segunda-feira, 6 de julho de 2015

O FIM DA COMUNICAÇÃO

Nos últimos tempos, falam muito em fim. “O fim do Brasil” é o título de um livro que estou lendo, do mestre em finanças Felipe Miranda. Fim dos tempos ouve-se de religiosos, carolas ou fanáticos e fundamentalistas de doutrinas e seitas. Fim de linha —  linha férrea, anzol,  vara,  pensamento, sonho. Rua sem fim — o que mais existe em cidades feitas na marra no período quase medieval. Fim do mundo — o que os pessimistas aguardam ansiosamente. Finalmente, o fim da comunicação, tema que me assalta as ideias neste exato momento.

Indiferente ao fim de outras coisas, a comunicação está chegando ao seu inadiável limite. E desponta, para explicar isso, ou tornar ainda mais difícil a explicação, o desenvolvimento de muitos e muitos canais, muitos e muitos estudos, muitas e muitas formas. O ser humano inventou o telégrafo, a imprensa, o rádio, a televisão, a internet. À medida que esses poderosos recursos foram aparecendo na face da Terra, foi e vai se extinguindo a comunicação.

Antigamente o homem se comunicava por tambores e/ou fumaça. Conta a história que um aviso à distância era naturalmente transmitido e entendido por quem quer que fosse. Houve uma época, mais recente, em que presenciei o recado para fulano, sicrano e beltrano. Se fosse complicada, a mensagem corria o risco de chegar truncada ou mudada, mas em regra não, seguia inteira e original. Lembro-me muito bem quando os recadeiros diziam que “a notícia boa corre e a má notícia voa”. Ela corria  e voava de boca a boca.

Hoje em dia, ninguém mais dá recado. “Pode deixar que falo com ele” — essa forma inteiriça de resposta a um pedido de transmissão de lembrete se constituía na única atenção dada pelo interlocutor. Ou mesmo, um “podexá”.Nunca, nunca, nunca! Ninguém mais dá recado. Quando ocorre uma esporádica transmissão de mensagem, o destino não crê na veracidade desse aviso. O muito que pode fazer para que tudo corra bem é ligar diretamente para o remetente, mesmo que com muita dificuldade.

Dentro de minha roda de amigos e profissionais, não podendo voltar nem à fumaça nem ao tambor, envio um e-mail. Mas sei que esse não será lido. Então, segue um torpedo (SMS) ou mensagem via MSN ou o chamado via WhatsApp, ou todos juntos. Costumo também ligar que mandei e-mail, SMS, MSN e WhathsApp. Com todos esses recursos, vez por outra sou obrigado a ir pessoalmente ao endereço do destinatário para ver se recebeu todas as tentativas de mensagens. E ele, normalmente, diz: “Não tive tempo!”

Duro de roer ou entender a era em que entramos. Diria que James Watt, com a  máquina a vapor; Samuel Morse, o telégrafo; Alexander Graham Bell,  o telefone; Karl Bens, o primeiro veículo a gasolina; Guglielmo Marcon, o rádio;  Johann Gutenberg, a imprensa; Santos Dumont, o avião; Vannevar Bush, o computador analógico; Frank Whittle, o avião a jato; Telstar I, o primeiro satélite de comunicação; e com objetivos militares, foi criada a rede Arpanet que daria origem à Internet — toda essa trajetória de descobertas ou criações foi absolutamente dispensável porque a chamada nova e desenvolvida geração de hoje chuta o balde e sai dele derramando o leite do progresso.

É o fim. Quer saber o que fazer? Não leia ninguém, não ouça nenhum pé-rapado nem lambedor de rapadura. Não se comunique. Faça o contrário do que sugeria Abelardo Barbosa, o inesquecível Chacrinha: “Trumbique-se!” ou “Dane-se!”

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