Tinha eu meus 30
anos bem vividos, era vereador, viajava a BH com o colega José Vital para
encontrarmos com um deputado federal de nosso partido, o MDB. Na capital, fomos
levar ideias, buscar soluções e encaminhar projetos.
Num momento de
relaxe, depois do almoço no Restaurante da Assembleia onde encontramos também
deputados estaduais. Depois de muito relatar a situação itabirana, eis que um
dos parlamentares fez um verdadeiro ataque sobre nós: “Vocês estão fazendo
política na contramão da estratégia já em voga”.
Olhos
arregalados, orgulhosos de nossos esforços e total dedicação, recebemos uma
aula de estratégia política bem no tempo em que os marqueteiros eram conhecidos
apenas como “coordenadores” ou “chefes de tribos”, como verdadeiros caciques.
Aí, o representante de Itabira (assim chamado porque era o parlamentar federal
mais votado nas últimas eleições) revelou sua tática inarredável de trabalho.
“O negócio
funciona assim: no início de mandatos, vocês devem trabalhar mais internamente,
ou seja, executar funções preparatórias e costurar alianças. Aprendam essa
tarefa. Ajustes seus contatos, reescrevam as reivindicações e reestruturem suas
agendas na base da maré-mansa, ou do tempero aguardando a galinha ser
cozinhada. Guardem fôlego para os dois últimos anos próximos das eleições e aumentem seus esforços
paulatinamente até a fase de entrada oficial do período eleitoral. Aí terão
fôlego para levarem as suas ações rumo ao sucesso. E lembrem-se de que o
eleitor esquece o benefício que lhe foi feito longe das urnas”.
Mudo os rumos
deste texto e estou no túnel do Mineirão, acompanhando o Valeriodoce no
campeonato mineiro de 1976. Trabalho na Assessoria de Comunicação da antiga
Vale do Rio Doce e sempre participo das ações do clube itabirano, que era
mantido pela mineradora. Mas isso nada tem a ver com o que vou narrar.
Assentado ao
lado do treinador que era Percy Gonçalves, vi uma aula de futebol aplicada pelo
Cruzeiro Esporte Clube. O time do VEC atacou e conseguiu dominar o jogo até os
dez minutos do segundo tempo. Enfiou dois gols, vencia por 2 x 0, quando o time
celeste, com Raul, Zé Carlos, Piazza e outros craques, dirigido por Zezé
Moreira, saiu da teoria e entrou na prática, virando o placar. Nosso time
itabirano perdeu de 3 x 2.
Por que perdeu?
Resposta: gastou seu gás no primeiro tempo, enquanto o adversário, superior
técnica e fisicamente, ainda impôs uma tática mortal de “encher linguiça”.
Reservou todo o seu fôlego para vencer um time já com a “língua pra fora”.
Aí estão as duas questões que podem ilustrar o que fazem os políticos e as equipes de futebol. Tudo parecido e fácil de entender. No contexto geral, vamos concluir que o povo é bobo, assim como o time de futebol mal orientado. Não quer dizer que Percy Gonçalves tenha errado naquela noite fatal, mas, sim, que não tinha peças bem treinadas fisicamente para aguentar o aperto final.
Tenho exemplos de eleições municipais itabiranas que se tornaram históricas. As regras não mudaram ou tiveram apenas algumas adaptações. Observação final: não estou dando sugestões aos prefeitos da região, quanto menos ao de Itabira. A nossa cidade é um caso “sui generis” e merece mais cuidados porque ainda não encontrou a sua segunda vocação econômica. E continua estraçalhada nos bairros. Não pode mais crescer enquanto o principal não vem. Somos uma cidade de coalas e não precisamos de água para viver.
José Sana
Em 13/05/2022
Nenhum comentário:
Postar um comentário