quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

A VIDA COMO ELA NÃO É. OU É MESMO?


A questão é exatamente esta: fomos sorteados para viver, depois de enfrentar longa fila como aquelas famosas do antigo INSS (acho que hoje melhorou com as senhas).

A fila andava. O que queríamos era uma oportunidade de viver no Planeta Problema. Fomos alertados: "Você vai pegar pesado, se quer passar no teste da evolução pessoal; se for reprovado, desce mais". Ficávamos indecisos: vamos, não vamos. Mas, num belo dia, resolvemos ir e nascemos dentro de um útero. Brotamos. Começamos a vida dura propriamente dita.

Quando a parteira nos pegou pelos pés, se tivesse alguém inteligente e incentivador na sala de parto teria dito: "Força!" Mas ninguém toparia ser tão valente assim. Dão os parabéns aos pais e dizem: "Lindo!" O lindo vai de peito aberto para as agruras do mundo.  Ao entrar na escola começa uma luta que nunca mais acaba. É por melhores notas no colégio; é pelos elogios dos professores;  é pela expectativa de uma prova, um Enem ou Vestibular. A vida se torna um vestibular ininterrupto. Chega a hora de definir o que seremos diante da sociedade: médico, advogado, dentista, professor, porteiro, faxineiro, balconista, coveiro, desempregado, nada... Se perdemos tempo, ficamos velhos e nada alcançamos.

Chegamos depois ao alto do morro, o momento em que começam os declínios e as lutas tornam-se  ainda mais complicadas.  Daí pra frente é que o bicho pega. Tornamo-nos frequentadores assíduos de hospitais, clínicas, consultórios médicos, farmácias. Melhor seriam os bares, botecos, festas. Mas a nossa presença nas áreas de saúde sobressaem.

Charge de Júlio Campos (Diário de Cuiabá)
Vai chegar a hora da despedida. Cada um corre da morte o máximo que pode. Seres humanos, sempre assustados, dizem, de olhos rútilos, de um para o outro: "Fulano faleceu!" O outro responde: "Puxa! De quê?" Sabe por que querem saber de quê? Está na cara: o sujeito tem medo deste "de quê" mais que de morrer.

Parece hipocrisia tomar o tempo para  velar um morto em 24 horas. Passado este “longo” martírio, esquecem rápido do pobre-coitado. É cruel! Antigamente havia o luto. Hoje, o velório vira festa, como riem e contam piadas! Na missa de sétimo dia quase não se lembram do grande lutador. Segundo Nelson Rodrigues, de manhã a viúva está velando o marido; à tarde é vista na porta de sua casa chupando chica-bom.

Só queria concluir: vivemos assim com medo da morte pelo simples fato cientificamente comprovado: não cumprimos a nossa meta, não executamos a função que nos foi delegada. Fazer o quê? — alguém pode perguntar. Resposta: vamos descobrir enquanto é tempo. Bora fazer alguma coisa por um mundo melhor.

José Sana

26/02/2020

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

AFOGADOS, INGAZEIRA, JOGO NO ESCURO. TAMOS FERRADOS!

Tudo o que sei do time do Galo é que ele está descendo a rampa desgovernado. Contratou um treinador que se preocupa com vazamento de escalações, mesmo sabendo (ou será que ele não sabe?) que tem um plantel limitado. E escalar entre pernas de pau A ou B tanto faz. Ou tanto fez e fará.

Mas agora sei mais do time que é o nosso adversário: ele tem o nome de Afogados e isto me preocupa muito. Afinal, na vida escapei de morte por afogamentos uma meia dúzia de vezes, no Rio Preto, que banha o município em que nasci, São Sebastião do Rio Preto. Se estou aqui vivo foi porque Deus não quis, Ele preferiu que eu continuasse a trajetória para ver se eu prestava para alguma coisa. Será que o Galo merece continuar? Já se despediu da Sul-Americana, muito triste, "Adeus, Sula"! Nem esse pequeno consolo vem mais... 



Para emendar o nome da assombração que enfrentará o Galo, depois da Sula, como disse, vem uma espécie de adjetivo que deveria significar  "ingado", o que  em Portugal  quer dizer o campo  em que um gato se habituou a roubar comida, ficando viciado e voltando ... De verdade, Ingazeira é uma cidade, e ingá são plantas que ornamentam. Mas o fantasma já apareceu e dá a ideia de que seremos afogados no vale da ingazeira. Eles estão cantando vitória. Já pensou naufragar no sertão do nordeste?

E leio ainda que a luz do estádio é fraca. Imagino que serão quatro ou seis lamparinas instaladas nos  cantos do tal campo de futebol, que  deve ter o destaque nos buracos e nas gramas que parecem cactos. Não temos a menor dúvida: vamos entrar pelo cano e ainda encontraremos a tubulação fechada. Sem torneira.

E fico olhando para essa figura que vai se tornar folclórica dentro de mais algum tempo caso continue no Galo, isso vai ser duro. Esse tal de Dudafel vai marcar história. Por ele se vê como existem povos no mundo em completo atraso. Dudafel encontra-se exatamente no século XIX, ou no ano de 1863, quando foi criado na Inglaterra The Football Association, cujas regras servem de base até os nossos dias. Imagino Dudafel chutando o primeiro tiro de meta, tenho a certeza que ele seja contemporâneo de meados do século anterior ao XX.

Ah, o jogo termina e os atleticanos cegos vêm-me lavar a cara: “Pois é, você ‘cornetou’ e levou tinta, o Galo se classificou e é o maior!” E eu retruco: “Nada a comemorar, escapamos de um afogamento que podia ter consequências  irreparáveis.

Contudo, aí está a realidade. Quando dirigentes não querem assumir a sua real responsabilidade diante de uma torcida poderosa, que se acanha neste momento, precisamos acreditar que um milagre vai acontecer. Tudo por que a inteligência do presidente do Galo não avança depois da Fórmula 1, 2 ou 3, e se ele contratar no calhambeque 1951 tanto fez, tanto faz.

Gente, o Galo está nas mãos dos deuses. E eu não acredito em deuses do futebol.

José Sana

Em 25/02/2020

domingo, 23 de fevereiro de 2020

VAMOS OUVIR UMA CANÇÃO INÉDITA: AVE-MARIA DO DEZINHO

Alô, leitor eventual ou milagrosamente perene, retorne o seu calendário a um passado não um tanto distante: estamos em 7 de setembro de 1991. O local em que ocorre o evento é São Sebastião do Rio Preto. O prefeito da cidade chama-se Seraphim Sanna Filho, meu Tio Lilito. Ele tem diante de si a tarefa de marcar a passagem de mais uma celebração da Independência do Brasil. Pega as bandeiras nacional, estadual e municipal e as coloca debaixo do braço, chama quem está por perto, inclusive o vice-prefeito Nozito, e caminha para o coreto instalado logo ali perto de sua casa, na Rua do Rosário, em frente ao João Paulo.

Um mero toca-disco, um pouco mais à frente que a vitrola do Paulino, grande entusiasta da música em tempos longínquos, está escalado para dar o toque do Hino Nacional Brasileiro. Dona Ilsa Caldeira Duarte, diretora da Escola Estadual Dr. Odilon Behrens, chega para desfraldar a Bandeira do Brasil; a de Minas Gerais fica por conta de José Teixeira Soares, o Zé Buty, funcionário do setor estadual do MEC em BH; Seraphim Sanna Filho será o responsável por abrir as abas da bandeira do município.

Quase tudo pronto.  Logo ali mesmo, na janela de sua casa, a 50 metros, está debruçada uma figura sempre tranquila, quase intocável, alheia aparentemente a tudo. Deus sabe que não. O nome dele é José Cândido Duarte, meu primo Dezinho, de memoráveis bagunças por aí, de tropeços no futebol e até dos dias em que ele e Zé Pirulito me ensinaram a ordenhar vacas. Dezinho é filho de José Cândido Ferreira de Almeida e de Dona Semírames Duarte, a eterna Dona Ninita.

Começa o ato, ou não começa. Falta alguma coisa para ocorrer o solene momento. Dezinho não está mais na janela de sua casa. Ele desce uma escada íngreme, vai ao pomar, passa por rosas lindas que ele cultiva, chega ao bambuzal, mete um facão numa peça, retira-a com carinho e sai pontilhando-a, andando, construindo algo que ninguém sabe o quê. Ele retorna à janela, observa e constata que a solenidade comemorativa da Independência do Brasil está ainda empacada. Aproveita o intervalo e arruma a sua vara de bambu, experimenta com uns sopros, esconde seu mistério sem medir o tempo. O atraso do momento cívico parecia ser de autoria dele, de compactuar com ele, o meu primo José, que nasceu em 31 de janeiro de 1944.

De repente o moço do toca-disco dá sinal ao prefeito que o disco está arranhado, não pode usá-lo e seria preciso buscar outro, que ninguém sabe onde. A restrição de uma época pré-digital não revela que não há saída para o problema. Lilito não disse nada, mas ele está literalmente no mato sem cachorro. Só que, imprevisivelmente, existe aí, recolhido humildemente à sua casa, escondendo as suas virtudes, aquele que descende de Godofredo Cândido de Almeida, cuja família se expandiu musicalmente por todos os lados,  até para gerações que durarão infinitas.

Dezinho, flagrado por mim, cuidando de rosas no seu quintal

Ninguém chama o Dezinho para socorrer aquela espécie de drama cívico. As autoridades estão de ar preso em seus correspondentes estômagos. Mas ele vai. Atravessa a rua com passadas curtas, sobe num pequeno barranco e se posiciona. Das saídas de som da peça tirada no bambuzal ressoa na Praça o melodioso Hino Nacional Brasileiro. Todos em posição de “sentido”. Dezinho não esconde agora a sua timidez. Rasga as notas musicais como se seu nome fosse Francisco Manuel da Silva. A plateia não se contém, faz o seu papel e o acompanha cantando a autoria de Joaquim Osório Duque-Estrada: “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas...” Houve testemunhas que choraram de emoção. Uma dessas presenciais era o inesquecível José Lucas Ferreira, mais precisamente o Zezé de Dona Maricas do Sótão do Padre, como ele próprio gostava de se autodenominar.

Foi dominado por emoções, todo arrepiado, que Zezé da Maricas me contou detalhe por detalhe da ocorrência. Chegara eu um pouco atrasado ao fato, perdi o maior instante patriótico já ocorrido na minha terra natal. Mas a narrativa de Zezé serviu para me tirar do sério e me elevar ao sublime, ao mais nobre sentimento de alegria que pode até parar um coração.

Bem. Adiante o calendário. Estamos em 14 de março de 2020. A cidade não é mais São Sebastião do Rio Preto, mas Itambacuri, quase Bahia, no Vale do Mucuri. É o dia dela, de minha Tia Irmã Míriam de Almeida, que completa setenta anos de vida dedicada quase cem por cento à Congregação das Irmãs Clarissas Franciscanas. Digo quase por que este aproximado tempo ela sorri para seus queridos chegados que a reconhecem como uma doce criatura.

O futuro nunca acontece, ou quando se registra já é presente ou passado. Mas, nesta antevéspera de homenagens à querida Tia Irmã Míriam ocorre, inesperadamente, um sonho. Tanto que escrevi e bati palmas para meu primo Dezinho que visualizei o seguinte no sonambulismo puro: estamos mesmo em 14 de março de 2020. A Capela de Santa Clara está repleta de amigos, sobrinhos, irmãs Clarissas. Num momento da missa, sai do anonimato exatamente o meu primo Dezinho. Ele pega a sua flauta, talvez de bambu (não dá pra ver completamente) e nos presenteia e à nossa Tia, com uma indescritível Ave-Maria. Alguém poderia perguntar se é de Gounod ou de Schubert e eu retruco com muita segurança: Ave-Maria do Dezinho.

E ponto final. Quero o meu sonho realizado. E viva minha Tia Ir. Míriam de Almeida!

José Sana

Em 23/02/2020

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

E A VENEZUELA TOMOU CONTA DA CIDADE DO GALO...


A Venezuela, país situado ao Norte da América do Sul,  está em ruínas de há alguns anos. Faz tempo que o Hugo Chávez alugou o coração do povo em troca de um sonho impossível, o socialismo bolivariano, que não deu certo em lugar nenhum. Pais pequeno, área territorial de 916.445 km²,  população  estimada em 32 milhões de habitantes, era  só riqueza, tem petróleo até nas torres da igrejas, mas, talvez para provar que a burrice ultrapassa limites nesses nebulosos tempos, foi empobrecida pela ignorância de amantes da falta de saber. O povo sofre porque não teve a consciência da situação na hora certa, hoje parece tarde demais para ser feliz.

Mas, compadecido, quem sabe, da Venezuela, apareceu um primeiro capanga de ideias amalucadas e retardadas, tipo caranguejo ou mais retrógrado ainda, a lesma, que não sai do lugar, o tal de Sette Câmara, dito presidente do Clube Atlético Mineiro. Ele, testa de ferro ou laranja de alguém, este tema fica para depois.  O Sette, acho que menos, talvez o Zero Câmara, já tinha Otero no time, que chegou cobrando faltas e acertando algumas pedradas no gol adversário. Foi emprestado para as Arábias, tão ruim que nunca mais fez um gol de falta na vida. Retornou ao Galo, com força, porque o Zero Câmara resolveu investir no país vizinho.

Permaneceu o Zero atrás de um tal de Rafael Dudamel, insistindo, brigando, esperando, correndo  e até fazendo esse treinador de timecos brigar com o governo da terra dele. “Não volte mais aqui!” — teria dito o ditador sanguinário Nicolás Maduro (ou será Verde?) na despedida dele. Com essa fatídica expulsão, e vendo o Galo aberto para as suas pretensões, desembarcou em BH, foi morar na Cidade do Galo, veio também, talvez para enganar ainda mais, vestir  terno e gravata e também rosnar como um vira-latas à beira dos gramados.



Contratado, o dono da bola começou a fazer explícitas demonstrações, além da clara estampa de que veio de um país sem tradição futebolística, pobre em tudo, que nem trouxe sua nata, mas sua casca dura. Importou, depois de Otero, um tal de  Jefferson Savarino, ninguém sabe ainda se conhece futebol. Talvez sim, talvez não. Certo é que não do nível de que o Galo necessita. Fazendo economias por porcarias a favor de Zero Câmara, esse Dudamel não poupa  erros. Escala mal, substitui terrivelmente mal, nem seria como o Levir Culpi que fazia tudo isso por pirraça. Rafael Dudamel parece fazer por estupidez de um burro velho e sem pasto.

Na soma de seus erros, o pior de todos é que anda dando declarações e colocando nas estatísticas jogos contra timecos mineiros, que não valem um centavo cada, formados às pressas, sem dinheiro, sem uniformes completos, sem chuteiras, acho que pouco conseguem bolas para treinar. E Dudamel os faz de parâmetros para expor os seus fraquíssimos números, os quais considera substanciais. Como os técnicos pirracentos, só que no seu caso é extrema tolice, elegeu o super péssimo Zé Wélison como seu ídolo. Seria inacreditável se não fosse verdade incontestável.

E, então, a Venezuela apoderou-se da Cidade do Galo como seu país de consolo. A comissão (não seria “começão”?) técnica é formada por venezuelanos e aí torna a nossa casa máxima o grande orgulho até mesmo do Brasil — melhor CT do Brasil na linguagem de abalizados visitantes — como uma Venezuela B, ou mesmo A porque o país pode ser considerado um X, Y ou Z. E até hoje, os zoadores internacionais não deram de cara com essa burrada do Zero Câmara. Lamento que o chefe geral, Alexandre Kalil, não tenha dado ainda a cara oficial e mandado esse seu protegido arrumar outro emprego para o Dudamel, coitado, nunca teve tempo de entender futebol, Brasil, Minas Gerais... O pretenso Rei do Mel entrou nu.

Falar mais o quê? Que nós, atleticanos, somos obrigados a esperar as humilhações que vêm aí? É este um momento que, infelizmente, ninguém  pode ter medo de anunciar como terrível em nossas vidas esportivas porque serão, lamentavelmente, inadiáveis. Acho que o melhor mesmo é desligar a TV, o rádio, não ir ao campo e rezar ou orar para que a traulitada não seja fatal.  A eterna e inglória esperança do belo-horizontino de esperar enchentes e enxurradas sai um pouco da vida real e entra para o futebol.

José Sana

Em 18/02/2020

sábado, 15 de fevereiro de 2020

ITAMBACURI JÁ! VAMOS TODOS DE MÃOS DADAS

Ser tio ou tia é sublime. Melhor só mesmo a vida de  sobrinhos, cercados pelos entes superiores como ilhas que não detêm o amor e a dedicação. Um tio é um pai de reserva em atividade; uma tia, uma mãe especial. Rejubilo-me porque em minha vida sempre foi e é assim: os meninos eram e são cuidados pelos pais e paparicados por avós e tios.


Fiz este preâmbulo para dizer que, no dia 14 de março vindouro, deste ano arredondado de 2020, a nossa querida nonagenária — e Tia até dos que não são consanguíneos —, Irmã Míriam de Almeida, completa 70 anos de extrema ligação à Congregação das Irmãs Clarissas Franciscanas. Então,  convoco, assumindo a condição de  um dos mais velhos sobrinhos dela — em minha frente somente Maria Geralda, José Flávio e Dezinho, não me esquecendo de Sebastião (in memoriam) — queremos que todos estejam com ela para a missa em  ação de graças, confraternização, fortes abraços, tudo isso em Itambacuri, Minas Gerais, quase Bahia.


Meu carinho por Irmã Míriam é um pouco recente, por isso, meio tardio. E eu já pedi a ela o irrequieto perdão, que mo concedeu devidamente embalado em  caixa  cristã.  Valeu, acredito, porque acordei a tempo, e esse fervor começou, graças a Deus, no tempo necessário para agradecer  pelo que ela fez por todos, começando por suas sobrinhas Maria Geralda, Maria Cândida, Raimunda, Maria das Graças, acolhidas nas décadas de 1950/1960  no Colégio da cidade, onde nossa Tia esteve e está com saúde no corpo e na alma. E sem contar quando todos nós éramos bebês peraltas, depois adolescentes desajuizados.


Há exatos nove anos frequento Itambacuri, ou melhor, o convento onde mora minha Tia. Muito pouco, reconheço. Tentando recuperar o tempo perdido,  dedico-me muito a conversar com ela, ouvir histórias da família e suas.  Muito do que sei ouço de suas doces e francas palavras. E quão genuínas são!


Irmã Míriam me conta velhos casos e causos de seus pais e avós, alguns  que não pude conhecer por imposição  de nossas idades. Super interessante é saber que Vovô Godó e Vovó Sinhá (quando esta faleceu eu tinha apenas um ano e meio) tiveram 15 filhos. Aposto que meus irmãos e primos nem sabiam disto. Os herdeiros deles que conhecemos foram Maria Jacintha, Zezé, Tãozinho, Luzia e Godofredo, todos falecidos, além de Irmã Míriam e Domingos, esses que nos alegram com suas presenças. A matemática informa: quando começou a nossa geração, Godó e Sinhá tinham perdido nada menos que oito descendentes.


Evento recente (nossas Bodas de Ouro): Marlete, Ir. Míriam,
 José Sana e Godofredo (Jr. Foto Arte)

Irmã Míriam narra fatos políticos,  religiosos, oferece informações sobre a vida daquele, seu pai, que foi um líder realizador e doador de benefícios à terra natal. Imaginem que Seu Godó  forneceu energia elétrica para todo o arraial e manteve, por longos anos, uma banda de música, herança de seus antepassados portugueses. A corporação musical,  chamada por todos, em tempos mais distantes, de  “Furiosa” — e ele era quem ficava furioso pelo apelido — representou  mais uma oferenda ao povo de São Sebastião do Rio Preto. Na última geração da banda, nós, os sobrinhos, estivemos praticamente todos, soprando instrumentos afinados ou eventualmente desafinados, mas com orgulho e dedicação.


Não tenho espaço nem plateia para ler-me ou ouvir-me e, portanto, não vou esticar estas palavras mais. Nem deveria. O que preciso registrar é apenas repetir em voz estridente o seguinte: todos juntos, de mãos dadas e coração em festa, em Itambacuri, dia 14 de março!  E estejamos, às 19 horas em ponto, na capela que ornamenta o pátio do convento, na Rua Santa Clara, também ao lado do prédio da Escola Estadual Madre Serafina de Jesus.


Que Deus abençoe todos os que me ouvirem e nos seguirem.Também os que não puderem ir. É apenas um fim de semana.  Que a nossa querida Tia continue sendo também abençoada, como sempre mereceu!


 Amém.

José Sana

Em 15/02/2020

P.S.: Dedico esta crônica à minha prima consanguínea e opcional, Anna Paula Vitor, da Lia do Emanuel (foi ela quem sugeriu estas linhas), a quem agradecemos pelo amor que nutre e transparece de seu coração pela figura amada de Tia Irmã Míriam de Almeida.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

NÃO SEJA DEPUTADO. É O FIM DA VIDA!


No meu livro (E-book) CAMINHOS PARA A VITÓRIA – Ser Cidadão, Ser Vereador, Ser Prefeito, (http://bit.ly/EbookCaminhosParaAVitoria), à disposição de quem desejar na internet, faltou uma abordagem sobre Ser Deputado. Ou melhor, não faltou, na verdade, porque qualquer cidadão sabe o seguinte: que o parlamentar estadual, ou federal, ou os dois juntos, valem menos que um vereador do mais baixo escalão. Quem não enxergou isto ainda é mudo, surdo, cego e manca de duas pernas.

Deputado é apenas um cargo de realce, que atrai olhares curiosos. Parece um semi-rei quando entra numa sala, auditório repleto de damas e senhores, palanque disputado. Todos se levantam, batem palmas, admiram, elogiam e, se está bem vestido, se é simpático, se fala bem, se isso, se aquilo, babam nas suas gravatas ou nos decotes.

Repito e sustento que Ser Deputado é menos importante que Ser Vereador. O parlamentar municipal pode fazer uma parceria com o prefeito, vai ao gabinete dele e dos secretários quando deseja, até lhe é permitido, às vezes, frequentar a sua cozinha, ser amigo da casa, abraçar as cozinheiras, faxineiras, lavadeiras, e beijar todas.

E o deputado? Esse mal, mal, mal, mal consegue marcar uma audiência de vez em quando com o governador, secretários, presidente da República, ministros. Quando consegue o prêmio leva uma lista muito comprida de reivindicações debaixo do braço, assusta a vítima, a maioria dos pedidos vai para o cesto de lixo. É muita gente pedindo, é muita chateação para ser revolvida.

Mas não vou ficar por aqui com sofismas, teorias pouco convincentes, vou provar o que escrevo, sustento e assino. Vamos aos exemplos, veremos como foram as trajetórias dos últimos deputados itabiranos. Pois bem, confiram:

JAIRO MAGALHÃES ALVES – Excelente figura humana, notabilizou-se como prefeito, fez o seu campo para deputado estadual. Foi eleito e reeleito. E só. Perdeu a terceira eleição e, depois, foi derrotado mais duas vezes para prefeito de Itabira. “Injustiçado!” – clamam  os amigos e companheiros e inserindo muitos pontos de exclamação. Verdade. Exatamente no ano em que conseguiu apresentar seus melhores projetos, várias propostas importantes, eis aí que o povo não viu, não sentiu, nem imaginou. Votou contra e fim de carreira.

OLÍMPIO PIRES GUERRA (Li) – Brilhante administração na Prefeitura de Itabira, implantou a ética, lutou por ela, fez grandes empreendimentos. Terminou o mandato com muitas realizações. Candidatou-se a deputado federal e obteve uma excelente votação. Mas, ao tentar a reeleição, que seria a avaliação de seu mandato, cheio de verbas para hospitais, entidades sociais, empreendimentos, lutas por obras, conseguiu uma série de conquistas, tudo que um deputado pode fazer. Mas...derrotado. Mais um “injustiçado” na história nossa.

LUIZ MENEZES – Prefeito de Itabira, realizou o que estava programado, cumpriu as propostas elaboradas durante o mandato, saiu muito bem avaliado do governo. Em seguida, lançou-se  candidato a deputado estadual e, como os outros ex-prefeitos, obteve votação suficiente para tornar-se deputado estadual. Cumpriu o mandato, canalizou verbas sociais, lutou pela valorização da mulher, combateu a mineração que depreda o meio ambiente, fez o possível e quase o impossível. Mais um “injustiçado”, garantem seus amigos e companheiros.

RAIMUNDO NONATO BARCELOS (Nhozinho) – Ligadíssimo a Itabira por negócios e família, foi eleito e reeleito prefeito da vizinha São Gonçalo do Rio Abaixo. Lá executou um dos mais notáveis programas de administração, fez a cidade crescer, foi beneficiado pela chegada da Vale, e soube, com muita inteligência e competência, aplicar os recursos advindos da empresa mineradora. Candidatou-se a deputado estadual, obteve excelente votação no cômputo geral, com destaque em Itabira. Tomou posse, trabalhou como pôde, encaminhou reivindicações e, como os demais, canalizou verbas para entidades as mais carentes, resolveu problemas de centenas de organizações e pessoas. Se cometeu um erro foi aliar-se ao então governador, mas precisava de benefícios. Tentou o segundo mandato e perdeu.

CONCLUSÃO – Um deputado nada manda, um deputado é um office-boy de luxo, como muitos cientistas políticos declaram, é um cargo mantido pelo povo com uma única função: mostrar para o mundo que estamos num país democrático, temos legisladores, fiscalizadores. Inertes, para completar. Somente isto.

Não sou contra a existência deles. Sou pela redução drástica no número dessa tropa imensa, que humilha a simplicidade do povo. O povo é tapeado para  bancar os “coça-sacos” oficiais. Eu diria que valeria a pena ser vereador e nunca deputado. Mas o legislador municipal precisa se também se atentar para a criatividade senão cai no nada fez e nada faz. E abraçar as cozinheiras do prefeito.

Só isso. Não seja deputado, ajoelho em vossos pés! Já fui candidato a deputado estadual, em 1982, e a federal, em 1988. Quase me elegi em ambas as oportunidades, mas graças ao bom Deus, não me foi dada a oportunidade de decepcionar a quem esperava milagres irrealizáveis. Meu nome e o dos deputados não é Jesus Cristo.

Ser Deputado é bom somente para ele, o próprio, dono do cargo, afoito a mordomias.

Ao povo, uma banana oficial e com muita força!

José Sana

Em 12/02/2020

sábado, 8 de fevereiro de 2020

PIOR MOMENTO DO TORCEDOR É QUANDO DESCONFIA SER MENOS BURRO QUE O TÉCNICO


Detesto falar mal de jogadores e técnicos de meu time em qualquer circunstância. No entanto, sou atleticano de velhas eras e estou cansado de ver se repetirem estórias sem graça, que desmascaram a nossa alegria de viver. Para mim, Rafael Dudamel, novo, mas já antigo, treinador do Galo, subiu no telhado.

Ele poderia pedir mais segurança no sótão em que está caso seu miado fosse bem agudo e pudesse ser ouvido por outro surdo mas de ouvidos desentupidos, o tal de Sette Câmara, maior culpado por ser até agora um péssimo contratador. A característica que a imprensa atribui a ele seria um estilo protetor, como de Yustrich da década de 1960, que dava bronca, mas passava a mão na cabeça dos jogadores.

Os erros de um jogo mantêm o Dudamel balançando porque foram muitos e seguidos. Olha, em primeiro lugar, levou o time para jogar na Argentina sem se importar que sofreria contra-ataques. Informando-se sobre isso, deveria ter adotado a mesma postura do Unión, ou seja, aquietar-se na defesa esperando o golpe que não viria. Quem precisava de resultado favorável era a equipe de lá, não a de cá.

Com três volantes e sem ataque, o suicídio do Galo foi claríssimo. Antes do jogo, um comentarista da Rádio Itatiaia fez uma profecia:  que o Unión é “expert” em velocidade; no entanto, acreditava que  Dudamel tivesse tomado providência. Como não tomou nenhuma medida de precaução, levou uma goleada. Só de ouvir isto, antevi o vexame.


De erro em erro, mais um foi manter o tal Di Santo no time. Aliás, nem sei como e porque trouxeram esse poste da Cemig para nos fazer tanta raiva. Em primeiro lugar, seu currículo de goleador é péssimo, algo assim: marca 2 gols em cada 80 jogos. Assistência? Ah, sim, ele é mesmo um privilegiado assistente e fica dentro de campo vendo as patadas e caneladas do time em que consegue ser o maior  cabeça de bagre.

Escalar quem com a camisa 9, se o Ricardo Oliveira vai mal? Estou ouvindo tal questionamento. É claro que o pastor atravessa fase difícil, mas vejam a sua fama: é goleador, ou seja, sabe (ou pelo menos sabia) enfiar as bolas no filó. Dizem que quem aprendeu a andar de bicicleta nunca mais esquece. Pois é. Ricardo do Galo é um exímio ciclista, enquanto Di Santo não consegue equilibrar-se num mero velocípede.

Outra navalhada do Dudamel: fez entrar  Arana no lugar de Fábio Santos. Até agora não entendi o porquê da contratação deste Homem-Aranha. O Galo precisa, urgentemente, de goleadores e vem com um lateral-esquerdo? Piada. A barbeiragem do Duda sem mel foi sacar o único cobrador de penalidades máximas que o Galo tem há mais de dois anos. Não deu outra: perde a única chance de marcar um chorado golzinho.

Diriam que o pênalti foi no Arana. Sim, mas já que tudo estava indo mal, esse herói dos filmes exagerados poderia ocupar o lugar  do Di Santo que, com certeza, deve ter um empresário forte exigindo a sua escalação. Ruim de doer!

Mais erros do treinador? Impossível citar porque ocorreram  às pencas, assim resumidos: demonstrou desconhecer o adversário e fez o time abrir-se como um paraquedas; mais uma vez joga sem ataque e manda a defesa subir; sofre um gol aos 4 minutos e não aprende, deixa o time à vontade.

Para concluir, os maiores erros, que consagram Dudamel  acumularam-se na entrevista coletiva: disse que o time não jogou tão mal e mentiu, achando que sem TV a tropeçada pudesse ser ocultada; complementou que esta foi a primeira derrota dele no Galo; citou que venceu duas e empatou duas; e prometeu que a surra no lombo dos jogadores vai inflamar o orgulho deles.  O desconhecimento de Rafael Dudamel  se esbarra na seguinte pergunta, em primeiro lugar: o Galo ganhou de quem até agora? O Campeonato Mineiro deve ser o pior do mundo. E Dudafel  não tem esta informação?

É fatídico concluir que Dudamel desce do telhado e entra na frigideira. Dificilmente virará o placar contra o Unión e começa a ser fritado. Não porque fazer 4 gols seja complicado. Não. O problema é que podem colocar esse time para jogar durante um século que não consegue tal façanha em time melhor que esses do Mineiro, infelizmente. De resto podemos esperar a tragédia: não é difícil perder da URT e também do Campinense na Copa Brasil.

Repito que detesto “cornetar”. É feio. Mas chega de sofrer, merda, ou Dudamerda! Sei que os torcedores amantes de suicídios no futebol vão me malhar ferozmente depois de publicar estas linhas.  Além de tudo, tenho ainda um pressentimento sério e fatal para revelar. Ei-lo: o pior momento do torcedor é quando ele percebe que sabe mais que o treinador. Exatamente isto parece ocorrer agora. Tomara que eu engula minhas próprias palavras. Prefiro ser feliz com o Galo vencendo do que me passar como profeta de catástrofe.

Para salvar o Galo, chamem Jesus. Não o do Flamengo, mas o próprio  Cristo Redentor. Quem sabe ajeita essa nau sem rumo e ressuscita onze, ou mais, lázaros?

José Sana
Em 08/02/2020

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

CADÊ OS CHINESES? OU MELHOR, CADÊ OS RENMINBIS?

Hoje acordei, lavei o rosto, escovei os dentes, tomei café e saí correndo para resolver um problema corriqueiro. Até aí, tudo bem, acho que todo mundo faz isto todos os dias, seguramente correndo, porque a vida virou uma correria desbragada, como dizem lá na minha terra.
O que me chamou a atenção foi que, logo ali, no elevador, alguém me fez uma pergunta intrigante e que me tirou do sério:

            — Cadê os chineses?

Foi de supetão e não consegui pensar na pergunta, quanto menos na resposta imediata. Apenas olhei pro chão, pro teto, pras paredes do elevador, procurando um imaginário e eventual chinês sem o seu vírus mortal.
E o moço continuou falando aos meus fracos ouvidos, detendo-me na saída do edifício, eu com hora marcada, mas parado com ele, ouvindo questionamentos preocupantes:

             — Cadê, Zé, me fala? Estou inquieto com isso! Foi no ano passado, acho que em setembro ou outubro, fiquei sabendo que uma turma de autoridades daqui viajou de Itabira à China em busca de projetos, apoio, dinheiro, os  *Renminbi. Tal equipe chegou de lá  eufórica, não por causa das carnes de gatos, ratos, morcegos que teriam ingerido, mas anunciando milhões para isso, mais milhões para aquilo, falavam em parque tecnológico,  aeroporto industrial,  porto seco, Unifei transbordando de alunos, faculdade de medicina, e por aí vai. Ou foi...e se foi?

E eu:

            — É mesmo, você tem razão! Não sei responder as suas perguntas agora. Quanto a isso, vivemos um silêncio ensurdecedor. Perdão, porque andei meio distraído com a “belorizontina”, as chuvas normais mas destruidoras e outras coisinhas.

Ele me segurou pelo  braço com mais ansiedade ainda, e continuou:




            — Li nos jornais, sites, blogs, acho que de você mesmo, na sua notícia seca, ou no zé do burro, que, no início de janeiro, fevereiro, sei lá, deste ano, tudo se resolveria, Itabira estaria nadando nos Renminbis e estaria até falando mandarim. Olha, pode ser que eu esteja errado, mas não ouvi nada neste 2020 sobre o assunto China em Itabira, estou assim meio preocupado porque, já viu, né? E mais ainda porque assustei você! (rsrsrsrsrs).

O rapaz, cujo nome não vou revelar, pelo menos agora, veio com outra:

            — Ontem li num site, acho que no facebook, que a Vale mandou um recado “tranquilizador” para todos os moradores de Itabira: informou a mineradora que em breve as minas serão fechadas e que a água vai sobrar em nossas torneiras como nunca sobraram. O incrível da história é que o recado da empresa doeu dentro de minha barriga, porque ninguém perguntou à velha e devedora CVRD isto: “Senhora Vale, o que faremos com a água se a cidade vai acabar?”  E mais: “Quem vai usar esse H²O, quem vai beber?”

E foi embora o rapaz (a Vale ainda não), deixando-me um pouco mais perplexo. Por isso é que rabisco essas linhas e pergunto às autoridades itabiranas: cadê os chineses? Ou melhor, eles não, eles transportam coronavírus, não queremos essa droga, queremos os Renminbis. Estamos ansiando pelos  investimentos, só eles, os filhos e netos de Mao Tsé Tung, nem Xi Jinping, esses que fiquem lá, quietos. Que mandem tudo on-line, depósitos, transferências, créditos. Reformulo a pergunta em nome de meu afoito interlocutor:

 — Cadê os investimentos chineses?  Se o negócio foi conversa “pra boi dormir”, podem deixar, deixem-me na falta de saber mesmo. Mas, cobrando sem parar...

Cadê? Cadê? Cadê?

José Sana

06/02/2020

* Renminbi é a atual moeda chinesa.