quarta-feira, 16 de outubro de 2019

COMO A SIMPLICIDADE CONSEGUE SER REVOLUCIONÁRIA: PEQUENA HISTÓRIA DO GRANDE ANÃO

Planeta Terra, 16 de outubro de 2019. Se aqui estivesse, Geraldo Francisco de Lima, conhecido como Anão, estaria completando 75 anos de idade. E ainda estaria na ativa, com certeza, pois partiu muito cedo. Foi durante o carnaval de 1997, às 53 primaveras prematuras de vida profícua.

Conheci Anão no ano de 1959, quando cursávamos o terceiro ano ginasial, eu no Ginásio São Francisco e ele na Escola de Comércio Conceicionense, ambos em Conceição do Mato Dentro. Desde então, nem em nossas topadas no futebol, sequer na divergência de Atlético x Cruzeiro, jamais nos desentendemos, nem uma discussãozinha, nem um mal-entendido, nada que maculasse uma profunda amizade.

Anão, em foto familiar, álbum de Micheline Sana de Lima

VIDA ESPORTIVA

Em 1963, quando da emancipação de São Sebastião do Rio Preto, Zé Filó, o intendente nomeado pelo governo do Estado para dirigir o novo município até a sua primeira eleição, levou-o para a terra que amou tanto quanto a sua terra natal, Conceição. Anão chegou e, apesar de ver um campo de futebol ainda prematuro e mal acabado, motivou a grande safra de jogadores que havia na cidade, a exemplo dos filhos do senhor Nhanhá (Iraci, Odilon, Neide, Zé Afrânio, Ernane), Líbio, Nilson, Zé Vitorino, Oto, Ari, Nitinho, Carlos, Godó, Zé Luiz Moura, Roberto, Renato e muitos outros, perdoem-me a memória e o curto espaço.

Ele chegou como goleiro. Fechou o gol. Foi para a zaga, construiu uma parede. Estabeleceu-se como volante, comandou o espetáculo. E eu tive a honra de barrá-lo na meta, não por ser melhor que ele, nunca, mas porque já era titular aos 16 anos e agora estava com meus 20 e pouquinhos. Formamos um time invencível e fizemos história.

Anão não se destacou apenas como atleta. Ele foi um líder nato, um dirigente sem pasta, mas dono de uma capacidade imensa de sair na frente e chamar para si a sua força de atração em simpatia e domínio de situações as mais diversas e até complicadas.

Consegui, esportivamente, influenciá-lo num ato: quando o São Sebastião Futebol Clube estava no auge, editei um periódico mimeografado chamado Jornal do Sarrafo. Nele mencionava sempre o nome do engenheiro João Rodrigues de Moura como patrono do time e do campo. Em outras palavras, apelidei o nosso campo de futebol como Estádio João Rodrigues de Moura. Tantos anos assim, mesmo com o senhor João Moura em vida, quando do falecimento deste, em 1968, imediatamente ele envidou esforços junto ao então prefeito, Luiz Gonzaga de Almeida, que criou o projeto de lei, enviou-o à Câmara Municipal e sancionou a Lei que oficializou o nome do estádio. Por obra do destino, recentemente, depois de uma luta de sebastianenses durante oito anos, Antônio Celso, ex-prefeito, construiu e inaugurou uma bela arena para a prática do futebol.

Anão, o terceiro da esquerda para a direita, em pé (Foto Micheline)

VIDA FAMILIAR E PÚBLICA

Completamente ligado à cidade, ele se casou com minha irmã, Maria das Graças Sana de Almeida, com quem teve os filhos Alessandro, Micheline e Alfredo. Vieram também os netos que, infelizmente não pôde apreciar todos.

São Sebastião do Rio Preto, mesmo na timidez de uma cidade pequena, mas cheia de história, orgulha-se de ter sido adotada por Geraldo Francisco de Lima que se tornou seu prefeito eleito em 1976 para o mandato 1977-1982). Fora desta atividade, era tesoureiro e secretário-geral da Prefeitura em todos os mandatos de seu tempo. Com certeza, quase tudo na municipalidade dependia de sua participação. Foi uma notável iminência sem reconhecimento público, mas natural, aplicada na prática, como ele sempre humilde foi.

Para completar a sua participação na vida comunitária de modo geral, Geraldo Francisco foi professor de Ensino Fundamental em todas as disciplinas na escola (ou ginásio, ou colégio) local e, de acordo com depoimentos de seus ex-alunos, deixou imensas saudades pela sua didática e jeito especial de ensinar.

Obrigado, Anão, pela sua amizade pura e intocável que facilmente cultivou! Obrigado, Anão, pela cidade que você escolheu para viver grande parte de sua vida! Obrigado, Anão, por chegar à nossa terra com simplicidade e nela promover uma verdadeira revolução no esporte, no convívio das pessoas e na vida pública honrosa e honesta!

José Sana
Em 16/10/2019

Fotos: Facebook de Micheline Sana de Lima

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