sábado, 13 de outubro de 2018

DESAGRAVO A UM INOCENTE


Conheci Luciano Soares Moreira na década de 1970. Acompanhava jogos do futebol amador de Itabira por meio de suas colunas no jornal O Passarela. Certo dia, na redação do jornal, tive o prazer de apertar-lhe a mão pela primeira vez. A partir daí fiquei conhecendo este rapaz que, muito precocemente, perdera a  esposa. Depois casou-se  de novo e mantém em dia a sua fervorosa atividade de pai de família e marido.

Outros contatos que tive com ele ocorreram na campanha de Olímpio Pires Guerra, o Li, para prefeito, em 1992. Como sempre atencioso, educado, via, como repórter, o seu empenho para cumprir sua missão. Curvava-me à sua educação e ao entusiasmo com que sempre dedicava e dedica  às causas que abraça. Quanta energia! Aposentado da Vale,  um pouco mais tarde, empresa em que trabalhou como técnico, além de ter tomado parte na diretoria do Saae, Luciano passou a ter ainda mais tempo disponível,  tanto para os amigos quanto a família.

Bem. Fiz a apresentação. Ontem à noite, quando chegava à casa, deparei-me com uma mensagem assim descrita por ele por meio do WhatsApp: “Sana, nunca fiz mal a ninguém e olha o que o M... fez comigo...” M era um super-homem, talvez o Incrível Huck. Em seguida, perlustrei as fotos do bom moço maltratado, agredido, golpeado, surrado, açoitado, fustigado, lesado, ferido, machucado, esmurrado. Estampei essa quase dúzia de adjetivos de alta humilhação para exprimir o que vi em seu corpo, da cabeça aos pés. Eu estava em casa e sem carro naquele momento, não pude dar-lhe o apoio que merece. Felizmente, Luciano tem uma grande legião de amigos, além da família , e ele próprio me perdoou por não ter ido, pessoalmente, vê-lo no Pronto-Socorro Municipal.


Luciano, aguardando resultado de  tomografia
no Pronto Socorro Municipal

Enquanto olhava as fotos, não sabia se me locomovia e tentava sair de casa, cheio de meus inúmeros problemas,  como sempre escravo do tempo, ou se pensava no Luciano plural, o Luciano amigo de todos, comunitário,  que conheço há quase meio século. De olhos esbugalhados e rútilos, parecia-me enxergar o sangue  escorrer na tela do celular, puxando a minha atenção para  milhares de cidadãos, famílias, crianças, jovens e idosos que sofrem diariamente, em todas as partes deste Brasil imenso, que regride assustadoramente em segurança pública, a dor da violência. Ainda insistimos em viver, queremos viver e sonhamos com um futuro à altura para as futuras gerações. Que ansiedade alucinante e pavorosa!

 O leitor deve estar inquirindo neste momento: “O que fez o bom moço Luciano Soares Moreira para ser vítima de um alucinado?” Inexplicável é a resposta. Com sua voz mansa e calma, ele só convida as pessoas para a paz e até a reflexão. Seu jeito de ser transpira um convite ao entendimento. Mas aconteceu. Que cada um de nós instale nas orelhas pelo menos duas pulgas para nos chamar a atenção em surpreendentes ataques como este do dia de Nossa Senhora Aparecida. Que contradição!

Meu amigo Luciano, estamos — minha família, meus amigos e eu — com você. Que o seu algoz pague pelo que fez e, assim, não deixe que a impunidade se alastre mais ainda, sem ser contida. Depois do que passou, daqui a muitos decênios de vida, quando você, Luciano, chegar ao chamado e tão falado Juízo Final, sei que terá muitos e muitos créditos porque, de verdade, você nunca fez mal a ninguém.

Um abraço, resumindo em  minhas palavras a visita que lhe faço, de coração.

José Sana
13/10/2018

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