quarta-feira, 20 de novembro de 2024

MAIS UM ITABIRANO SE FOI MAS DEIXA ESPERANÇA

 

José Celso de Assis (o primeiro da direita para a esquerda): memória para sonhos e certezas itabiranas


 Faleceu hoje em Itabira meu ex-colega vereador José Celso de Assis. Uma grande perda, homem do povo dedicado principalmente aos mais necessitados. Não vou discorrer sobre a sua vida, seu trabalho, sua família, seus projetos e realizações. Outros o fizeram e muito bem.

Fui surpreendido, sim. Alguém me falara que ele andava um pouco adoentado. Adoecer na atual conjuntura é um costume quase normal, algo que se repete em várias famílias, não pelas imposições do tempo, mas, principalmente, pelo andar acelerado da medicina.

Tão logo se deflagou a pandemia da Covid-19, passamos a encarar a morte com mais coragem e até mesmo naturalidade. Zé Celso tinha um poder de encarar com calma e passividade os seus dias de vida.

Conheci José Celso na campanha eleitoral de 1976. Disputávamos ele o primeiro mandato, eu o segundo, de vereador. Fomos eleitos sem nenhuma pretensão financeira ou mesmo o desejo de algum dia abocanharmos algum quadro importante na vida pública. O vereador não tinha sequer planejamento de ser quem sabe secretário, prefeito ou vice-prefeito. Havia um desprendimento e uma fixação saudáveis.

Naquele período havia, sim, uma preocupação com o futuro. Em 1973, em meu primeiro discurso, ataquei de frente a necessidade de criarmos fontes de receita para o município já prevendo a exaustão das Minas. O prefeito de 1973 a 1976, Virgílio José Gazire, havia instalado a Fermag, que continua na cidade; de 1976 a 1982 Dr. Jairo Magalhães Alves tratava de implantar o Distrito Industrial que, nas épocas seguintes foi fortalecido por Luiz Menezes, Li Guerra, José Maurício Silva e Ronaldo Magalhães, muitos desses entrosados com o maior projeto de todos os tempos, hoje abandonado, do I.tec, Porto Seco e Aeroporto Industrial.

Numa data especial estávamos na Capital Federal. Exatamente em 31 de janeiro de 2005, foram a Brasília a comitiva chefiada por José Santana de Vasconcelos (deputado federal), João Izael Querino Coelho (prefeito de Itabira), Renato Aquino Faria Nunes (reitor) e composta também por Carlos Henrique Silveira (secretário de Obras), Gilberto Magalhães (secretário de Governo) e vereador José Celso de Assis (presidente da Câmara Municipal).

Eu estava lá. Fui, sim, a convite do deputado federal José Santana de Vasconcelos, que iniciaria seu décimo mandato de parlamentar federal e havia agendado uma audiência especial e decisiva com o então vice-presidente da República, José Alencar Gomes da Silva. Naquela data (31/01/2005) foi definitivamente sacramentada a arrancada da Unifei, considerada a principal iniciativa educativa e econômica para o futuro itabirano. Está paralisado o empreendimento, mas dele se espera uma nova postura do prefeito atual em seu segundo mandato.

Já disse, no  início, que a biografia de José Celso merece longas páginas, extensas linhas, um livro de dedicação. Por isso, cabe-me agora somente descartar a participação dele e de outros membros da comitiva naquele dia importante da história itabirana.

José Celso de Assis sobe mais um importante degrau na vida. Sua memória religiosa e exemplar, haverá de interceder a Deus, pelo nosso futuro. E esse era, é e será o seu tom de trabalho para além da vida e para além da morte.  Que fique a esperança nos sonhos dele, o apaziguador, o semeador de esperança e o que ele pôde transmitir para seu neto, vereador que segue os seus passos, o querido Rodrigo Diguerê.

José Sana

Em 20/11/2024

Foto: José Sana (com muita honra

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

ATENÇÃO: BURACOS ITABIRANOS ESTÃO DE VOLTA E SÃO DURÍSSIMOS NA QUEDA

 


Percorri ruas, avenidas e becos de Itabira, e pude gravar alguns diálogos entre eles, os orifícios sem fundo cuidaram nomes ou números para si próprios

 

O termo buraco talvez existisse  antes das grandes navegações portuguesas. A origem é controversa, embora, provavelmente, se ligue de alguma forma ao verbo latino forare, “furar”, Mas sou obrigado a contestar todos os dicionários, inclusive o Latim, e a conclusão é uma só: quem inventou o buraco foi, comprovadamente a Companhia Vale do Rio Doce, nome antigo, hoje chamada simplesmente Vale, ou Vale S.A., vale muito para alguns e vale nada para outros.

 

Quando a Vale chegou a Itabira só existiam morros e matas, ou alguns monumentos, como a Igreja do Rosário e casas merecendo ser tombadas pelo ainda inexistente Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan).

 

Para mudar tudo, a chegaram várias empresas. Ninguém acreditava que a ideia da existência de minério de ferro em abundância e qualidade fosse se transformar numa parafernália buraqueira. A etimologia trouxe várias informações e, por incrível que pareça, um parentesco bem perto com o termo advindo do japonês “buraku”.

 

Estou falando desses  furos, que eram normais, fazia-se uma perfuração para alicerces, curta abertura  apenas para sustentar, por exemplo, o muro de arrimo, a rachadura. Os donos das palavras, sempre começando por neologismos, deixaram entender que seria preciso acompanhar um diálogo, ou muitos bate-papos, para se entender onde vão chegar as descobertas.

 

 Concluindo, antecipadamente, e repetindo, quem inventou o buraco foi a Vale mesmo, não adianta fugir do pau. Pronto, parágrafo fechado. Lembrando que Danielle Miterrand esteve em Itabira em fins de 2011, fotografou e quase desmaiou diante das super crateras, com ângulo de cima para baixo. Agora o seguinte: por que esqueceram de inserir na história itabirana esse feito inédito da histórica participação da mineradora renomada internacionalmente?  

 

Aberta a fenda inicial, a fome de riqueza chegou, depois, a ganância e a certeza de que na escavação estava o futuro, não de Itabira, mas dos exploradores. Arrancaram o minério de ferro e pronto. Agora as frestas se imortalizaram: ocuparam e ocupam praticamente todas as ruas itabiranas. O maior furador de gretas chama-se Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) e depois os demais autores, como politicagem, safadeza, esperteza. 

 

Os buracos itabiranos conseguiram enricar os principais tatus de fora da cidade. Vieram sem nada, de bolsos vazios e furados e saíram estufados de notas de 50, 100, 200, não apenas reais, mas dólares, euros e libra esterlina.

 

Deitaram e rolaram. Estou esperando a informação dos vereadores, eles que se virem em apresentar as contas, essa separadamente: quanto ficou o total dos somatórios das crateras tapadas às pressas? As eleições chegavam e saíram tudo na correria?  E para provar que os orifícios urbanos estão de volta, basta dar uma voltinha, não de carro, mas pode ser a cavalo porque assim dói menos.

 

Percorri as ruas, avenidas e becos de Itabira, e pude gravar alguns diálogos entre eles, os orifícios sem fundo cuidaram nomes ou números para si próprios. Acompanhe apenas um pequeno trecho:

 

BURACO NÚMERO 1 — Oi, você aí, BURACO 98, onde está morando?

BURACO 98 — Estou na Rua Platina, Bairro Major Lage de Baixo, mas hoje, depois de quase três meses de existência, resolveram me tapar com blocos de concreto.

 

BURACO 1 — Estou aqui pensando num coitadinho que está localizado na Rua Água Santa, esquina com João Rodrigues Bragança. Muito movimento em cima dele, informam-me que está gemendo de dores.

 

BURACO 3.202 — Não vou nem comentar nada de meu sofrimento porque devido ao número elevado, estou me sentindo com vergonha. Eu sou apenas um, mas estou valendo exatamente o número que me deram. Algumas pessoas me chamam de Percival Farquhar, nem sei o motivo, espero que me expliquem. E existem o Micaria, o Rogerinho e Carlinhos.

 

BURACO 3.202 —  Olha, seu Percival, eu aceito o desafio que dá. Percival Farquhar foi o primeiro estrangeiro que lhe arreganhou para o mundo. Você é o mais famoso, o pioneiro, o primogênito. Parabéns!

 

BURACO  MISTER  ROBINSON — Estou feliz com o meu nome porque sou inglês e recebo um quinhão maior de dinheiro, meu número é vergonhoso, anote aí: 16.024.


E continuei anotando e apurando informações sobre esses buracos. Um geólogo, que não ser identificado, disse que os buracos de Itabira são originais da qualidade do solo. Mas alguns religiosos preferem culpá-los como praga deste mundo. 

E assim deixo as minhas informações que devem ir para registro em cartório.

Amém. 

José Sana

08/11/2024

Imagens: Redes Sociais