quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

“NÃO EXISTO. PAGO A QUEM PENSE POR MIM” (Anti-Descartes)

 

Gente, as verdades do mundo caminham para ser uma só verdade absoluta. Tenho, não a minha certeza, mas as certezas totais. Entenderam o jogo de palavras?

Certezas passando por vários caminhos, sempre espinhosos, muitos mata-burros, buracos, obstáculos. Ao longe não há  uma luz no fim do túnel, mas vários túneis com luzes resplandecentes.

“Eu não acredito” – este é o som de palavras e o tinir de papéis escritos e rabiscados. Quando a insistência aumenta, evidencia-se uma pré-conclusão: hora de parar, hora de saltar esse rumo.



É preciso ir atrás dos porquês. Esses são interessantes e convencíveis porque carregam fartura de argumentos  e fazem encontrar as informações numa convergência emocionante.

É o mesmo que ver pessoas saindo de ruas diferentes, avenidas, becos e todas caminhando para uma praça iluminada como uma Praça Acrysio de Alvarenga, em Itabira,  em dia de festa. Imagine tal momento. Ou o caminhar disciplinado de formiguinhas, levando a alimentação de cada dia.

Não vou estender-me muito, mas, sim, simplificar para logo, logo, encontrar e expor sentido em palavras simples.

Diria que o ser humano é um boneco de gravar, ou um robô de teatro. Não sei se existe esta figura – robô teatral – mas o invento temporariamente só para ilustrar esta página.

O boneco, ou robô trabalha o dia todo, tem patrão ou patrões. Passa a jornada  numa rotina cansativa, cumprindo ordens superiores. Marca seu ponto no relógio: chegada, intervalos e fim do expediente.

Os robôs, apesar de parecerem peças cientifico-artificiais, ou técnico-científicas, sentem-se tal qual o ser humano, cansados, chegam às suas casas e estendem-se no sofá, suspiram com certo alívio.

Mas o sofá está diante de um aparelho de TV, esse  naturalmente ligado e, com certeza, em telejornais, que contam, dentro do campo de interesse da filosofia de seus proprietários, passando a ser formadores de opinião, ou influencers. Além da notícia embalada da televisão, vêm emissoras de rádio, conversas nas filas de lotéricas, bancos, portas de igrejas, pracinhas, salões de beleza, barbearias, esquinas e velórios.

Nossos amigos robôs rendem-se: recebem notícias embaladas em edições que se convergem mais uma vez para os interesses da linha editorial do grupo chamado todo-poderoso e as distribuem como agências.

Conclui-se naturalmente: o robô torna-se  meio de comunicação, pensador que, junto do pacote de interesses do contatado, entrega a notícia imaginada, mentida, embalada, enfim pronta para o sabor do preguiçoso, que nem questiona. Pra quê Vem de uma fonte fidedigna. É como a calculadora que substituiu a tabuada, deixando essa no ostracismo.

Para alguém que possa não ter entendido o  título deste texto só se requer recorrer ao autor da frase antônima da reflexão proposta pelo filósofo, matemático e físico francês René Descartes (1596-1650). Ele popularizou: “Penso, logo existo”. Agora o mundo adota: “Não existo. Pago a quem pensa por mim.

Se ainda existisse, Descartes cairia de costas acerca da absurdez da frase. É quase certo que tremeu dentro da sepultura.

 José Sana

Em 28/12/2022

Nenhum comentário:

Postar um comentário