quinta-feira, 28 de março de 2019

A VALE FINALMENTE SE DESMASCARA: ASSUME A PERSONALIDADE DEMONÍACA


O ser humano, desde os primórdios da civilização, elegeu o dinheiro como seu deus verdadeiro e intocável. Muitos buscam argumentos falsos para negar tal certeza absoluta.  Exemplos do  império da riqueza sobre a pobreza, com mandos humilhantes, chovem sobre nossos olhos. Cínicos somos nós  quando entramos numa igreja qualquer, de qual for o credo, e juramos amor àquele que negamos na prática.

Desconhecendo o sentido da vida eterna, o que evidentemente nos interessaria, adoramos empresas  fortes no mercado nacional e mundial, as espiritualidades que têm a corte real, ou santa sé, sediadas nas bolsas de valores. Eram esses ou outros os nossos santos, como Arcelor Mittal, Usiminas, General Motors, Fiat e milhares de outras organizações, principalmente a antiga e atual, a Companhia Vale do Rio Doce, hoje simplesmente  denominada Vale. Essa a tal Vale que fazia milagres,  era sagrada, se resumia em nossa divindade adorada e idolatrada. Até o mês de janeiro deste fatídico ano de 2019, a antiga CVRD fazia parte da adoração de muitos brasileiros, principalmente os residentes em Itabira.


Vistas grossas aos erros, nem o desastre humano e ecológico de Mariana tirou a fé inquebrantável na santidade da empresa distribuidora de riquezas. Nem o estouro catastrófico  de  Brumadinho destruiu a plena santidade da Vale. Mas aí começou a cair a máscara da falsa divindade, quando se escancara de forma escandalosa a declaração de   Maria Julieta  Drummond, sobrinha do poeta Carlos Drummond de Andrade: “A Vale é como uma flor carnívora. Está devorando o povo de Itabira sem  o povo perceber. O povo acha a Vale muito boa. É uma instituição muito segura. Mas vai aos poucos devorando Itabira. Quase nada resta de Itabira”. (Ana Gabriela Ferreira, 2015).

O recente episódio  de compras de moradias  na Vila Paciência revelou a estratégia da ex-santa Vale: contratou especialistas em rasteiras por força do poder financeiro que cuidaram de minar  a  resistência  dos moradores. Quem não aceitou as primeiras ofertas perdeu o rumo de suas pretensões e acabou vendendo suas propriedades por preço de banana, outros ficaram sem negociação. A poderosa Vale cuidou, por si só e imposição das leis de mercado, de desvalorizar os restantes imóveis, que eram mais de maioria das casas e barracões. E assim pagou o que quis aos que aceitaram migalhas. Finalmente, ela própria desinteressou-se em continuar a destruir a parte superior da Vila Paciência, apesar da resistência de alguns moradores , como escreveu a especialista Maria do Rosário Guimarães de Souza em trabalho científico chamado “Da Paciência à Resistência” (2007).

Agora, o modelo Paciência se escancara sob uma  nova visão ampla e escandalosa. Em vias de fazer um acerto de contas com Itabira que lhe deu a plena existência, e aproveitando-se da tragédia de Brumadinho, instala o terror na sua cidade-mãe, consagrando a ingratidão e revelando sua real identidade voltada para o mal. Não se sentindo à vontade para saldar a dívida histórica e ambiental com os conterrâneos de Drummond, ela  se  insere no contexto de promover a completa desvalorização de nossas terras, agora todas, Itabira. Se ainda existe uma inocente alma que não vê com clareza o óbvio, fica a pergunta: quem viria investir numa cidade de barragens rompendo e  à mercê da sirene devastadora que mais parece uma trombeta anunciando o apocalipse?

Em toda a minha vida de funcionário da Vale, de jornalista dela própria;  de vereador que  a critiquei veementemente;  de editor de órgãos de comunicação; de historiador que organiza um documentário sobre o relacionamento da cidade com a mineradora; enfim, tive a certeza de que poderia assim escrever, proclamar e assinar em baixo o que hoje deixo como início de uma nova postura diante dela: a Vale é o Satanás, o Capeta, o Demônio, o Belzebu que nos foi enviado para acabar de vez com a velha Itabira do Mato Dentro

Ou Itabira, com seus verdadeiros  itabiranos, reaja agora, ou nunca mais seremos dignos do respeito e dignidade de nossos filhos, netos, bisnetos e todas as gerações que virão, se haverá geração depois deste holocausto.

José Sana
Em 28/0/2019

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