico a seguir: decorei um lembrete de minha segunda professora, Dona Inês Madureira – a primeira foi Dona Ilsa Caldeira Duarte – assim escrito no quadro negro: “Toda palavra tem uma só forma de ser escrita, ou seja, ou você acerta cem por cento ou erra cem por cento em ortografia.” Como isso valeu! Já no terceiro ano do antigo curso primário tinha eu um dicionário que, na época, era conhecido pelos marginais da língua como “pai dos burros”. Dona Inês em São Sebastião do Rio Preto, João Bosco em Guanhães e José Leite Vidigal em Conceição do Mato Dentro sustentaram o novo apelido do dicionário, “auxiliar dos inteligentes.” Por mim, tanto faz, ele é mesmo indispensável.

Mas nem só de ortografia vive ou sobrevive um idioma. Existem as regras que são inúmeras e  difíceis de serem decoradas, mas fáceis de se encaixar na  memória caso haja  uma prática regular. Em Português se pratica esse exercício com a boa leitura. Além de regras de concordância nominal e verbal; de colocação de pronomes; da importantíssima regência verbal (com o dicionário se tornando  imprescindível), uso do infinitivo  e de tantos exercícios, feitos em alguns casos com análise de textos, considero importante a própria aplicação do sentido das palavras, principalmente de verbos, motores de impulso de frases.

Há regras que a maioria das pessoas nunca aprende, não sei o porquê desse bloqueio mental. Neste caso, fico com o emprego do verbo “haver”, por exemplo, coitado dele, tem sofrido covardes  ataques  como se existisse o estilo bélico em sentenças gramaticais. Leiam duas frases que resumem covardias praticadas contra esse rico-pobre verbo:  “Ele não vai ao médico a cinco anos”.  O indicador de tempo passado faz a frase ser assim escrita corretamente:  “Ele não vai ao médico cinco anos” ou “Faz cinco anos que ele não vai ao médico.”  A segunda construção que muitas almas vivas confundem é: “Daqui cinco anos irei estudar na Europa”, Correção: “Daqui a cinco anos irei estudar na Europa.” Neste caso particular, bastaria dizer que se usa o verbo haver quando se refere a um acontecimento passado; e para o futuro, nada de verbo haver.

Não vou aqui descrever todas as questões que inspiram dúvidas aos brasileiros, claro.Existem manuais de redação de vários jornais e outros livros que ajudam muito alguém a escrever  corretamente.  Aqui apenas estou chamando a atenção para casos muito repetidos, os  quais vemos, principalmente na internet, que dão dó e choro. Para as trocas de mensagens em textos simples inventaram termos como os seguintes:  “axo”, “concerteza”, “serto” (para mostrar que não quer saber de regras), “naum” (muito mais fácil é escrever “não”), “xd” (abreviação de saudade que até parece chique porque nada tem a ver), “chik”, “fudeu” (nunca foi porque o correto é fodeu).

Com muita certeza a crase é um desafio a muitos e  muitos brasileiros, até mesmo aos que concluíram graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado. De minha parte, tenho a contribuir com o analfabeto (se quiser continuar nessa qualificação) apresentando a  seguinte regra como regra orientadora principal: “Usa-se a crase quando se refere a um objeto qualquer que poderia ser substituído por “ao”, caso esse objeto fosse feminino. Exemplos: “Vou ao cinema”, “Vou à feira”. Entendido? O a craseado é uma forma de preencher o espaço do objeto indireto.

Quando, nos meus 18 anos de idade, trabalhei no jornal Diário de Minas, por onde passaram vários literatos e donos da palavra, havia, na hora do lanche, um sarau de trocas de experiências, encontros bem-humorados e cheios de ensurdecedoras risadas. Não me esqueço do dia em que Márcio Prado, cobra criada no mesmo educandário que estudei, em Guanhães, propôs a seguinte questão: “Qual a palavra mais feia da língua  portuguesa?” Valia um pastel conhecido como “pastel de orelha” (sem recheio e mulambento). Apresentaram-se várias expressões como candidatas à resposta correta: edil (que “significa” vereador), “doravante” (seria daqui para a frente?) e, finalmente, dois termos escolhidos: esposo (um escândalo da língua) e esposa (até certo ponto, em casos específicos, aceitável).
Acabou o meu espaço, tenho de terminar e não “que terminar” , embora me lembre ainda do hífen (consultem um dicionário pós reforma ortográfica, por ser muito confuso esse uso), uso da vírgula e outras pontuações (tem que saber fazer uma boa análise sintática), mais  empregos do verbo haver, além do  que foi mostrado, impessoal (cuidado em dizer “houveram muitas festas”), “O pessoal falaram” (aí, que chute no saco!). O quê mais? Deixo para outra ocasião, vamos ver. E não me corrijam neste texto porque foi escrito na maior boa-fé e, como diz um aviso mostrado num boteco que visitei durante o percurso da Estrada Real: “Naum mi dé conseliu, cei erar sozinhu.”

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

SALVE-SE QUEM PUDER EM ITABIRA! OU VAMOS REAGIR?

Ter saudade é, de verdade, um mau momento de nossas vidas. Sentimos aquele frio na barriga, característico de uma nostalgia por algo já passado  mas que, às vezes, não era tão  detestável. Engraçado, não é? Por exemplo, quando foi criada em Itabira a 11a. Companhia Independente de Polícia Militar, passo preparatório para a atual Companhia Militar, havia um certo medo  se espalhando pela cidade, e nele o pano de fundo tinha o impulso de um novo ciclo do ouro ocorrendo por  estas bandas.  Muitos  devem lembrar-se de que, na época, o tenente-coronel Jurandir, o delegado de Polícia Civil  Robson Esteves e políticos, atendendo iniciativa de Olímpio Pires Guerra, o prefeito, reuniram-se  durante três dias  no Seminário de Segurança Pública. Mesmo com um crime misterioso ocorrendo, denominado o maior desafio do delegado Robson em sua carreira – um motorista de táxi foi morto misteriosamente – os resultados foram ótimos e imediatos.

E hoje? Neste momento alguém está sendo assaltado em Itabira, tal é o aumento assustador dos ataques de bandidos. E o ouro acabou para o garimpeiro que veio até de Serra Pelada.  Em 1993, os itabiranos ainda não acreditavam na violência, e levavam apenas sustos esporádicos. Incrível como se procedem agora furtos, roubos, invasões de domicílios, assaltos simples e à mão armada  Impressionante porque a maioria do povo já se acostumou, sabe que vai acontecer e até fica na espreita.  Os comerciantes procuram dificultar o máximo para o ladrão levar dinheiro, limpam seus caixas, mas pouco resolve porque os malfeitores carregam o que encontram, completam sua empreitada com arrastões e espalham o pânico em todas as partes. Bem atrevidos, hein?!

Contam que um bandidinho desses menores — ninguém dá importância a uma eventual mudança no mal elaborado Estatuto da Criança e  do Adolescente (ECA) e nem à redução da idade penal — é a figura que está sempre à frente das quadrilhas. A lei os  protege, aí eles atuam até mesmo com o incentivo dos pais. Os traficantes são as suas ameaças: “Ou me traga o seu pagamento, ou volte para morrer!” — seria essa a intimação  que os move para que saiam por aí dando tiros para todos os lados como um Tom Mix ou  John Wayne dos filmes faroeste. 

A insegurança da cidade chegou ao cúmulo do absurdo e vai crescendo sob o impulso das rodovias. Nas BRs, como a 381, que liga a região a Belo Horizonte, o pau está quebrando há mais tempo. Chegou ao ponto de ocorrer um fato inadmissível há dois anos atrás: a Lanchonete Tia Eliana, tradicional empresa nascida em Santa Maria de Itabira, que se expande também em franquias Brasil afora, acaba de tomar a decisão de fechar as  portas na Vila Emboabas, município de Caeté,  motivada pelo crescente número de assaltos sofridos.

A luta  pelo dinheiro é a mais dramática que há na face da Terra. Primeiramente, promoveram o vil metal como se ele fosse o nosso deus todo-poderoso, que compra, de acordo com o escritor Nelson Rodrigues, até o “amor verdadeiro”. E não adianta remunerar ninguém com relativo reconhecimento ao seu trabalho, quase todos querem ultrapassar os limites de vantagens.

Escrevi acima que no início do Governo Li Guerra foi realizado em Itabira um chamado Seminário de Segurança Pública e que os efeitos foram positivos. A simples repercussão das providências tomadas deu um chega pra lá nos arruaceiros. Então, uso  deste espaço para sugerir ao Governo Damon a promoção de outra rodada de discussões e tomadas de medidas salutares.   
 
Lembro-me de que há quase 22 anos, o autor da ideia foi o então secretário de Governo Márcio Passos. Sabendo que Passos retornou ao serviço público aqui em Itabira, como consultor da Prefeitura, tomo a liberdade de passar a ele a sua própria ideia que, repito, deu certo naquele tempo de violência. Estamos neste instante mergulhados na era do salve-se  quem puder ou do vamos reagir antes que levem a nossa cueca e a nossa vergonha de sair pelado por aí depois de um saque indigno e humilhante.


domingo, 14 de dezembro de 2014

VOCÊ TEM A CERTEZA DE QUE ESTE MUNDO É NOSSO?

Vou começar com um exemplo para que cada um reflita. Vai uma  pergunta: alguém já teve uma visão mais ou menos assim você chega a uma cidade qualquer e, imediatamente, ou mesmo depois de algum tempo,   percebeu  um fato estranho acontecendo ao seu redor? Fica numa aflição medonha e, sem querer, diz uma frase condenatória daquele lugar, e tem a vontade de ir embora? Arrisco que, com  absoluta certeza  isso  ocorre ou ocorreu com muitos e muitos.

Assim, também,  sinto  um  agudo mal-estar. Vez por outra, praticamente todos os dias, sou capaz de escrever num caderno e enchê-lo da frase: “Eu não sou deste mundo!” Começo, então, a encontrar  razões incríveis, que ficavam escondidas, para garantir a certeza do que penso. São milhares de fatos que desfilam com muita clareza em minha mente. E me vejo incapaz de combater a veracidade dos exemplos, muitos, por sinal.

Nascemos e morremos.  Então não somos daqui. Daqui sempre, o fantasma da morte  iria  para o raio que o  parta. Aqui tem dor demais. Num mundo totalmente nosso não haveria pesar algum nem tristeza, porque, então, o criador não gostaria de nós. Com absoluta certeza, Deus não criou este mundo. Se criou, com certeza não foi este em que vivemos, que se transformou por culpa nossa. Mas Deus existe. Existe porque não há efeito sem causa — esta é uma lei natural incontestável —e se participou da criação deste mundo foi apenas para resolver problemas que inventamos no decorrer de séculos e milênios.

Agora, a esta altura do tempo,  batemo-nos  de frente com centenas de milhares de problemas que aí estão estampados, em amostra grátis, para vermos, analisarmos, apreciarmos e fazermos uma conclusão esclarecedora e convincente. Neste mundo não há, definitivamente não há, um só lugar que está imune à corrupção. É uma praga daninha, praticada não somente pelos políticos, mas pela sociedade de modo geral. Entra em qualquer lugar e sai sem dar satisfação a maldita catástrofe. Quem desejar fazer uma pesquisa séria, basta ouvir o rádio, ler jornais e revistas e ver televisão. Ou acompanhar  pela internet. Ou conversar na esquina, em botecos, velórios, salões de beleza, até mesmo nas filas dos bancos.

Agora, muitos, no entanto, querem, talvez, saber qual seria o nosso verdadeiro mundo. Sinceramente, não sei. O Céu que muitas religiões pregam não entra em minha cabeça; o Purgatório seria mais viável, pois acredito que este mundo aqui se parece com a descrição de religiosos e do povo; já o Inferno é completamente inconcebível pela sua  condição de eternidade. Nunca,  jamais, existiriam dores  para sempre. Até porque não temos muita culpa dos pecados que cometemos. Se fazemos alguma coisa errada, em casos claros posso provar que não temos responsabilidade, principalmente por não ter havido uma  preleção inicial de um criador, que poderia ser desta forma: “Olha, você vai passar um tempo neste lugar chamado Terra; tudo o que fizer de certo ou errado saberá de antemão, e terá forças suficientes para não ser tentado por algum demônio.”

Mas, não! Fomos jogados aqui de forma até insensata. Vejam, por exemplo, filhos de marginais, de pobretões ao extremo, e que nascem doentes. Digo isso e já tenho a certeza de que Deus não fez,  mas está na expectativa de  ver o que vai dar esta bagunça. Ele, Deus, existe, repito, e vai interferir numa hora qualquer e dizer para cada um de nós: “Olha, você já quebrou a cabeça demais, errou demais; agora pega o seu boné e vá para aquele lugar!” — nos mostrará um novo Planeta em que reina a paz, o amor, a bondade, a compreensão, a justiça, tudo de bom. Nada de terremoto naquele planeta, nem injustiças e sofrimento. 

E é assim vou tocando o meu bonde... até encontrar um mundo melhor!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

SURPRESAS E REVELAÇÕES EM CANÇÃO NOVA

Acostumei-me a dizer que sempre temos novidades,  surpresas e até mesmo, se for o caso, decepções  na vida. Nunca concordei com aqueles que levantam o  topete e garantem em tom quase solene: “Já vi de tudo!”.

Estive neste fim de semana em Canção Nova, ao lado da  minha companheira de quase 45 anos de vida e mais dezenas de itabiranos e de vizinhos da cidade. O objetivo era também observar, como sempre  continuo observando, a conduta de seres humanos na face do Planeta Terra. Faço-o conscientemente desde os 11 anos por motivos unicamente científicos.

Não vou explicar aqui o que é a Comunidade Católica de Canção Nova. Restrinjo-me a sintetizar o seguinte: local aprazível, comandado por padres e leigos, dentro de Cachoeira Paulista, Estado de São Paulo, por coincidência um dos pontos demarcatórios da Estrada Real. Lá estive várias vezes a partir de 2006. Por perto está Cunha, também em SP, e mais adiante o ponto final das riquezas via cargueiros, Paraty, no Estado do Rio de Janeiro.

Cerca de 50 mil pessoas (cálculo de organizadores da festa) participaram do Hosana Brasil 2014, evento anual que teve a sua décima edição, de 5 a 7 de dezembro. Neste ano, foi inaugurado o Santuário do Pai das Misericórdias, com capacidade para abrigar dez mil pessoas, ao lado do Centro de Eventos, que mal acomodou cerca de 40 mil almas na missa de encerramento, no domingo, 7 de dezembro.

Fato que me chamou a atenção logo no início: aquela  multidão e nem um policial. Mas como?  Por quê? Não acredito! — exclamei de mim para mim. Em seguida, a ordem de tudo, com dezenas de filas para tudo, às vezes verdadeiras procissões quilométricas, sendo duas para os restaurantes, um de self-service e outra de “marmitex.”

E a cara do pessoal? Setenta por cento pessoas humildes, dez por cento de outros países e o restante, 20%, classe média para cima. Praticamente, as casas dos bairros mais populares se transformam em pousadas. Na casa em que nos abrigamos dormiram  56 pessoas, transformadas em sardinhas humanas em sete cômodos. Três dias de idas e vindas ao local da festa, que teve não apenas atividades religiosas, mas culturais e de lazer também, incluindo shows diversos.

A história de cada um. Ouvi algumas, muitas, emocionantes, por sinal. Por isso se diz que a fé remove montanhas. Muitos jamais poderiam financeiramente ir lá e foram. A fé o levou. E não tenham dúvida, essa atitude de crer é o diálogo do inconsciente com o consciente ou subconsciente.Um ordena e o outro faz.

Além da fé individual, pessoal, personalizada, há a coletiva. Aí entra a multidão. Quem não sente não tem percepção, ou ainda não está preparado para tal: quando os desejos, sonhos, pedidos, preitos de gratidão, tudo se une num só pensamento, aí a fé não mais remove montanhas, mas cordilheiras e até montes divisórios com oceanos.

Foi o que vi em Canção Nova, utilizando o meu aguçado sentido analítico. Eu que nasci romeiro e pratiquei o costume de antepassados desde os 5 anos de idade, viajando num balaio de burro-cargueiro, em contrapeso ao meu irmão, Carlos, um ano mais novo, na direção de Conceição do Mato Dentro, a 60 km de minha terra natal. Era pagamento de promessa  de  nosso avô, Godofredo Cândido de Almeida, ao boníssimo Bom Jesus de Matozinhos, no tradicional  e bicentenário Jubileu que se realiza em junho.
 

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

PALAVRAS AO VENTO QUE NUNCA LEVAM A PAIXÃO ALVINEGRA

Adotei o Galo antes de nascer. Para dizer isso mais uma  vez me permitam plagiar o jornalista Chico Pinheiro em entrevista ao Folha de São Paulo: “Não torço para time nenhum, sou atleticano”. Mas só pude vestir uma camisa alvinegra quando tinha 15 anos porque não existiam camisas sobrando em vitrines no tempo da minha pré-história. Quando da inauguração do Mineirão, em 1965,  trabalhava de repórter policial do Diário de Minas, jornal extinto, mas que o mencionavam como melhor escola de jornalismo de Minas Gerais. O meu mestre, Vargas Villaça, carregava a fama de ser um dos maiores jornalistas do Brasil,  especializado em polícia. Ao lado de Márcio Rubens Prado, que conheci em Guanhães ainda na infância, pagava-me alguns sanduíches para matar a  fome que me castigou por longo tempo em BH.

O Galo sofreu amargamente nos primeiros anos do novo estádio, mas conseguiu se recuperar a partir do fim da década de 1960, ultrapassando um período em que reinou com grande vantagem quando manteve os craques Reinaldo, Cerezzo, depois Nelinho, Éder, Palhinha, Vaguinho juntos deles. Foi nesse período que me tornei um frequentador assíduo do Gigante da Pampulha e, como pesquisador por conta própria, tentei entender a mágica da torcida do Galo. Certa vez entrei no não sei bem a data, estávamos na década de 197. Vi  o Galo levar dois gols do Santos em jogo do Campeonato  Brasileiro. Termina o primeiro tempo, o placar se mantém inexorável, irredutível e doloroso.

Quando começa a etapa complementar, eis que a torcida recebe o time em grande festa e me deixa pasmo. — O que foi que aconteceu? — perguntei a um atleticano ao lado e ele nada me respondeu, apenas sorriu e tocou o bonde para frente, enquanto a barulhada só aumentava, embora o gol não saísse. Mas, não tardou tanto diante daquele estrondo ensurdecedor. Aos 35 minutos do segundo tempo já estava em 2 x 2. E mais um pouquinho de minutos lia-se no placar eletrônico: Atlético 3 x Santos 2. Termina o prélio. Para a torcida, tudo normal.

Inúmeras vezes vi essas mágicas acontecerem e passei a pensar que havia energia de reserva, escondida, pronta para vestir a camisa preta e branca, e jogar a favor da equipe. Se bem que os cronistas mais lidos na época, Roberto Drummond (que também passou por Guanhães, atleticano, ao contrário de Márcio Prado, guanhanense e americano até morrer), Xico Antunes, que tive a satisfação de  ter no meu convívio e assimilado ao seu jeito diferente de escrever. Mas lia também cronistas cariocas, acompanhando o futebol do país inteiro, mantendo-me fiel à leitura de Ari Barroso (flamenguista), João Saldanha (botafoguense) e Nelson Rodrigues (fluminense).

Vendo, ouvindo e acompanhando todos os times brasileiros, não me faltou a ideia da comparação. E aí a paixão pelo Galo só cresceu, e tão forte que ajudou a formar a cabeça de praticamente toda a minha família, incluindo  cinco filhos e noras e genros. O meu avô Seraphim Sanna, filho de italianos, que me tratava como uma peça de diamante, certa vez me disse: “Vou levar você a Ouro Preto, onde ouvirá do meu pai a história de sua vinda para o Brasil”. Com 6 anos de idade, às vésperas de ser matriculado no Grupo Escolar Dr. Odilon Behrens, em São Sebastião do Rio Preto, foi que me assentei em uma das escadas do casarão da Rua do Pilar, naquela cidade histórica, para ouvir atentamente a história real que aqui não vou repetir agora, da conquista do coração de nossos antecedentes pelo clube que já era meu, o Galo.

Alguns cruzeirenses acham que agora os atleticanos exageram em comemorar o título de campeão da Copa do Brasil que, para alguns, é “copinha”. Não era quando o time deles fez as suas quatro conquistas, mas... deixa pra lá. Para vencer a Copinha, o Galo virou um placar de 2x0 em cima do Corinthians, depois do Flamengo, pelo mesmo troco, 4 x 1, depois de eliminar o Palmeiras, aplicando-lhe duas derrotas. Vejam bem e olhem a trajetória do outro time que teve como adversário forte um tal de ABC na  semifinal (não estou brincando, confiram), talvez representante de jogadores semi-alfabetizados. A glória da virada não teve o Cruzeiro, que sofreu com  um 2x0 inicial  do Galo, mas não reagiu no  segundo jogo porque... deixa pra lá também porque a torcida do Atlético não ensina segredos para rivais.

A mística da camisa e do escudo simples guardam segredos misteriosos. Em seu livro “Atlético Mineiro, raça e amor”, de Ricardo Galuppo,  o autor conta mas não tem como revelar o porquê da relação de amor do clube com a sua torcida. E Roberto Drummond acabou cunhando para ele uma frase que vale por toda a eternidade alvinegra: “Se houver uma camisa preta e branca pendurada num varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento”.  Se alguém quer entender, não o que Drummond quis mesmo dizer, mas a simplicidade do atleticano que acorda em momentos decisivos na  hora do jogo, vai ter que fazer muito mais do que fiz, coletar informações e torcer sempre com a mesma crença. Piazza reclamou com Chico Pinheiro que a torcida do seu time, o Cruzeiro, que defendeu com galhardia e brilho, simplesmente torce, mas não vive. É, de verdade, um grupo de simpatizantes.

Fica aqui a minha homenagem ao Galo Forte e Vingador por essa conquista inédita, que vale muito mais que as quatro copas do rival. Vale porque quem torce para o Galo é fidelíssimo, agradecido, vibrante e não desaparece quando vêm tormentas maiores e enganadoras. Vale porque tirou duas casquinhas saudáveis no rival que se achava com toda a arrogância um time imbatível. Depois de tempestades de vento que ameaçaram levar a camisa de que Roberto Drummond imaginou pendurada num varal e relatada em  sua página gloriosa e inesquecível, esse Galo está pronto para outras ventania, tormentas e conquistas.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

NÃO TEM JOGO EM BH HOJE. QUEM NÃO SABIA?


Desde a inauguração, o Mineirão mostrou o seu grande defeito: preocuparam-se com o conforto e a segurança da torcida mas esqueceram do gramado. Ora, aconteceram umas duas ou três partidas impraticáveis no campo e anotei no meu caderno de apontamentos: “O Mineirão não tem estrutura para receber chuvas”. Depois, acompanhei o desenrolar do tempo. Em momento algum a tal Minas Arena, com que o Cruzeiro se aliou  para jogar lá, parou no tempo para tentar melhorar a paisagem aquática. A sorte dos dois foi grande porque logo a seguir veio uma grande seca. Não choveu mais.

Mas agora, por ironia do destino, São Pedro resolveu mostrar aos “donos” do palco, que  pertence ao Estado de Minas Gerais, que eles são uns idiotas. Repito: imbecis. E  vou  falar mais: dementes, estúpidos, desmiolados, malucos, tolos, cretinos. Pensaram que nunca mais iria chover e São Pedro anotou na sua agenda: “26 de novembro de 2014”. De acordo com os setores competentes, o Santo recebeu informações seguras de um especialista que trabalha como seu assessor de que nesta data ocorreria o chamado “jogo do século”. Atlético e Cruzeiro nunca tinham jogado numa decisão que não fosse mineira. Agora, nacional. E São Pedro, dizem as más línguas, até esfregou as mãos.

Então, neste jogo por demais importante, nem o Galo e nem a Raposa jogarão futebol. Suspender a partida é muito difícil porque os imbecis acreditam que até na hora do “derby” haverá um sol de praia que sugará aquela  imensa lagoa que promete se emendar com a  da  Pampulha. Enquanto isso, os ambientalistas sabem que os jacarés e as capivaras estão distribuindo carrapatos a torto e a direito. Com os artrópodes, a febre maculosa pega todos desprevenidos. Mas os donos da verdade administrativa da cidade não estão nem aí, talvez eles estejam morando noutra região da capital.

Mas voltando ao Mineirão, o jogo não será nem adiado, nem remarcado, nem transferido, nem nada. Será a mesma coisa. Quando chegarmos às 22 horas, haverá uma espécie de “water polo” com os 22 jogadores acostumados ao “soccer game”. Talvez apareça um ou outro atleta de natação que queira exibir a sua habilidade, quem sabe o César Cielo que, se não me engano, está por aí, acho que no Minas Tênis Clube. De futebol mesmo será uma pelada antológica, daquelas de arrepiar. O Cruzeiro, cuja jogada mais forte é o chuveirinho, ou a cavadinha, inventada pelo saudoso Yustrich, nome de guerra de Dorival Knipel lá pelas décadas de 1950/60, treinador violento e famoso que atuou por essas bandas, acho que pode levar uma  ligeira vantagem.

Pronto. Será que vale pagar R$ 500 por uma pelada marcante como a  que se anuncia? Não tenho resposta, por enquanto. A verdade que sacode aqueles que têm percepção e sabiam que isso ocorreria é que os responsáveis, ou de verdade, irresponsáveis, perderam o rumo, como tudo neste país nosso, também conhecido como PPP (País da Piada Pronta).

Só espero que ninguém quebre a perna nem desloque uma costela nesse pântano que todos veem como um mar gigante. Aproveitando que ainda não tiveram a coragem de fazer um bom dreno, poderiam montar ali a maior piscicultura de Minas Gerais, ou, como diz um amigo ao meu lado, a burrocultura dos  que cuidam de futebol. E, então, vamos à tourada em Madri, oh, não na Lagoa do Mineirão que, para ser melhor  que a da Pampulha só vão faltar as capivaras e os filhotes de jacarés.