domingo, 10 de julho de 2016

A ELEIÇÃO DO FLANELINHA

Flanelinha é aquele moço que fica na rua tomando conta de carros no estacionamento, por conta própria, e cobra alguma moeda dos seus proprietários. Além de vigiar, eles aceitam outros valores para limpar e dar algum brilho no quatro rodas. Ele também guarda o espaço para um outro que lhe paga adiantado. Em futebol, falam daquele time que fica durante um bom tempo na zona da elite, mas na hora final do campeonato é superado por outro que andava ruim das pernas. Na política, agora, flanelinha é o partido pequeno que, quando de verdade é deflagrada a reta final, arreda-se à traseira e apoia o candidato que imagina ser mais forte.

Neste inseguro ano eleitoral de 2016, esse flanela aparece pela primeira vez com mais definição e força. Antes, fazia uma aliança antecipada ou com a situação ou a oposição. Agora, não, considerando que andam falando mal de grupões. Neste momento, apresenta o seu candidato, mostra que acredita nele e vai levando até o instante derradeiro.

Você quer saber quais são os carros e os flanelinhas na eleição deste ano? Basta  conferir os nomes que são os mais falados e ver na listagem o número de pré-concorrentes. Procurem também os mais bem informados e/ou entendidos do assunto e eles vão dizer que Itabira terá neste ano de cinco a seis concorrentes. Ou mais, como diz o meu amigo e cantor Ânderson da dupla ele e Guto. Se somarmos os flanelinhas hoje chegaremos quase ao número 30. Alguns apenas querem testar a sua popularidade, outros estão brigando para ocupar a vaga de vice, os mais fracos aceitam alianças que os deem emprego garantido no próximo mandato.

Diz uma raposa itabirana aos quatro cantos que eu desaprendi a política. Ele talvez tenha razão porque me desapeguei do entendimento antigo a respeito das manobras. Agora estou vendo por outro ângulo como os que entendem temperam a comida para o mês de outubro. Sou realmente dos tempos antigos da cidade. Por exemplo, acompanhei a vez em que Daniel Grisolia deu cabo à vida, a catedral foi ao chão e Padre Joaquim Santana de Castro derrotou Renato Sampaio, esse, então, o favorito das eleições de 1970. Sou do tempo em que o único dono de gráfica em Itabira, ou melhor, tipografia, senhor Emílio Novaes, imprimia panfletos para todos e comentava no seu balcão: “A eleição este ano vai terminar empatada!” Ele se baseava no “já ganhou” que cada um se exprimia.

A partir de agora vai chover canivete aberto em forma de toques nas costas dos pretendentes. Quem tem culpa no cartório, que se previna. Aí, é iniciada de verdade a luta dos chamados gigantes. Os batedores de um lado pegam os defeitos que constroem a rejeição de uns para ampliá-la aos ouvidos e olhos do povão. Quem se preocupar com a defesa não tem tempo para se esquivar ou se defender. Acha melhor atacar também. Aí aparece o danado do baixo nível. O povo condena da boca pra fora as baixarias, mas, no fundo gosta, ama, adora. Pesquisas são bons indicadores, mas elas exprimem também a danada da tendência e, em muitas ocasiões, a canoa acaba virando.


Acredito piamente que neste ano quem decidirá a eleição para prefeito será o flanelinha. Caladinho, trabalhando ao pé do ouvido, ele espera que seu nome chegue pelo menos aos 4% nas pesquisas. Com esse percentual, tem absoluta certeza, entra forte para sentar-se à mesa com o verdadeiro proprietário da frota. Sei que muitos dirão que estou navegando em águas incertas, mas repito que os tempos mudaram. Se desaprendi de política é porque tudo muda, nada se mantém inalterado, mudei também. Não teremos sequestros, panfletos difamadores e outros recursos já fora da moda. Repito que temos já e teremos flanelinhas. Vamos aguardar.

Um comentário:

  1. Anderson - Guto & Anderson11 de julho de 2016 às 06:08

    Grande José e suas sábias palavras, obrigado por citar meu nome e da minha dupla Guto & Anderson...Sou seu fã... e admirador de seus textos sempre nos faz refletir!!! Parabéns!

    ResponderExcluir