terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

A FELICIDADE EXISTE, MAS...

Gente, amigos, inimigos, quem quer que for e seja, a felicidade não existe. Ou melhor,  existe, sim, mas o plano em que ela se apresenta está noutra dimensão de nosso pensamento e de tudo o que imaginamos. Para não persistir a dúvida em minhas palavras, esclareço o seguinte: ela é perceptível, sentida e sensível, tocável, está a menos de meio metro de nós. Mas só vamos assumi-la definitivamente caso estejamos ligados na sua sintonia. A sua aliança é um projeto de vida de que necessitamos adotar enquanto é tempo.




Diante do que já rabisquei acima, deixo a critério de qualquer um contestar-me, deletar tudo ou até sair por aí disparando em mim a metralhadora, e que seja em círculo ou giratória, senão me desvencilharei dos projéteis.


A vida tem sentido. Nós temos sentido. Ponto. O mundo foi construído na base da distribuição igualitária de oportunidades. Não tanto igualitária, mas proporcional. O sofrimento também existe, mas dele podemos cair fora, de letra, se entendermos o sentido da vida.


Vou dar um exemplo que é apenas uma hipótese. Alguém, sem nome e sem identidade, está para nascer no Planeta Terra agora. Estava na fila para descer e ocupar um lugar em um útero materno entre outros bilhões existentes. Ele próprio escolheu a hora, o instante, a vez de que sua ocupação seja num ambiente pobre ou rico, num útero sadio ou fragilizado, enfim, tudo de acordo com a intenção do ser que nasce, o seu projeto seguido por um tipo de Anjo da Guarda. Resumindo: o livre arbítrio começa a funcionar na pré-vida e vai para além dela e para além da morte.


Pronto. Aqui está o ser humano, que pode ser eu ou você, ele ou ela, não importa. É preciso anotar numa folha à parte: aqui no mundo só existe moleza para quem é um prostrado, um vencido, e admite, antecipadamente, que não aguentaria o peso dos desafios. Tudo passa por um equilíbrio só e aí está a força absoluta do Altíssimo agindo sobre nós. A meta estabelecida é simplesmente a seguinte: evoluir, crescer, aproximar-se mais e mais de Deus, o supremo dono das coisas e de tudo. Só com lutas e cacetadas na cabeça atingimos o real objetivo da vida. De nós somente ele depende.


Fim desta página. Vamos voltar depois no mesmo tema.  Desde já que fique claro: ninguém recebe uma carga para suportar que não seja suportável e que não podemos vencer caso tenhamos obstinação. Este é um segredo que a vida, em mais de 70 anos, ensinou-me. A aplicação da receita vai de graça para quem é inteligente e serve, também, para reforçar todas as minhas certezas e convicções inarredáveis.


Sejamos felizes, portanto. E continuemos firmes porque Deus existe, Deus há, Ele está conosco. Amém.


José Sana

Em 22/02/2022

Obs. Ofereço a alguém muito especial em minha vida. 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

A MADRASTA ESTÁ DE VOLTA

Meus mestres e doutores em História ensinaram-me em cursos de graduações e pós que a reiteração de fatos no decorrer do  tempo  só pode ser coincidência. Apesar de o  historicismo determinar, muitos e muitos, leigos e profissionais ainda insistem no termo “a história se repete”. Pode servir como uma figura de sintaxe, mas não se aproxima da verdade absoluta.

Nos anos 1960,  a estatal Companhia Vale do Rio Doce impunha a sua regra de governança: “Aqui eu mando, aqui contrato a mão de obra que quero e imponho preços em imóveis, tanto para aluguéis quanto para venda”. E assim o tempo se arrastou, de um lado o puxa-saquismo tradicional e de outro a minoria que comeu o pão amassado por belzebu, esse o famoso capeta.


Para não buscar exemplo distante,  já fui tratado como rei,  assim como escravo descarado, pelas regras impostas por tal filosofia de ação. Querem provas? Em 1966 aqui cheguei com um par de roupas no corpo. Antes de  instalar-me no meu primeiro lar, a Pensão São Cristóvão, dos inesquecíveis Dona Lilice e Seu Carolino, fui a uma loja comprar roupas. A loja existe até hoje, o dono é o mesmo, ele me vendeu uma bagageira e toda a parte de trás do Opala (dele, é claro) abarrotada de calças, camisas, cuecas, meias, acho que só isso.

Mas eu não tinha um só centavo nem no bolso, nem no banco. Só lhe mostrei a carteira assinada pela CVRD, nem um dia de trabalho mas, mesmo assim, o dono da loja me achou mais bonito que o Hugh  Grant, que tivesse mais dinheiro que o Walter Moreira Salles na época,  e parecia querer que eu fosse seu sócio. Anos  mais tarde, depois de, como presidente da Câmara Municipal de Itabira, presidir o I Encontro Estadual de Cidades Mineradoras, durante o qual foi criado o royalty do minério de ferro, levei um chute no traseiro como se fosse um ladrão de cavalos de filmes faroeste. A Vale não precisava mais de mim. Não me dei como vencido e abri uma lanchonete para estudar os meus cinco filhos.

O tempo passou e Itabira começou a curtir uma espécie de síndrome da exaustão, data cada vez mais próxima. Implantou projetos teóricos  — exemplo: Itabira 2025 — mas o domínio da Vale continuou, embora mais pendente a impor-nos  medo de perder o dinheiro que corre pelos ares e poucos agarram.

Agora, o que está acontecendo? A Vale volta a encher a cidade de “gente boa”, como dizia o meu amigo e saudoso Chiquinho Alfaiate. Quer dizer que o dinheiro  pulula no ar e nas contas dos magnatas. Começa a empresa a secar as barragens de rejeito, terror de gente responsável, e aí a volta escancarada da classe excessivamente dominante para pisotear a maioria. Se alguém contesta, mesmo somente para se defender, esse já tem um nome treinado e gravado até nos postes: negacionista.

Chegam os donos das ruas, becos e avenidas, de caminhonetes sujas de barro vermelho, sinal de que a S. A. avança para raspar o tacho dos novos cauês. Os imóveis vão às nuvens, mas não é só isso. Nós, os recrutas escravos da mineração, voltamos a preparar a mão de obra para a mineradora. Ela, a madrasta, não precisa mais correr atrás, criar suas escolas de treinamento. Basta farejar e tatear o mercado na cidade e mandar um recadinho para o amigo do amigo da rua tal e da esquina mais falada de um bairro qualquer. E deixa as empresas que salvariam a cidade no mato sem cachorro.

A vida continua. A Vale privatizada manda do mesmo jeito, de acordo com o poder que exerce no mercado. Já nos conformamos, sim, com essa sobrepujança. Não negamos, pois, pois, como diz o português que vende bacalhau na esquina. 

Apesar de esperar e crer e sonhar, alguns fatos me fazem continuar meio descrente do futuro porque, embora a história não se repita, a madrasta  cospe em nossas caras e nos faz impor como nosso  limite de crescimento a ponta do nariz. Amamos  essa criatura, mas ela não morre de amores por ninguém. Acordai, povo itabirano!

José Sana

Em 15/02/2022 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

MEU NOME NÃO É BILL GATES

 

Estava parado ao volante, centro da cidade, um amigo me grita frente a frente, sem máscara e cuspindo como um  bode zangado: 

— A internet não tá com nada!

Sinceramente, não entendi o grito dele, que talvez pensasse que eu fosse ou sou o Bill Gates, ou o fantasma do Steve Jobs, ou o Émerson. Mas, intimamente, concordei com as suas palavras, em parte. Fiquei perguntando de mim para mim: será qual o bronca do meu amigo zangado com a rede mundial de computadores? Ou com a internet itabirana? 



Em casa, fiz uma busca na rede e descobri o telefone do Almir (Almir é o nome dele) e disquei para ele no WhatsApp. Infelizmente, tocou, tocou, tocou, e ninguém atendeu. Deixei só um recado e fui dormir.

No dia seguinte, às 7 horas da manhã, tinha uma mensagem do Almir no meu Zap:

— Você me ligou? Pode ligar outra vez? Eu quero falar com você.

Lá pras 9 chamei de novo e ninguém atendeu. Meia hora depois, atendo a uma ligação. Era o Almir, que começa assim:

— Zé Sana, você é vereador ainda?

Assustei-me com a pergunta, já que não estamos mais na Idade Média. Expliquei que não, que tinha encerrado o meu mandato no século passado. Mas ele perguntou sobre a revista e informei que não mais me pertencia. Ele chegou a falar sobre o site, mas ficou sabendo que “Notícia Seca” estava bloqueado.

 Disse-lhe:

 — Fale à vontade que vou gravar. Então, ele começou:

— Primeiro, as nossas operadoras são picaretas por excelência. Fazem promoções de um milhão de megas. No dia de lançamento, a gente consegue captar até 500 megabytes. Um mês depois, cai para zero, e some. E fica no mais ou menos 10, por aí.

 Segue o choro:

— Se o santo ajuda, passa um vento e abrimos a danada da página procurada. Fico atrás de notícias. Sabem o que encontro? Não consigo ler. Por quê? Um  amigo, que mora nos fundos, me disse que a internet tem milhões de anúncios circulando. Têm muitos porque são baratos e a concorrência é altíssima. As janelas despontam Quer dizer que as páginas viraram formigueiro sem açúcar.

Continua:

— Se estou lendo, a página pula, não consigo dar sequência.  A pulação é por causa  de quê? Ninguém me responde. Dou um murro na mesa e deixo essa m... 

— Hoje quis saber o nome de uma pessoa que morreu num acidente. Abro um site daqui da região. Coitado de mim para obter informações. O repórter não sabe nada. Se sabe, não diz, está com medo de publicar. Resultado: estou com saudade dos jornais de papel.

Meu amigo Almir concluiu:

— Vou lhe escrever uma carta e posto no correio ou enfio debaixo de sua porta. Tenho mais coisas para falar sobre essa porcaria de internet. Acho que quem inventou isso precisa ser internado. 

Antes quero uma resposta: “A internet não vai acabar? Não vão nem tomar providência com  esse povo doido clicando no meio da rua e correndo o risco ser atropelado?"

 Dou-lhe a resposta:

 — Escreva e envie a carta. Mas fique sabendo de antemão: meu nome não é Bill Gates, nem Steve Jobs e tão pouco Émerson!

José Sana

Em 14/02/2022

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

A RAMPA

Foi  assim: uma rampa construída na década, sei lá, acho que de 1950 ou 1960. Sexagenária, portanto. O seu construtor  é, por sua grandeza pessoal, um médico muito conhecido, visionário, verdadeiro profeta. E muito especial. Tanto que completou 100 anos no ano passado  e fez, em seu pronunciamento histórico, muitas revelações. Uma delas é que Itabira sobreviveria ao minério de ferro.



Na rampa ia, certo dia (se rimou, paciência) eu subindo, enquanto ele aguardava, como sempre ocorreu a minha chegada ao topo. Pensava eu: quantos topos ele chegara e ainda dera  as mãos a muitos e muitos cidadãos também conhecedores do cume! E lá ia eu, meio sem graça, mas, azar, quantas vezes já fiquei assim, constrangido e com cara de tacho na vida?


Continuei as passadas. A rampa alivia o nosso cansaço e ainda tem, para os novos e velhos, um perfeito "corre-mão" que não nos deixa titubear no meio do caminho, sem pedras. Levantei a cabeça, meio vermelho, mas a ergui com coragem. Na minha terra natal dizem isto de quem passa por esses momentos: “Calcei a cara”.


Dei-lhe a mão. Ou melhor, ele estendeu-me os braços e, facilmente, os sentimentais enxergavam o coração centenário dele, transparente e forte. Pronto. Não tem rodeios, vou logo ao assunto: 


— Boa tarde! Vim pedir que me passe as anotações prometidas...


Irredutível, o novíssimo centenário cidadão retrucou com toda calma e paciência:


— Vamos entrar e tomar um cafezinho. A  Patroa já preparou para você. E com pão de queijo, quase  o  mesmo que você fazia ali na esquina. Vamos conversar, menos um assunto: nada de rabiscos que estou fazendo, nada de centenário que já passou, vamos aos demais assuntos.


Não insisti e ele continuou:


— Você, que é muito novo diante de mim (esta frase ele sempre repete) deve ter boa memória e se lembra de que  naquele dia festivo, recebendo simpatias de todos os quadrantes da nossa região, anunciei que chegarei  aos 200 anos. Quer dizer, vou esperar a data ocorrer, em 17 de junho de 2121. Até lá, portanto...


Depois do delicioso cafezinho, coube-me apenas  aquiescer-me e despedir-me, ou seja, fazer meia volta,  e descer a rampa. Lá atrás ficaram Dr. Colombo e Dona Eny, sorrindo e mandando sinais evidentes de simpatia. Eu, de cara agora lavada, como um Moraes Moreira sem violão, desci  a ladeira até o asfalto. 


Não devo  viver até 2121, até porque o que rabisquei acima representa a narrativa de apenas um sonho ocorrido nesta noite. Mesmo assim, sendo algo que somente Freud explica, acredito que  terei  tetranetos para  exibir este documento comprobatório do dever cumprido.


José Sana

11/02/2022

Foto: Vila de Utopia/Google

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

“A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM”


Sou um cinéfilo. E acrescento: desde os exatos 12 anos de idade. Demorei, não é? Mas foi nessa idade que morei na primeira cidade de minha vida, Guanhães, onde acabei buscando a minha companheira para vivermos juntos eternamente, pelo menos na esperança.

De tanto gostar de cinema, com meus amigos frequentadores do Cine São Miguel, da Rua Dr. Odilon Behrens, centro da cidade (o prédio está lá até hoje), comprávamos revistas, acompanhávamos os cartazes e escolhíamos os filmes, bem como o painel dos melhores atores, dos faroestes aos romances, policiais, desenhos etc. Numa época, por amizade com o porteiro, ele me empurrava para dentro do cinema sem que pagasse um centavo. Gratuidade por merecimento, sei lá.


Inventamos nomes de filmes para zoar os curiosos, os quais perguntavam: “Que filme passa hoje?” Eram diversas as respostas:

— “Poeira em alto mar”.

— “Escada sem degrau”.

— “O amanhã começa ontem”.

— “ A volta dos que não foram”.

Hoje, finalmente, tenho respostas para o primeiro citado, “Poeira em Alto Mar”: estive várias vezes em Tubarão (ES) e vi navios sendo atingidos por ventanias quando já seguiam viagem para outros países. O minério voava como um pássaro sem destino.  E agora vou dar uma rápida explicação sobre o título deste texto, que é o preâmbulo,

Há uns quatro anos criei um site chamado “Notícia Seca”. Simples como o seu objetivo foi sendo levado, com pouquíssimos acessos (audiência), até porque era despretensioso mesmo. Um dia de 2021, janeiro, resolvi aceitar uma proposta de empresa “especializada” em montar sites. Essa organização, cujo nome omito porque a questão está subjudice, propôs tomar todas as providências, inclusive “negociar” com o primeiro responsável, a transmigração de Notícia Seca para outra “hospedagem” (tantos nomes com sentidos diferentes que preciso colocar entre aspas). Daí à montagem de outro sítio, moderno, atual e prometedor. O site entrou no ar em 13 de março de 2021.

N.S. girou pelo mundo até quando começou a receber os primeiros anúncios. Aí... deixa pra lá, não vou estabelecer uma polêmica a esta altura do campeonato. O nosso relacionamento era lírico como uma imagem de jardim cheia de rosas e borboletas. Fechei os olhos e comecei a sonhar. O sonho acabou exatamente em 19 de julho de 2021.

Completa, em 15 de fevereiro, quando volta a ser exibido, 200 dias de exílio, prisão, bloqueamento, detenção. Depois de decisão da Justiça, que entrega ao proprietário o que é dele, lembrando a afirmativa romana “a César o que é de César, tivemos paciência para esperar, mesmo sabendo dos prejuízos que nos era imposto. Finalmente, consegui formar o triângulo que pretende ser mais eficiente: Notícia Seca/DataMG/SuperDados. E não precisará, se Deus quiser, de outro trabalho judicial.

Não vou alongar-me além deste parágrafo. Apenas afirmar que Deus, quando o ser humano tem um objetivo idealístico na vida, abre espaço para a caminhada. Que não nos abandone e abençoe também quem torceu ou torce por ou contra nós e, principalmente, ilumine os que, com certeza, não sabiam que sempre haverá um capítulo em nossa vida que se chama perdão. Está, pois, confirmado o título destas linhas, voltamos sem haver-nos ido, apesar do tempo e valores materiais terem sido perdidos.


Em 09/02/2022

José Sana