Conheci Luciano
Soares Moreira na década de 1970. Acompanhava jogos do futebol amador de
Itabira por meio de suas colunas no jornal O Passarela. Certo dia, na redação
do jornal, tive o prazer de apertar-lhe a mão pela primeira vez. A partir daí
fiquei conhecendo este rapaz que, muito precocemente, perdera a esposa. Depois casou-se de novo e mantém em dia a sua fervorosa
atividade de pai de família e marido.
Outros contatos
que tive com ele ocorreram na campanha de Olímpio Pires Guerra, o Li, para prefeito,
em 1992. Como sempre atencioso, educado, via, como repórter, o seu empenho para
cumprir sua missão. Curvava-me à sua educação e ao entusiasmo com que sempre
dedicava e dedica às causas que abraça. Quanta
energia! Aposentado da Vale, um pouco
mais tarde, empresa em que trabalhou como técnico, além de ter tomado parte na
diretoria do Saae, Luciano passou a ter ainda mais tempo disponível, tanto para os amigos quanto a família.
Bem. Fiz a apresentação.
Ontem à noite, quando chegava à casa, deparei-me com uma mensagem assim
descrita por ele por meio do WhatsApp: “Sana, nunca fiz mal a ninguém e olha o
que o M... fez comigo...” M era um super-homem, talvez o Incrível Huck. Em
seguida, perlustrei as fotos do bom moço maltratado, agredido, golpeado,
surrado, açoitado, fustigado, lesado, ferido, machucado, esmurrado. Estampei
essa quase dúzia de adjetivos de alta humilhação para exprimir o que vi em seu
corpo, da cabeça aos pés. Eu estava em casa e sem carro naquele momento, não
pude dar-lhe o apoio que merece. Felizmente, Luciano tem uma grande legião de
amigos, além da família , e ele próprio me perdoou por não ter ido,
pessoalmente, vê-lo no Pronto-Socorro Municipal.
Luciano, aguardando resultado de tomografia no Pronto Socorro Municipal |
Enquanto olhava as fotos, não sabia se me locomovia e tentava sair de casa, cheio de meus inúmeros problemas, como sempre escravo do tempo, ou se pensava no Luciano plural, o Luciano amigo de todos, comunitário, que conheço há quase meio século. De olhos esbugalhados e rútilos, parecia-me enxergar o sangue escorrer na tela do celular, puxando a minha atenção para milhares de cidadãos, famílias, crianças, jovens e idosos que sofrem diariamente, em todas as partes deste Brasil imenso, que regride assustadoramente em segurança pública, a dor da violência. Ainda insistimos em viver, queremos viver e sonhamos com um futuro à altura para as futuras gerações. Que ansiedade alucinante e pavorosa!
Meu amigo
Luciano, estamos — minha família, meus amigos e eu — com você. Que o seu algoz pague
pelo que fez e, assim, não deixe que a impunidade se alastre mais ainda, sem
ser contida. Depois do que passou, daqui a muitos decênios de vida, quando
você, Luciano, chegar ao chamado e tão falado Juízo Final, sei que terá muitos
e muitos créditos porque, de verdade, você nunca fez mal a ninguém.
Um abraço,
resumindo em minhas palavras a visita
que lhe faço, de coração.
José Sana
13/10/2018
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