domingo, 23 de janeiro de 2022

SURDO: CANDIDATO A SUPER-HOMEM

 

OBSERVAÇÃO INICIAL: caso você não acredite  em mim, peço-lhe, encarecidamente, que não leia esta página.



“Ser surdo é desdobrar fibra por fibra o coração”. Essa não é uma referência às mães? Sim. Mas um surdo precisa virar-se  muito para não ser mais um que padece, não no paraíso como as genitoras, mas no verdadeiro inferno. Sendo metade  surdo e metade dessurdo, o sujeito anda de rodas também.

 

Usa aparelhos? Sim. Por mais evoluídas que sejam as novas tecnologias, o portador de próteses auditivas sente-se incomodado. No início, enfrenta algumas tonteiras simples. Depois torna-se um captador de sons em situação mais avançada que os auditivos normais. Um grande problema, como já foi dito, é não saber de onde vem o som que lhe emitem. O mais sério: ser automaticamente ignorado, marginalizado e até mesmo humilhado sem que a ação seja declarada. O surdo é, então, vítima do cínico.


Quanto ao usuário de prótese, esse carrega mais um drama: os sons são aumentados. Ele só não bate um escutador 100% porque tem alguma dificuldade relativa em discernir as palavras. Cada conversador tem um estilo, um jeito de falar, uma forma de expressão. Há quem pronuncie a linguagem correta, certa, com palavras bem ditas. Mas há, principalmente há muito, os que engolem termos de nossa ou de outras línguas. Engolem, saltam palavras, comem sílabas, enrolam a língua, não pausam a pronúncia. Vida dura, né?

 

Para viver bem, um semissurdo precisa ser um assumido. Não adianta esconder a deficiência. Alguns dizem que precisam prestar mais atenção nos seus interlocutores. Outros acham que, de qualquer maneira, vai bem. Bem, nada!

 

Mas um detalhe todos precisam entender: o deficiente auditivo precisa saber lidar com o grande desafio de usar a sua inteligência para vencer na vida. Precisa impor-se de outras formas para que seja ouvido. Necessita, também, não se abater com tantas e tantas situações humilhantes. Há pessoas que só conversam com o deficiente auditivo quando estão a sós com ele. É urgente que  entendam esse procedimento. O ser humano é um complicado, maluco e cheio de suas razões... todos são, os surdos e os normais.

 

Em breve estarei mostrando em um livro especial como vivi mais de setenta anos sem ouvir (30 anos), ouvindo pela metade (40) e sendo estudante sem uma reprovação, supervisor e assessor de imprensa numa grande empresa, vereador e presidente da Câmara em duas legislaturas (dez anos), editor de uma revista (20 anos), professor de História e Letras com duas pós graduações (rápida mas valiosa experiência) e jornalista (Diário de Minas, Estado de Minas e colaboração em vários periódicos da região, além de editor de uma revista, como já foi dito).

 

Não irei narrar vantagens, porque estou na fase de biografia, simples, mas estou, embora em plena atividade. Quero, sim, que os milhões de seres humanos que sofrem pelo mesmo problema entendam como enfrentar este mundo em que o bullying, que é a prática de atos violentos, intencionais e repetidos contra uma pessoa indefesa, que pode causar danos físicos e psicológicos às vítimas, transforma-se numa flecha ainda mais mortal, no peito, quando a vítima sofre de perdas auditivas.

 

No caso do surdo, ele carrega um fantasma que vive dentro dele, infernizando a sua vida  durante 24 horas por dia, tempo em que só resta ao mouco abaixar a cabeça e sobreviver, caso tenha uma força interior gigantesca, de super-homem, que vive lado a lado com Deus. Só Ele pode ajudar.

José Sana

23/01/2020

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

DEU TUDO ERRADO. OU MELHOR, DEU TUDO CERTO

Planejei e paguei caro por um site em 2020 e 2021. Tentei levá-lo na base do idealismo. Mas entrei pelo cano e achei a torneira fechada. Ou seja, fui bloqueado pela empresa encarregada de construí-lo. Perdi alguns reais pagos, pelo menos até agora e os donos do tombo ainda querem mais grana. A ação está na Justiça, que marcou para agosto de 2022 a nova tentativa de decisão. Não entendo de Justiça e vou dar um jeito de nem tentar entender. Pré-conclusão: deu tudo errado. Ou melhor, deu tudo certo.


Voltando a 2020, andei me ralando na política partidária. Minha preferência eleitoral deu “okay” mas, embora tenha somado centenas de amigos, saí conquistando milhares de inimigos. Não sei se valeu a pena, mas o lamentável é vivermos num país  controvertido, cuja maioria da população só enxerga até a ponta do nariz. A mistura de entendimento pessoal com ideologia política jamais deveria existir, mas virou uma casa de mãe-joana. Mais uma pré-conclusão: deu tudo errado. Ou melhor, deu tudo certo.


Minha motivação central e intocável nas eleições passadas resumiu-se  na seguinte finalidade: futuro econômico e social de Itabira. Confesso-me cego se algo foi feito em prol desse futuro, ainda distante, e lamento se pensarem que também tenho visão até somente a ponta do nariz. Se assim for, ajoelhar-me-ei aos sapatos de quem quer que seja e beijar-lhe-ei os pés em sinal de súplica de perdão. Peço desculpas também pelo uso de duas mesóclises neste parágrafo, construções em desuso na Língua Portuguesa. De novo uma pré-conclusão: deu tudo errado. Ou melhor, deu tudo certo.

 

Desde o primeiro dia em que aqui cheguei — e tenho centenas de provas e ainda obsessivas — preocupo-me com o futuro itabirano. Confesso que poderia ter deixado mais marcas, mas de qualquer maneira tenho, modéstia às favas, relatórios singelos a apresentar. Uma evidência estarrecedora transformei-a em visão de verdade absoluta: Itabira vive um momento passageiro e ilusório de sua história. A mineração não arredou pé por enquanto e poucos acham que mudar uma cultura econômica seja fácil. Uma maioria enche a barriga e bate palmas porque o dinheiro rola aos montões, e não acredita se teremos mesmo um apocalipse municipal. É a lei de São Tomé – “Ver para crer” – que entra em vigor. Repetindo a pré-conclusão: deu tudo errado. Ou melhor, deu tudo certo.

 

Por hoje é só. Espero de 2022 outra história, que não exprima dúvidas, mas pelo menos a esperança. Para não deixar meus sentimentos no escuro, ininteligíveis, declaro que já iniciei a minha indispensável prestação de contas como cidadão itabirano, nascido na região, e filho de Deus, natural do Planeta Terra. Serei salvo nesses múltiplos juízos finais, que começaram a ocorrer. Caso mereça, terei uma medalha mesmo de lata ou levarei uma bomba antológica. E finalizo: deu tudo errado. Ou melhor, deu tudo certo.

 

José Sana

Em 20/01/2022

domingo, 9 de janeiro de 2022

RECADOS DA NATUREZA: CARNAVAL ZERO, SOLIDARIEDADE MIL

 A Natureza fala, respira, mastiga, engole, aceita, perdoa, castiga, impõe sacrifícios e deixa recados irrefutáveis. Sei dessas funções naturais porque aprendi a ser, junto dela, uma migalha de seu contexto ou parte de suas forças e fraquezas.



O ano de 2021 não foi péssimo para Itabira e região, mas também não teve acontecimentos destacáveis. Nossa cidade, que é a mola-mestra regional, que deve  emitir sinais de bons exemplos, sofreu e sofre muito por conta da disparidade de suas classes. Parece que a turma chamada média, que era  a maioria, está perdendo nesse  quesito para a pobreza. Esta, a temível indigência,  somava o total de 15 mil seres humanos na faixa mais baixa, beirando a miséria, em dados apurados pela Prefeitura.


Para complicar um pouco mais, assim como no ano passado, janeiro vem sendo aquático. O povo, que chorava copiosamente por causa da seca, agora ajoelha e pede a São Pedro simbólica e fervorosamente, que feche as torneiras celestiais. Resumo: não sabe o que quer. Aqui perto de nós e até carregando o nome Itabira para nos honrar, Santa Maria recebe mais uma vez desreguladas camadas de água das nuvens. Canais se entopem e provocam transbordamento assustador, pontes bambeiam e sobe o número de desabrigados.


Causas? Visíveis e palpáveis. Perceptíveis a olho nu. O primeiro vilão é o lixo, que não tem a devida destinação, até porque a sua tonelagem produtiva ultrapassa números incalculáveis: mais de dois quilos por habitante por dia, segundo alguns especialistas. O segundo vilão é a ocupação demográfica sem sequer acompanhamento. Constroem-se descriteriosamente às margens de leitos de rios, córregos, regatos. Em terceiro ponto, Itabira ainda tem agravantes gigantescas: as barragens de rejeito de minério de ferro, as quais constituem ameaças vivas e inimagináveis de perigo. Para consolo nosso, a Vale está cuidando dessas barragens, dizem que as “descomissionando”, ou seja, secando-as.


Mas, por trás das ações da empresa multinacional, que movimentam a cidade e fazem a riqueza circular, poucos veem que o aviso da mineradora possa ser de despedida, considerando que se encontra em processo irrequieto “o fechamento de mina”. Nesse caso, temos atenuante: a presença do  secretário de Meio Ambiente da Prefeitura itabirana, Denes Martins da Costa Lott, PHD no tema e que fez alertas em trabalho acadêmico transcrito em livro (O fechamento de mina e a utilização da contribuição financeira por exploração mineral, Belo Horizonte: Del Rey, 2014, 96 p).


Por trás de tudo, um risco iminente: quando uma lâmpada se torna brilhante talvez seja sinal de que esteja se queimando. Então, Itabira seria uma luz reluzente à beira de tornar-se turva, escura, breu, o fim? Fica a esperança de prontidão para que não deixe fatos negativos se sucederem e acordem dirigentes, políticos, sociedade civil organizada e o povo. A sonolência é quase geral, desculpem-me pela análise independente mas mutável quando há contestações seguras.


Como estampa da reação itabirana, tomemos como exemplo os sinais da Natureza, que são mais claros que todas as lâmpadas do mundo: tivemos carnaval em 2020, quando o mundo já ensaiava sinais de uma terrível pandemia, atitude impensada; vivemos dois anos em pavor, enfrentando o mal invisível e desconhecido e, acima de tudo, destruidor. Os hospitais voltam agora a receber seres humanos choramingando de novo a tal Covid-19 que, mesmo mais branda, ainda é uma incógnita e exige cuidados.  


A Prefeitura apontava um ano atrás para um número elevado de famintos e houve, sim, alguma reação positiva. Mas a buracada está aí e faltam água, quando tem é imunda, além da precariedade geral, a sobra lamentável. Contraponto: o dinheiro ainda transborda da Prefeitura como essa água de chuva. Chegamos ao recorde orçamentário de 1 bilhão,.


A reação ainda é tímida. A Natureza pede que sejamos mais sensatos. Descansar, meditar, refletir durante  os chamados “dias de momo’ e aproveitar para colocar em ação a prática divina da solidariedade, de ações paralelas, ao invés do rebola-rebola e do “desbunde”  em  praças ou salões. Isto mesmo: carnaval zero, solidariedade mil.


José Sana

09/01/2022

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

“MUITO ANTES PELO CONTRÁRIO”

Faz  quase  um ano, recebi do meu amigo Márcio Passos sua última obra, esta  publicada em livro “Muito antes pelo contrário: Causos, Histórias e Opiniões de um Cronista de Jornal”,  1ª. Edição: João Monlevade/Itabira, Editora e Gráfica Vip, 2021, 332 p.  


Agora exponho a minha dívida, não por ser amigo dele, como o tratei na primeira linha, mas por termos um certo envolvimento jornalístico. Fui colaborador de seu jornal, A Notícia, durante mais de quatro anos; ele, igualmente, prestou gentileza,  com a sua equipe, à revista e ao site que eu  dirigia e editava. Escrevo também porque moro num país democrático, livre, cuja liberdade de expressão, creio, jamais será usurpada.



Tenho a honra de declarar que Márcio Passos foi meu Pedro Álvares Cabral, ou seja, quem me descobriu com a mão branca de farinha de trigo e polvilho. Troféu para ele, porque ninguém ainda havia me encontrado, nem exposto no topo da Igreja da Saúde, ou no velho Cauê, ou na torre de celular do Morro Escuro. Já trabalhei ou contribui com algumas realizações, entidades religiosas, comunitárias, filantrópicas, de classe, esportivas e outras.  Pouco isso, mas, com modéstia, tentei acertar. Recebi, sim, valiosas homenagens, de Eustáquio Félix, vereadores, Assembleia Legislativa, clubes de serviço, ONGs, sindicatos etc. 


Em Itabira estou há 56 anos, aqui fui vereador, presidente da Câmara em duas legislaturas, cidadão honorário, deixei alguns projetos de realce, modéstia às favas. Sou independente para dizer que pelo menos em alguma realização fui útil e,  neste ano de 2022, se Deus quiser, contribuirei com meu esforço e trabalho a uma causa nobre, pois, quem sabe assar  uma guloseima para o paladar, pode também  dar as mãos a pessoas que sofrem ou sofreram nas garras do preconceito e da covardia um pisoteio sem preço de recompensa. Tenho orgulho da empreitada que iniciei, desculpe-me quem discordar.


E foi MMP também quem deu ordens a  alguém para demitir-me da terceira página de seu jornal, fato que demonstra sua solidez do que quer e sabe o que deseja. E com ele já me defrontei em trocas de argumentos, numa guerrilha regional de pegar fogo. Imaginei até que disputávamos um Prêmio Nobel sei lá de quê, uma espécie de finalíssima da escolha sueca que nunca premiou nem o Brasil. Mas nós, MP e JS,  andamos nos elogiando em negativo, publicamente, nos estranhando. Ele meteu o pau em mim no jornal dele e eu repliquei na minha  revista. Acho que deu empate técnico. Que besteira de tempo perdido!


O livro de Márcio Passos tem um defeito e eu disse a ele: não datou as crônicas. Mas não dependente disso, serviu para um teste de memorialismo, consegui encontrar a data aproximada, ou a ocasião, de cada assunto abordado que envolve drama, história, esporte, sociedade, suspense,  entre tantos outros temas. O fato de ter morado e trabalhado durante um ano em João Monlevade, meu primeiro emprego de carteira assinada na Belgo-Mineira (hoje Arcelor Mittal), permitiu-me o exercício de memória. E acredito que tenha ajudado a centenas ou milhares de outros leitores.


Passos nos permite uma leitura também salteada, ou seja, não precisa apegarmos a sequência, embora mostre, no seu bojo que são tratados causos locais, nacionais, internacionais, críticas a políticos, narrativa do casamento do Ronaldo Fenômeno, que o levou a Paris. Ele deixa claro, mais uma vez, o pavor obsessivo que nutre desde os velhos tempos, pela morte, mesmo que diga aceitá-la por não ser um revoltado contra o desígnio divino. Mas ele não consegue passar uma semana ou menos sem tocar no tema que o intriga demasiadamente, para além deste universo ou planeta, para depois da vida.


Destaque para os prefácios escritos pelos bem-sucedidos nas letras Erivelton Braz e Breno Eustáquio, duas das mais importantes inteligências e culturas de nossa região.


Fica aqui o meu abraço ao autor e uma tirada de chapéu à sua inteligência ímpar. Soube construir uma obra, o periódico, além do livro, para deixar à família, sinônimo de  herança de um resistente e combativo jornal, que recebo semanal e gentilmente, enviado pelo extrovertido, corajoso, idealista e não tanto encrenquinha, “muito antes pelo contrário”, Márcio Magno Passos.


José Sana

05/01/2022