Quem percebeu?
Quem viu? Onde foi? Nada parecia ter ocorrido de novo na face do Planeta Terra.
Mas houve, sim, uma mudança inquestionável e radical. Silenciosa, de voz
mansinha, embutida na vida de virtudes, sem se promover, como sempre foi assim,
mesmo com a inteligência resplandecendo, com destaque absoluto na área de
Educação, cujos serviços prestados a
Itabira se despontaram. Ela partiu para a eternidade em 2 de dezembro passado.
Dorinha, Maria Helena e Darcila
Há ainda um tempinho
para a comunidade itabirana iniciar a
colocação em evidência do que verdadeiramente servirá de inspiração para o
futuro. Haverá, no dia 8, quarta-feira, às 18 horas, na Igreja da Saúde, em
Itabira, a celebração da Missa de Sétimo Dia. Refiro-me a Maria das Dores
Torres Brandão, ou Dorinha Brandão para a grande maioria de amigos. Chore quem
a conheceu e dela recebeu lições valiosas: Itabira perde mais uma enciclopédia
de riqueza cultural, que sai da vida ativa, terrena, de conquistas
inesquecíveis, para a Glória Divina.
DORINHA
E O “APRENDER A SER”
Reporto-me a meados da
década de 1960, quando ela me convidou para estudar na Faculdade, braço
direito de Ciências Humanas da PUC/MG.
Depois, em seguidos instantes dos anos 1970, principalmente quando
Itabira subiu ao pódio chamado “Primeira Cidade Educativa do Mundo”, atendendo
plenamente os quesitos do projeto “Apprendre à Être” (Aprender a Ser), de
autoria do educador francês Edgar Faure.
Naquele capítulo
de glórias dos conterrâneos de Drummond tornamo-nos amigos de verdade, eu vereador
sempre municiado por ela na sua área de grande domínio. Foi por sugestão dela que me arranquei duas vezes ao
Centro-Oeste, a uma cidade que teria empatado em demonstração de prática comunitária com
Itabira nas apresentações de 1974/1975. Fui lá confirmar com uma fonte segura,
Guaracy de Castro Nogueira (in memoriam), um dos criadores da Universidade de
Itaúna, de que não houve empate, Itabira vencera e fora boicotada. Tivemos ainda
outra testemunha presencial, o jornalista Carlos Felipe Horta. Ao contar a Dorinha
o resultado de minha viagem, tive muito mais emoção do que antes, ao ver lágrimas de felicidade descerem naquele rosto bonito, enfeitado por olhos
claros.
DORINHA,
LÍDER SEMPRE
Tantas
iniciativas da área educacional ela gerenciou, tendo ao lado outros mestres que
também deixaram marcas na história educacional itabirana, a exemplo de: Dulce Guerra (in memoriam), Miriam de Souza
Brandão (in memoriam), Maurício José Martins da Costa (in memoriam), Saul Olavo
Reis (in memoriam), Eneida Bragança de Mendonça
(in memoriam), Eunice Faria Martins da Costa (in memoriam), Ermelinda
Torres Simões (Lindita), Romar Virgílio Pagliarin, Maria Cecília de Souza Minayo, Maria do Rosário Guimarães de
Souza (Zara), Maria das Graças de Souza e Silva (Baginha), Elaine Campos,
Cecília Maria Viana Camilo de Oliveira, José Carlos Fernandes de Lima, Denise Félix, entre outros. Desculpem-me não citar dezenas de outros nomes. E exatamente o que esses próceres trabalharam e trabalham para alcançar ela
acreditava piamente na ressurreição da Cidade projetada pela França e abraçada
pela Unesco.
Dorinha,
confidencialmente a mim, nunca se conformou com o fato de Itabira ter
abandonado o projeto internacional Cidade Educativa. Ela pensava que teríamos
de avançar, pegar todos os fios de meada que a Unesco nos ofereceu de mãos
beijadas. Pelo contrário, o tempo passou e o modelo de comunidade buscada por
milhares de estudantes europeus, numa quase verdadeira reedição da Revolução Francesa,
foi abandonado como um morador de rua sedento de oportunidades.
DORINHA,
“COROA DE DR. COLOMBO”
Uma semana antes
de 17 de junho de 2021, ela estava conosco na casa de Darcila Martins da Costa, além de Maria Helena (a compositora
assídua das letras musicais de Dr. Colombo), preparando um quadro à parte para
ocorrer defronte a casa do médico. Dr. Colombo e o bispo Dom Mário são donos do
ano de 2021, graças aos vereadores itabiranos e ao prefeito Marco Antônio Lage
que criaram a lei do centenário de ambos. A preparação agora era pelo “Dia D”
do santa-mariense-itabirano.
Agora, sigam com
o meu raciocínio: algumas das “Coroas do Vôlei”, inspiradas pelo médico,
estavam a contar fatos de meio século de existência delas que brilharam no
Clube Atlético Itabirano. São valiosas passagens que imiscuem a história de
Itabira no seu bojo. Dorinha era toda uma vida feliz e entusiasmada, cheia de
saúde, mas cinco meses depois, eis que resolve mudar de ambiente ao sair da vida terrena e partir para o
Mundo Divino. Quem ousaria dizer que ela sabia ou não sabia o quanto de tempo
por aqui nos presentearia? E soma-se ao conhecimento dela ocultação de seus dotes de humildade. Só ela, só Dorinha
mesmo, nos contaria, mas se estivéssemos
no nível dela.
BIOGRAFIA
POR PREPARAR
Deixo aqui uma
ideia para os poderes públicos locais: levantar com minúcias a grande obra de
Dorinha Brandão, como de todos os outros protagonistas desta terra, os quais
são muitos. Tentei no minha época na
revista, mostrar nossos personagens,
foram três anos de muita memória refletindo na ideia de escolares que
frequentavam a redação. Depois tudo parou. Fica, então, minha resistência como participação: não se pode
continuar na trajetória do esquecimento.
Quantos morreram e não se pingaram uma lágrima nas páginas da imprensa local?
Nem nas bibliotecas?
Maria das Dores
Torres Brandão, filha de outra grande itabirana, Didi Andrade, faleceu aos 85 anos. Era casada com Luiz
Torres Brandão (in memoriam), com quem viveu durante 46 anos. O casal deixou três filhos, oito netos e dois bisnetos e uma comunidade órfã.
Foi sepultada em
Itabira, sua terra natal, no dia 2 de
dezembro de 2021.
José Sana (Texto
e fotos)
07/12/2021
Colaborou: Myrian C. O. Souza