quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Deus, meu Deus, olhai para a nossa Brejaúba!


Meus amigos, vou lhes apresentar o distrito de Brejaúba, situado às margens da MGC-120, vizinho de Ferros, São Sebastião do Rio Preto e Santo Antônio do Rio Abaixo, a 60 quilômetros de Conceição do Mato Dentro, a sede do município e a 70 de Itabira. No passado, era um lugarzinho de muitas festas, moças bonitas aos montes (hoje tem também, mas no tempo distante havia abundância), pacato, apesar de uns tiroteios de vez em quando e acolhedor (também permanece  essa virtude). Eram mais de três mil habitantes, hoje não passam de 800 os moradores, incluindo a zona rural; votavam duas mil pessoas, reduzidas a 200 na atualidade.

Não tinha luz elétrica, telefone, sky, água encanada. Mas contava com gente famosa, da estirpe de um Luiz Campos, José Faria, Nonô, Bastião Neneca, Expedito Coelho, José e Antônio Morais, Família Otoni e tantos outros.  Hoje o lugarzinho é asfaltado, pros cocos mas é, não tem campo de futebol, que foi traga do pelos córregos, mas há cerveja gelada nos bares. Antigamente, nas prateleiras mantinham garrafas quentes com poeira, além da sempre presente cachaça, cuja embalagem era vedada com sabugo de milho.

Brejaúba tem uma linda igreja de São José, o padroeiro do arraial, em estilo semibarroco, com sino doado pelo Imperador Dom Pedro II, que leva a sua assinatura na aba. Dentro da igreja apareceu recentemente a imagem de Cristo, fato que atrai centenas de cristãos para  apreciar o aparente milagre. Há  três escolas no distrito, espalhadas pela área, sendo uma municipal, e a outra, a Carolina Otoni, estadual e dividida em duas unidades: na sede, com 90 alunos, e no subdistrito de Socorro, com 80, a dez quilômetros de distância. Socorro e Santa Rita compõem uma geografia interessante: o primeiro pertence a Conceição do Mato Dentro; o segundo, atravessando a ponte, é Santa Rita do Rio de Peixe, da jurisdição de Ferros.

Nos velhos tempos, nas festas de Brejaúba, sempre viajamos para ajudar na religiosidade dos eventos. A Banda do Godó, meu avô, de que meus irmãos, pai, tio, primos e amigos faziam parte, além do velho Godofredo, fazíamos uma viagem das mais atrativas, a cavalo. No meio da jornada, tínhamos que atravessar dois rios, nos  seus solenes encontros: o Preto e o Santo Antônio. Eram caudalosos, não dava para os viajantes enfrentarem as águas como nos dias de hoje. Havia um  barca, assim chamada, em que se tornavam seus passageiros, nós e os burros, mulas, bestas, cavalos e éguas. Momentos de nos encher os olhos, a travessia parecia algo bíblico, com Cristo e os apóstolos cumprindo as suas missões evangelizadoras decorridas há mais de dois mil anos. Meus 9 a 14 anos foram  bem-vividos quando me lembro desses dias cheios de atrativos.

De paradeiro em paradeiro de Brejaúba, recentemente, traficantes aproveitaram o sossego do lugarzinho para nele montar um centro de distribuição de drogas. Quando o pau estava quebrando escancaradamente, foi montada uma espécie de força-tarefa para conter o crime. Helicópteros sobrevoaram a região durante vários dias, a polícia estadual em ação, foram presos alguns distribuidores da desgraça humana. Antes disso, houve um arrastão na vila, com assaltos à mão armada e furtos, deixando  os humildes filhos do lugar em polvorosa. Recentemente, um maluco sem definição, adentrou o lugar à luz estridente do dia e desferiu 76 facadas em um cidadão indefeso e sem nenhuma ligação com o matador, nem com quem lhe podia inspirar tão ousado ataque.

Vejam como progrediu a região: chegaram luz elétrica, telefone, sky, boas estradas e, para ornamentar tudo, o crime, desenhado com o tráfico. Endossando a necessidade de socorro à educação brasileira, parte de minha luta desigual, que travei nas escolas e mantenho nos meus escritos (Facebook e Blog), no último fim de semana (24 para 25 de agosto), dois adolescentes estudantes do estabelecimento escolar de Socorro, ainda não detidos até o fim de agosto, resolveram atear fogo no prédio da Escola Estadual Carolina Otoni II, acabando com todos os arquivos, a cozinha e destruindo 13 computadores.

Este é o progresso atual. Não é culpa direta nem minha, nem de quem me lê neste momento, mas de todos nós que ainda não sabemos como definir o que é a vida em meio a tantos misteriosos acontecimentos que se espalham mundo afora. O que parecia ser a chegada do progresso, definitivamente não é mais. Urge que nos inteiramos dos fatos para saber como nos armar para conter tamanha violência que se trava hoje em dia na face do Planeta Terra.

Sabendo que o couro está comendo em todas as partes, mas com pena de quem nada fez para pagar tão cedo o pato, recorro a uma oração que prometo repetir e que peço seja proferida por quem ama a paz: “Deus, meu Deus, olhai para a nossa Brejaúba!” Amém.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

O mais forte preconceito do mundo: a pobreza

Amigos, se pudesse escrever o que gostaria mesmo, faria o mundo tremer. Vivo com tanta coisa entalada e ando engolindo sapos triunfais de pernas abertas. Mas há o que me é dado anotar, considerando aquela citação muito cotidiana: a esta altura do campeonato da vida, há muito o que pode ser dito, mesmo que desperte horror e terror.

E vai lá: ser negro, pelo menos no Brasil, não é mais preconceito. Isso é bom e serve para calar a boca dos sem assunto. Acabou o racismo exatamente quando se descobriu que a cor negra tem belezas até mais significativas que as demais. E, completando, outros preconceitos estão em extinção, especialmente o da homossexualidade. Entrou no lugar dele a homofobia, que virou citação até de analfabeto.

Escrevo em cima de leis naturais. A lei mais forte que existe garante que no Planeta Terra há apenas um deus. Aquele que consola o coração de muitos serve para enganar um por um, principalmente os que se  auto-denominam devotos. Na verdade, incontestavelmente, o deus que vem mandando por aqui é o Senhor Dinheiro. Acima do Dinheiro é o Senhor Poder, quando esse tem a capacidade de gerar dinheiro infinitamente. Em via de qualquer dúvida, o Poder resolveu passar a coroa para as notas de cem reais, dólares ou euros.

Dito isso, vamos ao verdadeiro preconceito da humanidade: a pobreza. As pessoas dizem: “Gosto de pobres, amo os pobres, coitado dos pobrezinhos”. Mentira pura! Ninguém gosta de pobre. Para a humanidade, caso ela queira ser franca e decisiva, “pobre tem que explodir”, como era dito naquele programa de humor na TV.

Faz tempo tenho observado por aí como é feita a discriminação dos pobrezinhos. Se alguém supõe que um fulano de tal qualquer “está cheio da gaita”, como diziam na minha terra natal, esse nunca fica sozinho. Aqui em Itabira, até para me distrair, passava horas e horas olhando para um  suposto rico chegar a numa roda de “amigos”. Ele não tem sossego e parece o mais bonito de todos, pois lhes enchem os olhos de lágrimas só por olhar nos olhos dele. Lágrimas dos invejosos e deleite do invejado. Deus do Céu! – este é o reserva da humanidade, que é lembrado quase sempre na hora do aperto, quando a barra pesa.

E quem não tem dinheiro sofre por vários motivos: ninguém percebe quando chegou ou quando saiu. Aí ele se sente humilhado, principalmente se já foi rico ou poderoso. Essas dores são maiores que a abstinência de tudo que o miserável tem que praticar na vida. Se falta comida, bebida, roupas e teto, aí o moço ou a moça não são pobres simplesmente. São coitadinhos.

O dinheiro não traz felicidade. Está certo. Mas 99,99% dos seres humanos trocariam a felicidade pelo dinheiro. “Pode ir embora, felicidade, e entre para a minha vida, Senhor Dinheiro” — essa frase parece viva nos lábios e olhares de cada ser humano. Hipócrita é quem nega. Uma cidade, um estado, um país, o mundo acordam cedo e  todos se movimentam atrás do todo-poderoso Dinheiro. No crepúsculo retornam para o descanso merecido, em casa.
Até no ambiente familiar, o menosprezo vem quando faltam centavos nos bolsos das pessoas. Quantos lares são desfeitos. “Vai caçar serviço!” – essa já é uma frase que as mulheres dizem aos seus companheiros. Parece uma cócega, esse tal de vil metal, que precisa sossegar um pouco, pois, quanto mais o tempo passa mais ele se sobrepõe aos seres humanos.

A regra infalível para ficar livre disso ainda não foi muito seguida em nosso planeta. Nem perspectivas há, por enquanto. Os pregadores do Apocalipse sonham com esse momento. Quem dera o mundo mudasse! Por enquanto, é rara a criatura que nega esse valor transitório, principalmente porque tanto o amor quanto a amizade ainda são comprados no atacado e no varejo por esse deus de discórdia que governa o mundo todo.

Sei que a constatação incomoda muitos e sei que muitos já estão me condenando, preparando uma cruz para nela me afixar. Mas, infelizmente, hoje, agora, neste momento, sou obrigado a concordar com o escritor Nelson Rodrigues, que chegou a escrever que o amor é eterno, se acabasse não seria amor, mas também deixou outra frase gravada e atribuída a um de seus personagens de contos e crônicas: “O dinheiro compra tudo, até o amor verdadeiro”.  

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

RONALDINHO ATLÉTICO CLUBE

Já escrevi e repeti esta frase: como eu gostaria de não entender de futebol! Quem ler a tal declaração, e não me conhecer de velhos campeonatos, me chamará, com certeza, de convencido. Quem me conhece, no entanto, me perdoará  por não ser eu tão hipócrita caso afirmasse o contrário.

Entendendo de futebol mais que Cuca, mais que Vanderlei Luxemburgo, mais que Luís Felipe Scolari, não sei explicar o motivo. Deus me deu esse dom, que o devolveria de graça por não me fazer falta alguma. Aprecio muito as crônicas do Dr. Eduardo Andrade, publicadas em vários jornais. Tostão sempre discorre sobre esquemas de jogo, táticas, posicionamentos de jogadores, crescimento de times, caídas etc.

Nesse meio termo de gostar de futebol e entendê-lo já baixei uma lei sobre o Clube Atlético Mineiro: há mais de um ano esse nosso time, de torcida gigante e apaixonada, deveria mudar de nome. Pelo menos mental e inconscientemente, sim.

Antes, porém, sou contra mudanças de nomes de clubes de futebol. Parece um paradoxo, mas vou explicar. Tenho, vez por outra, zoado cruzeirenses porque o esquadrão do Barro Preto já teve quatro nomes e hoje se alicerça no quinto: Cruzeiro Esporte Clube. Existe um porquê ocorreram as alterações de razão social: o objetivo inicial da fundação de um clube italiano no Brasil era ajudar na propaganda de um regime político de exceção e violento na época.

A mudança que sugiro para o Galo é apenas decorativa, com o intuito de somente mostrar um lado da questão. Desde a sua primeira partida no Atlético, Ronaldinho Gaúcho não apenas conseguiu equilibrar o meio-de-campo, mas, também dar moral ao time. Quando Ronaldinho entra, mesmo jogando mal, o time normalmente vence. O segredo é psicológico, mas é válido.

Um jogo se ganha com objetivos definidos e confiança em si, aquilo que os americanos chamam de “I believe in myself” (acredito em mim mesmo). No final da campanha do Galo na Libertadores, por causa de ter levado duas vezes de 2 x 0 no campo inimigo e ter que reverter a situação, a  torcida propagou outra frase que consagrou na América a primeira campanha de Obama à presidência da República: “Yes,  I can”, ou melhor, “Yes,  I CAM”.

Ronaldinho Gaúcho é o autêntico “Believe” ou “I can” atleticano. Reparem como ele aparece em campo. Certo dia um netinho meu observou e comentou: “Ronaldinho entrou bufando”. Ou seja, adentrou o campo com foco na  vitória e sacudindo os companheiros. Está provado por que nem sempre ele precisa fazer alguma coisa importante sobre jogadas, dribles, peripécias, além de atrair sobre si uma marcação especial.

Nada mais a dizer sobre a continuidade do time do Galo a perseguir títulos; Caso queira, realmente, ganhar jogos, campeonatos, torneios ou peladas, o Atlético terá que ou manter R10 nas suas fileiras, ou buscar um perfil dele no mundo, o que é extremamente difícil.

Disse eu que entendo de futebol mais que muita gente.Volto a suplicar perdão, principalmente aos que me leem com boa vontade e paciência. Desculpem-me também os que escalei abaixo de mim, nem sendo eu um treinador. Pode ser presunção de minha parte, mas a questão é apenas o seguinte quanto ao craque ainda do Galo. Ele é a mola-mestra do time que, pode não mudar de nome, mas, inconscientemente, deve se chamar Ronaldinho Atlético Clube.