sábado, 31 de janeiro de 2015

FALTA ÁGUA. QUE ÁGUA?

Dia deste um amigo meu, José Mauro Bicalho, ex-gerente dos Correios, me enviou uma mensagem, com ela cópia de  reportagem feita pela revista DeFato há 15 anos, sobre a água. O resumo da matéria foi assim consubstanciada: vai faltar água em Itabira no ano 2016. Visionário? Ele mesmo denominava a publicação como profética.

Àquela altura do tempo era claro, sem obstáculo algum, prever o caos de acordo com o planejamento da mineração e o ritmo de trabalho dos setores responsáveis, os quais nunca deram bola para, por exemplo, o Córrego Pureza, principal manancial da cidade, ativado no ano de 1971. Em 1966, recém-chegado a Itabira, aos domingos de calor, juntávamos turminhas e íamos fazer pique-nique naquela região. Sem um veículo para nos conduzir, a nossa marcha era a pé, ida e volta. Nesses idos tempos, o córrego transbordava, parecia um rio e ameaçava os banhistas. Com o tempo, secou.

Muita coisa foi feita em matéria de captação e tratamento de água a partir dos investimentos no Pureza. Melhoraram Três Fontes, implantaram Gatos e mais uns poços artesianos. Esses, todavia, buscam restos do líquido a cerca de 300 metros, para a lógica economicamente inviável. Quando era eu vereador, tentamos trazer a Copasa para substituir o até então inoperante Saae. Não deu certo, mas foi bom, porque a partir daí o órgão, gerenciado pela Fundação Sesp, acordou e mudou seus rumos totalmente.

Vamos saltar uma série de acontecimentos sobre os problemas e suas soluções no decorrer do tempo para chegar no seguinte: o mundo todo vive à beira de uma crise sem precedentes por causa da terrível seca que assola regiões importantes do Globo. A crise, que se esclareça, ainda não é pela falta efetiva da água, mas pela sua má distribuição e outras questões dessa natureza. Levantamentos de órgãos especializados informam que se perdem 30% do líquido das estações de tratamento até a entrega ao consumidor em Minas Gerais.

Enquanto algumas pessoas se assustam com esse percentual elevado de perda da água, em Itabira o desfalque é maior. De acordo com estudo recente, feito pela Vale, em Itabira são perdidos milhões de litros da saída das estações de tratamento para os mais de 35  mil consumidores. Absurdo, absurdo, absurdo! Uma riqueza enorme vazando pelo subsolo abaixo e por quilômetros e quilômetros. Fácil entender o motivo itabirano, eu mesmo vou explicar: desde quando me mudei para a cidade, em 1966, jamais vi o Saae ou a Prefeitura trocar redes danificadas. Ou melhor, vi, sim, no Centro Histórico da Cidade.

Em 1993, primeiro ano do Governo Li (Olímpio Pires Guerra), a administração municipal resolveu dar atenção às ruas Água Santa, Alexandre Drumond, São José, Sizenando de Barros, Guarda-Mór Custódio, Tiradentes, Dom Prudêncio e mais alguma outra ou becos. O objetivo era preservar o Centro Histórico, só isso. Mas houve uma descoberta incrível: redes de água estavam em estado de destruição, apodrecidas, considerando os anos de uso e a falta absoluta de manutenção. Já naquela época, o prefeito Li me confidenciara: “Não temos redes de água em Itabira.” Passados 22 anos, ninguém deu atenção ao problema e aí está a explicação pelo alto percentual de perdas da água.


Ponto final. Itabira precisa, sim, de buscar outras saídas para a crise, novas fontes de abastecimento, certo. Mas não pode deixar de renovar toda a sua rede subterrânea e vedar definitivamente o desperdício. E, assim, sou obrigado a dizer e repetir o seguinte: falta água onde? Que água?

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

ACONTECEU EM SANTANTÔNIO

Quem me conhece sabe que tenho um monte de pátrias ou torrões natal.  Nasci em São Sebastião do Rio Preto, estudei morando em Guanhães, Conceição do Mato Dentro e Belo Horizonte. Passei praticamente todas as férias da infância e pré-adolescência em Santo Antônio do Rio Abaixo e me fixei definitivamente em Itabira, onde vivi e vivo a maior parte da vida.

Agora me interessa Santo Antônio, ou Santantônio, como dissemos nós, mineiros, engolindo sílabas, às vezes até palavras inteiras. Desde criança, como disse, o meu lazer ocorria na Fazenda dos Bambus, dos meus  tios Antônio (in memoriam) e Magda. Gabava-me de conhecer, de cor e salteado, os nomes dos primos, o que ninguém da família, exceto os de casa, sabia naquele tempo: Edson, Edir, Edilon, Elair, Eliane, Ernane, Edivaldo, Eustáquio, Edésio, Fernando e Antônio. E sabia a data de aniversário de cada um. Cansei de lidar com todos e nunca brigamos, novidade, porque as lutas corporais na época eram  normais entre irmãos e primos.

O caso que aconteceu em Santantônio comigo e um outro amigo foi  na nossa adolescência, nos já distantes 17 anos de nossas vidas. Estava eu andando por todos os lados, aguardando completar 18 anos para me instalar em busca de um emprego na Capital. Topei com outra pessoa, da mesma idade,  na mesma situação, esperando chegar a maioridade. Seu nome completo, não me lembro mais, vou apurar. Conhecido como Antônio da Eva, tinha parentesco com os Morais da região. Havia,  portanto, campo aberto em muitas fazendas para as nossas pousadas gratuitas. Infelizmente, o meu  amigo Antônio, que gostava muito de cantar, faleceu ainda novo, acho que antes dos 30 anos...

Andávamos a cavalo para todos os cantos da região sem um centavo nos  bolsos para comprar um escasso e solitário refrigerante, mas ainda assim apresentávamos bem-vestidos. Entramos certo dia nas dependências do então grupo escolar e fomos recebidos efusivamente  pelas professoras. Visitamos as salas de aula e mandamos com uma  coragem de malucos, que os alunos se assentassem, quando eles nem esboçaram gestos de respeito. Só não me lembro os nomes das professoras e sequer da diretora. Recebemos convite para a reza da noite e depois as  barraquinhas, essas no adro da belíssima igreja do padroeiro Santo Antônio. Estávamos no mês de maio, quando os leilões e os gritos de mercadorias retumbam nos ouvidos de frequentadores festivos.

As professoras que nos fizeram convite nos cercavam e pediam que arrematássemos alguma prenda. Havia frangos, requeijões, queijos, pencas de laranja, mexerica e dúzias de ovos.. Antônio e  eu  nem combinamos com antecedência o que faríamos para não passar constrangimento diante das moças, que imaginávamos tinham algum interesse num namorisco daqueles que existiam na época, inocente e sem  juras de compromisso. As moças não insistiram muito porque acreditavam que aqueles dois bobocas, ou babacas, que éramos nós logicamente, teríamos a  obrigação de arrematar uma ceia lindíssima e cheirosíssima, considerando a nossa incauta metidez. Para enfeitá-la havia um leitão assado com uma vermelhíssima e lustosa maçã nas narinas.E exalava um cheiro convidativo e que roía os nossos estômagos famintos.

Visitantes e fazendeiros por perto, alguns nossos desconhecidos, disputavam a ceia e já começaram impondo um  lance alto. Mas Antônio da Eva, irresponsável como ninguém, muito mais que eu, não deixava por menos. Subia o lance de 200 para 300, nem passando por números intermediários. As disputas com um grupo de Morro do Pilar acirravam aquela hasta e atraíam a atenção geral. Eram alguns rapazes e seus pais que pareciam famintos e queriam levar a oferenda, mas pensavam que em nossos bolsos havia dinheiro escapando pelas beiradas. Havia uma troca de desafios como, por exemplo: “Eu levo esta ceia  pra casa mesmo que venda o meu cavalo.” Aí, veio o nosso terrível aperto. Para o meu companheiro, não, sem a mínima preocupação do constrangimento de não ter um centavo no bolso. Mas para mim que, em matéria de dinheiro, cultivei a educação que meu pai me deu, seria o fim.

O valor da demanda estava em 700 e mais não sei o quê, acho que tantos cruzeiros. O grupo do Morro do  subiu para 800 e quis eu sair fora logo. Mas o irrequieto Antônio resolveu fazer o absurdo dos absurdos: aumentou a oferta para 1.000, o que desanimou de vez os nossos rivais. O leiloeiro só olhava para nós, ja cantava o “dou-lhe um, dou-lhe dois”e parecia mesmo que levaríamos o arremate para ser comido num lugar já escolhido por elas — a casa de uma professora — , quando me restou uma última saída: mantivemos um diálogo em voz altíssima, permitindo que os nossos adversários do suíno solene e seus enfeites ouvissem a seguinte frase: “Até 2.000 cruzeiros (a nossa moeda era mesmo o cruzeiro) a ceia será nossa, acima disso, não dá mais, né?” Foi a nossa salvação. Sentindo-se humilhados e ao mesmo tempo com a ânsia de vingar a nossa audácia, eles combinaram entre si uma  estratégia de tirar o  imaginário dinheiro de nossos vazios bolsos.. Segundo nos contaram mais tarde, queriam ver se chegávamos mesmo nos 2.000. Até 1.600 eles estavam com o desejado leilão nas mãos.

Aí foi que resolvemos dar o golpe fatal. Afastamo-nos sorrateiramente, aos  poucos, até alcançar os nossos animais que estavam amarrados debaixo de uma árvore. Como nos filmes faroeste, subimos nos arreios com rapiez e disparamos em direção à Fazenda dos Bambus. No meio do caminho, freamos as nossas conduções e começamos a  nos gabar do golpe. Uma verdadeira dor de barriga de risos quase nos jogava ao chão dos cavalos. Estávamos com fome, mas felizes por sairmos daquela enrascada que nós mesmos nos enfiamos.

Ao chegarmos à fazenda, tia Magda nos preparou um belo mexidão da madrugada. Passava de meia noite, mas ela sempre foi  e é assim: alimenta o mundo todo. Como sempre fez isso com satisfação, jamais negaria uma ceia de graça para um sobrinho de seu marido e para um seu sobrinho, o mais velho e sapeca de todos, mui amado e mimado por ela, modéstia às favas.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

VEM AÍ MAIS UM BATISMO DE FOGO. AGORA É FATAL

No ensino primário (hoje Fundamental) tive alguns batismos de fogo em tribunas. As professoras me escalavam para fazer um discurso, saia-me bem ou mal ou mais ou menos e, em qualquer caso, era vaiado estrepitosamente pela plateia formada por meus colegas de ambos os sexos. Tinha um fictício cargo de presidente e orador oficial no Grêmio Literário Olavo Bilac. Pedia demissão depois de todo santo discurso  mas não aceitavam. Chegava à minha casa chorando, e não recebia apoio de ninguém. Tudo isso ocorreu na década de 1950, quando tinha lá os meus 9, 10 anos. Reinava na região  uma sociedade da Idade Média. Toda ousadia, todo esforço, toda presença entre os primeiros atraía uma condenação irrecorrível. A meninada da escola, que vaiava até o Hino Nacional, pegava no meu pé.

Passa o tempo e entro para a sociedade de Guanhães, depois Conceição do Mato Dentro. Com 13, 14 anos, estudava no nacionalmente conhecido Ginásio São Francisco, dirigido pelos Padres Capuchinhos, em Conceição.  Os professores intimavam a dedo os oradores para as festividades e eu nunca, nunca, nunca, entrava na lista seleta dos discursadores oficiais. A Libertação da Escravatura,  tal como a Independência do Brasil e a Proclamação da República,  se constituía como data importante no calendário cívico do colégio. Resolvi preparar um discurso para ser lido na sessão solene de 13 de maio, no tempo   reservado à “palavra franca”. Seria uma atitude arrojada, mas havia algo dentro de mim que me dizia: “Agora ou nunca!”

Com a presença do prefeito da cidade, do juiz de direito, promotor de justiça e representação do  Colégio São Joaquim, conhecido como Colégio das Irmãs, as festividades se cercavam de muita pompa. O atrevidinho aqui, cansado de ser preterido, quis recuperar a credibilidade que conquistara em outros educandários e ficar entre os bons de palanque. Encarei, mesmo tremendo até os pés naquele desafio incomensurável, que azucrinava o meu sistema nervoso. Subi à tribuna do salão nobre do Ginásio empurrado por uma força estranha, invisível, incrível, alucinante.

Olhava de frente a plateia e só via inimigos, desde professores aos dirigentes do colégio e, principalmente os colegas. Apesar do gelo na barriga, senti bem dentro de mim que a fé se evola das mãos postas (e eu as coloquei postas antes de tirar o “improviso” do bolso da jaqueta). Gaguejei no princípio, olhei em volta, agora via caras piedosas me enfrentando. A do professor de Português, o “terrorista” José Leite Vidigal, pelo contrário, parecia me reprovar. Olho para a sua cabeça e ela só acenava com não, não e não.  Mas esse segundo batismo de fogo foi de um sucesso que me surpreendeu. Saí carregado num andor pelos meus amigos de verdade, como um leitão assado, ao contrário das vaias que ganhara  na minha terra.

Escrevi  tudo isso apenas para chegar no seguinte: vou ser batizado com fogo novamente, agora para sapecar e sem piedade. Terei que sobreviver nas  brasas e cinzas. Será, provavelmente, em fevereiro. O local ainda não está definido. Só sei que ocorrerá em breve, portanto. Esse fatídico batismo tem várias peculiaridades ainda não experimentadas. Primeiramente, devo dizer que me preparei durante aproximadamente 60 anos para esse momento fatal e para outras ocasiões, as quais serão como matar um leão em cada data previamente marcada. Alguma coisa vou narrar que credito à preparação de mais de meio século. Vejam:
— aos nove anos estreiei na minha primeira profissão, a de balconista, meio arrastado para a loja do meu pai, mas cumpri a determinação dele;
— também era prendedor de bezerro, ajudante de ordenha de vacas e guia de boi em aragem de terra;
— nos meses de colheita era colhedor de café em terrenos do meu pai;
— aos domingos fazia trabalho duplo: engraxava sapatos e ajudava na loja de acordo com a demanda de cada função;
— virei vendedor de mapas em BH, de autoria do meu tio Godofredo, atividade que exigia oragem, persistência, superação de dificuldades e autoestima elevada;
— trabalhei um ano na antiga Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, em João Monlevade, como analista de laboratório;
— fui repórter do jornal Diário de Minas e revisor do Estado de Minas durante um ano e meio;
— ingressei-me na antiga CVRD como “apropriador”, depois “auxiliar de cálculos e dados”, em seguida “supervisor geral de orçamento” e, finalmente, como jornalista na Assessoria de Comunicação;
— demitido da Vale, entrei para a vida de empresário, montando três lojas de guloseimas (primeiro, confeitarias, e depois também padaria);
— criei e dirigi durante quase 20 anos, exercendo a função de editor, a revista DeFato e o site Defato Online;
— na vida comunitária, participei de inumeráveis entidades, dentre as quais, em Itabira, da Associação das Famílias Unidas do Bairro Major Lage e da SSVP do mesmo bairro; do Rotary Club de Itabira e de associações espalhadas por várias cidades com as quais me relacionei;
— fui vereador durante dois mandatos e presidente da Câmara por duas legislaturas;
Durou seis décadas, portanto esses atos preparatórios. Com  eles, somados à teoria recebida em escolas e as práticas da vida, adquiri a minha experiência para iniciar agora uma nova luta. Assim como foi difícil a preparação, também os acertos finais para profissionalizar a atividade demandaram um bom tempo. Finalmente, fechei com a Agência Origami, dos meus amigos Celso Charneca e Thalles Duarte, tendo como base o que foi descrito acima.

E hoje? Que história tenho para contar? Agora mesmo vamos saber. Tudo na minha vida se encaixa como uma verdadeira engrenagem de engenho ou uma luva. Construí uma história, mas isso — é também minha provar tal verdade — cada um dos seres humanos tem também a sua jornada de realizações. Apresento todas essas minhas passagens para exatamente me qualificar diante dos ouvintes ou, mais propriamente, daqueles que irão dividir comigo, numa proposta de interação perfeita, a superação das dificuldades da vida.

Chegou a nossa hora. Não vou prometer que mudarei a cabeça de cada pessoa, principalmente da minha faixa etária, pois o que pretendo é rechear a vida de cada um com a certeza de que somos de verdade os heróis verdadeiros. Não temos que bajular nenhuma celebridade, nem querer nos tornar celebridade, mas, sim, cada um é a celebridade dele mesmo.

Enfim, no site que deve estar no ar ainda nesta semana haverá, procurarei dar explicações contundentes sobre a minha proposta, que não é senão um seriado. Ele tem um nome e, com a ajuda de todos, deve vingar — A VIDA É BELA  — e o seu endereço já pode ser divulgado antecipadamente: www.josesana@josesanapalestras.com.br.

Vamos discutir a proposta em um palco e fora dele sobre a beleza da vida. Já perdi e perdemos tempo demais, aceitando, sem reação, doenças, depressão, medo, desconfiança, concordância com as imposições e uma série de outros defeitos que são nossos conhecidos íntimos..

É chegada a hora de partirmos para um novo caminho porque  A VIDA É BELA  mesmo, e vamos provar em cada palavra que este segredo foi ignorado durante séculos e séculos.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

SÃO SEBASTIÃO É O PADROEIRO. POR QUE NÃO ESTUDAR A SUA VIDA?


São Sebastião (França, 256 d.C. – 286 d.C.), originário de Narbonne e cidadão de Milão, foi um mártir e santo cristão, morto durante a perseguição levada a cabo pelo imperador romano Diocleciano. O seu nome deriva do grego sebastós, que significa divino, venerável (que seguia a beatitude da cidade suprema e da glória altíssima)” — esses dados estão na wikipédia do google.Ouço falar: “Vamos à festa do padroeiro em São Sebastião do Rio Preto”, “Você vai?”, “Sabia que o Jésus Henrique vai cantar lá?” e “Vamos lá para beber, nadar, nos divertir.” A festa tem um emaranhado de significados para os seus frequentadores.

É preciso dizer isto: não é uma festa do Padroeiro de minha terra natal. Se levarmos apenas para o lado religioso, teríamos, sim um objetivo real. Mas do lado religioso, o que acontece? Alvorada com fogos, missa, batizados, procissão e só. Banda de música? — Não tem. Ou tem? Marujos? — Sim. Mas, que festa é essa? Muitas Ave-Marias são rezadas, centenas de Pai-Nossos. Ah... revemos os amigos, há visitas importantes na cidade, fulano chegou, vamos beber umas? Alguns jovens arrumam as suas novas namoradas, as meninas os namorados, bebem cervejas entre si, não sei se rolam drogas, dizem que sim. Não conheço.

Volto a perguntar: e o Padroeiro? Nada dizem dele e eu sempre quis saber. Agora aí está a internet para esclarecer. No meu tempo só diziam o seguinte: “São Sebastião, livrai-nos da peste, da fome e da guerra”. Mas agora não estamos mais em um mil novecentos e Padre Argel, nem Cônego Manuel Madureira, nem Padre Raul de Melo. Estamos na era do conhecimento, da sabedoria, da busca incessante. E vamos ficar na mesma, só missa, batizado e procissão? E goles? A festa melhorou em civilização. No meu tempo de criança, no final havia verdadeiros rodeios nas ruas empoeiradas. E tiroteios. Virgem!

Poderia ser realizado um seminário sobre a vida do santo francês, que teria chegado a Roma como soldado em caravanas de migração. Teria se alistado no exército romano por volta de 283 d.C. com a única intenção de afirmar o coração dos cristãos, enfraquecido diante das torturas. Era querido dos imperadores Diocleciano e Maximiano, que o queriam sempre próximo, ignorando tratar-se de um cristão e, por isso, o designaram capitão da sua guarda pessoal, a Guarda Pretoriana.

Por volta de 286, a sua conduta branda para com os prisioneiros cristãos levou o imperador a julgá-lo sumariamente como traidor, tendo ordenado a sua execução por meio de flechas (que se tornaram símbolo constante na sua iconografia). Foi dado como morto e atirado no rio, porém, Sebastião não havia falecido.
Encontrado e socorrido por Irene (Santa Irene), apresentou-se novamente diante de Diocleciano, que ordenou, então, que ele fosse espancado até a morte. Seu corpo foi jogado no esgoto público de Roma. Luciana (Santa Luciana, cujo dia é comemorado a 30 de junho) resgatou esse corpo, limpou-o, e o sepultou nas catacumbas. Essas informações são resultado de pesquisas simples que fiz em alguns minutos.

Exposições, museu, palestras, estudos, apresentações de trabalhos de estudantes ou apenas religiosos dariam a tônica da festa. Ele passaria a ser conhecido na cidade e na região em que seu nome é pronunciado apenas, dizem que com fé, mas verdadeiramente sem sentido, assim penso. Nasceriam verdadeiros devotos. Seria criado um fórum permanente de discussões, com pesquisas voltadas para não somente São Sebastião e do espaço em que viveu, mas também a vida de outras santidades que tiveram contato com ele. Seria interessante, mas teria que haver coordenações e participações históricas e inteira dedicação não de uma ou duas pessoas, mas da comunidade em peso.

Assim entendo a festa religiosa de minha terra natal, que tem o seu dia fixo, 20 de janeiro, mas é comemorada em dias próximos para coincidir com fim de semana. Este ano é em 18 e 19. A religião como auxílio importante para ajudar o povo a viver teria mais significado. Não sou padre, não quis entrar para o seminário, mas sempre admirei esses bravos católicos, alguns que, realmente, dedicam ou dedicaram suas vidas à religião. Desculpem-me os que pensam diferente, mas já estamos noutra época. O mundo muda por segundo e os nossos costumes nunca saíram do lugar.

Mas se for para que continuemos na ignorância, nada posso fazer. Aqui escrevo sobre qualquer tema e sou livre neste caminho. E seja como for, a terra em que nasci tem um Super Padroeiro, que morreu com 30 anos de idade, com flechadas no peito, como mártir do caminho por ele próprio escolhido. Orgulhemo-nos dele.

P.S.: Dedico esta crônica a amigos e conterrâneos, especialmente a Geraldo Quintão, Marcos Paulo de Almeida Sá e Maria Magna Ferreira.
P.S.: Dedico esta crônica a amigos e conterrâneos, especialmente a Geraldo Quintão, Marcos Paulo de Almeida Sá e Maria Magna Ferreira. 

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A ROTINA DE LADRÕES MANSOS QUE ATUAM EM ITABIRA

Primeiramente, preciso explicar a minha nova obsessão. Antes de apontá-la é indispensável justificar que escriba nenhum, vivo ou quase morto, mesmo que seja de meia-tigela como eu, não consegue escrever uma escassa linha caso não curta uma obsessão. Declaro, então, que a minha mania do momento é a violência. Não consigo pensar sobre outro assunto e por causa disso vou continuar falando e escrevendo o mesmo de sempre. E nem me é possível evitar as enfadonhas repetições. Um cidadão já reclamou de mim, outro me aplaudiu. Deu 1 a 1 e fico com o segundo. Não pretendo parar. Violência, portanto, de manhã, à tarde e à noite.

Itabira virou um horror. Vou repetir: pavor. Sugeri que se promovesse um seminário para discutir a irascibilidade que domina não só a nossa cidade mas também o Brasil inteiro. Contudo, não consegui fazer tremer sapatos nem zunir os ouvidos das autoridades. Pelos jornais e sites não tenho lido alguma coisa sobre o tema, a não ser as reportagens que jorram sangue em cada linha. Parece que a vida dos nossos manda-chuvas vai muito bem, obrigado, “bye, bye” e manda lembrança. Gostaria que me levassem para essa terra de Alice, o chamado “país das maravilhas”. Vou à toa, por favor  não convidem duas vezes!

Se alguém, que nunca deu seus ares em Itabira, descer nas estações Rodoviária ou Ferroviária, ou chegar de veículo em qualquer ponto da cidade, e começar a ler os sites e a conversar com algumas pessoas, é quase certo que pense o seguinte: “Aqui tem mais bandido que gente boa”. Não estou falando mal de nossa urbe. Apenas dando uma dica, tentando sensibilizar as autoridades que parecem felizes demais no seu canto. Se escrevo estes rabiscos é porque estou preocupado. Tenho quase 50 anos de itabirismo. É pouco?

Recebi e recebo dezenas de contatos, nas ruas, por telefone, messenger, WhatsApp, e-mail e Facebook, dando ideias para as minhas colunas. Estou aguardando um amigo chegar à cidade para ver o que faremos nos próximos dias. E não será somente escrever. Talvez tenhamos que propor ao Poder Público, com mais determinação, a realização de um fórum permanente ou um seminário. Se for preciso imitar a França e o mundo, menos o Brasil (que país é esse?), imitaremos já. Todos pra rua!

Vou lembrar somente um caso que é comentário geral neste momento: uma drogaria itabirna teria sido assaltada 28 vezes, no centro da cidade, durante seis meses. Fechou as portas, é claro. Ela tem filiais, uma delas recebeu a visita de bandidos exatamente hoje, 13 de janeiro de 2015. Agora, vamos pensar, refletir sobre esses números exagerados: 28 vezes sobre a mira de revólveres. Não é brincadeira. Ou é?

Também 28 virou um número mágico depois dos comentários que rondam Itabira. Disseram até que não houve tanto assalto assim, que teria sido algo tramado. Neste caso, desculpem-me, piora a situação, Será que simulações não desmascarariam todos de uma vez? Portanto, nada feito, foram mesmo 28, 29 com o de hoje, na rede de farmácias.

Um comércio qualquer, mesmo que venda somente bananas, repolho ou tomate e consegue sobreviver tantas vezes a ataques, mais parece uma trincheira cercada de muros. E tem, provavelmente, segredos dentro de suas prateleiras ou debaixo dos balcões. Será a senha para abrir as portas de  um banco, da entrada aos cofres abarrotados de grana?

A cidade que tolera esse número de assaltos, todos à mão armada, tem que, inicialmente, ser inscrita no Guiness Book. Não é mais a “cidadezinha qualquer” de Carlos Drummond de Andrade. Faz lembrar os “banks” do Velho Oeste Americano (esse também se tornou minha obsessão), que produziram notáveis filmes de bang-bang, com um xerife bravo, uma estrada de ferro em que transitavam trens de dinheiro e ouro todo dia e bandidos perigosos, os quais atiram para todos os lados como Tom Mix, John Wayne, Burt Lancaster, Dean Martin, James Stewart, Clint Eastwood, Paul Newman Robert Redford e outros mais. Com certeza, esses acontecimentos, mesmo cinematográficos, pareciam previsões proféticas para os tempos atuais, como Leonardo Da Vinci que, distante séculos do avião, desenhou a primeira nave dos ares no século 13.

Ladrões que visitam uma drogaria ou farmácia 28 vezes parecem ser consumidores de remédios contínuos, que têm preguiça de ir à Farmácia da Prefeitura, e preferem se arriscar na labuta do roteiro de gritos de “mãos ao alto”. Eles, de tão conhecidos,  aportavam no ambiente monótono e passavam a cumprimentar os funcionários, um a um, quem sabe também algum cliente que se encontrava fazendo compras. Lá pela terceira, quarta, quinta vez aquela paisagem costumeira de ladrões, aqueles homens labutadores compareciam ao seu cansativo “local de trabalho”, com certeza não precisavam anunciar o asfalto, ameaçar, gritar, ter medo de uma reação, porque eram personalidades da casa, turma conhecida e mansa.

Na hora de irem embora, vez por outra deveriam comentar números dos valores roubados, muito pouco, ou mesmo agradecer a cortesia de lhes serem oferecido ambiente pacato, sem novidades, o mesmo da semana passada. “Quer um cafezinho?” “Não, hoje não, tá muito quente, deixa pra outra vez!”

Ah, deveria ter sido engraçado demais como  finalizavam aquela rotina até certo ponto enjoada, repetitiva,  nada de adrenalina, faltando emoções mil. Bem-tratados nada tinham a reclamar, e ao sair deveriam fazer uma despedida mais ou menos assim:
— Gente boa, tá na hora! Tchau! Um abraço! Voltamos quarta-feira. Obrigado. BYE!

Fim do assalto.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O MUNDO JÁ ACABOU. SORTE NOSSA: NÃO SOMOS DAQUI


Vou sintetizar parte de uma estória que ouvia de meu pai quando era criança. Dizia ele a um de seus fregueses, na loja, que, quando o mundo acabasse, montaria um super comércio para vender tudo, de comestíveis a carros de luxo, passando por roupas e calçados para a classe alta. O seu interlocutor, perplexo, perguntava, ávido de uma resposta contundente: “Mas o senhor vai vender pra quem?” E ele, depois de soltar a sua característica gargalhada que fazia tremer o velho sobrado onde morávamos, respondia sem pestanejar: “Para um bobo igual a você!” A seguir, choviam gozações de todas as naturezas, até que chegasse mais um para cair na armadilha, infalivelmente.

A anedota faz lembrar o tempo em que “o mundo se arrasava”. Sim, era o verbo que matava de medo todos os meninos e meninas que o ouviam e, principalmente, eu: arrasar-se, num estrondo de eco e consequências insuportáveis. Com o tempo, contudo, o povo parou de ligar para o arraso e para o mundo, apesar de saber da existência da bomba atômica, do terrorismo e dos loucos de todos os gêneros, a exemplo de um maníaco que governa a Coreia do Norte, um tal de Kim Jung II.

Fiz uma rápida pesquisa e encontrei os seguintes nomes de organizações unidas para o terror (já pensaram que união, enquanto os seres da bondade nunca se unem!): Al-Qaeda, Abu Sayyaf, Fundação Al-Aqsa, Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, Al Ghurabaa, Fundação Al Haramain, Al Ittihad, Al Islamia Flag of Jihad, Al-Umar-Mujahidin, Jamaat Ansar al-Sunna, Grupo Islâmico Armado, Asbat al-Ansar, Aum Shinrikyo, Babbar Khalsa. A relação é apenas um mini-apanhado porque o que já existe, hoje tornou-se uma enciclopédia de horror e pavor.

Conclusão: o mundo, que sempre foi desconhecido por seus habitantes, revela-se claramente, para esses mesmos habitantes, que é O Terror, ao invés de A Terra. A Terra foi extinta, acabou-se, arrasou-se. Apareceu a sua verdadeira cara, que faz medo e nos coloca fora dela. Ainda nesta semana, jornais do mundo inteiro noticiavam que foram descobertos por cientistas mais oito planetas habitáveis. Nenhum cientista, ninguém conta ou sabe também quantos planetas existem nem dentro nem fora do sistema solar. Podemos, então, escolher outro mundo: ou este já acabou ou se transformou em terror e devemos zarpar logo. Não há mais contestação, trata-se de uma certeza inabalável de que isso aqui poderia, no máximo, ser chamado de Paraíso dos Palhaços, Bobos, Bocós, Tatus, Jecas etc. etc. etc.

Apenas dois indivíduos, super armados e guardados por coletes à prova de bala, de uma das organizações terroristas citadas acima, adentraram a redação de uma revista francesa em Paris e mataram, em questão de minutinhos, 12 jornalistas influentes e catedráticos. Vamos alinhar a notícia: primeiro: a morte de uma dúzia de cidadãos franceses de alto nível; segundo, em Paris, capital da França, um dos pilares de sustentação de certeza de um mundo melhor em nosso tempo; terceiro, motivos religiosos fundamentalistas. Sem Bastilha, sem Maria Antonieta, sem La Marseillaise, sem igualdade e fraternidade, mas com negação de que é o seguinte: caiu a ficha, finalmente, e vivemos num mundo falso, que já foi arrasado ou transformado.

Para a minha pobre, humilde, mas convicta dedução, nada há mais o que fazer, senão prepararmos o outro Reino, o Reino já anunciado há mais de dois mil anos, a nova terra e os novos tempos previstos por profetas gabaritados e até sagrados. Aos agnósticos digo que não me baseio em religião alguma, apenas faço uma compilação de todos os escritos do mundo, das crenças, pensamentos, ideias, anúncios, intuições e conclamo ao seguinte: vamos arrumar as trouxas ou malas porque pegamos ônibus errado, a passagem não foi de graça, e precisamos, enquanto é tempo, cair fora.

Como prova inequívoca de que não admito que os intelectuais sejam os donos da verdade, nem os poderosos, quanto menos os “santificados”, mergulho a memória no tempo e chego a uma praça de São Sebastião do Rio Preto, há algumas décadas passadas, vejo a poeira levantar-se, cavalos empinarem, tiroteios pelas ruas. Alheio a tudo isso, um de meus personagens mais admirados e amados, o ex-beberrão João Ferreira Neto, o legendário João Lagoa, arrastando-se de pescoço quase dobrado e gritando pelas vias apenas uma frase ou semi-frase, que resume tudo o que queria dizer neste texto: “Uma que eu não sou daqui!...”