domingo, 31 de janeiro de 2021

DEZINHO, MEU PRIMO-IRMÃO QUE SALVOU A PÁTRIA

Tenho mil recordações nossas. Guardo na memória mais que isto, incontáveis instantes de vida feliz em criança, na adolescência, na juventude e para sempre.

 Para tornar o nome dele meu foco de hoje, vou apenas lembrar-me da bênção musical que a ele Deus concedeu e estendeu a praticamente toda a família. Até a seus sobrinhos e sobrinhos-netos o Todo-Poderoso fez chegar o talento que o maestro José Afonso de Vasconcelos chamava de voz da alma, o som melodioso da harmonia plena.

 Vamos ao pequeno conto que jamais sairá de minha memória.

 Hoje é 7 de Setembro de 1990. Meu tio Seraphim Sanna Filho é prefeito de São Sebastião do Rio Preto. O Dia da Independência não pode ser esquecido, jamais, principalmente neste tempo de relevante patriotismo. E o Tio Lilito, chefe do Executivo Municipal, não vacila e quer registrar a brilhante data cívica.

Para o toque da solenidade só há uma velha radiola enferrujada, que arranha disco de vinil de 78 rotações. Levam-na ao alto do coreto na Rua do Rosário para “abrilhantar” a data magna, já que na cidade algo melhor não encontram naquele dia.

 Fincam três bandeiras: do Brasil, de Minas Gerais e do Município para representantes do MEC, do Governo do Estado e da Prefeitura hastearem.

 Distante, a cerca de 50 metros, está o meu personagem, aparentemente pensativo e observando as cenas que se transcorrem como últimos  preparativos para o evento. De repente, esta figura, movida por uma energia indizível, levanta-se, vai à cozinha de sua casa, pega uma faca amolada, desce até fundo do quintal e corta um pedaço de bambu.


Apressadamente retorna, afiando as pontas da taquara, abrindo gretinhas pouco perceptíveis e soprando sons quase inaudíveis. Sente-se pronto, enfia o segredo  por dentro da camisa, sobe  a escadaria e espera o desenrolar dos acontecimentos.

Enquanto isso, a sessão solene comemorativa persiste naquele atraso comum, característico do jeito brasileiro, péssimo em pontualidade. Diria que Dom Pedro I estava ainda enfiando o cabresto, barbicacho, freio, baixeiro, arreio, no cavalo, e ajeitando os pés na espora para ir às margens do Ipiranga e soltar o seu grito histórico de “Independência ou Morte”.

E meu personagem continua aparentemente invisível, vence o inimigo maior, a timidez e até mesmo a humildade, como sempre de cabeça baixa. Ia ser ligada a pequena radiola, uma máquina oxidada, mas nem um mero som arranhado, sai de suas gretas.

Todos em posição de "sentido", alunos da escola idem, professoras também. Ocorreria uma decepção incorrigível, com certeza. Mas, eis que surge a salvação: nosso herói saca a flauta improvisada, como se fosse ela a espada do Imperador, sopra-a com a força da lindíssima melodia de Francisco Manuel da Silva. A pequena multidão, puxada pelas professoras, canta  entusiasticamente a letra de Joaquim Osório Duque Estrada. Na Praça retumba o Hino Nacional Brasileiro, de bambu e apoteótica.

Inesquecível! Sensacional! Corações tremem de felicidade! Este momento precisaria de um registro gravado, guardado, apresentado num dia especial, numa praça de um milhão de pessoas como se fosse exibição de uma orquestra sinfônica.

Este é o meu personagem que faz aniversário neste 31 de janeiro. Para ele, que considero um primo-irmão há mais uma data inesquecível, o Dia da Independência do Brasil, quando fez uma pequena vara de bambu salvar a pátria.

José Cândido Duarte, Dezinho, é um gênio do anonimato, que domina a música com exímia capacidade, toca todos os instrumentos que conhece e os domina, tratando-os como seres de estimação. Ao Dezinho os nossos parabéns, na certeza de que Deus continuará sempre o abençoando e o seu doce sentimento humano tocado a sustenidos e bemóis.

Assino esta crônica simples como testemunha ocular desta passagem maravilhosa, quando só pude bater palmas, e arrepiar-me em posição de “sentido”. Depois não fui cumprimentá-lo porque a emoção não me permitiu: assento-me no meio fio, na porta da ex-venda do João Paulo, e seguro o choro com muita força. Hoje desabo-o com orgulho.

José Sana

31 de janeiro de 2012

PS: Voltei à casa dele para fotografá-lo tocando a flauta de bambu, mas ele preferiu apresentar-me uma outra, de louça, que era um presente guardado com carinho.

domingo, 24 de janeiro de 2021

DELEGAI PODERES OU CONTEMPLAI SEU FIM DE CARREIRA, SENHOR GESTOR!

Amigos e amigas, sou um mísero e obsessivo observador de fatos e manifestações dos seres humanos, obras, máquinas, equipamentos e da natureza. Não me canso de ver que em toda a complexidade inventada pelos habitantes do Planeta Terra, alterando as regras originais, só se encaixou o objetivo cruel de complicar. Somos anarquistas incorrigíveis.

Como administrar qualquer coisa, de curral de bois e cabritos a nações desenvolvidas? Faço esta pergunta de mim para mim. Vejo a resposta na prática. Minha primeira e inarredável ação de olhar resume-se na seguinte ordem desembaraçada: delegação de poderes. O administrador que centraliza as funções de seu comando não passa de um pobre errante e entra para o rol dos culpados pelo fato de estarmos num mundo doido.

Para buscar exemplos, retorno aos meus tempos da velha Companhia Vale do Rio Doce. Levado a conhecer um painel de controle de tráfego de trens da Estrada de Ferro Vitória a Minas, em Tubarão (ES), recebi aulas sublimes de sabedoria. Graças a uma memória razoável que a Deus agradeço, pude gravar lições de dirigir, gerenciar, administrar, governar. Não me perguntem se apliquei as regras porque é outra história.

Na época, não tínhamos uma internet para facilitar o quadro estampado dentro da sala técnica, mas a Vale, sempre à frente, inventara a sua internet particular. Para simplificar: no interior do ambiente e olhando para painéis luminosos, o operador sabia onde estavam trafegando os trens de carga e de passageiros, e os dirigia. Nas cabines e espalhados por todo o trem movimentavam-se  “bonecos” que só tinham a incumbência de receber ordens e cumpri-las imediata e hierarquicamente.

As regras para viver são igualmente copiáveis. Vejamos: os painéis mostram a vida como deve ser e, principalmente, as empresas e o governo como lhes convém agir. Naquele momento, para este pobre observador, não seria a Vale meu foco, mas os seres viventes que contemplavam regras fáceis de serem entendidas. Os operadores de trens, in loco, tinham determinações a cumprir. Conclui para os meus botões e zipers: assim devem caminhar as famílias, as empresas, os governos, a humanidade. Sem medo de errar.

Numa sala sofisticada, mas simplória, são vistos os componentes de viagens que não cessam, como a vida não se detém: Controlador de Tráfego, Maquinista e Auxiliar de Maquinista, Técnico em Manutenção de Sistemas Ferroviários e Manutenção Elétrica de Locomotivas, de Manutenção de Via Permanente, Eletricista de  Manutenção Geral, Ronda de Linha, Operador e Mantenedor de Via. Constituem-se responsáveis por funções e nada devem  explicações e satisfações ao Chefe Geral, embora sejam cobrados pela  liderança imediatamente superior. 

Repito a regra: delegai poderes ou contemplai seu fim de carreira, senhor gestor!

Salvo melhor juízo.

José Sana

Em 24/01/2021

sábado, 23 de janeiro de 2021

O DIA EM QUE UMA VÍRGULA QUASE ME LEVA À PRISÃO

 Amigos e amigas, tenho recebido  algumas, ou muitas,  súplicas de pessoas conscientes, amantes da comunicação. Elas pedem que escreva e insista, ou até mesmo abra uma  campanha referente à importância de falar e escrever corretamente o nosso idioma pátrio. Principalmente, explique o dever de praticar a escrita correta. Alguns alertam: "A continuar como estamos, em breve teremos dialetos confusos que apagarão a nossa história e destruirão até a lembrança de nossos entes queridos". 

 Um amigo enviou-me mensagem assim: “Por que você não deixa de comentar política, ideologias, futebol, polícia e essas bulhufas que estão nos saturando? E passe a contar causos interessantes, reflexões de valor espiritual elevado? Fale, por exemplo, a este povo sobre a nossa Língua Portuguesa, maltratada e ultrajada, uma pobre coitada!” (até rimou).

 A sugestão caiu como uma luva numa recordação que me veio à mente. Acredite quem quiser, mas vai lá o meu pequeno conto gramatical que exigiu duas viagens de táxi em Belo Horizonte por causa e culpa de uma mera e valorosa vírgula. Vou narrar o que aconteceu.


Estou em 1995 na capital mineira, e sou diretor-editor da revista DeFato. Tinha ido levar o material para diagramação, posterior montagem de fotolito e, finalmente, impressão. Cumprida a missão, deixo tudo para incumbência da gráfica. Repeti a rotina durante 20 anos, mensalmente, alternando as façanhas de acordo com a evolução tecnológica.

O trabalho de impressão duraria dois dias. Então, peguei um táxi rumo à estação rodoviária para regresso à terra itabirana e tomada de novas providências, depois só aguardar um telefonema de “tudo pronto, vamos fazer o despacho”. Mas, desta vez, inesperadamente, ao comprar a passagem de volta a Itabira, veio-me uma dúvida atroz: faltou ou não faltou uma vírgula numa determinada frase, página, coluna? — Pensei com os meus botões e as orelhas cheias de pulgas.

Paguei a passagem que já estava pronta, corri ao “orelhão” e liguei para um encarregado da gráfica. Ele não entendeu  o meu pedido e nem localizou  o buraco de uma frase onde deveria enfiar a “danada da vírgula” (expressão dele). Ainda me chateou, falando isto: “Larga essa mixórdia pra lá, o povo nem sabe onde são colocadas as vírgulas!”. Discordei e decidi ir atrás da pequena cratera em que caberia tal sinal gráfico de pontuação no qual o certo seria assim: “Não, prenda o bandido!” E estaria ou não escrito isto: “Não prenda o bandido!” (Palavra de um delegado de polícia que me complicaria). Viram o sentido da pontuação? Pois é. Arrepiei-me dos pés à cabeça. Tive medo até de ser preso (risos).

Sinalizei para um táxi e retornei ao Bairro da Floresta, no endereço da gráfica. A máquina destinada à impressão estava sendo lubrificada para o ato de arremate. Cheguei a tempo e, sob gozações incríveis do pessoal da oficina, e reclamações do gerente, abrimos as páginas. Pedi a um impressor profissional que metesse a vírgula no espaço certo, usando uma caneta especial tipo Nanquim. E estava resolvido o problema que me tiraria o sono, além de ter que suportar chateações de uma meia dúzia de intelectuais atentos e de policiais.

De volta à rodoviária, minha consciência tornou-se leve como uma réstia de algodão. Esperei mais duas horas para um novo horário de ônibus, já que  tinha perdido a passagem. Mas quando me assentei na poltrona número 25, na “cozinha”, como dizem por aí, deu para puxar um sono de paz. Pensei comigo: “Sou apenas um zé-ninguém, mas pelo menos tento respeitar o nosso idioma”.

Este amor arraigado vem dos tempos de criança, orientação de minhas primeiras professoras. Elas me ensinaram a amar a Língua Portuguesa desta forma: “... na alegria, na tristeza, todos os dias de nossa vida” como diz o padre em cerimônia de enlace matrimonial.

José Sana

Em 23/01/2021

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

“TENHO VERGONHA DE SER UM SER HUMANO!”

Está aí, no título, a mensagem que recebi de um amigo um tanto quanto calado, introspectivo, cheio de mistérios, extremamente reservado. Ele fez uma interligação do irregular verbo ser, que significa existir, no caso com o substantivo ser humano, mesmo sem conhecer a gramática portuguesa e autodenominar-se analfabeto total.

 Os porquês vieram de explicações pela sua inarredável desilusão. Disse-me que mandaria sua filha contatar-me e revelaria seus motivos cruciais. Ela o atendeu e, mais tarde, identificou-se  como Maria para retransmitir o pensamento do pai. Anotei:

 “Sei que há milhões, ou bilhões de anos, o homem labuta na face da terra para sobreviver. A partir desta consciência, esse selvagem, no início, decidiu que lhe era imposto enfrentar o semelhante também saído de uma toca.

 Fiquei mais curioso e decidi fazer-lhe perguntas. Maria, escolada, continuou a responder pelo pai, que mandou explicações de sua cabeça, sempre demonstrando senso de observação sensata e aguçada, lógica, coerente.

 “Passamos por várias fases — continuou a filha de meu amigo — e sempre guerreando, preparando armas cada vez mais sofisticadas e mortíferas, até chegarmos ao inadmissível instante maléfico do Coronavírus, essa pandemia que nos assola. Antes, como exemplo para o mundo, testemunhamos, via rádio e jornais, o ataque final da Segunda Guerra, quando os Estados Unidos atiraram bombas mortíferas sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão, inacreditável demonstração de selvageria acima do normal".

 “A ideia de debater, ser contra, combater, armar-se, estar afiado, pronto para o ataque, discordar, ter um lado radical para nele se postar, ser radicalmente contra tudo, sempre foi característica do habitante do Planeta Terra”, completou Maria, acho que Do Bom Senso.

 E eu, que estava assentado, lendo e ouvindo a intérprete de meu amigo X, que me pediu para não citá-lo em crônica, deitei-me, estarrecido e aturdido com a singeleza e sábias palavras, ditas com propriedade por um reconhecido analfabeto. Queixo caído, continuei deitado, contemplando o teto. Ele havia me confessado que no fim da Segunda Guerra Mundial tinha lá seus 12 anos, por aí, e sabia das notícias pelos avós e pais. Achava os responsáveis pelo conflito, Adolf Hitler e Benito Mussolini, cruéis e irresponsáveis, mas pensava consigo mesmo: “Será que não topariam fazer uma mesa redonda e resolver tudo na paz já que Nazismo e Fascismo eram para eles desejo de implantar um império mundial?”

 Reforçou histórica e filosoficamente: “O homem criou, inventou, desenvolveu, resolveu problemas inacreditáveis, mas tudo materialmente. E, fisicamente, chegou a uma situação que não lhe permite ter a coragem de encarar a verdade nua e crua: retrocedeu mil anos por 365 dias durante longas jornadas. Evitou guerras? Não, só as cancelou temporariamente e continuou armado. Buscou a paz? Não, somente por uns tempos, mas sempre pensando em lutas, terror, conflitos, revoluções, golpes, tocaias, ataques, covardias, destruição”.

 Maria vai finalizar, peço ao amigo que ela interpreta um fechamento de seu desabafo e ela me atendeu por ele: “O que fez de bom esse habitante do mundo? Nada no sentido objetivo da expressão. Praticou calculadamente o verbo dividir em tudo, separando patrão de empregado, homem de mulher, pais de filhos, criou ideologias torpes e insignificantes, discordou e discorda  sempre de quase tudo, nunca percebe o quanto erra e suicida-se ininterruptamente, de tempo em tempo”.

 “Agora este homem estarrece o mundo e chega ao cume da ignorância: enfrentamos  uma pandemia de quase um ano de ataque à humanidade, o Coronavírus ou Covid-19 e, devido ao ignominioso costume de ser dono de  opinião dita própria (e não é nada disso!), não tem sequer humildade para conversar, debater, ceder, compreender, reconhecer sua fraqueza e recolher-se à  sua insignificância devida ou desfaçatez cruel”. E só.

 Conclusão: agradeci a voz da experiência sem graduação, pós-graduação, mestrado, doutorado, PHD, e pedi perdão por mim e pelos desagradáveis negativistas de ambos os sexos ou de vários lados que vivem por aí pecando como idiotas perdidos.

 E meu amigo X ainda comparou-nos a pelo menos três burros que puxam uma carroça para três direções distintas. Não saem do lugar, não cedem mas arrastam as rédeas cada um para o seu devido ou indevido rumo. 

Somos esses animais irracionais atrelados?

 José Sana

19/01/2021

domingo, 17 de janeiro de 2021

PARA RELAXAR: CONTO ELEITORAL DE SANTA BÁRBARA

Em Santa Bárbara, numa seção eleitoral que funcionava no prédio da Prefeitura, aconteceu este caso curioso e engraçado. Disputava a Presidência da República o Marechal Teixeira Lott, muito querido na cidade, com Jânio Quadros, que acabou vencendo. Era 3 de outubro de 1960.

 A fila de eleitores de toda a cidade e de todas as tendências virava o Hotel Quadrado e chegava à Casa Grande, onde nasceu o ex-presidente Afonso Pena. Os cidadãos aguardavam a chegada dos oficiais da Justiça Eleitoral.

 Às oito horas, iniciaram-se as chamadas nominais do eleitor para votação, que transcorria tranquila e com certa agilidade. Votaram os  Osvaldos, Orlandos, Ormicínios, Odilons, Paulos, Pedros, Pastores e Queiroz Sabino de Albuquerque que, imediatamente, sapecou na urna o voto para o Marechal Lott. Em seguida, a mocinha da mesa chamou o nome:


— Quinhento Reis de Bosta.

Nada do cidadão aparecer. E de novo, outra chamada:

   Quinhento Reis de Bosta.

E nada desse tal de Quinhento.

 Na fila, um velhinho de aproximadamente 80 anos, ansioso, aguardava a vez, e seu nome não era mencionado pela mocinha.

 No fim da tarde, quando todos já haviam votado, faltava apenas o velhinho ansioso, esperando, e a mesária chamou pela última vez:

— Quinento Reis de Bosta.

 Não houve resposta e ela se dirigiu ao velhinho, sozinho, mofando desde cedo, e indagou o seu nome. O idoso, feliz com a atenção de que era alvo, respondeu ligeiro:

— Meu nome é Quintiliano Reis de Bastos.

 Assim terminou mais um dia de votação em Santa Bárbara, que continua sempre com muitas estórias e histórias para contar.

 (Texto de Tião Crispim,  publicado no livro Ser Vereador, de José Sana, página 58, Editora Lastro, BH, 1999. Obs: a foto não é de 1960).

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

RESISTÊNCIA ITABIRANA (II): a Vale chegou. E agora, a Vale vai?

Era 1º de junho de 1942, Getúlio Vargas assinava o decreto-lei de criação da Companhia Vale do Rio Doce, depois de encampar as reservas de ferro até então em poder da Itabira Ore Company, desde 1911. O entusiasmo pela atividade começara, como se mostrou em Resistência Itabirana I, no anúncio, feito na Suécia, no ano anterior, a respeito do gigantismo do Cauê, o maior pico do mundo.

A vinda da Vale, viria tapar um vácuo no termo exaustão. Itabira tinha vivido o primeiro ciclo de mineração, do ouro, que trouxera o desânimo a muita gente, a exemplo de outras cidades mineiras, como Ouro Preto, Mariana, Caeté, Diamantina e Serro.



Francisco de Almeida, ou Chiquinho Alfaiate (1915-2015), tornou-se  uma fonte viva para narrar os primeiros passos da Vale em Itabira. Ele contou que, após o decreto de Getúlio Vargas, chegaram logo caminhões de alta potência a Itabira e, na hora do almoço, fizeram a festa de curiosidade e esperança do itabirano pelas ruas da cidade. 

Fernando José Gonçalves deixou, em sua autobiografia (2012), a seguinte frase: “No princípio, a Vale não tinha crédito. Dr. Pedro Guerra, engenheiro e dono de grande fortuna, foi quem socorreu a empresa, emprestando-lhe valores para sobreviver”. E conta ainda que nas casas comerciais de Itabira era comum encontrar-se o chamado de atenção em aviso afixado nas prateleiras: “Vale? Nesta Companhia não se fia!”

Hoje se foca mais em competitividade global. A mineradora foi transformada  numa das maiores empresas do mundo. Trilhou um caminho tortuoso, venceu obstáculos, agigantou-se para, depois de produzir riquezas imensas ao Brasil, preparar-se para deixar de vez o Sistema Sul. O anúncio de que vai embora para o Norte do país partiu do então presidente, Fabio Schvartsman, em 13 de março de 2018, depois confirmado por seguidas manifesta-ções de diretores e gerentes.

De novo, a volta ao principal objetivo da Resistência Itabirana, cabe uma pergunta: vamos continuar de braços cruzados? A comunidade de Itabira e regional não podem perder mais tempo. Ou deve continuar à margem dos acontecimentos? Ela precisa aproximar-se do poder público e exigir que caminhemos juntos, a passos seguros, num rumo determinado e inarredável para garantir a vida de nossos descendentes. A todo custo.  Existem sendas que podem ser bem traçadas e trilhadas para se alcançar um destino auspicioso.

José Sana

Em 15/01/2021

Foto: Roneijober Andrade



quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

RESISTÊNCIA ITABIRANA (I): ou tudo ou nada!

Vivemos os anos 1939-1945. Eclode na Europa a Segunda Guerra Mundial. A luta que se trava é dos Aliados contra os do Eixo. Esses, comandados por Adolf Hitler e Benito Mussolini, têm o objetivo de implantar o Nazismo e o Fascismo no mundo. Os Aliados lutam para defender a continuidade da paz mundial. Segundo estatísticas, morreram mais de 60 milhões de seres humanos no conflito.

 Do outro lado das guerras, o Brasil  hoje vive um ambiente parecido com o conflito mundial, e ninguém sabe em que tópico está o cronograma da pandemia atribuída a um vírus a quem chamam Covid-19. Batendo o passado com o presente, conclui-se que em ambas as lutas, comparando-se as épocas — décadas de 1930/1945 versus anos 2020 —  registra-se a mesma questão da vida apreensiva, amedrontada pela iminência do caos. Morreram até agora, janeiro de 2021, quase 2 milhões de pessoas acometidas pelo mal do desconhecido.

 Enquanto a mineração aponta, em 1942,  para um futuro promissor, hoje ela deixa intranquila Itabira, porque está sendo minguada também pela pressa das necessidades econômicas, tanto da empresa quanto dos cofres públicos.

Anos 1940: extração de hematita no tempo da picareta 

O Cauê, revelado para o mundo no XI Congresso Geológico Internacional, realizado na Suécia, em 1910, como o maior ponto concentrador de riquezas de minério de ferro de alto teor no mundo, hoje tornou-se um imenso buraco. No seu entorno, minas secundárias, resistíveis ainda às custas da tecnologia transformativa, sustentam ainda a terra então promitente mas muito pouco aproveitada.

 Naquele velho tempo de nascença, a  Companhia Vale do Rio Doce instala-se em Itabira com arrancada auspiciosa. Às custas dos itabiranos, de suas riquezas e da alavancada do conflito mundial, amedrontador, terminado em 1945 (o fornecimento de minério de ferro aos Estados Unidos deu forças ao nascimento da CVRD) , a empresa transformou-se numa potência internacional.

 Da época em que “cada um de nós tinha um pedaço no Pico do Cauê” (Drummond, 1930) até a vida real, com a cava no lugar do cimo, o tempo de governar, consumido pela longa dormida no ponto, pode continuar impedindo que se trave, sem entraves, a busca pelo futuro. As sub-riquezas do pico ao redor agora têm data para fechar as portas: qualquer mês de 2028, segundo a própria mineradora.

 Diz a voz dos competentes: “Acordai, itabiranos, e não mais façais  como nos velhos tempos em que vós próprios, moradores da vila, vendestes as minas aos ingleses por migalhas de réis. Resistência agora é tudo ou nada. Cauê é cava. Não sejais vala!”

 José Sana

14/01/2021

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Reprisando a criação do mundo: lições para os governantes de nosso tempo

O mundo deu errado. Todos sabem disso. Até o vira-latas da esquina que passa fome por falta de controle de seus donos. A maioria dos seres ditos racionais  fica calada mas já sabe da verdade. O que houve, afinal? Não precisa ser inteligente, nada de intelectual, graduado, pós-graduado, detentor de títulos de mestrado, doutorado, PHD para chegar-se a esta conclusão. O resultado está estampado no mundo não mais dividido, mas retalhado, esmigalhado. 

É claro que vieram os equilibrados e tentaram dar um basta, consertar um pouco. Serviram, sim, para chamar a atenção, mostrar que ocorreram desvios. Talvez, se não tivessem vindo estivéssemos em situação ainda pior.  Contudo, não vamos citar nomes, nem declinar a vida dos bons  para que cada um os venere.  A hora é determinada a estabelecer a ótica do pisar  no chão, não existe outra cautela mais adequada. Isto para que não me acusem de  utilizar simbolismos e outras suposições pouco aceitáveis no reino animal.

Vamos simplesmente retroceder à criação da forma que a entendemos. Não importa se começamos por  Adão e Eva, pautando o Velho Testamento, ou o Big-Bang, teoria bem aceita pela ciência, ou outras suposições pouco aprofundadas. Ou se seguimos a Seleção Natural de Charles Darwin.  Importa que houve começo (ou seria sequência?) e que continuam ocorrendo transformações. Vamos considerar esta afirmativa como lei: o mundo é de transformações e ponto.

Comecemos por um início qualquer, mais próximo da civilização, e vamos evitar engendrar nossa imaginação na divisão do tempo em idades, como fizeram, para facilitar o estudo e melhorar o entendimento na época, historiadores do século XIX: dividiram a História em Antiga, ou Antiguidade, Medieval, Moderna e Contemporânea. Agora é contemplar, na visão dos analistas atuais o princípio e  a sequência de tudo.

A partir do  Homem de Neandertal, espécie extinta do gênero Homo, estudada por historiadores e antropólogos, cuja existência está ligada à evolução do homem moderno, podemos vislumbrar acontecimentos à luz da razão. A existência comprovada desses e de outras buscas feitas por estudiosos  por meio de fósseis encontrados na Europa e na Ásia, datam esse como o período Pleistoceno (cerca de 2 milhões e 500 mil a 12 mil anos atrás). Aí podemos imaginar a raça caminhando pela face do planeta à procura de sobrevivência. Sua sustentabilidade pode ser analisada à luz de Arthur Schopenhauer (Alemanha, séculos XVIII e XIX) em “O mundo como vontade e representação” (1819).

Muito antes, observando períodos pré-históricos, percebemos o que houve de errado no decorrer do tempo e vamos resumir  esta conclusão numa frase: o ser humano desligou-se de seu estado natural. Diria o seguinte: saiu quebrando a cabeça pelo mundo afora, sem ter segurança absolutamente alguma do que era certo ou errado, pior que tudo ocorreu a partir do primeiro erro. A prova de que esta afirmativa é correta está em praticamente todas as nossas ações de hoje que, mesmo com a ajuda valiosa da ciência, permanece o ser vivente sempre tomando o rumo da incerteza, e apreciando, por vaidade ou dever de mostrar conhecimento e autoridade, sua mania de inventar, insistentemente inventar, assentado no trono insustentável de falsas convicções.

Regido pelas leis de cada parte do globo terrestre, o habitante do mundo seguiu e segue passos inseguros, guiando-se por determinados costumes e sentimentos, que construíram culturas diferentes, sempre desiguais. São manias errantes as praticadas no decorrer de milhões de anos, cujos resultados de ações costumavam parecer o contrário mas, na verdade, nada disso são.

Religiões diferentes, cultos sem fundamento algum, pensamentos desiguais, ideologias toscas —  inventaram tantas balbúrdias que resultaram nisto: formaram-se pirâmides desestruturadas e tais montagens gigantes mostram o ser vivente balançando  na ponta de cima, para aonde seguem e convergem todas as deduções e conclusões, que se debatem em guerras de “blá-blá-blás”. E balançam, e deixam o pânico gerar porque podem ruir a qualquer momento pelo motivo claro: falta de estrutura. Para anunciar esses desarranjos sempre existiram os verdadeiros e os falsos profetas, além dos anunciadores do terror. Mas há também analistas neutros, que seguem a estrada do equilíbrio.

A questão em foco é, pois, o desvio de normas legalmente naturais da Natureza. Ora, o homem, os animais, as plantas, o conjunto, o meio ambiente em si, representam algo que deve sempre estar equitativamente em harmonia por envolverem todas as coisas com vida e aparentemente sem vida existentes na Terra. Tudo afeta os outros ecossistemas existentes, incluindo os seres animais, internos e externos. A liberdade, por exemplo, é uma dádiva da Natureza ao homem, sina qua non, em forma de livre-arbítrio, que não pode ser confiscada de maneira alguma. Que os tendenciosos à prática da ditadura  acordem de seus sonhos de caminhar para regimes de exceção.

Agora, a pergunta que surge imediatamente dos curiosos: o que fazer a esta altura do campeonato para corrigir esta rota estupidamente errante? Resposta: para quem está sossegado ou inquieto no seu ninho, apenas a expectativa e o dever de dar um estrondoso grito de “mundo, por favor, pare!” Para os que detêm a autoridade, a receita é, primeiramente, procurar saber o que é a Natureza, e a partir daí tratá-la como ela merece. O natural tem suas leis indestrutíveis e incontestáveis. O ser humano as conhece, basta estabelecer um ponto de observação ponderável e fiel. E logo parar de inventar pensamentos políticos, ideológicos, fanaticamente religiosos, ou de imposição do poder do forte sobre os demais.

Existe uma receita estabelecida num dicionário que comecei a organizar em 1986, há, portanto, 35 anos. Contudo, cheguei à conclusão, depois de tanto trabalho, de que  todos devem criar  o seu compêndio particular. Este particular torna-se, automaticamente, coletivo — eis aí se escancara a maior prova de termos encontrado a verdade. Qualquer pessoa, analfabeta ou graduada, faz a sua lista de leis naturais de acordo com a visão de seu mundo. Depois, quem assim o desejar, constatará que o Dicionário de Leis Naturais aparece como apenas um, único, intocável, iguais para todos. Todo mundo faz a mesma coisa até aonde deseja ir. Impressionante esta conclusão. Vamos ver isto ainda, com provas irrefutáveis.

 José Sana

13/01/2021

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

EU VOS REAPRESENTO: PLANO FUNIL, UM NOVO MODELO POLÍTICO EFICIENTE

 Não desisto. Quanto mais vivo; quanto mais observo milhões de pessoas com problemas os mais complicados; quanto mais vejo as comunidades aflitas e desamparadas; quanto mais a miséria cresce em todas as partes; quanto mais sinto a vida tornando-se difícil para todos; quanto mais testemunho os governantes distanciando-se do povo; quanto mais contemplo as dificuldades desses governantes em serem justos, em acertarem nas medidas e até mesmo em ligarem a complexa máquina administrativa — mais me convenço do seguinte: não há outro caminho senão mudar o modelo político-administrativo até agora  adotado por praticamente todas as cidades brasileiras, talvez do mundo. 

Mas quem sou eu para mudar o mundo? Deixo aí a minha humildade pedir desculpas a quem interpretar mal as minhas palavras.





Passados 44 anos em que desenvolvemos, em Itabira, ao lado de muitos outros idealistas de verdade, de 1977 a 1982, o denominado pela comunidade itabirana de Plano Funil, proposta, anterior ao Orçamento Participativo do PT, de 1989, a experiência tira-me o sono toda noite.

Está muito repetitivo dar  murros em pontas de faca e adiar cansativamente para o futuro soluções que podem ser eficazes e perfeitamente aplicáveis agora. Nada de milagres, sou obsessivo nesta citação até tornar-me enjoado, lamento tal procedimento, mas para mim não há mais o que fazer. O óbvio se escancara aos nossos olhos e, na dúvida de ser atual a proposta, deixo mais uma garantia da ideia: o Plano Funil era avançadíssimo na data de sua criação e implantação. Até hoje o é, posso garantir, mas por que deixá-lo para depois se o caldo está entornando em todas as partes?

Tenho dezenas, talvez centenas de cidadãos que participaram da experiência do Funil e ainda assinam uma descrição detalhada do que se realizou, mesmo apenas com a gerência da Câmara Municipal, enquanto a Prefeitura permanecia apenas na arquibancada, infelizmente. A partir do I Encontro Municipal de Associações de Amigos de Bairros, realizada em 1976, que tive a honra de coordenar quando era presidente o saudoso vereador José Braz Torres Lage, surgiu a semente do projeto. A aplicação, contudo, ocorreu no ano seguinte, com apoio irrestrito de 14 vereadores, incluindo o então presidente, vereador José Vital da Silva.

O Plano Funil é um modelo que propõe organizar a sociedade e torná-la atuante, comprometida e responsável. A proposta clara em seu organograma não envolve somente entidades comunitárias. Estava  no contexto a participação de clubes de serviço, organizações filantrópicas e representativas de classes, todos os que se traduziam o correto termo no ápice de sua expressão: coletividade. Repito: sem milagre. Milagre é prodígio, assombro, espanto, surpresa, coisa do além. Pés no chão, mas, principalmente, renúncia de vaidades e abuso de poder.

Não há outro método para tornar o povo participativo, acredito neste meu vasto tempo de 48 anos de militância política, jornalística e de trabalho acadêmico e experiência em salas de aula. Governante algum seria capaz de falar  com dez mil, vinte mil ou cento e vinte mil pessoas, e ouvi-las simultaneamente, nem num município de um mil e poucos moradores. Mas o projeto cabe perfeitamente em cada um dos 5.570  municípios brasileiros, em todos, sem exceção. Acredito e ponto.

O Funil, em que cada cidadão deixa registrada sua opinião, ou reivindicações, ou o que o torna fantástico, compreensão, contatos feitos sempre em reuniões, agora também incluindo os recursos da internet, trata a responsabilidade social também de empresas e organizações até chegar a vez, na mesma medida, de renegados ou excluídos. O modelo de democracia criada no mundo a partir da Grécia na Antiguidade  tornou-se liberdade representativa à medida que as populações cresceram. Mas cresceram tanto que se dispersaram e perderam a força por tal motivo. A representatividade  agora é uma honrosa participação, inteligente caso o representado se faça ouvir e se impor.

Quem manda no poder, hoje? Somente aqueles que investiram em campanhas políticas as suas forças — finanças, prestígio social, currículos avançados e outras influências — para a  eleição de um líder. O poder comunitário precisa entrar em campo também, ele substitui a agravante pressão da politicagem e até evita a corrupção, e é o melhor assessor dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

Nada de solução utópica ocorre em lugar algum, agora é um modelo novo.  A partir do Plano Funil criam-se  ações e soluções. Unirem-se as pessoas, tirá-las da morosidade, acordar o povo. É o que se tem a fazer.

E aproximar governantes de governados.

Salvo melhor juízo.

José Sana

Itabira, 11-01-2021

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

TREM DE PASSAGEIROS DA E.F.V.M., PARAI, POR FAVOR, NO CARNAVAL!

Gente, parece um absurdo o que vou lhes revelar agora, porque em matéria de saúde pública, e de muitas outras especialidades, não tenho formação técnica e profissional alguma. Sou simplesmente curioso e com os seguintes diplomas: PHD em responsabilidade e senso de espírito público vivo, atuante e de coragem para dizer e fazer o que me parece correto.

Pedida a devida vênia, adianto que vou intrometer-me numa questão em que me apresento funcionalmente descredenciado. E vou logo soltando os cachorros: antes do Natal e das festas de fim de ano, publiquei nas redes sociais que estávamos correndo o risco de mandar cidadãos de nossas terras buscar  problemas de saúde no Espírito Santo.

E, pelo menos para este pobre escriba, analfabeto mesmo em saúde pública, está tudo claro nas estatísticas divulgadas pelos órgãos credenciados. O boletim epidemiológico de hoje (8 de janeiro) registra uma realidade recorde: 7.218 pessoas testaram positivo para Covid-19 nas últimas 24 horas, em Minas Gerais. Obtive também informações sobre os números no Espírito Santo, garantindo que lá, também, houve crescimento significativo, embora sem repercussão em providências dos setores públicos competentes.

                                        Praia Capixaba no Réveillion (Foto A Gazeta (ES)

O trem de passageiros pertencente à Vale, explorado por terceiros, desembarca, por dia, milhares de cidadãos em várias cidades de Minas Gerais: Belo Horizonte, Barão de Cocais, Santa Bárbara, Nova Era, Itabira, João Monlevade, Rio Piracicaba, Timóteo, Coronel Fabriciano, Ipatinga, Ibapa, Belo Oriente, Periquito, Tumiritinga, Governador Valadares, Conselheiro Pena, Resplendor e Aimorés  são cidades com estações ferroviárias nas suas áreas. Então, parece provado que a maioria dos casos de infectados e detectados pelos testes são originários do litoral do Espírito Santo.

Se as autoridades mineiras fossem mais atentas, ignorante sou eu que percebi, teriam monitorado o desembarque de passageiros que cumprem o direito constitucional de ir e vir, mas o fariam no sentido educativo. Ou um pouco mais que educativo: alertariam aos que, embora usem máscaras que tapam a boca e o nariz, não vedam os olhos fechados  para o perigo rondando à sua frente.

Agora outro desafio, reforçado pelos recordes negativos atuais. O Carnaval vem aí. Já sabemos que ele foi cancelado para fevereiro em várias cidades. Dizem, contudo, alguns donos de pousadas de diferentes cidades do litoral capixaba, que já têm reservas para mineiros, de 13 a 17 de fevereiro, exatamente nas festas carnavalescas previstas pelo calendário. Cada viajante, também em carros particulares ou em ônibus de carreira, na maioria dos casos, diz que estará procurando descanso. Só esquece  que  vai  aglomerar-se. E fazer como nas festas de fim de ano: vão buscar o Coronavírus ainda mais carregando o fenômeno da transmutação.

Sou contra o profeta do terrorismo, mas sou a favor do cidadão cauteloso porque morrer na véspera somente o peru e não você que me lê e eu que publico estas linhas. Então, pergunto a quem pode fazer algum bem ao ser humano: alguém não poderia avisar às autoridades do percurso e, especificamente à direção do comando do trem de passageiros da EFVM, que o perigo será maior agora no Carnaval? 

Sabem por quê? Claríssimo para se ver: sem a festa carnavalesca em terra firme, os cegos de olhos abertos se refugiam em locais de aglomeração. Alguém viu as fotos das praias capixabas, cariocas, baianas, de todo o Nordeste, e até do litoral paulista publicadas com fartura nos últimos dias? Minas Gerais deu show de ignorância e irresponsabilidade.

Agora, minha súplica se volta para os exploradores do Trem de Passageiros Belo Horizonte-Itabira-Vitória: parai suas rodas, por favor, neste destruidor Carnaval que vem aí. Quem sabe esta atitude  não chamaria a atenção de cidadãos  que estão de vistas e entendimentos obstruídos?

José Sana

08/01/2021

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

HUMOR SÉRIO E SEM GRAÇA NENHUMA: CABRITO LISTA “RABOS DE FOGUETE” DE CABRITOLÂNDIA

Tivemos acesso ao relatório apresentado pelo Cabrito Macho já no terceiro dia de trabalho governamental. O dito cujo apresentou a um grupo de intelectuais a sua primeira lista de ações a enfrentar em primeira atividade.


Rabo número  1. Iratube – Empresa  deve 49 mil capinzais e carrega  vários moedores de braquiária contratados nas costas. Oito centenas de bodes recebendo capim sem nada fazer.

Rabo número 2. Sai-e-não-Sai – Três mil pedidos de ligação para estocar água para a cabritada na autabritorquia.

Rabo número 3. Estação de Esgoto do Tratamento (EET) – 80% de tratamento desligado, polui a fonte de água de mais de 800 mil outros cabritos desvairados até o Estado vizinho.

Rabo número 4. Cinco mil bodes aguardando ordem de serviço e comendo 70% do capim disponível. Até quando?

Rabo número 5. Pressão da manada que trabalhou para eleger bode e chefe expiatório ou não.

Rabo número 6. Vigiar a turma que quer comer braquiária às escondidas e trama contra a direção central. Eis aí a maior empreitada do ano. Fogo amigo dentro da mesma manada.

Rabo número  7. Radiolândia, Jornalândia, Sitiolândia e Fofocolândia de Cabritolândia aguardando ser chamada para comer o resto do capim que sobrar e ainda não listados: são mais de 1.200 de boca arreganhada que não sobrevive sem ajuda oficial.

Rabo número 8. Desembuchar máquina entalada, nomear Conselhos para áreas diversas e tirar da boca dos que mamam as tetas oficiais e indevidamente chupadas na terra dos cabritos machos e entregadores de rapadura.

Rabo número 9. Coronavírus não ataca somente humanos, mas a raça caprina também. Morreram até agora 29 bodes  e 20 cabras atingidos pelo vírus.

Rabo número 10. Barragens de pragas contra o povo cercam a cidade de Cabritolândia. Placas de “Ou corra ou morra” espalhadas nas ruas da principal cidade do domínio caprino.

Rabo número 11. Atrair fabricantes de braquiária e outras atividades depois que arrumar a casa.

Rabo número 12. Pagar a barra do Bodão velho, que tomou dinheiro emprestado até dos terrorisdas  Abu Sayyaf, Ajnad Misr, Al-Jaysh al-Sha’bi. Al-Qaeda, Al-Qaeda no Magrebe Islâmico, Ansar al-Islam, Ansar al-Sharia (Iêmen).

Rabo número 13. Auditar ou não auditar os currais, pastos e sistemas de criatórios de dívidas municipais de Cabritolândia.

Rabo número 14. De como será composta a receita de Cabritolândia no ano 2029?

 Rabo número 15. Tirar as subidas de Cabritolândia, deixar as descidas e construir uma planície depois das montanhas assoreadas por braquiárias com pragas.

 Rabo número 16. Berrar no ouvido da empresa maior, a antiga  DRVD e exigir lugar no campo de salvamento caprino.

 Rabo número 17. Terminar serviços mal começados de grandes pastos chamados também de pico, cume, cimo. bico, ponta, aguilhão, espinho, ferrão, pua. Ou melhor dizendo, tudo isso a cabritada levou.

Rabo número 18. Conter berros e grunhidos da manada desvairada que pede, suplica, aguarda e não pode esperar. Secretários conseguem conter? Ajude aí o cabrito que não depende de mamadeira oficial e pública...

Rabo número 19. Atender a todos os pedidos de cobrança por votos e conter os arruinadores dos pastos, cabritos da própria manada, e colocar em paz, mesmo que comprando abafadores auriculares de alta potência adaptável aos ouvidos caprinos. Ajustar salários em capim dos conhecidos funcionários municipais que ganham menos até que um molho de braquiária mínima, absurdo terrível.

Rabo número 20. Pegar todos esses 19 itens, assentar-se com cabritos de maior entendimento e instalarem-se todos em fundo de currais e estabelecer prioridades, fazer uma tábua dos 20 mandamentos e executar, sabendo que os intelectuais têm o domínio da teoria e os analfabetos da prática. Encontrar os cabritos pensantes e executores – eis aí o maior desafio.

 ASSINADO: CABRITO MALUCO NÚMERO 0.

NOTA: Qualquer semelhança com a realidade é puríssima coincidência.


terça-feira, 5 de janeiro de 2021

UM EX-JORNALISTA P... DA VIDA COM O JORNALISMO

Atravesso a avenida e, mesmo de máscara, um cidadão me reconhece e me grita espalhafatosamente. Começo a me zangar interiormente com tal figura, por um chamado assim descarado, leiloando publicamente minha identidade. Mais ainda por desfiar meu nome próprio,  de cartório e pia batismal, aos quatro cantos. Sou obrigado a parar e a ouvir as suas ofensas a uma instituição chamada jornalismo, à qual me dediquei por um bom tempo na vida.

 Ele esbraveja: “Inventaram os sites de informações que desinformam. Um diz que o Coronavírus mata, outro que é uma 'gripezinha'; um anuncia a vacina e algum afirma que ela não imuniza; um fala em transmutação de vírus e seu oponente denuncia que é fake news. Nunca pensei que o jornalismo fosse chegar a este patamar de avacalhar a nossa vida".

 "O mais sério — continua — é que as informações quase sempre são incompletas e delas dependemos para viver. Nós, leitores, tomamos nosso tempo, somos engolidos pela publicidade também, e não temos  respostas competentes para dirimir as dúvidas. Dizem sempre que morreram tantos e a maioria omite nomes, como se morrer de Covid-19 fosse proibido”.

 — Só isso? — chega a minha vez de urrar — assino tudo o que você acaba de dizer, e  afirmo que não sou atingido por estas ofensas — Desafogo-me do interlocutor com estas palavras de alívio, proclamando-me seu seguidor incondicional. Palmas sapeco no ar.

Contudo, ele ainda desfere mais um tiro de canhão: “Por que você não escreve mostrando esta balbúrdia que está vigorando por aí? Tome vergonha na cara e escreva, cara!”


E ainda arremata: “Você é também responsável por isso! Precisa assumir e fazer alguma coisa. Cadê o seu blog  Zé do Burro? Ou você é o Burro do Zé?"

 Agora não entendo mesmo, já que sou um ex-jornalista, que escreve por puro hobby. No entanto, como ele já está me liberando, aproveito para zarpar, até porque sua máscara mostra-se muito usada e atravessa a periferia do rosto, geometricamente dilatado, deixando a ponta do nariz de fora e a boca meio torta.

 O sujeito, de observação escondida numa cara inescrutável, atrai-me a seu mundo de revolta com os meios de comunicação abundantes neste país. As informações que arrebentam as vistas e atingem os tímpanos são as mais incompletas possíveis. Qualquer leigo percebe se essa ou aquela mídia pratica tal e qual  religião; a emissora imaginada é socialista, outra de grupo capitalista, mais uma comunista; essa torce pro Flamengo, aquela é Galo  — quer dizer que nenhuma serve como fonte segura de informações.

 O interceptador na avenida não sabe que sou do tempo em que numa redação de jornal era proibido entrar adjetivos. O tempo passou e hoje qualquer notinha de socialite, um mero rodapé de página, toda reportagem policial, política ou econômica, qualquer uma começa e termina com qualificativos dos mais ousados, de ambas as pontas radicais e nem são cercados de aspas. Manchetes de grandes jornais definem o personagem como bandido, criminoso, ladrão, só falta sentenciar quantos anos ele irá mofar na cadeia. Falta de respeito com a justiça e com o jornalismo sério.

 E quem acaba tirando proveito da abordagem inesperada sou eu. Que apareça um nova leva de jornalistas, uma vanguarda profissional de informações sem rabo atado, que tenha como princípio uma linha sem compromissos, sozinha, separada, independente, imparcial, natural da fonte.

 Aproveito para  transformar esta paupérrima crônica — já que é pobre —  numa mixa publicidade de venda, ou troca por um burro de carga, ou por preço de banana, de sítio simples mas sério. Nome dele: www.noticiaseca.com.br. Estou às  ordens de quem desejar assumir esta secura.

 Precisamos, urgentemente, ver, ler, ouvir e apalpar notícias secas em toda a sua extensão. Ou, pelo contrário, proclamar um cale-se para sempre, que poupe a nossa ignorância destemida.

 José Sana

          05/01/2021