segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

“VERDADE, EIS A HOMENAGEM QUE LHE DEVOTO!”


No tempo de meus avós o recado era ou mal escrito, ou mandado no famoso recurso boca a boca. Havia uma certeza de 99,9% de que chegaria intato ao seu destino e 100% quando a notícia era ruim demais (morte) ou boa (loteria).


Hoje ninguém crê numa mensagem via MSN ou WhatsApp ou E-mail ou site, ou Twitter ou transmitida online, senão usando pelo menos outros recursos para chegar à fonte correta.



Um jornal antigamente chegava com a data de hoje e temas de ontem. A notícia era perfeitamente entendida, em último caso conferindo outras fontes. O acerto se firmou como praticamente irrefutável.


A internet pode transmitir notícias incontestáveis (por exemplo, placar de jogo de futebol, ocorrências políticas, policiais), mas nem sempre traz uma informação correta, ou pode ser uma total fake-news, ou editar um tema com outro foco, com objetivos escusos, a ponto de tornar a informação uma real provocante de desinformação.


A imparcialidade nunca existiu na imprensa em tempo algum. A escolha de temas a serem focados na imprensa mostra este lado pecável da notícia. Há muito mais parcialidade na omissão de assuntos do que em escolhas de pautas. Nos meios de comunicação não há espaço para todas as notícias, bem como, sequer, o mínimo percentual desejado, mas existe como esconder assuntos que seriam indispensáveis ao bom sentido da informação. O jornalista que gosta de opinar, avaliar e até julgar é o mais comum dos erros da imprensa e que torna a notícia praticamente inválida.


Destes curtos tópicos focalizados pode-se ter uma conclusão: cada tempo na sua devida época e relativa interpretação. A comunicação melhorou, é mais ágil. No entanto, quanto mais parece ser eficiente, mais torna-se susceptível às mentiras e más interpretações, bajulações ou malhações.


Para abordar um assunto que interessa a muitos, contam os arquivos históricos da Idade Média que um estudioso aventurou-se em pesquisar e escrever a “história do mundo”. Para que pudesse levar adiante o seu objetivo anunciou que esperava contar com a ajuda de todos os intelectuais que pudessem alcançar tal propósito: enviassem-lhe  capítulos de acontecimentos locais e, de posse deles, pudesse juntar fatos e organizar um só volume histórico a respeito da vida no globo terrestre.


Seu trabalho foi levado adiante até que em certa tarde, ao observar de sua janela, um desentendimento entre vizinhos, no seu prédio, eles trocaram desaforos e cada um defendia uma espécie de argumento a respeito de questões diferentes. Viu, analisou, concluiu no seu pensamento particular a visão de um fato, ao vivo e a cores.


Fechou a janela e foi para o banho, em seguida o jantar e, por último, recebe a visita de um outro vizinho que lhe contou o confronto como o por ele presenciado, análise e conclusão completamente diferentes do seu entendimento. Em seguida, chamou o visitante para ver em seu escritório as toneladas de informações que recebera de vários historiadores espalhados pelo mundo.


Dando prosseguimento ao que lhe passava pela cabeça, pediu ajuda ao visitante e decidiu transportar numa carruagem o papelório para ser depositado num terreno baldio não tão distante. Juntou todas as anotações, preparou a fogueira que não era de São João, pegou uma caixa de fósforo e ateou fogo em tudo, mesmo com apelos fortes e insistentes do amigo vizinho que lhe fizessem desistir da  estapafúrdia decisão.


O fogo subiu aos ares, a fumaça encobriu uma extensa área. O ex-historiador pronunciou as seguintes palavras: “Se um fato que aconteceu hoje mesmo é visto e analisado de forma diferente por duas testemunhas, o que diria se ocorressem em várias épocas, vários países, sob o foco da mesma análise, e por seres humanos normais e confiáveis?”

No fim do fogaréu, conclui de seu raciocínio considerado por ele lógica a derradeira frase: “Se o que acaba de ocorrer hoje, agora, aos meus olhos e de pessoa confiável, o que seria a realidade neste imenso mundo que queríamos conhecer?” E concluiu a sua frase para fechar o ato que acabava de praticar, pronunciou as seguintes palavras: “Verdade, eis a homenagem que lhe devoto!”


José Sana

Em 13/02/2022