segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Memórias Assombradas Capítulo 2 — A LOIRA DO CAMINHO NOVO

O tempo passou, mas os fatos de outros mundos continuaram atuais. A Loira do Parente, que deu sopa no centro da cidade no início de 1945, em  história contada pelo saudoso Marconi Ferreira, acabou dando a entender que retornava 40 anos depois, agora para outro funcionário da própria Vale, um motorneiro da Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM), solteiro, 25 anos, frequentador de zona boêmia, nos locais chamados Sozinho, Maria Escurinha, Zezé e outros meretrícios menos frequentados.

José Queiroz, a vítima, ou o contemplado. Nem podia ser outro, Queiquei, ou José Dimas de Queiroz, este o nome dele de cartório e pia batismal, é o personagem de hoje. De vez em quando o chamavam de Queiquei, que usurpava a coragem dos amigos por meio de cachaça, vodka, uísque que bebia do copo alheio. Ultrapassava a linha divisória da razão a ponto de realizar algo que ninguém imaginava: desafiar almas do outro mundo.

Ele, Queiquei, não se aquietava e se dava a aventuras até nas beiras das lagoas da cidade, em número de 15. Encontrava sempre surpresa  em cada barragem construída faz longos anos pela velha Companhia Vale do Rio Doce (na foto acima, uma visão sua na Barragem do Pontal.

Zé Queiquei tinha o dom de fazer muitos amigos, mas com uma ressalva. Seu fraco, ou forte, como ele dizia, era sexo, mulher, até esporte, futebol que não o interessava tanto. Como exemplo, tinha uma camisa do América Mineiro, só, às vezes dizia que era americano porque seu pai tinha uma certa simpatia pelo time verde. Ultimamente algo que tomava o tempo de Queirozinho (era assim que seus pais o tratavam, além de Queiquei) a visão de uma mulher alta, loira, bem-vestida, de saltos altos, de passos elegantes, bonita, bem maquiada, lábios carnudos como requer a moda, no meio das pedras e terras, nas madrugadas (precisamente à meia-noite). Ela o olhava cada vez com mais força nos olhos, detidamente, e desaparecia na mesma curva.

A  curva era da rua Prefeito Virgilino Quintão, caminho do bairro Água Fresca, passando pelo antecedente, Cônego Guilhermino. Queiroz não suportou guardar para si o seu segredo, contou a um amigo , Joaquim Fujico, este o tarado, cujo caso seremos obrigados a focalizar em breve, vamos estudar, a história de uma mulher diferente que vagou pelo bairro Penha.

Mas voltemos à loira de Queirozinho, atraente, que tirava a paz de nosso personagem, ele conta, primeiramente, para seu amigo Fujico, cujo segredo era mais marcante. E o caso caiu no conhecimento até de medrosos e mais velhos que evitavam falar de fantasmas. O caso da Loira do Caminho Novo já parecia o retorno da Loira do Parente, comentavam antigos frequentadores da Avenida Martins da Costa, em frente a sede da Banda Euterpe Itabirana.

“Não pode ser a Loira do Parente”, protestou a unanimidade da  roda de cerveja em um  bar próximo ao meretrício. Um mais eloquente, Mané Rapadura deu até um murro na mesa que quase caiu e entornou as bebidas. Rapadura, amigo de Sônia Doida, repetiu tanto que até Joãozinho, do João XXIII, que já estava “chapado”, questionou: “Por que não? Pode ser, uai!”!

 A resposta veio com ar de gente que conhece a fama de Itabira, tanto a história quanto a fama, que calou os demais, a partir da boca de Geraldo Majela (com j mesmo, alertava ele): “Porque são passados quase 80 anos que a Loira do Parente dançou e desapareceu e nesse tempo, ela já padeceu no inferno ou no purgatório, ou no céu”.

Silêncio total no ambiente do bar e fora dele , cujas cadeiras se arrastavam pela esquina da Virgilino Quintão, ocupando parte  da rua Turquesa, até que pintou no local o primeiro, ou talvez o único privilegiado que via — de ver com os olhos —  a Loira do Caminho Novo com assiduidade. Ele, cansado de ser procurado pelos curiosos para narrar o caso, naquela noite de fim de século, resolveu abrir o verbo. E que verbo, até uma frase que parece um pleonasmo veio de um participante: “Olha pra você ver!”

O sujeito que talvez tenha espiritualidade profunda deixou a sua opinião sincera: “A mulher que vejo sempre não é do Além neca nenhuma como foi o caso contado pelo “Menino da Mina”, o Marconi. A loiraça que observo todos os dias: ou de  saias compridas, ou de short, dependendo do clima, frequenta salões de beleza por aí, faz sempre  unhas e maquiagens, usa batom  avermelhado, combinando com alguma roupa do corpo, não é manjada como algumas da vida, tem os cabelos pintados de cores variáveis e, o mais interessante é que  sorri sempre com um ar otimista e me cumprimenta com muita simpatia...” — esclareceu o “privilegiado’ rapaz,  gabando-se do seguinte: ambos estariam apaixonados.


“O incrível é que a Loira nunca subia o morro se eu não estivesse indo para casa, jamais a vi  em outro horário senão naquele tempo em que Machado de Assis contava suas assombrações. Isso me deixou um pouco desconfiado” — afirmou Queiroz.  Já levei amigos até o alto da rua, dobrando a esquerda sempre, acima do Premen, desaparecendo no Cemitério da Paz, mas só eu consigo ver. Quando o coveiro está por lá, adeus, Loira, ela some”.

Assunto encerrado naquela noite, José Queiroz resolveu demorar um pouco e subir para casa por volta de 23 horas e tanto, quase meia-noite. Fez hora num outro bar que, de olho no relógio, tomou o rumo de casa. Viu a Loira chegar junto dele depois da passagem do trem acima do túnel. E ela parecia iluminada, risonha, a tudo atraindo na sua perspectiva. 

“A Loira existe”, pensou consigo mesmo. E mais surpreso ficou ao manjar os longos  braços que o  entrelaçaram carinhosamente o pescoço e o puxavam para junto de si, fazendo-o sentir um perfume super agradável, logo ele que detestava muitas fragrâncias comuns. Queiroz suspirou. O casal  caminhava na subida, beira da calçada, até que ele resolveu soltar a sua voz, depois de ouvir e vibrar com a voz fina, de menina nova, a frase que ficou gravada como inesquecível em sua memória: “Querido”.

“Queiquei, sou sua”, continuou a Loira, fazendo estremecer nos seus 25 anos que pareciam de adolescente. Ela mesma adiantou o que ele mais sonhava: “Somos da mesma idade”.

Então, emocionado, José Dimas soltou a voz: “Te vejo muito aqui, subindo esta rua, você vem sempre à meia-noite... Me estranha demais.  Não tem medo de algum louco ou até mesmo qualquer bandido a atacar, pois é nova e bonita?”

A loira não teve  o receio de dar-lhe uma resposta e fê-lo com relativa simplicidade, retirando o braço de seu ombro, mostrando que estava de axilas depiladas, que era higienicamente caprichosa como a sua beleza:

“Não, menino, não tenho receio de ser agredida”.

“Não tem?” — retrucou Quim — Me explica de onde vem essa coragem!” 

“ Quando eu era viva, sim, era medrosa, hoje, não”!

Nesse momento houve o desmaio. Do rapaz, sim. Que acordou dentro da ambulância do Samu quando era encaminhado para atendimento no Hospital Nossa Senhora das Dores.


Zé do Burro



Imagens: Arquivo pessoal

P.S.: As loiras que andam por aí  podem desconfiar, que sejam  personagens deste conto, mas que fiquem sossegadas, ainda vou revelar o nome dessa, quando era viva.Eu só aviso: sejam condescendentes e não ataquem o Zé do Burro que isso pode estourar.

(Continua no Capítulo 3)


sábado, 14 de dezembro de 2024

MEMÓRIAS ASSOMBRADAS

 (Capítulo 1 — A Loira do Parente)


Itabira ainda vivia ás sombras da montanha de ferro, os anos eram fim da década de 1960 e início de 1970. Gente de todas as partes do Brasil aqui chegava à procura de dias melhores. Era um momento ímpar na história da cidade, culturas diferentes e novos costumes foram trazidos nas bagagens daquela nova gente. Algumas famílias assustadas com todo aquele movimento, resolveram mudar para Belo Horizonte.


A cidade, antes pacata, experimentava naquele momento uma vida noturna agitada. Os clubes tradicionais como Atlético Itabirano e Valeriodoce, promoviam seus bailes os quais eram frequentados apenas pelos associados. No Clube Atlético Itabirano a elite predominava. O Valeriodoce disponibilizava três salas de baile, Sedinha do Explosivo, do Campestre e a antiga sedinha do bairro Pará.


Doutores, chefes e piões frequentavam os locais. Era explicita a divisão de classe. Afinal o clube era mantido pela mineradora. Os principais bares da época era, Columbia, Lunik, Botafogo e Olintão e Mundico. O famoso bar do Mundico localizado próximo a ponte da Rua de Baixo era o mais frequentado por servir uma saborosa comida. Nos anos 1970, novos bares foram surgindo, "Barricão", "Cequisabe", "Balaião", "Fuji", "Potoca", "Nilo" e "Mirante" .


Havia também parte de uma rua que era denominada baixo meretrício. Local conhecido como "Água Espaiada", "Girola", "Fonte da Pedra", "Senta e Deita", "Largo da Madame" ou "Ponto de Briga". Na Avenida Martins da Costa, próximo ao Castelinho, em um sobrado, funcionava um bar denominado Parente, onde todos os fins de semana eram realizados bailes. A casa ficava sempre lotada. Era opção para os não sócios dos clubes e aqueles que não ousavam frequentar o baixo meretrício.


As pessoas que ali freqüentavam relatam o seguinte episódio. Em certa noite, foi notada a presença de uma bela mulher, trajando um vestido negro com um xale branco com detalhes vermelho, trazendo nas mãos uma bolsa pequena de cor roxa. Os cabelos eram longos e loiros.

Muitos perceberam que ela entrou no salão com a cabeça baixa, sem olhar para ninguém.

Assentou-se em uma cadeira próximo a uma mesa perto da entrada principal. A presença da jovem chamou atenção de vários rapazes ali presente. O encanto foi geral.

Também despertou ciúme nas mulheres assíduas frequentadoras do local. Certo rapaz encantado pela delicadeza e a beleza da jovem, depois de muita insistência ganhou sua atenção.


Fez o convite para dançar. Foi prontamente atendido. Todos os olhares voltaram para aquele belo casal. Assim que o jovem ofereceu as mãos para iniciar a dança, sentiu que a jovem estava totalmente gelada. Aquilo chamou a sua atenção por alguns minutos, mas na empolgação do momento não relevou aquele fato. Dançaram algumas músicas sem trocar olhares e conversa. Assim que o relógio do salão tocou 23h45min, a jovem apressou em retirar daquele local. Fez um sinal com a cabeça, apontou para a entrada principal e desceu a escadaria ligeiramente.


O jovem não entendendo aquela atitude a seguiu a distância pela avenida. No escuro da noite percebeu que ela havia entrado na rua que da acesso ao cemitério do cruzeiro.

Continuou seguindo. Assim que a jovem aproximou do portão principal do cemitério, desapareceu.Sentiu novamente um frio intenso e entrou em pânico. Voltou rapidamente para o salão do Parente. Ao entrar no salão, todos perceberam que algo de errado havia acontecido com aquele jovem. Assustado relatou o fato com os amigos.


Muitos não acreditaram na história, outros sim. O jovem voltou para casa, tenso e perturbado com o acontecido. Foi uma noite terrível. Não conseguia pregar os olhos.

Para complicar, uma coruja cantou durante toda a noite na laranjeira do quintal de sua residência.Aquilo o deixou ainda mais apavorado.Não teve forças para trabalhar naquela manhã. Estava confuso.Resolveu levantar e procurar algumas pessoas que residem nas imediações do cemitério do cruzeiro para obter algumas informações.


Deu detalhes precisos da característica da tal mulher. As poucas pessoas que residem nas proximidades da necrópole não sabiam quem seria, jamais teriam visto a tal donzela. O jovem resolveu entrar no cemitério entendendo que a paz do local poderia contribuir para um ordenamento em sua mente.

Ajoelhou-se diante da cruz principal clamou a Deus em voz alta o que fez acordar o coveiro que dormia entre os túmulos curando uma ressaca da noite anterior. Em seguida parou diante do jazigo de seus familiares, rezou uma dezena de Ave-Marias.


Aquilo acalentou um pouco a sua alma. Naquele instante algo o chamou a atenção. Ao lado do jazigo de sua família, havia uma sepultura abandonada, e os números estampados na cruz ali colocada, datava um falecimento em 10-01-1945. Era um sepulcro de uma mulher. Aos pés da cruz encontrava-se um oratório corroído pelo tempo. Em seu interior, podia observar uma fotografia amarelada, empoeirada de partículas de minério.


Não conteve a curiosidade, quis observar de perto de quem seria aquele retrato. Soprou a poeira, e um rosto apareceu nitidamente. Para seu desespero e susto, o rosto era da bela mulher que ele dançou na noite anterior no salão do Parente. Desfalecido, caiu por terra.


O coveiro imediatamente chamou o carcereiro que fazia plantão na cadeia pública ao lado e o encaminhou para Hospital Nossa Senhora das Dores. O jovem ficou algum tempo em estado de choque. O acontecido ficou registrado na história de Itabira como o caso da Loira do Parente.


Marconi Serafim Assis Ferreira (in memoriam/ de seu livro "Menino da Mina"/2020)

(Continua no próximo capítulo)

domingo, 1 de dezembro de 2024

“Como vencer um jogo de futebol e ser campeão sem fazer força”

 


Uma receita sem precisar de livro nem de mais de 15 minutos para resolver a seguinte equação: como vencer uma  Libertadores da América, em poucos segundos, com mestre

  

Se aqui estivesse, Dale Carnegie me faria um favor, isso eu o obrigaria: ir ao Estádio Mâs Munumental de Nuñes e dar uma palestra de alguns minutos para os jogadores do Clube Atlético Mineiro que perdiam para o Botafogo por 2 a 0 no primeiro tempo da partida que apontaria o campeão da América de 2024.

 

Ele  não escreveria um livro assim chamado “Como ganhar uma decisão da Libertadores em 45 minutos sem fazer força”. O livro seria uma palestra apenas teria 12 minutos  de duração. O Galo voltaria ao campo e enfiaria um, dois, três e quantos gols quisesse no clube da estrela solitária. Éverson, cujo capeta encarnou em si para cometer um pênalti, não jogaria, a não ser nos minutos finais, para defender uma única bola que foi ao seu gol; Lyanco seria imediatamente sacado do time; entrariam ou Saraiva ou Mariano em seu lugar. O Galo teria apenas dois zagueiros — Júnior Alonso e um outro qualquer, talvez nenhum; meio de campo nem precisaria, seriam escalados Hulk, Paulinho, Deyverson, Vargas, Alisson e Alan Kardec, todos correndo atrás da bola como de um prato de comida no meio de uma terceira guerra mundial.

 

Carnegie, no vestiário do intervalo, nem contaria o número de jogadores porque ele também nunca entendeu de futebol, nem do americano, nem basquete e nem vôlei, nem cuspe à distância. Ele diria: “Complete aí e o resto deixe por minha conta porque não tem como perder nem uma pelada de casados x solteiros.

 

E olhem que Dale Carnegie, transportado de helicóptero pelo dono da SAF atleticana,   estava em Maryville, Missouri, Estados Unidos, onde nascera e vivia ainda, ele adiou a morte de 1955 até mostrar que resolvia casos de futebol também porque seria moleza, só o tal de Milito não via, não enxergava, não sacou.

 

E se lhe perguntam de quanto seria o jogo, o famoso escritor abriria para palpites de cada jogador, seria chamado Hulk que daria o número de sua camisa, 7 para simbolizar os 7 a 2. O terceiro chute seria defendido por Éverson, que acordaria do pesadelo provocado na massa de 100 milhões de atleticanos, segundo as pesquisas fajutas ou não.

 

E tome vergonha na cara quem participou deste jogo e entregou o ouro ao bandido!

 

José Sana

01/12/2024

Foto: Redes Sociais