sexta-feira, 29 de novembro de 2019

QUANDO OS NÚMEROS MENTEM NO FUTEBOL

No jornalismo sou de ontem mesmo, mas não de anteontem. No ontem uma reportagem era preto no branco; anteontem era um preparativo; no hoje a maioria dos jornalistas está saindo dos trilhos. O profissional pega os dados e acaba se perdendo neles. Diria que se naufraga. Quero mostrar como exemplo o que dizem repórteres de jornais, rádio, sites e televisão sobre, especificamente, o desempenho do treinador Vagner Mancini no Atlético.

Antes de tudo, esclareço que não sou contra o técnico Vagner Mancini e também não sou a favor. Mas agora vou defendê-lo com unhas e dentes. Ou só com unhas porque ele topou a parada. Isso porque não há treinador bom quando não é ele quem monta seu time preferido. Técnico de futebol não ensina ninguém a matar a bola no peito, na canela, nem cabecear e chutar. Ele apenas vai para a beira do gramado e começa a gritar com os seus comandados. Como exemplo daquele que hoje está endeusado no futebol brasileiro, Jorge Jesus, do Flamengo, não vejo o que fez para ensinar Gabriel Barbosa, Arascaeta, Éverton Ribeiro e outros a chutar, cabecear, passar a bola, fazer gols.

O jornal O TEMPO desta sexta-feira (29) pega os números dos últimos treinadores do Galo e faz as suas comparações: Rodrigo Santana, 48,7%; Vagner Mancini, 36,6%. Pronto. Cita apenas o número de jogos e outros dados além disso: 11 (o repórter errou ao citar dez), duas vitórias e cinco derrotas, mini-currículo de Mancini no Galo. O outro lado, comum em matérias jornalísticas, deu duas linhas para o Mancini assim: “Chegamos em uma sequência de nove derrotas em 11 jogos”. O destaque da reportagem, incluindo o comentário do colunista Roberto Abras, é também injusta. Em síntese, Mancini não fez o milagre esperado pelos cabeças de bagre.

O barco saiu do porto com uma série de avarias claras, e tinha um Sette Câmara mais incompetente  que os marinheiros inexperientes, ou ruins de remo que foram por ele escolhidos. A embarcação começou a flutuar razoavelmente bem, mas logo a seguir mostrou-se  com certa dificuldade diante de vários princípios da física e da geometria. Na verdade, é um navio pequeno, uma embarcação feita de madeira, ferro, aço, fibra,  alumínio, adaptado a vários tipos de propulsão, mas candidato ao naufrágio.


O titanic do Sette Câmara já mostrava entrada de água, risco de afundar-se  ou de desgovernar-se. Tinha um capitão, diria um soldado raso comandando a jornada. Trocaram o comando no meio do caminho. Continuaram escancaradas as avarias e os marinheiros sem a formação necessária eram chamados a fazer o que não sabem. A viagem longa do Campeonato Brasileiro exigia melhores preparações. O navio atleticano já vinha de uma série de afundamentos neste trágico ano de 2019.

Vem agora o analista Thiago Nogueira e quer que o soldado-comandante faça milagre em plena viagem, em alto-mar. Querem que uma nau sem rumo seja ajustada em tempo recorde, já que a viagem não cessa, não se pode voltar no tempo e reparar erros cometidos.  Diria que o único erro ao soldado-comandante Vagner Mancini foi aceitar o desafio e não ter a visão suficiente para recusar o convite do Sette Câmara ou do Rui Costa e dizer o seguinte: “Esse milagre não é comigo, só São Nicolau, que é o protetor dos marinheiros, pode resolver”.

Agora, resta o seguinte: não deixar que a nau se afunde. É uma missão ainda desafiadora. Nos menores enfrentamentos de ondas durante a jornada do atual campeonato houve ameaças de naufrágio. Então, o barco não está salvo, ainda tenta uma necessidade de calmaria para toda a tripulação e seus viajantes que são a imensa torcida sofredora e desrespeitada do Galo. Existem botes salva-vidas, à espreita? Não. E não há submarinos de plantão também. Vamos, então, nos agarrar com o santo protetor. E vamos esquecer de que esta viagem é um cruzeiro, pois cruzeiro que afunda também. As ondas são corinthianas, botafoguenses e coloradas pela frente. Livremo-nos delas e julguemos Vagner Mancini com justiça. Não pela sua competência, nem fama de treinador pé-frio. Se sair bem desta é o São Nicolau consagrado.

José Sana
29/11/2019

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

EM BRASÍLIA: VAMOS BUSCAR CONHECIMENTOS

Amigos, completo, em 2020, 48 anos de experiência política, a partir de Itabira. Nesse tempo, fui  vereador eleito em 1972; reeleito em 1976; presidente da Câmara Municipal por duas legislaturas (1978 e 1982); candidato a deputado duas vezes (1982 e 1988, não eleito mas com votações expressivas); colaborador de jornais itabiranos durante muitos anos (O Passarela e Folha de Itabira), assessor de imprensa da antiga CVRD e fundador/editor da revista DeFato durante 20 anos.


Não vou jogar no lixo o que consegui aprender durante esse longo tempo, no qual não parei nele, sem falsa modéstia. Conquistei vitórias em causas importantes, como: iniciativa de inserir na Constituição um ganho imenso para as cidades mineradoras brasileiras (royalty do minério de ferro); introdução de melhorias de vida em várias cidades da região, estendendo-se até o Vale do Jequitinhonha; acompanhamento do processo de extensão da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) desde o nascedouro da ideia, passando por uma viagem especial a Sophia Anti-Polis (Sul da França), vivendo dias intensos em gabinetes de Brasília, enfim, somando um trabalho de que muito me orgulho.


Em 1999, lancei o livro “Ser Vereador” (Lastro Editora, 84 páginas), esgotado e em vias de ser reeditado.


Iniciei e dei sequência a uma série de palestras sob o título “A VIDA É BELA” em várias cidades, como: Itabira, Bom Jesus do Amparo, Santo Antônio do Rio Abaixo, Passabém e São Sebastião do Rio Preto.


Repito: não vou queimar todos os esforços, sacrifícios, constantes adaptações aos novos tempos, em troca de algum desânimo que, costumeiramente, atinge as pessoas acima de determinada idade. Tal situação já decidi de há muito que não vai acontecer comigo. A vida começa no útero e só termina quando queremos, ou seja, quando damos por encerrada a nossa missão. A minha missão vai continuar.

Fui editor e também repórter: esta a última foto como repórter
 em pleno serviço, ouvindo estórias e histórias

UM NOVO SALTO PARA O FUTURO

Como prova de que durante esta minha vida procurei sempre me engajar com o presente, não esquecendo o passado e com a visão no futuro, é que estarei em Brasília, com a graça de Deus, por 3 dias, no início de dezembro, onde participarei do Congresso Influência Digital, que faz um chamamento para políticos, jornalistas, marqueteiros, advogados, profissionais de um modo geral que estarão envolvidos no processo eleitoral do próximo ano.


“Influência Digital é um evento que vai reunir os maiores especialistas do Brasil em comunicação pública e estratégias de marketing eleitoral, político e governamental” (esta uma propaganda do Congresso). E mais: “O eleitor mudou. Você está preparado?”


Os temas serão:          — “O que esperar e como se preparar para as eleições de 2020”;
                                    — “Presença digital”;
                                   — “Passos para se eleger vereador”;
                                   — “Como produzir vídeos e lives de forma impactante”,
                                   — ”Storytelling e projetos de poder”;
                                    “Como organizar uma campanha para prefeito”;
                                   — “Comunicação em ambientes hostis”;
                                    — “Fakes News e pós-verdade”;
                                    — “Construção de Marca Território (Place Branding)”;
                                   — “Marketing On ou Off line”;
                                    — “Organização jurídica de campanhas eleitorais”.


PREPARANDO-NOS PARA NOVOS VOOS

Revelando um pouco do que aprendi, já iniciei um processo de palestras com cidadãos, pré-candidatos e com colegas de imprensa. Decidi dar uma pausa para reinício intenso a partir de dezembro, no pós-congresso. Já tenho palestras agendadas para várias cidades. Espero que atenda plenamente a cada uma das plateias que virão. E poderei atuar em campanhas eleitorais, é claro.


O que me motiva não é apenas o lado político. Só para que seja melhor entendido, pretendo estender o que está escrito em SER VEREADOR para novos desafios, como:

                         — SER PREFEITO,
                        —  SER VICE-PREFEITO,
                        —  SER DEPUTADO,
                        —  SER VENDEDOR,
                        — SER CIDADÃO.

José Sana
Em 25/11/2019

Foto: www.noticiaseca.com.br

PS.: Nesta semana, antes de Brasília, ainda temos dois compromissos inadiáveis: palestra de Bernardo Mucida e Marco Antônio Lage, na Câmara Municipal (29/11 às 19h30) que tem o título de "Itabira tem futuro" e evento para líderes comunitários, na Funcesi, no sábado dia 30, de 8h às 11h.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

“JUQUITA, POR QUE VOCÊ NÃO ME LARGA O PÉ?”


Dedico estas linhas ao meu amigo José Morais de Assis, nome de cartório e pia batismal. De guerra, simplesmente Juquita. O tempo passou e deixo, desde já, a advertência:  não tenho raiva dele, pelo contrário, guardei estima e a tenho. As lembranças se tornam divertidas apenas. Éramos crianças, pré-adolescentes quando os fatos aqui narrados ocorreram.  Os anos revelaram apenas que ele me foi útil. Eu não podia, àquela altura da década de 1950, viver sem freio. Eu era um menino quase totalmente  livre desde quando, aos 12 anos, passei a viver em Guanhães. Os bullyings do Juquita me salvaram.


Vamos ao passado. Estamos em 6 de fevereiro de 1957. Chego à Rua Santa Efigênia, não sei o número, em Guanhães, casa de Zezé e Silvestre. Lá moram, além do casal, os filhos Éder e Edna e seus parentes Maria Zélia de Assis e o Juquita. Sou bem recebido. Apenas o Juquita não vai com minha cara. Simples assim.




Juquita nasceu em 16 de janeiro de 1944. Se alguém perguntar se fui ao cartório, ou liguei para alguém da família para saber esse detalhe, lembre-se de que tenho uma boa memória. Apenas um dia foi falado que a sua data de aniversário era aquela  e guardei. Outra pessoa pode também perguntar: que notoriedade tem o Juquita que merece um texto, uma crônica, palavras de recordações? As respostas devem estar adiante.


Como escrevi acima, fui bem recebido na casa dos santantonienses. Com um reparo: só o Juquita não era simpático a mim. Ódio à primeira vista.  Algum motivo deve ter existido, talvez lhe tenha, por exemplo, tomado o quarto de dormir. Não sei onde ele dormia antes da minha chegada. Os meus aposentos ficavam ao lado da sala de visitas, onde também estava o rádio do dono da casa, cujo aparelho, só tocava sanfona. Muito bem: o rapaz, que nasceu em Santo Antônio do Rio Abaixo, filho de Seu Altas e Dona Maria, não agradou de mim. Dito e repetido.


Na sua primeira noite depois de me conhecer certamente teve um pré-sonho, depois um sonho comigo, ou melhor, um pesadelo. Deve ter-me visto transvestido de lobo mau, aquele que comeu o bolo que Lalau e Lili levavam para a vovozinha. Assim coube a explicação em minha cabeça infantil. Ele procurava um jeito de ver mais defeitos em mim, além dos que eu tinha e tenho. No segundo dia de convivência, ele já começava a pensar de como pegar no meu pé. Meu apelido, desde o primeiro dia de morador da cidade, era Cheiroso. Ele não gostou e deve ter pensado assim: “Isso é um fedorento e nada de cheiroso!”.


Minha mãe, sempre quando tinha um portador, me enviava guloseimas. Era raríssimo isso ocorrer porque Guanhães ficava numa contramão bem acentuada de minha terra, São Sebastião do Rio Preto. Mas alguma coisa saborosa chegava, pelo menos uma vez por semestre. Lembro-me de quando desembarcou uma caixa de doces de leite, cortados em pedaços, e fartos.  Recebi não sei de quem, e poderia ter sido gentil, acho que não fui, ou seja, não ofereci pedaços ao pessoal da casa. Provavelmente, muito egoísta, coloquei-os num saco e pendurei atrás da porta do quarto. Os doces desapareceram, o saco ficou. Reclamei com a dona da casa. Só podia ter um autor, o Juquita, e dois responsáveis: o mesmo Juquita e sua pupila Zélia. Zezé, muito rigorosa, exigiu que os surrupiadores de doces  de leite desenvolvessem outra receita tal como existiam os doces antes. Foi feito. Estava vingado. Pendurei-os novamente atrás da porta do aposento. Ficaram intocáveis.


Tomar um lanche nas tardes entre longas horas de estudos era um prazer para todos. Mas para mim, um tormento. Religiosamente, todos éramos  chamados às 15 horas na cozinha para bebericar um café, ou café com leite, e algum comestível (pão, biscoito, bolo). Meu tormento ocorria porque exatamente no horário passava lá em baixo e parava em seguida, na avenida, bem em frente à praça de esportes, a jardineira da Vila de Coluna. A tal jardineira era o retrato do chamado “cata-jecas” de São Sebastião, que tinha o porta-malas no teto e entre os objetos sobressaía o infalível balaio de galinhas. Juquita apenas cutucava com vara curta e Zélia se desmanchava de rir: “Olha, a jardineira de São Sebastião chegou!” Bastava isso para que eu rangesse os dentes e ficasse entalado com uma resposta silenciosa. Quem me salvou um dia foi o Silvestre que, me perguntou na presença dele: “Por que você  não pergunta a ele se Santo Antônio tem jardineira?”


Vivia pensando comigo: puxa vida! Por que será que o esse moço me odeia tanto? Não encontrava explicações. Se tenho tantos amigos, por que Juquita não gosta de mim? Certa vez lhe perguntei isto: “Juquita, por que você não me larga o pé?” E pensei em chamar-lhe para uma briga corporal. Mas como? Eu era franzino, fraquinho demais, um tampinha, ele um espicho de gente, apenas um ano mais velho que eu, mas de corpo bem esticado, como todos os filhos do muito alto Seu  Altas. Eu queria brigar também com Maria Zélia, mas ela nada dizia, apenas cochichava com o seu primo e era a plateia infalível dele, deleitava com as chacotas do impertinente.


Um dia chegou um moço que trabalhava com um irmão mais velho do Juquita, o Altamirano. Acho que o nome dele era Geraldo. Ele ficou uns dias na casa do Silvestre e Zezé para  fazer uma cirurgia das amígdalas. Ele me prometeu: “No dia que for embora eu conto para você um caso do Juquita e você vai acabar com ele”. Acabar com ele era o que eu mais desejava.  Então, chegou o dia, Geraldo estava operado e pronto para ir embora. Antes de pegar o ônibus para o arraial de Goiabas, me chamou num canto, soprou um nome, partiu e pediu que não contasse quem foi que me passou o tal segredo. E partiu. Guardei a revelação que nem tanta graça assim tinha, mas já que ele odiava, resolvi aplicar a receita. Esperei o momento certo das gozações intensas e diárias. Que se repetiam todos os dias.


Pois, então, enchi a boca para soltar aquele palavrão detestado pelo moço que me odiava: “Juquita Brusaaaaaaaa!” Brusa assim grafado com “r” e não “l”, bem ao estilo dos apelidos vindos da roça. Esse veio das grotas do Inhô das Pintas. E Juquita apenas rangeu os dentes e continuou me chateando.


No ano seguinte, mudei de pensão. Mas juro que não foi por causa do Juquita. Consegui me acostumar com ele até que, depois de muito tempo, tudo mudou. Somos amigos e fim de papo, graças a Deus. Na vida tudo passa. E olhem: Juquita virou um adulto, de tão bom que é tem cara de sono.


José Sana
Em 22/11/2019


quinta-feira, 21 de novembro de 2019

O DIA EM QUE APRENDI, NA MARRA, A ANDAR DE BICILETA


Guanhães parecia ser a metade ou 1/3 do que é neste 2019. Mas causava orgulho, principalmente naqueles que nela chegaram para viver e prosperar. Lembro-me do Senhor Urbano Moura acendendo um cigarro de palha e perguntando às pessoas, principalmente a mim: “Você está observando o crescimento de nossa cidade? Loteamentos para todo lado, construções, ruas largas surgindo? Em pouco tempo alcançaremos Itabira!”

Naquele crescimento, ele incluía a Avenida Domingos Buzatti, que era uma espécie de “via do contorno guanhanense”. Ele e o irmão, Senhor João, moravam nessa autoestrada que, não fiquei sabendo o porquê, um dia seu nome foi mudado para Milton Campos. Apesar de admirador do político que foi governador de Minas, não apreciei a mudança. Nem Urbano, nem João, nem o fabricante do Guaraná Moura, Senhor Raimundo, que morava mais distante, aprovariam.

A avenida começa no Bairro Vermelho e segue até as imediações da Itambé, saídas para São João Evangelista, Sabinópolis e Virginópolis. Toda plana, com umas pequenas recaídas e ondulações. Uma dessas inclinações situava-se exatamente na curva que começa com duas entradas uma para a Cônego Davino, que segue até a Igreja Matriz, e outra para a lendária Rua do Paquetá que, também os incautos mudaram o nome. A onda na época, ano de 1958, era andar de bicicleta. Os meninos da cidade, aqueles de pais mais afortunados, ganhavam suas maquininhas. Em pouco tempo, alguns chamavam a atenção, fazendo acrobacias pelas vias públicas.

Nas proximidades da casa onde morávamos, uma graciosa menina chamada Norma ganhou a sua, própria para meninas, com o quadro inclinado. Mas servia para meninos também, é claro. Numa tarde ensolarada, depois de forte chuva, as moradoras da casa do Senhor João Moura, incluindo Marlete, que já dava as suas pedaladas, Glória, Luzia e Tia Mercês, todas vão para a avenida andar na kalanga da Norminha. Eu estou lá, todo “arrasta papo”, como dizem. Sou tido como um moleirão, embora não seja. Vejam só que injustiça me fazem!

Então, estamos todos, os personagens acima citados, dividindo uma voltinha na admirada bike, a partir da curva com inclinação. Acrescentem-se às características da via pública de grande fluxo de veículos que, embora com largura acentuada, seu espaço para rodagem sem  buracos ou trepidações, liso, há somente um, “escolhido” aleatoriamente pelos motoristas. E o chão era todo de terra, poeira ou barro. Então, embora larga, era uma via estreita.  Aí chega a minha vez de dar uma voltinha na magrela. Sou severamente advertido, principalmente pela Tia Mercês, minha eterna protetora, tipo anjo da guarda. Na verdade, nunca tinha sequer pegado numa magrelinha de duas rodas. Luzia, minha chegada amiga, é mais audaciosa e desafia: “Aposto 10 mil réis que você não sai do lugar”. Topo a aposta.


E saio, mesmo desembestado como diziam dos doidos, montado na bicicleta da Norminha, avenida abaixo. Sem pedalar, porque desço na tal recaída, sinto-me um verdadeiro piloto. Penso comigo mesmo: é fácil demais! Imagino-me com a mão na grana e a moral toda elevada. Sou “bicicleteiro de mão cheia”, estufo o peito imaginariamente para mim mesmo.  Até que depois da curva aponta na minha frente um ônibus, tipo busão, da Viação Teresa Cristina, com o nome de onde vinha, PEÇANHA, isto mesmo, em letras garrafais. Tremo em cima da magrelinha. Estou  totalmente do lado direito e não dá para tombar para o esquerdo. Não sei frear e meu coração dispara. 

Só tenho uma saída: voar, deixando a bicicleta para trás, e saltar uma cerca de arame, caindo exatamente num lamaçal. Levanto-me devagar, coberto de barro e meio torpedeado. Fico perdido. Olho em volta, estou sem testemunhas. Que bom! — me alivio. (Só para orientar os que hoje conhecem Guanhães, o local do acidente é exatamente onde foi construída e  está situada a Estação Rodoviária).

A aventura continua. Volto, pego a bicicleta e a levo para o outro lado da avenida, exatamente onde mora Norminha. Estaciono-a no alpendre de sua casa, onde fica exposta, totalmente limpa e sem avarias, pois ela não acompanhou o superman ao saltar a cerca de arame e bumbar no brejo. De volta ao lugar em que caí, logo acima há um campinho de futebol, onde já estava acostumado a participar das peladas.  A turma conhecida joga lá neste exato instante, viva a sorte!. Vou pra lá. Recebendo-me bem, indicam-me a minha posição fatal, o gol, invariavelmente. Sou considerado, modéstia às favas, o melhor goleiro da faixa etária 12-13 anos.

Na meta faço grandes peripécias, como a meninada sabia. Só que nesse dia me apresento mais corajoso e disposto ainda. Acabava de ganhar a vida, ou não morri por milagre. O campo está inundado de barro como o brejo em que me precipitei. A turma vê logo e nem repara que já cheguei meio rasgado e um pouco arranhado, mas ninguém percebe. Jogamos até a noite e vencemos de 10 a 2.

Em seguida ao “ranca”, subo o morro e vou  para a casa do Senhor João Moura. Chego ainda sujo e sou logo, logo, logo, questionado: “Onde estava? Cadê a bicicleta? Você levou um tombo? Não machucou? Conte bem-contada essa estória...” as perguntas choveram sobre mim. Nada respondo. Está comigo um colega de pelada, como testemunha, para explicar que viemos do futebol. Ele ainda acrescentou: “O Cheiroso (meu doce apelido) pegou pra valer hoje, puxa vida!. É o melhor goleiro do nosso time!” (Quatro anos depois acabei sendo goleiro titular de muitos times em nossa região e fiz mais de 50 partidas para o São Sebastião Futebol Clube).

A partir daquele dia, março de 1958, desculpem não saber precisar o dia, tornei-me um exímio andador de bicicleta, corria nos domingos inteiros numa grandona, só para homens, do porteiro do cinema. Mas aí é outra história.  Quanto à Tia Mercês, viu que seu sobrinho já estava se descolando de sua proteção. Sobre a amiga Luzia, devo informar a todos os que se interessam pelo caso, que  ela ainda não me pagou a aposta. Já faz 61 anos que o fato ocorreu. Ela talvez queira fazer um depósito de dez mil reais na minha conta no Banco do Brasil. Vou passar o número para ela.

José Sana
Em 21/11/2019

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

FALAM DE MULHERES, IDOSOS, NEGROS ETC. E OS SURDOS?


E os cegos? E os idosos cegos?  E outros deficientes? E a generalização de alguns casos? Todos são iguais ou não? Hipócritas! Os políticos, a imprensa, mais de noventa por cento da humanidade, quase todos são exatamente isto: dissimulados, falsos, fingidos, impostores, farsantes, enganadores, hipócritas. Não estou com raiva, apenas estava engasgado e agora me incluo orgulhosamente na lista dos que tiveram e têm a alegria de dizer que venci, vencemos, humildemente, e continuo, continuamos, triunfando.

Leio jornais todos os dias. A internet completa o meu vício ultimamente.  E vejo, percebo, constato que tratam os deficientes como marginalizados, dignos de dó. Mulheres são vistas como pobres-coitadas, e não são, conheço gigantes, fortes, embora dóceis. Cegos pertencem a um patamar especial, mas eles fascinam acima de tudo. Idosos podem não ser o que pensam. E os negros? Ah, os negros! Parem de falar em racismo! Negros são da melhor raça que existe no planeta, constituem até maioria no Brasil. E gastam páginas e tempo de TV, internet, tentando rebaixá-los. Acordem, malévolos!

E os surdos? Esses a minha bola da vez agora. A receita dos incautos e covardes é marginalizá-los, fazer de conta que inexistem. O silêncio é a regra para deixá-los de lado, abandonados, renegados. Esquecem os de coração bruto que Deus é o Rei da Compensação. Falei certo? Já incluí entre as minhas definições inarredáveis: Rei da Compensação. Aos cegos Ele deu mais tato; aos aleijados, mais mobilidade mental; aos surdos, mais percepção, sentimentos. A todos, mais inteligência. Guardem isto.

Sou obrigado a recorrer ao meu exemplo pessoal. Esse conheço a fundo. Aos cinco anos de idade, percebi que era um sujeitinho  muito cuidado, visado, vigiado. Mais bonito que os outros? Não. Mais feio que todos? Penso que nem tanto. Cabeça muito grande? Lá vêm os apelidos. Mas os tapas horríveis nas orelhas começaram a tilintar aos sete anos, na escola. Minhas notas eram 10 em tudo. Por quê? A resposta só tive anos depois, vinda do Rei da Compensação.


Aos 16, no curso científico, em Belo Horizonte, tive que parar. A marginalização era determinante. E nem sei como consegui cursar antes o Fundamental, chamado de Ginasial na época, num colégio super de frente, o Ginásio São Francisco, de Conceição do Mato Dentro. Aí levei não apenas tapas monumentais nos ouvidos, mas bofetadas, coques, lapadas, porque era de vez em quando um distraído, outras vezes um zonzo, sempre um surdo e para não esquecer da maior  humilhação que doía,  “um tiú”, aquele lagarto comprido que, dizem, nada escuta. Mas não aceitava o que tentavam me impor.

Enfrentei, rompi e ignorei muitos, principalmente colegas de imprensa, que tentaram denegrir minhas reportagens com questionamentos para incutir o descrédito de leitores — “ele ouviu? Milagre”, “celular provoca surdez?” — , passei em concursos diversos, num deles estadual com mais de 5 mil candidatos, em primeiro lugar; ingressei-me na antiga Companha Vale do Rio Doce, idem por concurso e fiquei não teimoso mas persistente cursando inglês e francês. Em tempo: nada de gabar. Esta é só uma narrativa.

Sempre não aceitando, intimamente seguro de que os “instantes voadores” eram momentos casuais, de distração. Mas, certa vez, de novo em Belo Horizonte, aos 33 de idade, estudo de inglês, casado, dois filhos (hoje tenho cinco e mais dez netos), chega o dia fatal: na sala com sete colegas adultos, todos engenheiros da Vale, a professora me gritou por outro nome que não era o meu próprio, de cartório e pia batismal, nem distraído, nem tiú, mas sonoramente pronunciado: “VOCÊ É BURRO!” (Grafo com letras maiúsculas para declarar o grito da senhora mestra e incluo um ponto de exclamação).

Saí da sala sorrateiramente, subi a avenida Afonso Pena a pé, no alto da Serra, e fui derramando lágrimas vias acima para derramá-las com um tio que me acolheu com um carinho de desmanchar qualquer coração duro. Cito o nome dele para que a glória de Deus o proclame ainda mais: Godofredo Cândido de Almeida Júnior. Um herói, a quem devo a superação daquele  momento difícil. Não riam porque o instante doeu muito e não é drama.

Uma semana depois, graças à evolução tecnológica, também sorrateiramente, estava de volta à sala de inglês, mais atrasado que meus colegas da empresa, mas completamente enquadrado no mundo deles, ouvindo até canto de canário do reino e o estridular dos beija-flores, cigarras e grilos. Aprendi o que me ensinaram, falei a língua anglo-saxônica, recebi o diploma e, na hora, o choro de arrependimento debruçado em meu ombro veio daquela que soltara aquele grito estridente dias atrás, cujo berro senti que abalara os bairros Serra, Anchieta e Mangabeiras: “VOCÊ É BURRO!”.

Preciso voltar ao assunto sempre porque existem milhares iguais a mim, no mundo. Voltar para dizer que procurei a  Associação Ocupacional e Assistencial de Itabira (Aoadi) para entrosar-me com seus membros e poder explicar meu grito não de burro mas de “PARE”. Grito de que o mundo é carente em saber  que a surdez já é corrigida por aparelhos auditivos, cada vez mais evoluídos e tornam todos completamente iguais, caso queiram. E chega de discriminação e segregação injusta! No meu caso, foi-me possível e é permitido concluir cursos superiores e de pós-graduação, pude e posso desenvolver naturalmente minha vida profissional. Porque tenho a característica que é dita na terra do minério de ferro: não entrego a rapadura.

Existem grandes otorrinos e fonoaudiólogas que gostaria de citar seus nomes, mas não é possível agora. Repito o que já deixei claro: hoje é o surdo, amanhã é o cego (e tenho uma linda história para contar de uma amiga que estudou junto de mim um bom tempo), além dos que carregam síndrome de Down (tenho uma irmã de sangue) e milhares de vencedores escondidos nas curvas e matas e tocas deste mundo que haveremos de consertar um dia.

José Sana

Em 14/11/2019

P.S.: Dedico este texto à minha Mãe, Itália Sana de Almeida, que completaria hoje, se aqui estivesse, 96 anos de idade. Ela que teve o sofrimento de viver longo tempo com baixa audição, como outros (avó, tios, primos, amigos) não quis experimentar a vida igualitária que a tecnologia nos concede. Que ninguém mais seja discriminado porque a tecnologia é perfeita.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

O FUTEBOL ACABOU. ANTES DO FIM ESTÁ SENDO SUFOCADO PELO CALOR


O primeiro ventilador mecânico foi feito no sustentáculo de leques presos por hastes. Os leques se moviam de acordo com algumas roldanas. Isso por volta de 1880, nos Estados Unidos. E em 1882, Philip Diehl inventou, precariamente, o ventilador de teto. O primeiro aparelho de ar-condicionado foi criado em 1902 por Willis Carrier, em Buffalo, sempre nos Estados Unidos. Até aí o mundo já era velho de guerra, com bilhões de anos nas costas. E o calor, hoje quase insuportável, não queimava o planeta?

Não desejo discutir os assuntos ventilador e ar-condicionado e o calor de matar com meus eventuais e pingados leitores. Só pretendo deixar uma pulga nas orelhas de quem tem ouvidos normais sobre o seguinte tema: será que esse clima infernal vai continuar desenfreado? Para amenizar, eu era menino rabugento ainda quando estourou nas bilheterias de cinemas do país, o filme “Rio, 40 graus”. Brasileiríssimo, de 1955, com roteiro e direção de Nelson Pereira dos Santos, revela algum fato interessante. Por aí se vê que de 1955 até agora o calor do Rio de Janeiro não subiu tanto, no máximo até 45 graus, sei lá. E vamos levando o bonde arrastado, mas levando.

Mas o assunto de agora  não é este. Só faço um preâmbulo para lembrar  o jogo de futebol, realizado ontem, entre Cruzeiro 0 x Atlético 0, no Mineirão, pelo Campeonato Brasileiro. Li, vi, ouvi opiniões de vários entendidos das bolas rolando. Criticaram tudo: diretorias, jogadores, treinadores; até os gandulas eram moles em repor as redondas; os próprios narradores engoliam mais água que palavras; mas não li, nem vi, nem ouvi nenhuma crítica ao horário do “derby” — 16 horas, num calor de fazer galinha pôr ovo cozido. Ouvi também que vários torcedores tiveram insolação, alguns desmaios, atendimentos com ambulâncias, transporte para o hospitais. E acrescento: dezenas de outros jogos foram travados na “ex-pátria das chuteiras” no mesmo horário. Ufaaaa!!!




Não vou me alongar neste texto e nem é preciso. Se nas arquibancadas os torcedores desmaiavam, difícil será acreditar que nem um jogador morreu atingido pelo ar pesado que circulou dentro de campo. Isto eles falaram: que os termômetros marcavam 34 graus centígrados no gramado. Mas o medidor de temperatura não correu atrás da bola, não suou, não permaneceu mais de 90 minutos pra lá e pra cá como cachorros dopados. Só quero dizer que a decisão de marcar a partida para 16 horas, a imposição do horário (Rede Globo, a tal), o aceite dos clubes (estão à míngua, de chapéu nas mãos) e a insensibilidade de todos juntos, tudo merece uma forca com direito a plateia para os (ir) responsáveis.

Infelizmente, o futebol brasileiro vai mal. Acho que só o Flamengo está bem porque acreditou na sua imensa torcida e investiu. E além de horroroso, o futebol ficou sem graça, com um time só. O time da vitória antecipada. E não venham me dizer que Palmeiras, Santos e Grêmio estão no nível do Urubu, completamente distantes dele. Mas, pior que o futebol brasileiro são os insensíveis, os brutos, os cegos que neste verão antecipado jamais deixam sua sala de ar-condicionado. Mas decidem burrices trágicas.

O futebol morre e, antes de seu último suspiro, o calor destrói o que sobrava nos pés e cabeças de jogadores que chamam de mesquinhos, peladeiros, pernas de pau, cabeças de bagre. Mass também pudera! E antes de concluir deixo uma informação que a maioria conhece: o Flamengo não joga no sol a pino, não, esse super time é escolhido para entrar em campo quando cai a tarde e entra a noite. Só faltam instalar um ventilador na cabeça de cada craque de cem milhões de euros.

Lamentável essas cabeças secas. Você aí, desconfie que a inteligência humana está indo pro brejo. Volto ao assunto um dia, se a graça de Deus permitir.

José Sana
Em 10/11/2019

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

VIVER, APRENDER, TRANSMITIR: LEIS NATURAIS INFALÍVEIS


Escrevo textos desde a segunda série primária. Minha paixão pelas letras foi descoberta pelas inesquecíveis professoras que tive — Ilsa Caldeira Duarte, que faleceu há poucos meses; Inês Alvarenga, residente em Belo Horizonte;  Ana Juventino Ferreira, Dona Zizinha, e Semírames Duarte, Tia Ninita, essas duas últimas diretoras de nossa escola em São Sebastião do Rio Preto.

Tenho pelas quatro não apenas belas e gratas recordações, mas o registro claro e incontestável na memória de lições que valem uma vida inteira. Por exemplo, todas as citadas me ensinaram, entre mil e outras aulas, que cada palavra só tem uma forma ortográfica. Digo isso apenas para chamar a atenção contra o relaxamento que hoje atinge o nosso idioma pátrio. Lamentável!

Um dia descobri que não basta escrever corretamente frases e textos. Muito importante passou a ser também o convencimento, a construção de itens e a contextualização. Tal visão caiu também do galho porque dependemos ainda de consistência lógica, certeza absoluta  e conhecimento do teor abordado. Para impor total atenção, de minha parte, sem trocar ideia com ninguém, pelo menos por enquanto, precisamos saber sempre infinitamente mais. Em palavras sintetizadas, entendo eu: precisamos conhecer pelo menos a origem do tema em foco.

Adoto uma técnica para simplificar a busca: criei o Dicionário de Leis Naturais. Trata-se de um levantamento de palavras e/ou frases  que são submetidas à verdade por meio de dois métodos —  o “a priori”, que pode ser mudado com o tempo, e o “a  posteriori”, que se transforma em lei final.  Como exemplo, consideremos a origem da humanidade uma ocorrência de longos milênios, a formação do planeta  e seus componentes. Muito se fala sobre o tema, faltando um fechamento.

Em seguida, contemplamos vários itens que se enquadram neste planeta, entre eles nós, humanos, sem esquecer os animais, as plantas, a terra, o conjunto de claridade e energias, incluindo a senhora indispensável conhecida como água; nossa dependência é conjuntural, com destaque também para o ar devidamente respirado por pulmões interligados inteligentemente; a harmonia faz a felicidade que almejamos, mas as transformações conduzem-nos ao longo do tempo, ininterruptamente ao que nos parece misterioso a princípio. Conclusão: o planeta terra ou está sendo ainda formado ou em processo de autodestruição.


Minha conclusão sobre a origem parece complicada, mas não é. Dela advém, como se fosse uma prova dos nove, os porquês e a resposta taxativa à questão “ por que vivemos”. Aplicando neste caso a proposição “a priori”, temos religiões, doutrinas, seitas, bíblias para conduzir o nosso raciocínio. Passamos a entender sofrimento e felicidade, ambos situações transitórias, sempre em mudanças.

Passamos por inventores, criadores, cientistas, filósofos, mestres, como Lavoisier, Newton, Sócrates, Platão, chegando a literatos, artistas, intelectuais e grandes pensadores. Desde o simbolismo de Adão e Eva temos a visão de aproveitamento dentro de vários estudos. Considerando a “expulsão” do casal do paraíso, a razão (desobediência), a liberdade (livre-arbítrio) e tantos detalhes mais até chegarmos  na resposta: o planeta é plenamente mutável.

Lembrando uma assertiva  que para milhões de seres humanos já é mais uma lei natural, vamos chegar com ela a mais uma explicação: “Não há castigo para ninguém, nem recompensa; o que existe é consequência”.  E concluímos que precisamos entender leis que já foram descobertas e difundidas, como também as que criamos por meio, é claro, de criterioso processo.

Discute-se política hoje em dia. Entramos no ciclo em que se mencionam “direita” e “esquerda” e usamos  tanto os termos capitalismo, liberalismo, socialismo, até comunismo (que é apenas uma ameaça e foi sempre um fator utópico criado pelo filósofo alemão Karl Marx). Para este pobre escriba, que confessa estar em franco estudo e jamais paralítico, espero, o que existe é a Lei do Dom de Deus ou da Natureza.

O ser humano recebe na essência um “presente” chamado dom, enquadrado às necessidades da Natureza. Ele precisa ser primeiramente descoberto e depois aplicado. Fácil de entender: há riqueza e há pobreza, a primeira requer entendimento para gerar efeito multiplicador; a segunda evitada — e não o é por desconhecimento — ou  uso irrestrito de tapa-ouvidos, tapa-olhos e tapa-sentimentos.

Encerro esta página de hoje lembrando meu curso de História, meus cursos de pós-graduação e os valiosos mestres e doutores que nos brindaram com conhecimentos inesquecíveis no seu tempo. Está aí o que as religiões chamam de caridade, isto é transmitir sabedorias e ensinar a pescar. Dar o peixe seria um ato de última apelação.

Doação é isto: nem a ciência, nem a geografia, nem a linguagem, nem a história são estáticas. Tudo continua sendo transformado porque a lei natural e universal, se não com a nossa participação e aquiescência, vai no peito e na raça. Lembrando que dentro de todas as manobras feitas durante anos, decênios, centenários e milênios é gerada uma lei infalível: “A natureza não negocia os seus direitos”.

José Sana

Em 4 de novembro de 2019