quarta-feira, 29 de maio de 2019

AVENIDA MAURO RIBEIRO LAGE, PISTA CRIMINOSA DO TRÂNSITO DE ITABIRA


No início do século, governo de Ronaldo Lage Magalhães, foi construída até então a mais concorrida ou promissora avenida de Itabira, que recebeu o nome do grande empreendedor que foi o senhor Mauro Ribeiro Lage. Pistas largas ladeadas por construções modernas, em extensão só perde para uma outra via urbana concentrada em quatro nomes: Carlos Drummond de Andrade, Carlos de Paula Andrade, Cristina Gazire e Prefeito Li Guerra

Alguém que me acompanha eventualmente deve ter pelo menos lido ou ouvido falar da  Isle of Man,  linha em que mora uma comunidade autônoma, situada no mar entre a Irlanda e a Grã Bretanha, onde se realiza uma vez por ano, em suas ruas, a mais perigosa corrida de motocicletas do mundo. Como em nosso planeta tem doido para tudo: muitos sonham em correr nessa ilha violenta, onde milhares de pilotos morreram nas lépidas disputas. Outro tanto de curiosos desejariam mesmo conhecer e também milhares vão até lá para ver de perto as corridas em que em algumas cenas mostram o vento voando, tal é a velocidade incrível que imprimem em rodas de assombrosos equipamentos.

Quem conhece Itabira normalmente sabe onde fica a Avenida Mauro Ribeiro Lage. Ela é, sem dúvida, a mais perigosa e violenta de todas as avenidas da cidade, ou do mundo, e talvez só perca mesmo para a europeia Isle of Man. Diria alguém que os motociclistas de Itabira são violentos e furiosos como naquele filme, eu discordo radicalmente.

O grande culpado de tudo chama-se Serviço de Trânsito da Prefeitura. Os mais insensíveis, além desses decisivos donos da vida ligeira itabirana, estão assim listados:  o prefeito, os vereadores, a comunidade, todos nós enfim e, especialmente, a vigilância do trânsito que tem o nome de Transita. E acho que a Polícia Militar também está nesse grupo de responsáveis ou irresponsáveis que há quase 20 anos deixam as águas rolar, ou rodar.


Está aí o vilão maior de todos: os chamados quebra-molas na linguagem popular e lombadas para os mais letrados. Vamos denominar  esses pretensos redutores de velocidade  da Mauro Ribeiro de simplesmente convites à presteza, mesmo porque nada quebram de molas, não destroem e são o maior estímulo à velocidade dos motoboys itabiranos ou visitantes.  Mais que incrível, mais que soberbo, mais que inacreditável é que não se vê, não se houve, nunca se nota movimentação alguma de entidades comunitárias, religiosas, políticas e nem a polícia prestarem a atenção nesse absurdo barulhento. Vou fazer um desafio: procurem saber se a pista de velocidade da Avenida Mauro Ribeiro Lage está entre os fatores mais cruéis do trânsito itabirano. Não deve estar. O que a Transita mostra claramente como sua função é somente multar  no trânsito central da cidade, fator que dá retorno, dinheiro aos cofres públicos, lucros desmesurados e massacra a comunidade que tem pressa para trabalhar, comprar, se virar, ir ao dentista, ao médico, viver.

Além da velocidade louca e dos atropelamentos que ocorrem (eu, pessoalmente, já assisti vários e um com morte imediata de uma senhora), existe o barulho incrível. Parece que as motocicletas ou motos itabiranas estão equipadas com canos de descarga de Boeing 707, tal é o estrondo que provocam nas suas aventuras pela citada mais importante avenida de Itabira.

Até quando esse descalabro vai durar? Quem pode me dar uma resposta taxativa e séria?

José Sana
Em 29/05/2019

sexta-feira, 24 de maio de 2019

CRÔNICA DA DESGRAÇA ANUNCIADA: SALVE-SE QUEM PUDER!

Jamais pensei em escrever algo assim em que se inserisse a expressão horripilante “desgraça”. Por mais que o mundo nos ofereça e oferece mesmo panoramas desanimadores, sempre acreditei naquele adágio popular que diz “depois da tempestade vem a bonança”. Hoje confesso que a expectativa de fatos desagradáveis nos conduz a um sofrimento maior que enfrentar a fúria de um fato já consumado.

Neste momento, Barão de Cocais, cidade de uns 25 mil habitantes, situada a cerca de 60 quilômetros de Itabira, a menos de 100 de Belo Horizonte, bem aqui pertinho de nós, está com um aviso pregado na mente do povo que se resume em interrogação sobre o que virá. A mineração, que nem tanto assim premiou os cofres do município, mais dedicado à siderurgia, pode decretar pelo menos a metade do fim da cidade e de outras situadas nas proximidades, além de acabar com nascentes promissoras e rios caudalosos.


Não vou  desfilar algumas informações sobre Gongo Soco, originário do Cico do Ouro, onde está armado o front de uma nova guerra ambiental. O sítio tem sua história iniciada em 1745, esteve nas mãos de ingleses, depois da Mineração Socoimex (leia-se Diogo Bethônico) e, finalmente, caiu em poder da famosa, poderosa e quase intocável Vale (ex-Companhia Vale do Rio Doce), tendo sido a mineração transferida em massa para a extração de minério de ferro, em 1986. Até hoje, o acervo ambiental e histórico da região continua de pé.  Mas não se sabe até quando isso durará porque o fim está sendo anunciado até pela mineradora que era orgulho dos mineiros.



Vai romper. Não vai romper. Talude cede. Talude não cede. Barragem idem. Vão-se embora cidades (pelo menos umas três estão mencinadas em relatórios técnicos). Rios morreram e vão morrer, como sucumbiram vários cursos de água  assoreados  por lamas. Minas Gerais ameaça sumir do mapa, pelo menos o nome pode ser mudado. E a Vale age de forma inexplicavelmente misteriosa. Ela própria, depois dos apertos ocorridos a partir de 26 de janeiro deste ano, em Brumadinho, resolveu mudar de tática, não nega rompimento de barragens, nem destruições, nem fim da fauna, flora e até de homens, mulheres e crianças. Pelo contrário, pratica o que os terroristas do Oriente Médio pregam, a implosão de tudo. Explicável isto porque a mineradora, estatal ou privada, não existe, não tem cara, não tem personalidade. O que ela tem: o jeito novo de ser madastra-bomba, substituta do terror pregado por Bin Laden, que mostrou a estampa do homem-bomba. E as sirenes tocam como trombetas do Apocalipse.

Barão vive a expectativa do fim, apesar de alguns cocaienses, ingênua ou sabiamente, acreditarem que tudo não passa de mentiras deslavadas. Imaginem a cidade invadida por centenas de máquinas, quase milhares de caminhões novos, que impressionam, nenhum “pé de pomba” dorme mais, bancos fechados, não se pagam contas nas redes, empréstimos vencem, dobram os preços dos alimentos, paralisa-se a sua indústria siderúrgica, os políticos ficam cada vez mais perturbados por informações desencontradas. Cadê a Vale? Já escrevi acima: ela não existe, está agora, somente, fazendo um novo papel para dizer que tenta salvar todos, incluindo a antecipação da própria tragédia. Inventou até — e em toda a região — a chamada “Rota de Fuga”, placas abundam em todas as cidades mineradoras de Minas Gerais. Em outras palavras, a mineradora, mundialmente conhecida, tenta socorrer os atletas, somente aqueles que sabem correr, abrindo mão de crianças, idosos, deficientes físicos e mentais, talvez mais de um terço dos que pelejam normalmente para sobreviver e vão dar suas vidas pela segunda maior empresa de mineração do mundo.

Primeira vítima da Vale foi Mariana. Depois chegou a vez de Brumadinho. Barão está na sua rota. Acordem, gente, porque pode chegar a vez de sua cidade-mãe, Itabira.

No lugar da seta indicativa que a Vale colocou escrito “ROTA DE FUGA”, ela deveria rapidamente mudar a conotação para ficar mais autêntica, menos demagoga e definitivamente ex-covarde: “SALVE-SE QUEM PUDER!”

José Sana
Em 23/05/2019

quinta-feira, 23 de maio de 2019

ECONOMIA PODE MESMO SER SINAL DE PORCARIA


Estamos no ano de 1999, por aí, e viajo sempre para o Sul de Minas, onde descobri a mina de Salomão. Baú de riquezas não em meu poder, mas de um casal que se instalara à beira da Fernão Dias, rodovia que liga Belo Horizonte a São Paulo, capital. Era um senhor muito simples, quase analfabeto, se é que existe mesmo esse percentual equivalente à sabedoria de trás para diante. O senhor Melquíades tinha uma história que resolvi até escrever na época e publicar na revista digital.

Seu Mel, como a vizinhança o chamava, resolveu vender caldo de cana na beira da estrada. E foi se aprimorando: entrou com água de coco; inventou a garapa na água de coco; sua companheira começou a fritar uns pasteis e não parou de crescer. Fez um banheiro masculino e outro feminino, bem perto  usando as técnicas de fossas assépticas; instalou umas cadeiras, depois lonas para proteger os clientes que ele chamava de “freguês”. Dona Maria o ajudava muito; o filho, de uns oito anos, o Paulinho,  já cortava cana, puxava a dita fornecedora da garapa numa dupla de cabras, e até coco da Bahia arrastava num carrinho de mão de um fornecedor a duas léguas de distância.

Continuou a expansão.  Apareceu  um advogado vindo de São Paulo, que parava sempre ali e o aconselhou  a estender o terreno para os fundos, ofereceu-lhe serviços jurídicos gratuitos caso precisasse, enfim, acompanhou o avanço do amigo por pura simpatia pelo jeito que Seu Melquíades trabalhava e sua simplicidade que atraía atenções. Trouxe pra ele um projeto de extensão de energia elétrica, ajudou-o a montar, no aspecto técnico, com outro trabalho gratuito de um eletricista seu amigo. E o comércio teve uma transformação incrível, o empreendedor analfabeto fez do Caldo de Cana do Seu Mel o Empório Melquíades, que virou também restaurante bem frequentado, depois pousada, ainda um grande posto de combustíveis. Quem diria que Seu Melquíades fosse chegar a tanto e chegou a empregar umas 60 pessoas.



Já velho, mas ainda entusiasmado e trabalhando, trouxe o filho que estudava em Batatais para mostrá-lo a amigos, à família, com muito orgulho. Não era filho único, tinha uma moça também que se tornara professora. Paulinho formou-se em Economia em Batatais (SP). Tranquilo, graças à riqueza dos pais, não corria tanto para buscar ou um emprego ou uma sociedade para ganhar a vida daqui para a frente.  Chegou de diploma na mão, menino bonito, pomposo, fluente num português correto, ao contrário de seu Mel, que “só falava batata”, como diziam na região. Eram expressões do tipo de “nós foi”, “nós vai”, “vou pra riba”, “desci pra baixo”, que davam até vergonha no economista metido que acabava de chegar, e  assustado.

Assustado, sim, com o crescimento assustador da empresa de que foi tirado o seu sustento escolar e até uma boa-vida  no interior paulista. Absurdo, começou a pensar. Via caminhões entregando enlatados, cervejas, refrigerantes, combustíveis,  sacas de milho,  arroz, feijão, porcos, frangos e bois para o açougue, movimentação que o fez chamar o pai num canto e lhe fazer sérias admoestações: “Pai, o senhor está maluco? Vivemos uma terrível crise lá fora; a inadimplência toma conta do Brasil; a pobreza se expande; empresas e mais empresas estão caindo na falência, e o senhor comprando essa quantidade de mercadorias?”

E virou rotina nos dias em que o novo economista estava por ali, ele falava todo dia, abordando expressões que iam de  crises, falências e conselhos desanimadores  que não saíam de nuvens negras. Procurava, enfim, colocar na cabeça de Seu Mel que ele não podia continuar  assim, assinando cheques e mais cheques, comprando carretas e mais carretas de mercadorias para a revenda. Seu Melquíades, então,  já preocupado, começou a não dormir. De madrugada era pilhado em terríveis insônias por Dona Maria.

Ambos, mesmo na calada da noite, começaram a pensar nisto: “Se o nosso filho estudou muito, tirou um ‘deploma’ e tem um anel no dedo; se foi premiado com medalhas  por ser bom aluno da faculdade; se viveu na cidade grande e viu tudo acontecer e sabe o que está aconteceno, a razão tem que tar com ele, nóis é que tá fazendo coisa errada”. As ordens de Seu Melquíades  para os outros empregados passaram a ser constantes, então, a partir dessas reflexões voltadas para a redução nas compras cada vez mais, menos bebidas, menos enlatados, menos cereais e começaram a faltar até gasolina, óleo diesel e álcool nas bombas. Os clientes, sentindo que havia  falta de entusiasmo no Empório da Rodovia, foram mudando de hábitos e afastavam-se naturalmente dali, não eram encontradas mais uma comida boa e nem cigarros, nem caldo de cana, nem coco da Bahia naquele lugar que começou do nada com um senhor muito simples.

É claro que o economista de nome respeitado pelo pai e pela mãe foi perdendo também o seu espaço naquele lugar, pois não havia mais dinheiro sobrando para o seu jeitão esnobe. Restou-lhe cair fora e foi ver se arranjava um emprego lá por onde era reconhecido como profissional do ramo de finanças. Tornou-se fácil  concluir que o Empório do Melquíades foi  pras quintas do inferno, faliu-se, não daria outro resultado. Seu Mel caiu numa  pobreza tão triste que  decidiu ver se conseguia uma aposentadoria  de um salário mínimo com o mesmo advogado que o havia incitado a crescer na vida. Era a sua última esperança sob uma sabedoria que até os pobres de espírito sabiam entender, ao justificar o fracasso dos conselhos do filho: “Santo de casa não faz milagre”.

E registrei esta triste  história verdadeira na revista digital que editei pouco depois da publicação impressa, entre o seu princípio e o meu adeus ao cargo de editor-chefe.

José Sana
Em 23/05/2019

quinta-feira, 16 de maio de 2019

ÚLTIMA CRÔNICA: CADA UM NA SUA ROTA DE FUGA

Anunciei a meia dúzia de eventuais leitores que estaria chegando ao fim estas enfadonhas crônicas. Prometi parceria somente com o computador. Para tristeza deles, resolvo adiar a realização do sonho tipo pesadelo. Se me perguntarem o porquê desta decisão estapafúrdia, deixo a explicação por conta de cada um.

O principal motivo está ligado a uma expressão mais que horripilante popularizada pela antiga Companhia Vale do Rio Doce: “Rota de Fuga”. Hoje em dia, Itabira e sua região mineradora têm mais setas indicando o caminho para que sejamos espertos, ágeis e egoístas que conselhos de paz e harmonia propagados nos templos religiosos. Como no filme “Me pegue quem for capaz”, a Vale dá aulas de como fugir em várias circunstâncias. Serve também para ludibriar a polícia caso no meio dos fujões existam criminosos e bandidos. Já somos proclamados como esses malfeitores. Aceitemos que dói menos, parece nos dizer a dita cuja mineradora.

Se é que nesta vida ainda não fiquei do lado mais fraco, redimo-me agora do pecado  mortal para fazer algumas defesas, com unhas e dentes, pela ordem: os idosos — as leis até me garantem o privilégio de estar eu junto deles; os deficientes físicos de todas as naturezas; as crianças e adolescentes lembrados pelo estatuto próprio, o ECA; os sem pernas, ou os sem braços;  os surdos (e me insiro entre esses) e os surdos-mudos; os cegos; os portadores de síndrome de Down (e tenho uma irmã consanguíneo); os autistas; os complexados de toda ordem; os tetraplégicos; os psicopatas e os a caminho desta situação depois de viver tantos alardes ao som de alarmes; as vítimas de quaisquer problemas que se colocam à margem dos demais; enfim, todos aqueles prejudicados por uma causa congênita qualquer.


Em nome de todos os citados e de algum esquecido, pergunto à poderosa Vale: o que será desses excluídos dos treinamentos que se desenrolam em esperados incertos dias previstos para a tragédia do rompimento de barragens?  Um casal, morador do Bairro João XXIII, resolveu copiar a insanidade da mineradora e expôs defronte sua casa o seguinte aviso, em placa, pintada com arte: “Aqui estamos aguardando a morte”. Ironia? Talvez. E se não for?

E não somente Itabira, berço da velha Companhia, é contemplada com o pavor e o horror. Acrescentem outras cidades, entre as quais se destacam Barão de Cocais, Santa Maria de Itabira, Santa Bárbara, São Gonçalo do Rio Abaixo, Brumadinho, Rio Acima, enfim, onde há ou houve minério de ferro.

Não há o que se acrescentar, senão relatar um aviso conhecido mundialmente depois do fatídico ataque suicida às Torres Gêmeas de Nova York, em 2011:  “A organização fundamentalista islâmica Al-Qaeda declara que habitantes dos Estados Unidos da América do Norte jamais terão paz”. Não se sabe que se sarcasmo do destino, com seus atos inexplicáveis e suas providências cruéis e malucas, a Vale quer se tornar um novo Estado Islâmico ou Al-Quaeda sem Bin Laden e outros comparsas.

Antes de entender a sentença que nos é imputada, como não sou um desesperançado total, resta-me render-me de joelhos em apelo à mineradora:  reveja seus conceitos e ações e nos dê pelo menos um fio de esperança na existência do futuro. Assim, quem sabe, possamos sentir-nos novamente  humanos, tal como Deus nos talhou.

De nossa parte, que sejamos reais e corajosos para recuperarmos a perdida vergonha na cara. Sem medo de ver aonde chegaremos, acreditamos que há um fio dessa esperança vagando à nossa frente. Sigamos esses sinais.

Então, conclui-se que não queremos que a mineradora Vale retorne ao seu tempo de Madrasta, quanto menos de Mãe. Desejamos, sim, que ela  negue a veracidade das centúrias de Nostradamus e, mais ainda, a conclusão mais difícil de ser engolida: que ela não seja a pavorosa  Besta  do Apocalipse. Mas os alarmes bradam como sirenes mortais e não são anjos que sopram seus sons fatídicos. Até quando vamos suportar esse terrorismo?

José Sana
Em 16/05/2019

segunda-feira, 13 de maio de 2019

COMO É QUE É: SOMOS MESMO PALHAÇOS DE CIRCO?

Todo dia faço a mim mesmo uma promessa de parar de rabiscar textos de meu interesse e a bel prazer de minhas ideias. Egoísmo? Não tenho dúvidas. A consciência pesa, sinto não fazer sentido gastar espaço e tempo para exprimir pensamentos que ninguém segue. Sempre pensei sobre o fato de o ser humano só se interessar por sensacionalismos e ideias de resultados rápidos. Meus médicos dizem que devo continuar a ser um escrevinhador do nada porque pelo menos me desabafo. Concordo com eles. Então talvez possa continuar escrevendo, mas só para o computador. Será, então, dois silenciosos: o computador e eu. O burro e a carroça.

Também já conclui que  contextos a curto prazo nunca são nem duradouros nem eficientes. Não prestam. Os leitores brasileiros (ou serão os dos mundo todo?) fazem o contrário: para eles o que interessa é o aqui e agora.  Já  comentei que estudei História para temperar a precipitação do Jornalismo: a notícia acontece às 9 horas e às 9h05 os pseudoleitores dizem alhos e bugalhos e concluem pensamentos bestas.  Demorei a descobrir isso. Sou um burro e cangalha, barbicacho e baixeiro, portanto. Repito que todo remédio bom é amargo ou dói muito ou engorda.

Recordo-me que meu avô, saudoso e exímio farmacêutico, Seraphim Sanna, dizia que os melhores remédios são lavagem intestinal (naquele tempo conhecido pelo nome extravagante de cristel) e “Benzetacil” na veia. O cidadão de hoje só gosta de medicamento  com gosto de mamão com açúcar.

A hora de um despertar coletivo está tardando e não suporto esperar tanto assim. Digo isso, mas acrescento: parece que tal conclusão só se dará muito tarde e nem veremos nenhum sinal de abrir os olhos nesta e desta geração. Colocando em ação o que aprendemos pela vida afora, percebe-se que fizemos uma verdadeira salada de ideias em nossa cabeça, misturando política, religião, ideologia de gênero, jiló, pimenta, preconceitos e outras preferências. Ninguém precisa pensar o mesmo que seu amigo, companheiro, comparsa, irmão, pai, mãe, marido, esposa, filho. Mas é necessário que haja um ponto de encontro compatível para haver a tal e indispensável união, a dita famosa que faz a força. Cada um puxando a corda para um lado não dá para sair do lugar. Daí os conflitos, brigas, guerras, terrorismo, desgraças. previsão do fim.

Deus existe? Deixo a resposta para quem tem a coragem de me ler. Se você entende que não há força superior comandando o mundo, pode anotar no seu caderninho de apontamentos: “Vamos afundar nesta nau sem destino tal qual um titanic global”. Imagine um barco desgovernado e nem sabemos para aonde é desviado. Neste caso, a vida não teria sentido, podemos nos desistir dela. Pronto. Acabou. Fim.

Natural. Eis aí o segredo. Acabei de deixar escapar um termo que cai em minha cabeça como um chapéu feito para esta mesma cabeça. Certo dia, lá por volta de 10, 15, 20 anos, não sei precisar, decidi iniciar o rabisco de um Dicionário de Leis Naturais. Ainda não terminei porque quanto mais escrevo mais novos conceitos vão surgindo. Sinal de que o natural é dominador do bem. O homem é um ser que, desde o início da civilização sustenta as leis que  inventou e vai inventando a torto e direito. Por ordem de sua vontade particular, segue grande parte dessas leis criadas por cabeças ocas, porque as buscam da falta de essência. O Código de Hamurabi é um conjunto delas, criadas na Mesopotâmia, por volta do século XVIII a.C. 

Daí chegamos à Lei das Doze Tábuas (Lex Duodecim Tabularum) que se constituíam numa antiga legislação que está na origem do Direito Romano. Esse formou o cerne da constituição da República Romana e gerou constituições e normas mundo afora, no Ocidente e no Oriente.


Bem, é fácil constatar, quem quer se inteirar de um caminho amplo de informações, que as leis criadas pela cabeça humana são, portanto, artificiais. Ou não são confiáveis. Mas geraram infinitas outras normas. Absurdo total. Bagunça mundial. Tanto que prevalece sempre o interesse dos seus autores, normalmente representantes dos poderosos vindos de classes dominantes. Hoje, o que quero acrescentar em tudo, antes da decisão de parar de escrever definitivamente, é que para quem tem ainda um pingo de lucidez  e não perdeu o rumo de seu barco, só algo natural nos pode conduzir a um porto seguro e nos dar a luz. Como está bem claro naquele filme: "Que haja luz!"

E aí está um esclarecimento eficaz: somente entendendo a vontade de quem fez o mundo podemos ser gente com vergonha na cara. Do contrário, a bagunça continuará solta e só nos resta reconhecermos que, mesmo sem circo e  sem picadeiro, palhaços somos de verdade.

José Sana
13/05/2019

sexta-feira, 10 de maio de 2019

JULGAMENTO: A GUILHOTINA QUE VIROU FERRAMENTA DOS AFOITOS


Infelizmente, nós, humanos, temos a (péssima) habilidade de julgar as pessoas rapidamente e, pior, sem qualquer tipo de conhecimento sobre as situações que elas estão vivendo no momento.

Dificilmente nos colocamos no lugar do outro, já que  não sabemos o que estão passando.

A história a seguir é um exemplo comovente disso, os fatos se repetem frequentemente com pessoas, entidades, governos, profissionais. Ela nos ensina a não nos precipitarmos nos julgamentos, mesmo nos momentos mais difíceis.

Encontrei nos caminhos da vida, por aí o texto a seguir. O título é “A história de nossas vidas”. O nome do autor, vou pesquisar depois, até agora não consegui achá-lo. Mas é um fato real e sério..

Tudo começou quando um médico foi chamado às pressas ao hospital para fazer uma cirurgia em um garotinho.

Depois de receber o chamado do hospital, o médico trocou de roupas rapidamente, chegou ao hospital em alguns minutos e seguiu direto ao centro cirúrgico.



Ao chegar no local, encontrou o pai do garoto andando para lá e para cá no corredor esperando por ele.

Ao vê-lo, o pai gritou: “Por que você demorou tanto? Você não sabe que a vida do meu filho está em perigo? Você não tem nenhum senso de responsabilidade?”

O médico apenas sorriu e respondeu: “Me desculpe. Eu não estava no hospital e vim o mais rápido que pude depois de receber a ligação e, agora, por favor, se acalme para que eu possa fazer o meu trabalho”.

“Me acalmar? E se fosse o seu filho naquela sala de cirurgia agora, você ficaria calmo? Se o seu próprio filho morre enquanto espera pelo médico, o que você faz?”, respondeu nervosamente o pai.
Mais uma vez, o médico sorriu e respondeu: “faremos o nosso melhor com a ajuda de Deus e você pode rezar pela saúde de seu filho também”.

“Dar conselhos quando não está preocupado é muito fácil”, resmungou o pai do garoto. A cirurgia durou algumas horas e, quando o médico saiu do centro cirúrgico feliz, deu a boa notícia ao pai do garoto: “Graças a Deus, o seu filho está salvo!”

Sem esperar pela resposta do pai, ele se despediu correndo: “Se tiver qualquer dúvida, fale com a enfermeira.”

“Que arrogância! Não dava para ele esperar alguns minutos enquanto eu perguntava mais sobre o estado do meu filho?”, o pai comentou com a enfermeira quando ela chegou logo após a saída do médico.

Com lágrimas nos olhos, a enfermeira respondeu: “O filho dele faleceu ontem em um acidente de carro. Ele estava no enterro quando ligamos para que ele fizesse a cirurgia do seu filho.”
E continuou: “Agora que ele salvou o seu filho, voltou para terminar o enterro do filho dele”.

NOTA  AO  PÉ DA PÁGINA

Esta história nos ensina uma grande lição e nos mostra o quanto somos ágeis em julgar o próximo. Estou lidando com ela quase que em todos os dias, vendo a guilhotina cortar pescoços como na Revolução Francesa. Vejo, ouço, leio e assisto ao vivo por aí. Às custas de muita observação, quando pensava que o jornalismo me levava ao caminho do pai que cobra atenção ao filho, ou seja, precipitadamente, mesmo a uma altura bem adiantada do tempo, resolvi estudar História. Fi-lo com cuidado e tanto que me dispo de modéstia falsa para dizer que fui um bom aluno. Ainda tive o cuidado de cursar duas pós-graduações (História do Brasil e Patrimônio Histórico e Cultural).

É muito importante que todos nós mudemos o nosso comportamento.

José Sana
10/05/2019