Entrevista imaginária mostra, sem cinismo e marketing pernicioso, a verdade que o ser humano deveria adotar na vida
Quando eu era criança, um de meus autores preferidos eram Olavo Bilac,
Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Nelson Rodrigues
e as revistas em quadrinho Gibi, Jerônimo, Cavaleiro Negro, Tarzan e outras. Cada um dos
personagens na sua especialidade. Eu os lia com incrível apetite cultural que
já me fazia rabiscar os livros, ou seja, marcar frases ou palavras relevantes. Nos
livros, tenho-os ainda com marcas indeléveis.
Confesso que era mais assíduo no escritor, jornalista, dramaturgo Nelson
Rodrigues, nascido em 1912 no Recife (PE) e falecido no Rio de Janeiro (1980),
onde viveu o maior tempo da vida. Essa assiduidade se explica porque era ele assinava
cronistas em jornais da minha adolescência. Não deixava escapar no então
respeitado O Globo, em duas páginas
diárias, a esportiva e a literária.
Entrevistas imaginárias eram tipos de conversações que, geralmente,
combatiam a ideologia opositora. Por exemplo, o arcebispo de Olinda (PE), Dom
Hélder Câmara, tinha o perfil que ele mais combatia. O “religioso” para ele era
um ateu: “Só olha aos céus para ver se leva o guarda-chuva”. Nas entrevistas ele chamava a atenção pelas metáforas, as mais
ousadas e divertidas.
No terceiro ano primário, eu era presidente do Grupo Literário Olavo
Bilac, mas sempre estava escrevendo sobre
aquele que abordava futebol, a vida como ela é e as entrevistas imaginárias.
Esta última é o meu tema de agora. Quem serve de testemunha, a exemplo de que
Nelson usava a cabra vadia observadora. Como já usurpei o título desta página, preferi
manter a peculiaridade familiar e optei pelo Bom Cabrito, meu sempre fiel
personagem e escudeiro.
SOCIALISMO, NOSSO FOCO DE HOJE
PERGUNTA — Como o senhor, caro Socialismo da Silva, define-se,
falando a mais pura verdade, sem nenhum medo de errar?
RESPOSTA — Eu sou ideário político
e econômico, registrado em cartório e benzido em igrejas, concebido no contexto
da Revolução Industrial, em fins do século XVIII e meados do século XIX. Tendo
por princípio basilar a igualdade, fui construído em contestação ao Capitalismo,
que naquele período operava sem nenhuma forma de regulação ou legislação trabalhista
que conferisse aos trabalhadores. Assim fui concebido por Karl Marx. Os
seguidores são os irresponsáveis.
PERGUNTA — Por que irresponsáveis?
RESPOSTA — Ora, Marx, alemão, meu
inspirador, e outros, criaram-me e bordaram-me para fazer todo mundo ser pobre,
ou melhor, miserável. Mas, no fim, criaram uma nova classe elitizada, mais
distante ainda da massa trabalhadora, que só sabe mamar. São esses aí,
representados internacionalmente por George Soros e Bill Gates, entre outros.
PERGUNTA — Por que omitem duas palavras significativas em sua vida: Comunismo,
como seu nome próprio, e Friedrich Engels, como comparsa de criação? Fale sobre
a Revolução Russa de 1917, se puder...
RESPOSTA
— A Revolução Russa, ocorrida em 1917, foi
um conjunto de eventos sociais e políticos que alteraram a estrutura do país. A
Monarquia Autocrática foi substituída por um Governo Provisório e, depois,
houve a formação e consolidação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas,
sob o comando de Lênin. Começaram propondo uma revolução socialista, mas ficou
na história como comunista. Foi um erro, constataram depois.
PERGUNTA — E Friedrich Engels, esquecem dele por quê?
RESPOSTA — Engels era uma espécie
de financiador das ideias, porque Marx nunca trabalhou, só ficava pensando,
matutando. Na verdade, era um bobo-alegre, não sabia nem se era alemão ou russo
ou londrino. Publicou alguns livros, mas diziam que era ajuda do Marx. E tinha
a nacionalidade alemã também. Financiou obras de Marx, era industrial e muito
rico.
PERGUNTA — Por que revolução e não golpe?
RESPOSTA — Assim como optaram por
determinar o apelido Socialismo no lugar de Comunismo, falam em revolução onde
deveria estar escrito golpe. Geralmente, a esquerda gosta de fazer suas
denominações, enquanto a direita prefere nem ligar. Podemos falar disso também.
PERGUNTA — O que o senhor diz da Revolução Cubana?
RESPOSTA — Belo exemplo de
sacanagem que esses gananciosos fazem para dominar um país. Cuba vivia sobre a
ditatura socialista de Fulgêncio Batista e, de repente, chegam Fidel Castro e
Chë Guevara. A dupla de demônios foi aceita porque o povo não suportava mais
Fulgêncio. Facilmente, em 1959, arrancaram do poder o ditador e instalaram uma
tirania. Tudo às escondidas, sorrateiramente. E no poder está família Castro
até os nossos dias. O velho faleceu, mas deixou para a sua família uma ilha de
luxo, com iates e haréns. Raúl Castro, o mais novo da família, governa e mantém
o povo paupérrimo.
PERGUNTA — Qual é o método que a esquerda usa com o objetivo de
conquistar o aceite do povo quando querem lhe implantar num país?
RESPOSTA — Eu começo a ser citado
e tenho até autoridades e militantes com o meu nome. Dizem, por exemplo,
Partido Socialista Brasileiro. O meu nome é bonito, mostra que há caridade e
outro tipo de ajuda dentro do sistema. Mas, aí está o primeiro golpe porque meu
prenome é mesmo Capitalismo. O método tem que visar ao empobrecimento
principalmente da classe média. Para acabar com ela, estabelecem um método bem
definido de aumento de impostos, estatização de empresas e outros métodos como
saques nos supermercados e nas indústrias. A classe miserável sobe um pouco e
fica na faixa da pobreza e a média desaparece, caindo para ser plebe.
PERGUNTA — Você ama a Democracia ou prefere a Ditadura?
RESPOSTA — Na verdade, a Democracia
é uma senhora de muito respeito, bonita, simpática, culta, mas para que eu
sobreviva precisam da Ditadura. Ninguém aprecia ter a Liberdade cortada. E há
um outro problema ainda mais sério, a meu ver.
PERGUNTA — Qual é esse problema?
RESPOSTA — Refiro-me à poda de
galhos importantes de uma árvore, como inteligência, motivação, gosto da
cultura, estímulo, empreendedorismo. Se o sujeito vive de poupança solidária,
como em Cuba, e vigiado pela censura, sua vontade de viver praticamente reduz,
não tem motivação, deixa de lado o que há no ser humano, a semelhança com Deus.
Outro fator é o livre arbítrio, pois esse é que permite ao homem e à mulher
alcançar senso de caridade, bondade, ou o contrário, covardia, ruindade. Se nos
obrigam a ser bons e não somos trata-se de forçar a natureza, como ser bom sem
vocação nada é bom mesmo.
PERGUNTA — A falta de liberdade gera o empobrecimento do povo?
RESPOSTA — Isto. Não se explora a
vocação de cada um e todos os humanos nasceram, cada um com um dom. Quando não
o respeitam, tornam-se até cruéis...
PERGUNTA — Mas você não acha que o Capitalismo também fere o dom
da pessoa?
RESPOSTA — De jeito nenhum. Ele
até desperta um certo sentimento de caridade. Passam os seres a perceber que
precisam ser sociais, livres, verdadeiramente bons ou maus. Este o sentido da
vida.
PERGUNTA — Há uma grande pergunta que o ser humano faz e está
quase sempre sem resposta: qual o sentido da vida?
RESPOSTA — É claro que se vocês,
da raça humana, não procuram descobrir, nunca entenderão o que fazem na vida,
no Globo Terrestre, jamais serão plenamente felizes. Posso lhe dar, como
autêntica bondade que tenho, única — não se esquecendo que sou perverso, mau,
hipócrita, cínico — a análise do contexto demonstrado nas mudanças
ininterruptas no giro da própria vida, do passar do tempo etc. e tal.
PERGUNTA — Nós (o Bom Cabrito e eu) lhe agradecemos a sua bondade
concedida nesta conversa.
RESPOSTA — Estou às ordens e já
pode me chamar de Comunista Ferrenho, quase Fascista e Nazista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário