sexta-feira, 31 de maio de 2013

Sorte: virtude ou defeito?


Sorte, segundo o Houaiss, é substantivo feminino que significa força invencível a que se atribuem o rumo e os diversos acontecimentos da vida; destino, fado. O azarado é o contrário, mas   pode ter, ironicamente, uma tremenda sorte de ser azarado. O Rubinho ganhou poucas corridas. Ele é infeliz? Não me parece ser, pois tem uma família unida, amigos, saúde e dinheiro.

De um de meus preferidos escritores, Nelson Rodrigues (1912-1980), guardo muitas frases interessantes. “Com sorte você atravessa o mundo, sem sorte você  não atravessa a rua”; “Sem sorte não se come nem um Chicabom; você pode engasgar-se com o palito ou ser atropelado pela carrocinha”; “Sem sorte Napoleão Bonaparte teria sido morto, atropelado por uma carrocinha de Chicabom”; “Sorte não é defeito”.

Complementando Nelson Rodrigues, quantos herois de guerra receberam medalhas às vezes pela coragem, bravura, caráter firme, mas no final sobrou apenas a sorte como sua companheira? Mas, será que alguém pecou por ter sido beneficiado pela sorte? Há um pensamento que diz: “A sorte persegue os bons”. Convenhamos, então, dizer que os que vivem malhando a sorte não perceberam ainda que essa senhora, também chamada de estrela, fado, felicidade e ventura poderia não gostar dos que a malham. Não é o meu caso, graças a Deus, amo-a, sem nenhum preconceito, como o dos azarados que a maldizem. No meu caso, conto sempre com essa ótima companhia ou companheira.

Não vou estender muito, estou cada dia mais me resumindo, tentando não atrapalhar o leitor. Apenas quero lembrar que, nesta quinta-feira abençoada o Galo Forte de Minas Gerais, ou “O Time de Minas”, como o chamam os seus admiradores de outros estados e de muitos países, foi premiado na mega-sena do futebol. Incrível: aos 48 minutos do segundo tempo, a um do encerramento do jogo, o empate de 1 x 1 daria e deu a classificação ao Clube Atlético Mineiro diante da aguerrida equipe do Tijuana do México. Acrescente-se: esse time que desclassificou o poderoso Corinthians dentro do Pacaembu. Mas o gol, àquela altura, daria o lugar na semifinal da Libertadores à equipe visitante.

Sorte do Victor? Sim. Sorte do Galo? Também sim. Mas muita gente deve não ter observado que nos treinos do Galo durante a semana foi incluído um capítulo especial, de portas fechadas, em que Cuca treinou cobranças de pênaltis. Aí, Victor, o grande goleiro do Galo, deve ter-se forçado a fazer a tentativa tradicional e pouco usada, de pular para um canto fechando o meio com os pés. Sei que essa é uma pose de inteligência porque a fiz na  mocidade, quando defendia as cores do São Sebastião Futebol Clube. Saindo o gol, seria a comemoração do Tijuana, de sua torcida no México, além de milhares de “secadores” espalhados por aí. Não haveria tempo para o Galo empatar de novo, cujo empate de 2 x 2 levaria à disputa de pênaltis.

Mas a sorte do Cuca que treinou lances de penalidades tanto para chutadores quando defensores; a sorte do Victor que aplicou o que se assimilou; a sorte nossa, da torcida, que acreditamos aconteceu de uma só vez quando levamos as máscaras do pânico (ver imagem). Assim, tenho que concluir: além de sorte não ser defeito e, mais do que tudo, se transformar em virtude, ela espelha a luta da capacidade contra a incompetência, do otimismo contra o  pessimismo e da vida contra a morte.



P.S.: Para dizer apenas que o gol do Tijuana, comprovado agora pelas repetições do lance pela TV, foi antecedido por duas falhas seguidas do árbitro chileno Patricio Polic: pênalti em Jô e fala violenta em Ronaldinho, infrações não marcadas; no contra-ataque, a equipe visitante marcou o seu primeiro gol, totalizando três erros grotescos de sua excelência maledicente.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Instituto DataChute: pesquisa prova que pesquisa é mentira

A moda do momento é citar pesquisas. Qualquer levantamento ou afirmativa ou conclusão se baseia em outro levantamento, mais consistente que qualquer afirmativa ou conclusão. Essa é a regra do registro científico. Em outras palavras, para alguém provar que ninguém sabe nada, basta recorrer a Sócrates (Grécia, 470 a.C — 399 a.C) em sua declaração máxima, publicada primeiramente por Xenofonte (Grécia, 430 a.C. — 355 a.C), depois por milhares de outros inteligentes e burros, inclusive eu, e também pelo senhor Google, que se resume no seguinte: “Só sei que nada sei”.

Poderia terminar aqui o meu texto, considerando que nada sabemos. Teimoso que sou, não por ser capricorniano, mas porque optei pela filosofia da insistência, me propus provar, cientificamente, que alguma coisa, ou muitas coisas estão erradas dentro das referências a pesquisas que são sustentáculos de muitas afirmativas. O sujeito assenta-se diante de um computador, pega um DataQualquerCoisa e escreve cada fábula mais absurda  que outra. Outro dia li que no Brasil existem 85 milhões de pessoas acessando diariamente a internet. Grande mentira! E vou provar de todas as formas possíveis que puder que a verdade passa e trilhões de quilômetros desse que é mais agudo que os chutes saudosos do Éder ou do Nelinho.

Imaginem onde foram tirados estes números: 85 milhões! Absurdo grotesco. Tenho 1.200 seguidores aproximadamente no Twitter e mais 860 amigos  no Facebook. Esses são números que nada representam. Mais que eu, o presidente Alexandre Kalil, que talvez nem saiba ligar um computador, tem 600 mil seguidores no Twitter. Também não existem tantos desocupados assim atrás do diretor do Galo. Mais verdadeiro ou sincero é o Fernando Silva, meu amigo, infelizmente cruzeirense, que me confidenciou o seguinte: “Quem me segue é somente o Chiquinho (seu cachorrinho de estimação), mesmo assim quando estou comendo alguma coisa”.

Tenho centenas de pessoas para as quais envio e-mails. A maioria, inclusive jornalistas, diz de cara limpa que “este mês ainda não abri os meus e-mails”. Sei que alguns ficam jogando o dia todo e nunca sabem o que fez a presidenta Dilma naquele dia, sequer conhecem quem matou quem no Alto Pereira, em Itabira, ou se houve menos de dez acidentes na BR 381, fiscalizada por outro amigo, também cruzeirense, o artista, fonomixador, criador de marketing, estilista e confeiteiro Marcos Martino. Tenho uma amiga chamada Sirlene Barcelos Amorim que se tornou minha quase inimiga por ter declarado guerra à internet e se candidatado a presidente da Sinet (Sociedade dos Inimigos da Internet).

Baseado nestes fatos citados e, principalmente, em outros que não cabem neste espaço, declaro de bom tom, com raiva e mais do que puto da vida, que a internet é mais resistente que todas as invenções do homem, desde o fogo até o carrinho de mão, motor, rádio e daí ao avião, telefone, TV e outras transformações e invencionices. Assim, cientificamente, provo que o Homem de Neanderthal ainda existe, perambula por aí, está entre nós e só acaba se ocorrer outro dilúvio, se é que algumas enchentes mundiais destrutivas ocorreram de verdade em nossa misteriosa história humana.

sábado, 18 de maio de 2013

A fila dos "véi"

De uns tempos  pra cá o que mais se popularizou por aí foi a “fila dos véi”. É o que mais se falam nas esquinas, botecos, velórios e salões de beleza, embora a fila seja também das gestantes, lactantes, mulheres com criança no colo, por aí. Chamam de “véi” todos os seres humanos que estão na faixa acima dos 60.

Pois é. A fila dos véi, depois de se notabilizar como a solução da compreensão do governo diante dos problemas dos idosos, supôs-se que fosse superar o grave defeito governamental de corrigir os vencimentos dos aposentados em níveis abaixo do salário mínimo. Quem recebe acima de três salários mínimos tem um outro índice, tão pequenininho que não é visto senão com lupa. Como exemplo, enquanto a garrafinha de água mineral passou de R$ 1,00 para R$ 2,00, ou seja, 100% de aumento, a remuneração dos véi não consegue nem chegar nos 7%, uma vergonha que não pode sequer ser pensada por um ou uma presidente da República sem que a sua consciência doa até arder.

Então, a fila veio para compensar o que o governo não quis fazer. Ou seja, o véi entra na fila de uma lotérica (só paga contas de água, luz, telefone e algumas mais em caso de apostas), quando chega no seu final é depenado de cabo a rabo. E eu, que não me acho tão velho assim, apesar de plenamente classificado como véi, sou obrigado a curtir essa doce presença diante de outros colegas, ou menos ou mais decadentes. Dos 30 dias do mês, pelo menos em quase a metade deles tenho que ir para uma lotérica. E vou a um bairro da quase periferia, no Caminho Novo, mais precisamente à Estrela da Sorte, do meu amigo Marcim do Abílio.

Lá, não demoro nem um segundo a decidir em qual fila devo entrar. Se tem três véis na fila dos véi, eu prefiro pegar o rabo de uma compridona que avança para a rua Prefeito Virgilino Quintão. Porque não é somente pagar e receber, mas fazer um “juguim” e conferir o outro que venceu. Têm uns ou umas que tiram um saco de moedas e começam a contar. Outros ou outras precisam digitar uma senha para receber alguns centavos e levam pelo menos meia hora para cada tecla. Quando se pensa que o véi será despachado pelas simpáticas funcionárias, eis que elas começam uma ladainha para vender um jogo a mais, uma fatia de bolão. E são tantas loterias que correm que eu nem me atreveria a citar uma, pois nem entendo dessas duplas e triplas. Só cito a Mega Sena, que sempre está acumulada, dizem as más línguas que é foco de denúncias contra um bando de falsificadores. Não entro nesse pormenor, pelo menos nem acredito, porque senão não estaria sempre fazendo o meu juguim.

A maldita fila virou um calvário para os véi apressados. Dizem as próprias vítimas que “essa fila não anda”. Alguns já fizeram a conta: o atendimento a um véi na sua única fila chamada de “preferencial” demora o tanto que pelo menos oito são despachados na fila dos “normais” no mesmo  tempo. Os “anormais”, portanto, congestionam qualquer agência lotérica devido à sua lentidão corriqueira de fazer as contas e contar o dinheiro. Ao lado deles, há as mulheres que arrumam meninos emprestados para ganhar preferência. Essas nem percebem que a tal preferencial fila é mais lenta que tartaruga andando de ré. Então, não vale a pena, já é certo que a fila dos normais anda mais depressa  que a dos anormais.

Não se sabe que dia haverá duas filas dos véi numa só agência. Talvez nem haverá, mas o dia a dia das agências já mostra que urge o aparecimento de uma mudança. O sujeito aposenta-se rapidamente, já com a cabeça bem  branca, apesar de a idade não ter avançado, entra por ironia na fila dos véi e contribui com a sua compridez. Duvido que a maioria pense que a fila dos véi é o pior lugar em que se deve se meter hoje em dia. Muitos seguem pensando que é o contrário. Assim os véi levam mais tinta ainda na vida, pois a primeira lata na cara eles tomam por ser véi e a segunda por ser inserido no pior lugar, numa fila de tartaruga preguiçosa.

Não tenho por enquanto sugestão para salvar essa pátria aí dos véi tripudiados. Acho que os véi têm que continuar penando mesmo, porque se eles voltam depressa para casa, suas patroas, ou véias, estão os esperando para xingar a sua falta do que fazer com aquele notável e desagradável apelido de rabujento.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Querem tirar os bancos do centro de Itabira. Vão levá-los para o Parque de Exposições?



Dizem que universitários fazem pesquisa em Itabira sobre a circulação de veículos na área central. Informantes dão conta de que querem confirmar se os bancos podem ou não permanecer onde estão, a maioria nas ruas Tiradentes e Sizenando de Barros, Praça Dr. Nico Rosa e Avenida Daniel Grisolia. Provar que nas vias citadas o trânsito está  super congestionado não precisa de pesquisa. Dar resposta a essa pergunta, considero impossível: para aonde levar essa meia dúzia de estabelecimentos bancários — Brasil, Caixa, Santander,  Unibanco, Itaú e Bradesco?

A mulher traiu o marido no sofá da sala. O marido flagrou o romance proibido. Pensou muito e resolveu já no dia seguinte: foi a uma loja do Topa Tudo e vendeu o sofá. Em seguida, considerou resolvido o problema. O movimento de trânsito — muitos carros circulando, veículos estacionados em ruas estreitas, falta de lugar em que parar e manobras constantes — é a traição que Itabira sofre. Itabira pensa, calcula, reúne-se com os possíveis interessados e determina: tirar os sofás, ou melhor, bancos dali. Possivelmente, os que tomam tal iniciativa pensam que estará tudo resolvido.

Antes de não resolver o problema do centro da cidade, uma pergunta que já foi feita: em que lugar serão instaladas as casas financeiras? Vem um e diz: “Leva para a Avenida Mauro Ribeiro” . Boa ideia para quem já tem comércio ou lote ou imóvel pronto lá. Mas logo em seguida, como se localiza em determinados locais, a mais nova avenida itabirana será o novo centro congestionado da cidade. Outro opina: “Espalhem essas casas entre os bairros mais comerciais, como Bela Vista, Caminho Novo, Areão, Água Fresca. Não convence porque dificulta a vida dos responsáveis pela circulação do dinheiro. “Mas existe uma saída”— opina o último. Esclarece: “Levem os bancos para o Parque de Exposições”. Essa ideia merece o que fazem os usuários da internets quando querem rir: kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.

A pesquisa feita na cidade, possivelmente, é uma redundância sobre uma simples análise. Primeiro, porque se a mulher chifrou o marido no sofá, a próxima vez será na cama de casal. E depois? Seguem escolhendo os lugares mais adequados. Eles podem ir a um motel. Só que os bancos não podem mesmo serem deslocados para lugar algum. Lugar de banco é no centro das cidades mesmo. A solução eram os caixas eletrônicos. Mas os bandidos aumentaram o seu contingente de praticantes do novo “esporte das multidões” — assaltos, arrombamentos, furtos. E, aos poucos, vai ficando impossível manter caixas eletrônicos em locais diferentes, tanto para os donos de contas-corrente como  para o banco e ainda para quem se propõem abrigar a velha solução. Estourar caixas ficou tão corriqueiro como comprar picolé na esquina.

Não pensem que os ladrões vivem tranquilos e sem problemas. Eles também têm merecidos aborrecimentos e dificuldades para cumprir as funções de sua “profissão”. Dia desse um grupo de marginais resolveu atacar um caixa eletrônico na minha terra natal, São Sebastião do Rio Preto. Conseguiram detonar o  depósito de dinheiro, mas quebraram a cara. Primeiro, só encontraram R$ 15,00 no cofrinho, ou seja, fizeram o arrombamento em dia errado. Segundo, levaram o que acharam, mas se distraíram e se foram sem levar R$ 100,00, dinheiro que ficou no porta-luvas de um veículo que precisou ser abandonado ali.

Voltando ao problema itabirano, a solução é muito complicada. Quero mostrar o que, talvez, muita gente não saiba. Sempre saio de casa antes de 8 horas da manhã e paro meu carro numa rua da cidade à espera de atendimento em algum local. O comércio abre normalmente às 9 horas, mas com uma hora de antecedência  começam a chegar os comerciantes e comerciários. A maioria das lojas têm mais de dois carros para proprietários ou comerciários. Assim, os veículos ficam estacionados  nas portas das lojas o dia todo. Ruim, em primeiro lugar, para os  empresários; depois para os clientes; finalmente para a mobilidade de Itabira. E até agora não ouvi, ou vi, ou li, algo sobre essa questão. Muitos carros estão à venda e precisam serem expostos. Vai aí pras cucuias a ideia de se resolver um sério problema.

Se pensam os responsáveis pela solução de tão complicada situação, irão criar, sim, várias outras complicações, além das citadas. Uma delas será inviabilizar os pontos comerciais. Sem os bancos, desvalorizam-se as lojas porque assim se desaparece o centro financeiro da cidade, ou o que chamam os especialistas em finanças e informações: centro nervoso. Nervoso e que nunca pode tomar algum calmante.

A pesquisa em andamento ou já finda não tem valor, a não ser para que se oficialize o já está oficalizado: temos uma bagunça irreversível montada na cidade do poeta maior, que tanto ficaria triste ao saber de nossos novos desafios. Drummond se foi para o Além, é provável que tenha se descansado das confusões terrenas. Pior que as questões que ele abordava — o minério de ferro que seguia em 500 vagões e era embarcado em navios para o outro lado do Atlântico, e os buracos que ficavam — será o dia da buzina, já que quase ninguém mais tem educação no trânsito ou na vida. Haverá um congestionamento-mor que deixará todos presos no mesmo lugar por pelo menos 24 horas. Aí a ficha de muitos pode, quem sabe, cair.