A nossa mente é
povoada de termos do senso comum ou mesmo adotados pela linguagem técnica. Já
houve tempo em que só se falava que “o minério não dá duas safras”, “o petróleo
é nosso” e outros slogans não menos importantes ou votados. Na década de 1960
entrou em vigor uma obsessão chamada “diversificação econômica”. A classe
política, empresarial, das donas de casa, estudantes e trabalhadores tomavam
café, almoçavam, lanchavam, jantavam e dormiam a tal diversificação, drama
típico das cidades mineradoras. Em Itabira, ai de quem não fizesse um discurso
em cada esquina e citasse o termo como expressão chave. Da busca incessante de
alguma atividade que pudesse se encaixar na diversidade de tão nobre objetivo,
outro tema apareceu em forma de questionamento com o seu linguajar próprio:
qual seria a nossa vocação econômica?
Surge, então, a
primeira tarefa: descobrir o que se ajusta ao dom não individual, mas coletivo,
da terra em que nasceram Carlos Drummond de Andrade e a Vale. Aí começam os
planos diretores que ocuparam o trabalho de consultores na cidade. O primeiro
foi elaborado por Radamés Teixeira lá pelos idos de um mil novecentos e lá vai
Daniel Grisolia e Wilson Soares. O urbanista previu Itabira crescendo para o
lado do Parque de Exposições. Certo.
Contudo, seu erro até agora foi admitir que o bairro Novo Amazonas, com a sua
Avenida Ipiranga, fosse se transformar numa Savassi Itabirana.
Paulo Haddad
também visitou a cidade inúmeras vezes para dar o seu sinal profético dos
números e dos fatos. Na frente ou por trás de eminentes futurólogos, estiveram
várias fundações. Uma delas, a João Pinheiro, arriscou inúmeros palpites. Em
1976, esteve debatendo na Câmara Municipal o então presidente do CDI/MG, Celso
Mello Azevedo. A partir de sua apresentação, foi agilizada a construção do
Distrito Industrial de Itabira, inaugurado em 1984 com uma fábrica de
ferro-gusa. Está em atividade esse DI, mas não consegue, nem de longe, assumir
a grande responsabilidade de substituir a indústria extrativa mineral.
Nas primeiras
páginas dos planos estavam inseridos os nomes de nossa vocação econômica. A
primeira aposta foi na atividade metal-mecânica. Por pouco tempo sustentaram
esse título e tão logo mudaram o disco para polo moveleiro. A Vale chegou a
inaugurar uma pequena fabriqueta de madeira, que funcionou durante algum tempo
como modelo experimental. Com base nessa experiência e para aproveitar a vasta
produção de pinus e eucalipto na região, despontou-se um grande projeto chamado Medium Density Fiberboard
(MDF), um tipo de trabalho com compensados de madeira, que empolgou toda a
região e logo caiu no esquecimento.Via-se facilmente que o mais difícil era
encontrar a tal vocação. Até montadoras de automóveis pareciam querer montar os
seus galpões por aqui.Tudo no papel.
O termo
preferido nunca deixou de ser diversificação econômica, neurose itabirana de
doer os tímpanos. Mas, por ironia do destino, nenhum político pensou em
educação como capaz de carregar nos ombros o peso da economia de uma Itabira em
que o dinheiro voa, corre, disputa
provas, maratonas e nem se cansa. Estão aí as faculdades itabiranas
crescendo e se despontando. Hoje, Itabira tem não menos de cinco mil alunos
matriculados em cursos superiores. Mais do que isso, podemos espelhar pelo
menos em duas cidades brasileiras que praticamente vivem, e muito bem, dessa
fonte de receita: Barbacena, a 160 quilômetros de Belo Horizonte e Itajubá, no
Sul de Minas Gerais. A Unifei veio exatamente dessa próspera cidade sul-mineira
e caminha para, em breve, atender a não menos de dez mil alunos.
Vejam, pois, que
presente natural chega de mãos beijadas! Nenhum instituto ou fundação ou
consultoria pensou nisso em seus planos, mas se agiganta de forma concreta e
visível e palpável e pungente a Cidade Universitária de Itabira. Cadê a
poluição que só fica como bem maior na cabeça de ultrapassados políticos e
empreendedores do passado? Cadê os problemas que causam aos rios, córregos,
nascentes de água essas ultrapassadas indústrias de gusa, aço e similares? A
indústria está chegando. Não mexam com a diversificação econômica porque ela
surge naturalmente em forma de infraestrutura. Agora a ordem é fabricar
conhecimento. Mas, atenção: é importante crer e abraçar a ideia do saber que
não ocupa lugar em nosso cérebro.