sábado, 6 de abril de 2024

A REPÚBLICA DOS SEM NOÇÃO INSTALADA EM ITABIRA

Felizmente, estou percebendo que a terra de Drummond  ainda pode ser salva, apesar dos “demônios a assolarem”

  
                Pessoal chegando de fora para trabalhar na Prefeitura de Itabira

 

“Treim bão é não ser candidato, né, Zé? — bradou uma voz na fila da lotérica lá do Bairro Areão, em Itabira. E nem pedi explicações. Sua constatação vai de encontro ao que ando rabiscando faz tempo — e se não rabiscar, juro que morro porque, de verdade, amo Itabira como ninguém. Sou quase exclusividade.

 

Ultimamente tenho reparado a quantidade de neologismos que vêm surgindo na Língua de Camões. E são frases às vezes longas que o povo inventa. Há pouco tempo era a expressão “como assim”, depois o tal de “vou lá tipo duas horas”. A mais falada era “tipo assim”, mas agora surgiu o “sem noção” Até resolveram criar a República soa Sem Noção.

 

Sem noção é uma expressão popular utilizada para descrever alguém que age de forma inadequada, sem considerar as consequências de suas ações ou sem ter consciência do impacto que causa nos outros. Essa pessoa geralmente não possui bom senso, não entende os limites sociais e age de maneira inconveniente ou inapropriada. É o sujeito também irresponsável. Itabira está apinhada desses malévolos.

 

Semana passada escrevi sobre um candidato a prefeito de Itabira e até de seu vice, ambos embrenhados no mistério do anonimato. Ninguém até então batia os olhos ou comentava minhas burrices em letras. Mas saiu o texto “Aparece o 9.º pré-candidato a prefeito de Itabira” e milhares, desculpem o exagero, de dezenas me contataram. Como diz o ditado popular, “a curiosidade já matou o gato”.

 

Agora tomo a liberdade de chamar o itabirano peculiar de “Sem Noção” . Essa falta de consciência pode ser detectada a partir de 1910, no Primeiro Congresso de Mineração, promovido em 1910, em Estocolmo, na Suécia.

 

Enquanto os sem noção itabiranos batiam o pé em chorar sobre o leite derramado, considerando que o ouro já tinha se exaurido, o empresário norte-americano Percival Farquhar anotava a conclusão do encontro de líderes internacionais: “Itabira é dona da maior reserva de hematita pura do mundo, representada pelo Pico do Cauê”.

 

E mesmo com a longa distância do país nórdico para o Brasil, quando os ouvintes do Congresso de 1910 aqui chegaram — só não viajaram a pé — os brasileiros já tinham trocado o Cauê por tostões.

 

Satisfeitos com a mineração consumada na criação da velha Companhia Vale do Rio Doce, esperto como um coelho, o genro de Getúlio Vargas e interventor do Rio de Janeiro, Amaral Peixoto, manobrou até conseguir instalar a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Volta Redonda, deixando a Itabira Ore Iron Company a chupar dedo. Foi fundada a República da Itabira Sem Noção (RSN).

 

Drummond tentou alertar os sem noção cem anos depois da governança entristecida de Antônio Alves de Araújo, o famoso Tutu Caramujo, mas o poema “Itabira”, que fez parte da obra “Alguma Poesia” (1930), revelou que não mais seria possível o mudar o rumo.

 

Recentemente, as Três Marias presentearam a Itabira  com uma série de obras científicas e acadêmicas. Não me canso de lembrar Maria das Graças Souza e Silva (“A Terceira Itabira”/2004), Maria do Rosário Guimarães de Souza (“Da Paciência à Resistência”/2007) e Maria Cecília de Souza Minayo (“Os homens de Ferro”/1986). Em breve, baseado em Baginha, Zara e Minayo, deve surgir um “Um levantamento do Povo Sem Noção”.

 

E há outros que tentam abrir os olhos dos sem noção, mas cada vez mais difícil vai ficando porque em 2021, como se fosse uma expedição italiana fugindo do bem e inaugurando o MAL. Um caminhão de “imigrantes” sem serviço foi entornado na Prefeitura e aí se consolidou a República dos Sem Noção.


Para não dizer que me esqueci das flores, os verdadeiros itabiranos construíram uma frente de guerra que, aos poucos, vai conseguindo estabelecer um front eficaz para lutar contra a ignorância dos sem noção, os pés-rapados

 

E vejam esta: os sem noção, que menosprezam compromissos com as futuras gerações, já propagam a ideia “Itabira  que se dane!” Nesses dias mesmo tentaram despejar mais sem noção na Prefeitura, criando três secretarias desnecessárias e eleitoreiras. Deu zebra para eles, felizmente.

 

Parabéns ao vereador e presidente da Câmara  Heraldo Noronha Rodrigues, o líder da defesa itabirana, que evitou a derrocada, e está criando com outros responsáveis, outra frente de combate, a República dos Com Noção.


José Sana

Em 06/04/2024

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