segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Picuinhas de Itabira que nunca são resolvidas

Semana passada escrevi sobre algumas pragas que assolam Itabira e impedem o seu progresso e desenvolvimento. Lembrando o que aqui deixei rabiscado: primeiro lugar - falta de água; segundo lugar - indústrias emperradas por causa da consequência da seca; terceiro lugar: educação, saúde e segurança. Agora vamos às picuinhas que agitam a cidade.        (A coluna da semana passada pode ser lida em http://www.defatoonline.com.br/colunas/jose-sana/19-12-2016/quem-topa-governar-itabira-do-mato-dentro).


Vou abordar os remoques que acabam se agigantando e denunciando a inércia e desorganização da prefeitura itabirana. Começo por chamar você para entrar na apelidada segunda casa do povo (a primeira seria a Câmara Municipal) e fazer um pedido qualquer, por exemplo, de atestado negativo de débito. Um mês depois, volte ao local em que requereu o documento. Sem padrinho para acompanhar o encaminhamento da sua solicitação, desista.

Depois, vamos ao chamado Almoxarifado do Bairro Pará e lá ver se conseguimos uma planta de qualquer imóvel construído de sua propriedade. Vamos admitir que vai reformar ou acrescentar algum compartimento em sua residência. Não vejo culpa alguma em uma pessoa que trabalha no setor “competente” por não conseguir resolver o seu problema. Dificilmente será encontrada a dita cuja planta. No meu caso, demorou dois meses e meio. Ou seja, não se tem uma pista da super-pasta onde se encontra a planta. A fonte de buscas é um caderno velho que parece aquelas marafundas de donos de botecos da roça em que anotam fiados do mané e da maria.

Meu convidado quer conhecer o patrimônio histórico e cultural de Itabira. Que luxo! Aqui pouco se fala nisso. Em 1983, foi feito o primeiro, se não me engano, Inventário do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac) de Itabira. Depois, veio o tombamento dos bens levantados. Na sequência, o conjunto recebeu o mesmo tratamento municipal, orientado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG). O tempo passou, vieram algumas outras normas e foi criado o ICMS Cultural e o ICMS Ambiental. Itabira caminha a passos de tartaruga dentro desse sistema. Ou seja, recebe uma merreca de ajuda do Iepha porque cuida pouco de suas riquezas culturais e históricas.

Os principais pontos históricos e culturais da nossa cidade estão degradados. Apelos à Promotoria Pública local não têm resolvido a questão. Mas, não vou muito adiante sobre a inércia até do Conselho de Cultura (não sei os nomes dos membros e nem quero saber) que permite tantas aberrações. Basta dizer que a  a Igrejinha do Rosário, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), está prestes a receber um novo “tombamento”. Agora ao chão. E não me venham dizer que o conselho nada tem a ver com isso.

Quantas picuinhas citei? Somente quatro? Infelizmente, o espaço é curto e não dá para me lembrar de todas. Concluo estas linhas mencionando a picuinha das picuinhas. Há aproximadamente 20 anos (ou mais) reclamo da escuridão que reina no perímetro urbano da Avenida João Soares da Silva, Bairro Campestre (em frente o Senai) até o antigo campo de aviação, ou Oficina Centralizada da Vale. Os postes foram mudados e arrancadas as lâmpadas. Os visitantes ficam boquiabertos ao ver aquela negrura que causa sério risco de segurança à população.


Provando que as autoridades não se importam com o trecho da via pública mencionada, há uns 50 anos existe lá uma placa que  consegue enfezar alguns filhos de uma simpática cidade vizinha: “Santa Maria do Itabira”. Repito: “... do Itabira” E a seta aponta para a frente. Um santa-mariense me disse que, em represália à placa retardatária, pretende instalar uma na saída de Santa Maria em direção a Itabira: “Presidente Vargas a 25 km”. Nós merecemos.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Assalto ao Carro ou Correio Pagador

Estamos em que ano mesmo? Dois mil e dezesseis? Não, engano, o ano de verdade é 1960, o mês de junho, o dia 14 e a hora, podem anotar, 8h30. Aconteceu no Estado do Rio de Janeiro, perto da Estação de Japeri, precisamente no km 71, o fato a seguir: um trem de pagamentos de funcionários-ferroviários da Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB) praticou o maior assalto a mão armada de todos os tempos neste país. Valores incalculáveis pelos números de hoje, em torno de 20 milhões de cruzeiros, foram surrupiados. Agora pulamos, de verdade, para o ano de 2016 e o  palco  é uma pequena cidade do interior de Minas Gerais, classificada entre as menores do mundo. Oh dó! Cinquenta e seis anos depois evoluírem de São Sebastião do Rio de Janeiro para São Sebastião do Rio Preto!

Tal como o Trem Pagador, que rendeu um filme dois anos depois — e até uma forte candidatura a Oscar em Cannes, na França,  e a centenas de prêmios —  o comboio tinha hora certa para sair e pagar, como no mês passado, em Passabém, e agora em São Sebastião. Dois bandidos, ou lambedores de rapadura, já foram devidamente algemados e remetidos às grades. Um fugiu, mas, coitado, está no mato sem cachorro, a delação, sequer premiada, ou pressionada, deve trancafiá-lo. O cronograma de ação deles revela que  em novembro foi Passabém, dezembro São Sebastião, ficando a certeza de que em janeiro seria Santo Antônio do Rio Abaixo. Esse é, realmente, o sinal forte do chamado crime organizado, premeditado e com ares de doutorado no caminho.

Vamos esquecer o Trem Pagador carioca ou fluminense, cujo desfecho  entrou na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes de todos os tempos no Brasil. E nos concentrar devidamente no caso de 7 de dezembro de 2016, em São Sebastião do Rio Preto. Acredito que o Assalto ao Carro Pagador, ou ao Correio que paga, renderá mais um filme da prima Regina, nome artístico Afra Sana. Ela não estava presente, girava pelo Brasil afora, mas já sabe o que fazer. Um helicóptero sobrevoou a região à procura dos assaltantes e do dinheiro, claro. Geraldo Quintão conseguiu filmar, às tremedeiras, o sobrevoo de um helicóptero da polícia.

Notável e lamentável o acontecimento. Mas para quem, como eu, não consegue tirar da memória os fins de festas ou de simples domingos na pequena Vila, lá pelos anos antigos, não é novidade. Antigamente, São Sebastião era assim: dado o fim de uma cerimônia de festividade religiosa, o povo armava na rua a confusão mais esquisita que se pode imaginar. Poeira subindo, animais empinando, tiros pipocando no ar. Tudo normal e poucos se importavam, menos eu que tremia em cima dos sapatos. Trabalhava como caixeiro ou balconista do Bazar São Geraldo, de Sebastião Cândido F. de Almeida, com ele escrevia, meu pai. Via cavaleiros entrarem montados numa porta de comércio e saírem em outra. Nada acontecia além disso, senão gargalhadas dos testemunhas nada amedrontadas.

Na rua, o espetáculo continuava. De vez em quando acertavam a orelha ou o pescoço de alguém. Alguns levaram balas corpo afora, sem morrer, ou morrendo de verdade. Havia também espetáculos dos mais grotescos, hoje chamados 0800, nas praças do arraial. Certo dia um bêbado da elite aprontou uma peça de teatro digna de um circo internacional ou diria atração do Coliseu de Roma: fechou a atual Praça Seraphim Sanna para aplicar chicotadas no pobrezinho do Nhonhô de Albertina. Nhonhô carregava o apelido de Jabutirica e apanhava sem saber porquê. Como foi chicoteado naquele domingo e ninguém o socorreu! Sou memorialista preciso: era 4 de dezembro de 1955. As chicotadas doíam e doem em mim como se me arrancassem a própria pele e não a do Jabutirica de Albertina, essa uma paupérrima doente sem marido.

Hoje, são ou não bandidos profissionais, ou metidos a vilões de filmes faroeste que povoam o palco do circo. Aliás, esses que levaram e deixaram no carro capotado em Passabém R$ 125 mil, são analfabetos em assaltar, estavam nas primeira lições sem mestre, mesmo alvejando, por pura imaginação de uma  bala perdida, a perna de um conterrâneo que nada tinha e nada tem a ver com a miscelânia. Fosse eu um dos atiradores dessa antielite, desistiria na primeira aula. Quem sabe constitui gente boa e não merecia estar aí? Sei lá! Que façam o seguinte: dedurem imediatamente o terceiro para que tudo termine num final feliz. São tão carentes que nem perceberam o fim da munição policial, provavelmente, também, do combustível. Felicidade para eles “comendo” uma boa cadeia. Talvez tenham participação no assalto do mês passado, que rendera limpinhos R$ 200 mil!

Antes de terminar, quero dar um conselho sincero aos ladrões, conselho objetivo e de boas intenções. É o seguinte: não só o crime não compensa como o assalto também e qualquer tipo de furto ou roubo. Foi o que uma senhora que não conheço, mas vi e ouvi, disse: “A vida de ladrão é muito difícil e complicada. Se eu fosse do meio deles, já teria me conscientizado!” A mulher de nome Dona Maria, explicou direitinho a forma que deveria servir aos bandidos. Ela disse: “Para um assalto dar certo, os marginais precisam de muita sorte, além de sangue frio e inteligência. Conseguindo chegar ao seu reduto com o dinheiro surrupiado, a hora de distribuir é problemática. Sempre há um sujeito ambicioso, o chefe, que quer ficar com uma parte maior. Aparecendo quem não concorde com a divisão dos valores, a probabilidade de atuação da polícia é muito grande. Depois ainda há o problema da consciência e vou ser bem esclarecida, cada um paga pelo que fez e faz mais cedo ou mais tarde”.

No fim, aproveitando o que a simples senhora declarou, sobra sabem o quê? Os que se julgam injustiçados vão para a imprensa, a boca do povo. Aí foi o mesmo que aconteceu no Assalto ao Trem Pagador, os do prejuízo acabaram com a festa dos bandidos. De qualquer forma, os assaltantes que foram presos irão mesmo fazer a devida delação. O pobre fugiu a pé e será pescado a qualquer momento. Então, era isso o que precisava dizer hoje e agora: o Carro ou o Correio Pagador de São Sebastião do Rio Preto vai mostrar, no filme da Afra, que assaltar, furtar ou roubar são ações de bobocas e babacas. Está fora de moda. Se acha que há desemprego, me procure que, aos bons de serviço, mostrarei um caminho. E chega de atormentar o povo simples do interior..