terça-feira, 21 de maio de 2024

O VENDEDOR DE COBERTOR E O MARKETING

 

Na antiga Itabira do Mato dentro estamos tentando imaginar como será a estratégia de um candidato nas próximas eleições de outubro


Antes de mais nada, quero deixar bem claro, claríssimo, que retiro das referências deste texto, que vou agora rabiscar,  vários nomes de marqueteiros que admiro o trabalho e a profissão deles. São até amigos  Não vou citar nomes, são amigos do peito e praticam o marketing necessário, que interessa ao povo e à verdade.

Quando foi criada a expressão “marketing”,  na sequência da Revolução Industrial (séculos 18 e 19, era justo e necessário contar com o  instrumento. A  interpretação dos fatos movia-se por  uma visão negativa, no mundo  difundida a ideia da substituição do homem por máquinas. A explicação real  precisou ser difundida para que houvesse paz no seio da informação.

Como obra do marketing,  apareceu o filme de Charles Chaplin — “Tempos Modernos” — que critica a alienação da sociedade diante da transformação do homem em complemento industrial. Daí quero apenas dizer que o marketing não se constitui apenas uma arma de direita, mas também da esquerda e valeu a intervenção de Carlitos.

É preciso mostrar a face intocável do marketing, com  sua sujeira, que não deveria progredir mais, a não ser que  siga a  verdade e o respeito diante de tudo o que já foi falado, visto, analisado. O marketing mentiroso deturpa criminosamente a  realidade a ponto de o desinformado  já perceber  o sentido da expressão “cara de pau”.

“Em excesso, a sinceridade e a verdade podem ofender e magoar o outro. Li a frase em algum lugar por aí. Com o óbvio sendo contestado, além de chamar de babaca o cidadão,  mensagens que maquiam a trapaça podem atrasar o mundo, deveria tornar-se crime inafiançável  a  invasão de propriedade como se fosse bandido de pena perpétua.

Imagino, por exemplo, um quadro assim,  do qual sou testemunha: em certo dia  cheguei a uma cidade do Vale do Rio Doce. Atraíam a imprensa protestos relativos  à construção de barragens. Fui ver o que se travava.

O tema  que me chamou a atenção tinha o nome de cobertor: uma kombi lotada  deles  ensurdecia a cidade, anunciando, em alto-falante, promoção  preços de banana.  A cidade, premiada com os gritos estridentes do locutor persistente e em que estava tem o nome de  Conselheiro Pena, situada às margens do Rio Doce. De janeiro a dezembro, a região vive um insuportável  “calorão do cão” , inventado e benzido por Fernando Silva, colunista da DeFato. O inverno é palavra desconhecida na cidade até por cães vadios que se amontoam em passeios (foto).

Depois de persistentes tentativas durante 36 dias, incluindo domingos e feriados, o camelô  conseguiu uma marca que ninguém acreditou: faturou, à vista, um cobertor chamado “três semanas”, daqueles que fazem o dorminhoco pedalar a noite toda. Ele quis saber de  qual região  veio o consumidor, a resposta saiu seca e firme:  “Maria da Fé,  no Sul de Minas Gerais, onde ambulante de picolé  passa fome”.

Curioso, apurei que o batalhador do cobertor resolveu deslocar-se para a cidade sulina e lá vendeu até a kombi e comprou um caminhão. Entupiu-o de edredons, mantas e cobertores e vendeu como sequer imaginava. Ficou rico. Como os ricos não se contentam com o que ganham, com medo de perder a fortuna, resolveu contratar um marqueteiro que criou a seguinte imagem: “Vendi cobertores até em Conselheiro Pena, por isso sou o maioral”. Era mesmo, passou o caminhão para a frente e montou uma indústria... de cobertores.

Na antiga Itabira do Mato Dentro estamos tentando imaginar como será a estratégia de um candidato nas próximas eleições de outubro. Minha inteligência é curta para enfrentar um desafio deste naipe, por isso não consegui ser marqueteiro na vida.

Se eu fosse aprovado no concurso de Marketing da altura de um Gilzan Guanaes, estabeleceria como tema, cabeça de propaganda, um itinerário assim desenhado:

“Alô, eleitor, resolvemos implantar uma espécie de democracia da publicidade. Então, vamos trabalhar com pesquisas. E já fizemos a nossa planilha de trabalho. Anotem e nos cobrem em 2025 o que o povo pediu:

  Não vamos dar andamento às obras da Unifei,  paralisadas há três anos. Onde já se viu município dar dinheiro para o Governo Federal?

  Parque Tecnológico? O povo diz que nunca viu nem ouviu falar.

— Água do Rio Tanque? Pra quê? A população vai reduzir, mais da metade de Itabira vai embora e teremos água de sobra.

— Empregos? Visitem o Sine, nem filas mais temos lá.

— Metrô? Quem vai andar nessa droga se os ônibus vão ser de graça?

— Saúde para o povo? Quem morre nunca reclama.

— Central de Resíduos? Desde 2021 paralisamos a catação de lixo, misturamos a mistureba e nem os urubus reclamam.

  As pesquisas apuraram  também que o itabirano é mesmo um panaca, mas isso ninguém pode falar, somente praticar.

Seremos um governo que nunca fará promessa, somente duas: todo o dinheiro que sobrar das promessas engavetadas serão direcionadas a shows, festinhas, festas e festanças, além de uma pracinha em cada esquina; a outra promessa:  no próximo “calorão do cão”  vamos trazer o vendedor de cobertor de Conselheiro Pena, e  mandá-lo distribuir a mercadoria a rodo em Itabira, Senhora do Carmo e Ipoema a R$ 1,99 a peça. O de três semanas vai custar R$ 0,25.

Zé do Burro

22/05/2024

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