quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

ZÉ BOSTA QUE ABALOU BRASÍLIA




Tímido, recolhido, sem cancha, o rapaz invadiu a Capital Federal com um bando de políticos e amigos e teve audiência com o ministro da Justiça


A história é verdadeira. O enredo que se espalhou pelo Brasil sobre o caso deixou até o povo comovido. Perguntas insistentes fizeram-se truncadas ou nem geravam respostas contundentes. O sujeito receber o nome próprio, de cartório e pia batismal, de José Bosta da Silva tornou-se um escândalo maior naquele chamado “tempo do onça”. 

Nossa reportagem esteve em Santana do Cata Prego para conferir os acontecimentos. E, em Brasília para testemunhar e registrar o esperado fechamento de tão louca proposta.

Depois de uma espécie de condenação a quem, afinal, escolheu tão nojento sobrenome, veio a explicação contra o escrivão local, que cometeu o erro digital de trocar o C pelo B. 

Assim, o simplório rapaz, de 32 anos, carregou nas costas uma das  mais nojentas palavras que existem no dicionário e representa excremento de gado bovino ou excremento de animais de grande porte, nada lembrando a participação humana. José oficializava, então, a alteração. Que importância maligna.


COITADO DO ZÉ

José nunca se  importou com o sobrenome. Até porque era ocultado pelas professoras da escola. Mas foi exatamente seu currículo primário escolar que botou seu nome na boa pequena da rua. Com isso, tornando-se um adolescente chamado de “tipo boa pinta”, nem assim conseguia arrumar namorada. Já pensou ele se apresentar a uma moça com a expressão “meu nome é José Bosta? Era preferível não namorar!” — exclamava de si para si.


Um dia a cidadezinha se levantou contra a injustiça. Trata-se de rapaz fino, humilde, trabalhador, sério. Resolveram organizar um abaixo-assinado. Foram ao prefeito pedir apoio. Esse convocou os deputados federal e estadual majoritários na região. Apelaram ao delegado e ao padre. Enfim, além de 2.200 assinaturas dirigidas às autoridades, conseguiram um ônibus com o prefeito e marcharam para Brasília com data de hora marcadas no Ministério da Justiça.


AUDIÊNCIA COM MINISTRO

Foi assim... A Capital da República se agitou. Um dono de Uber disse na saída da estação rodoviária que, afinal, os políticos se uniam por um motivo justo, redimindo-se de tantas babaquices cometidas, mesmo que fosse a de extrair “a merda de um nome indesejado para colocação de algo decente.” E houve a famosa  audiência ministerial com a presença maciça de grandes personalidades da política brasileira.  Alguém poderia comentar que seria por uma “bosta de motivo”, mas o que fazer senão ajudar um pobre coitado que portava na identidade um sobrenome pornográfico?


O ministro da Justiça não perdeu tempo. Chamou à mesa o então José Bosta da Silva que escolheria como seria  seu novo registro. José não vacilou; levantou-se prontamente; ajeitou a gravata com um nó perfeito; abotoou o paletó, olhou para todas as câmeras e microfones que o tornavam figura importante da Pátria Amada Brasil. E soltou seu desejo com um timbre de voz à Galvani Silva,  que assustou os presentes e os que acompanhavam pelo rádio, TV e não o próprio Zé:

— Quero me chamar Joaquim Bosta da Silva.

E foi encerrada a audiência com palmas estrondosas que, estas sim, não abalaram Brasília.

José Sana 

20/02/2024

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

VENDE-SE ENCANTADORA PAISAGEM RURAL



Algumas vezes, só conseguimos enxergar o que possuímos quando pegamos emprestados os olhos alheios

 

Certa vez, um grande amigo do poeta Olavo Bilac queria muito vender uma propriedade, de fato, um sítio que lhe dava muito trabalho e despesa. Reclamava que era um homem sem sorte, pois as suas propriedades davam-lhe muitas dores de cabeça e não valia a pena conservá-las. Pediu então ao amigo poeta para redigir o anúncio de venda do seu sítio, pois acreditava que, se ele descrevesse a sua propriedade com palavras bonitas, seria muito fácil vendê-la.


E assim Olavo Bilac, que conhecia muito bem o sítio do amigo, redigiu o seguinte texto:


"Vende-se encantadora propriedade onde cantam os pássaros, ao amanhecer, no extenso arvoredo. É cortada por cristalinas e refrescantes águas de um ribeiro. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda."

Meses depois, o poeta encontrou o seu amigo e perguntou-lhe se tinha vendido a propriedade.
"Nem pensei mais nisso", respondeu ele. "Quando li o anúncio que você escreveu, percebi a maravilha que eu possuía."

Fica claro que em algumas vezes, só conseguimos enxergar o que possuímos quando pegamos emprestados os olhos alheios.