Nos últimos
tempos, falam muito em fim. “O fim do Brasil” é o título de um livro que estou
lendo, do mestre em finanças Felipe Miranda. Fim dos tempos ouve-se de
religiosos, carolas ou fanáticos e fundamentalistas de doutrinas e seitas. Fim
de linha — linha férrea, anzol, vara,
pensamento, sonho. Rua sem fim — o que mais existe em cidades feitas na
marra no período quase medieval. Fim do mundo — o que os pessimistas aguardam
ansiosamente. Finalmente, o fim da comunicação, tema que me assalta as ideias
neste exato momento.
Indiferente ao
fim de outras coisas, a comunicação está chegando ao seu inadiável limite. E
desponta, para explicar isso, ou tornar ainda mais difícil a explicação, o desenvolvimento
de muitos e muitos canais, muitos e muitos estudos, muitas e muitas formas. O
ser humano inventou o telégrafo, a imprensa, o rádio, a televisão, a internet.
À medida que esses poderosos recursos foram aparecendo na face da Terra, foi e
vai se extinguindo a comunicação.
Antigamente o
homem se comunicava por tambores e/ou fumaça. Conta a história que um aviso à
distância era naturalmente transmitido e entendido por quem quer que fosse.
Houve uma época, mais recente, em que presenciei o recado para fulano, sicrano
e beltrano. Se fosse complicada, a mensagem corria o risco de chegar truncada ou
mudada, mas em regra não, seguia inteira e original. Lembro-me muito bem quando
os recadeiros diziam que “a notícia boa corre e a má notícia voa”. Ela corria e voava de boca a boca.
Hoje em dia,
ninguém mais dá recado. “Pode deixar que falo com ele” — essa forma inteiriça
de resposta a um pedido de transmissão de lembrete se constituía na única
atenção dada pelo interlocutor. Ou mesmo, um “podexá”.Nunca, nunca, nunca!
Ninguém mais dá recado. Quando ocorre uma esporádica transmissão de mensagem, o
destino não crê na veracidade desse aviso. O muito que pode fazer para que tudo
corra bem é ligar diretamente para o remetente, mesmo que com muita dificuldade.
Dentro de minha
roda de amigos e profissionais, não podendo voltar nem à fumaça nem ao tambor,
envio um e-mail. Mas sei que esse não será lido. Então, segue um torpedo (SMS)
ou mensagem via MSN ou o chamado via WhatsApp, ou todos juntos. Costumo também
ligar que mandei e-mail, SMS, MSN e WhathsApp. Com todos esses recursos, vez
por outra sou obrigado a ir pessoalmente ao endereço do destinatário para ver
se recebeu todas as tentativas de mensagens. E ele, normalmente, diz: “Não tive
tempo!”
Duro de roer ou
entender a era em que entramos. Diria que James Watt, com a máquina a vapor; Samuel Morse, o telégrafo;
Alexander Graham Bell, o telefone; Karl
Bens, o primeiro veículo a gasolina; Guglielmo Marcon, o rádio; Johann Gutenberg, a imprensa; Santos Dumont,
o avião; Vannevar Bush, o computador analógico; Frank Whittle, o avião a jato;
Telstar I, o primeiro satélite de comunicação; e com objetivos militares, foi
criada a rede Arpanet que daria origem à Internet — toda essa trajetória de
descobertas ou criações foi absolutamente dispensável porque a chamada nova e
desenvolvida geração de hoje chuta o balde e sai dele derramando o leite do
progresso.
É o fim. Quer saber o que fazer? Não leia ninguém,
não ouça nenhum pé-rapado nem lambedor de rapadura. Não se comunique. Faça o
contrário do que sugeria Abelardo Barbosa, o inesquecível Chacrinha: “Trumbique-se!”
ou “Dane-se!”
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