"Atrairemos à cidade centenas de visitantes, vamos montar uma central para a imprensa brasileira distribuir notícias, seremos venerados por todo mundo..."
Amigos, faz um ano e mais uns meses ou dias houve uma reunião na prefeitura no tal terceiro famoso andar. O alto mandatário itabirano chegou eufórico, coçando a cabeça, assentou-se, alisou a barba de fios grisalhos, engoliu um copo de água e deu um tapa na mesa, respondendo aos seus marqueteiros (ele tem vários, dos dois sexos, vivos e mortos):
— Não vou fazer
grandes obras. Decidido. Vou preparar cinco ou seis pracinhas, que ficam
baratinho, reformar escolas, postos médicos e só... (zum-zum interminável em volta da mesa). Silêncio...
— Mas, prefeito,
e a água? A cidade está numa seca tremenda. A população não pode aumentar, como
atrair investimentos sem água? — gritou lá da ponta uma mulher, por sinal elas
participam mais que os homens, tenho observado.
— Calma, minha
querida, vamos dizer que a Vale está protelando, pirraçando, mas só aqui entre
nós. Eu sei que, na verdade, esse projeto lá de captar água do rio Tanque é ficção. Obra imaginária.
A Vale já disse que não dá conta de iniciar a obra em três anos. Passado esse
tempo, a cidade reduzirá pela metade a população. E a água vai sobrar. Ninguém
mais vai lembrar-se desse impertinente H2O.
— Prefeito, mas
e a grande indústria de que você falava, a empresa que substituirá a Vale,
salvando a nossa arrecadação? — a pergunta agora é de um senhor barbado,
aparência de 45 anos, também da equipe de marketing do executivo itabirano.
— Não tem isso
não, moço — retrucou o mandatário, bebendo mais meio copo de água e tossindo,
com educação para o lado de fora e entremeado de risos e olhos curiosos que o
fitam. E continuou:
— Na reunião
passada esse tema foi focalizado e finalizado. Ficou decidido que nenhuma
empresa virá para Itabira. Vamos trabalhar o turismo e mostrar as obras
estruturais que fizemos e estamos fazendo. Haverá uma chuva de realizações no ano eleitoral. Itabira ficará enfeitada.
E segue na sua
narrativa cheia de entusiasmo:
— Na verdade, o
meu governo é unilateral, não segue ninguém. Nunca atendi a vocês. Contratei-os
apenas para me acompanhar, avaliar. O projeto, então, se resumirá nisto:
atrairemos à cidade centenas de visitantes, vamos montar uma central para a
imprensa brasileira distribuir notícias, seremos venerados no mundo todo.
Temos muito
dinheiro no orçamento de publicidade para o ano que vem. E também para promover
festas, o povo está maluco com as nossas festanças. Fora as leis de incentivo
que custam nada.
— Agora entendi
— entrou uma nova voz feminina — você vai enrolar o povo até ser reeleito?
— Enrolar não, minha querida, este o projeto fará o povo ser feliz. Todo mundo sabe que a Vale vai ficar por aí até 2041. Aí eu nem devo estar aqui. Serei reeleito em 2024 e elejo o meu sucessor em 2028. Vou para deputado, senador, presidente da República... (a sala de reuniões foi abaixo com essa declaração do excelentíssimo senhor prefeito; alguém corre na geladeira e abre um champanhe e estoura no meio da sala).
Ponto e vírgula;
o ponto final será quando MAL tornar-se presidente da República
Federativa do Brasil. E não sei se estarei aqui, mas se estiver, a manchete de
meu texto será: “De Ipoema para o Brasil, um grande líder mundial!
José Sana
Em 16/10/2023
NOTA
DE BURRO DO ZÉ
“Qualquer semelhança da narrativa acima com fatos ocorrendo
por aí pode ser mera coincidência e por isso não há o que provar”.
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