segunda-feira, 16 de outubro de 2023

De Itabira para o mundo: um grande líder internacional

"Atrairemos à cidade centenas de visitantes, vamos montar uma central para a imprensa brasileira distribuir notícias, seremos venerados por todo mundo..."



Amigos, faz um ano e mais uns meses ou dias houve uma reunião na prefeitura no tal terceiro famoso andar. O alto mandatário itabirano chegou eufórico, coçando a cabeça, assentou-se, alisou a barba de fios grisalhos, engoliu um copo de água e deu um tapa na mesa, respondendo aos seus marqueteiros (ele tem vários, dos dois sexos, vivos e mortos):

 

— Não vou fazer grandes obras. Decidido. Vou preparar cinco ou seis pracinhas, que ficam baratinho, reformar escolas, postos médicos e só... (zum-zum interminável em volta da mesa). Silêncio...

 

— Mas, prefeito, e a água? A cidade está numa seca tremenda. A população não pode aumentar, como atrair investimentos sem água? — gritou lá da ponta uma mulher, por sinal elas participam mais que os homens, tenho observado.

 

— Calma, minha querida, vamos dizer que a Vale está protelando, pirraçando, mas só aqui entre nós. Eu sei que, na verdade, esse projeto lá de captar  água do rio Tanque é ficção. Obra imaginária. A Vale já disse que não dá conta de iniciar a obra em três anos. Passado esse tempo, a cidade reduzirá pela metade a população. E a água vai sobrar. Ninguém mais vai lembrar-se desse impertinente H2O.

 

— Prefeito, mas e a grande indústria de que você falava, a empresa que substituirá a Vale, salvando a nossa arrecadação? — a pergunta agora é de um senhor barbado, aparência de 45 anos, também da equipe de marketing do executivo itabirano.

 

— Não tem isso não, moço — retrucou o mandatário, bebendo mais meio copo de água e tossindo, com educação para o lado de fora e entremeado de risos e olhos curiosos que o fitam. E continuou:

 

— Na reunião passada esse tema foi focalizado e finalizado. Ficou decidido que nenhuma empresa virá para Itabira. Vamos trabalhar o turismo e mostrar as obras estruturais que fizemos e estamos fazendo. Haverá uma chuva de realizações  no ano eleitoral. Itabira ficará enfeitada.

 

E segue na sua narrativa cheia de entusiasmo:

 

— Na verdade, o meu governo é unilateral, não segue ninguém. Nunca atendi a vocês. Contratei-os apenas para me acompanhar, avaliar. O projeto, então, se resumirá nisto: atrairemos à cidade centenas de visitantes, vamos montar uma central para a imprensa brasileira distribuir notícias, seremos venerados no mundo todo.

 

Temos muito dinheiro no orçamento de publicidade para o ano que vem. E também para promover festas, o povo está maluco com as nossas festanças. Fora as leis de incentivo que custam nada.

 

— Agora entendi — entrou uma nova voz feminina — você vai enrolar o povo até ser reeleito?

 

— Enrolar não, minha querida, este o projeto fará o povo ser feliz. Todo mundo sabe que a Vale vai ficar por aí até 2041. Aí  eu  nem devo estar  aqui. Serei reeleito em 2024 e elejo o meu sucessor em 2028. Vou para deputado, senador, presidente da República... (a sala de reuniões foi abaixo com essa declaração do excelentíssimo senhor prefeito; alguém corre na geladeira e abre um champanhe e estoura no meio da sala).


Ponto e vírgula; o ponto final será quando MAL tornar-se presidente da República Federativa do Brasil. E não sei se estarei aqui, mas se estiver, a manchete de meu texto será: “De Ipoema para o Brasil, um grande líder mundial!

 

José Sana

Em 16/10/2023

 

NOTA DE BURRO DO ZÉ

“Qualquer semelhança da narrativa acima com fatos ocorrendo por aí pode ser mera coincidência e por isso não há o que provar”.

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