“Repito que não há crise em Itabira, não há crise na prefeitura, não há crise no primeiro andar, não há crise no segundo andar ... não há crise no terceiro andar ... não há crise ... não há... não ... não ... e ... não... juro que não... “
A entrevista concedida gentilmente pelo prefeito, em 30 de maio deste ano destemperado de 2025, agora foi possível porque ele, o imperador intocável, é o senhor de todas as coisas e sentimentos. Está explicado. Ou melhor, o texto foi analisado e colocado fora do imaginário e acompanhado pelo famoso Advogado do Diabo.
Durante o tempo movido por escorregões, esses são permitidos. Na Constituição Federal e em outras leis do Brasil, até em leis estrangeiras, sequer a palavra contingenciamento é citada, vale tudo neste caso. Então, fica claro que as palavras crise, contingenciamento é adequação, readequação e outras mais são citadas. Crise, por exemplo, a razão deste texto, ultrapassa a casa dos 135 números de vezes, confusamente, existe e não existe. Contradição, também, é termo fora dos dicionários policiais e jurídico.
TODO MUNDO ESTÁ NU COM A MÃO NO BOLSO
Diz a fonte "prefeitável" a pura verdade: não é somente Itabira que sofre agora, na mesa de cirurgia as dores do parto, mas Contagem, São Sebastião, Passabém, Santo Antônio, Ferros, Dores de Guanhães, Guanhães, Sabinópolis, Virginópolis, Serro, Lua, Marte, Saturno e por aí vai... “Aqui o minério acabou no Cauê, mas não acabará em Conceição, mina do Meio, Periquito, Dois Córregos, Onça, Camarinha e Chacrinha e dará mais de duas safras, nós plantamos e esperamos resultados”, esclarece o entrevistado.
“Em Itabira, a revisão do orçamento é necessária porque aqui o dinheiro ultrapassa os limites de todas as fracassadas tentativas de contingenciamento e descontingenciamento, o volume apurado só de 2021 para cá, em notas de 200 reais tamparia a cava do Cauê. E veja que o tal enxerido Percival Farquhar comprou-o por PBP (preço de banana podre)”.
“Então, o que a gente tem que fazer como bom gestor que sempre fui é imitar o outro lado da moeda e readequar como deve ser readequado, pois não somos um município diferente, arrecadamos somente 4 bilhões e tanto em quatro anos, gastamos muito bem com festas, como o povo gosta, pinturas de escadarias, trouxemos artistas do mundo todo, se vivos estivessem teríamos trazido Elvis Presley, Frank Sinatra, Os Três Patetas, Bolinha e Luluzinha. Portanto, não há crise, nunca houve crise. Nós temos que fazer adequações orçamentárias, cortes como se fez no pescoço da rainha Maria Antonieta, na Revolução Francesa de 1789. É isso que estamos fazendo neste momento, deixamos claro”.
Esse gênio de gestação, ou melhor gestão, garantiu o imperador, no início do ano, num workshop com milhares de lideranças da prefeitura para melhorar a eficiência, para encontrar as áreas que poderiam ter custos, cortar desperdício e cortar excessos menos obras gigantes, como pracinhas e reforminhas. Se houve muito gasto foi culpa do Lula ou do Bolsonaro, assim ficou esclarecido, o homem da crise existente e ao mesmo tempo inexistente assegurou.
E acrescentou naquela reunião: “Vejam que aqui não há crise, somente isso aí, excesso devido às sobras de dinheiro, muitas vezes não tínhamos o que fazer com tantas notas de 200 reais, queimamos no fogo mesmo, incluídas as notas de 100” menos em festas, adoradas até pelos famintos, menos em obras gigantes, como pracinhas. Alertamos todos de que haveria não crises, mas holocaustos, estourariam bombas como em Hiroshima e Nagasaki e temos de resistir”. Para fechar o tema deixou escapar o que já repetia sem mais explicações: “Estamos pelados (nus) com as mãos nos bolsos”.
“SOU UM SUPER GESTOR, UM PROFETA”
“Depois da confirmação de uma queda deste orçamento nós estamos promovendo medidas mais rigorosas, mais austeras para que possamos terminar o ano sem grandes consequências para a sociedade de maneira geral, que só os pobres acostumados sofram. Estamos fazendo a gestão correta do recurso público sem gastar mais do que a gente arrecada, se gastamos foi por causa da sobra exagerada, coisa apenas de quando me recandidatei”, bateu na mesa e arrancou palmas. E saiu carregado, escondendo a sujeira de café que conseguia lamber no bigode. Houve um grito lateral de “baixinho da prefeitura”, ele quis excomungar o atrevido, mas esse se escondeu no pescoço do mais alto.
“O princípio básico da boa gestão é saber fazer uma gestação (desculpe-me, errei outra vez), gestão, dou aula dessa matéria em vários países da Europa por onde perambulei à caça de algo para fazer”, explicou, mostrando os nomes dos países. “Na AMM anunciei que sofreríamos um susto real e não imaginário. Isso é coisa de profeta, me promovo a tal estágio, sou um verdadeiro ateu, mas profeta de todos os mundos”, fechou o assunto.
“MINHAS OBRAS EM ITABIRA ATÉ HOJE”
“O cara é f... mesmo”, comentou um puxa-saco sentado na primeira fila e sempre com as mãos ajustadas e prontas para bater palmas. “Isto é prioritário, garantiu o bom da boca: educação, saúde, assistência social, esporte, saneamento básico e obras, de uma maneira geral, que já estão encaminhadas. Falou também: “Elas vão continuar”, soprou o baba-ovo a outro baba-ovo, situado à dua direita. “O que a gente está readequando — agora a palavra é do imperador — “é cortar excessos, houve abusos, esbanjamento, desperdício, certo, vamos cortar, muitos mamaram, vão mamar menos, as tetas da vaca prefeiturável vão secar”. E acrescentou: “Quando você diminui o tamanho do seu investimento, dos seus recursos, naturalmente, você diminui também a estrutura para poder operar, isto foi o que aprendi em Turim e adjacências e não na Gabiroba e na Pedreira”.
“Quanto mais dinheiro existe, mais estrutura você precisa ter para poder desenvolver e fazer gestão dos projetos, de uma maneira geral e quando a gente tem mais do que esperava, como foi o que ocorreu, a gente não pode deixar mofar no banco”, contou o imperador. “Veja as obras que executei:
— Mais de 30 praças reformadas;
— Escadarias pintadas por todo lado;
— Varrição de ruas e capina de matos antes das eleições;
— Transporte de lixo, colocado no ex-aterro controlado e agora lixão escandaloso;
— Anúncio da Central de Resíduos (obra da LOC que nem entrou no programa da prefeitura ainda);
— Limpeza da água em todas as torneiras, menos dos bairros próximos do centro;
— Preparação de captação de água do Rio Tanque, prevista para 2075;
— Reformas de CRAS, escolinhas, postos médicos, tudo prontinho;
—Um milhão e setecentas e mil e cento e cinquenta (1.700.150) lives explicativas e claras sobre a vida, o mundo, a política, a politicagem, o lero-lero e todos os blá-bla-blás do planeta Terra;
— Trouxemos a Faculdade de Medicina, grande feito meu, sem a necessidade de provar;
— A Unifei está sendo toda reestruturada graças a mim, o maior gestor de todos os tempos, que garante nunca mais largar os ossos municipais.
— Valeriodoce Esporte Clube: estamos investindo de olho fechado nele para que Itabira chegue pelo menos a ser campeã da Libertadores em 2026.
FUTURO? QUE FUTURO? ESTAMOS NO FUTURO
Olha que bacana ele disse: “Vale a pena fazer sacrifício interno, externo e eterno. Cortar cargos é bom para muita gente que nem precisa de trabalhar, mas, ao mesmo tempo, nós sabemos que nas crises que crescemos. Repito mil vezes: é nas crises que crescemos. Educação, saúde, assistência social, saneamento, ou seja, aquilo que a população mais demanda do serviço público, nada pode e não pode ser cortado, apenas os que nada fazem, os “coça-sacos”, vamos cortar a Apae, coitada, ela se vira e consegue atender a 190 excepcionais, isso é ninharia para ela e os frequentadores, necessitados especiais, eles conseguem se virar”.
Reparem o que ele disse, o que mais interessa, a maior verdade de todos os tempos e muita gente de Itabira não sabe ou não sabia: “Itabira sustentável é o melhor programa de investimentos, de projeção de diversificação econômica que já existiu no Brasil e no mundo. Tem relacionamento entre empresa mineradora, comunidade e prefeitura. É o melhor programa, já completamente estruturado com a ajuda de uma consultoria internacional, há três anos. É uma coisa muito profissional e que projeta 61 investimentos diferentes, 61 projetos para diversificação econômica em Itabira, estruturantes para a cidade. O minério pode acabar hoje e amanhã bastará ligar a chave e Itabira cortará sua dependência da Vale”.
Bacana, não é? O cara é um gênio mesmo e não precisaremos mais de nos preocupar. O cara disse que temos projetos, por exemplo, como a usina de tratamento de resíduos, desde o ano 2000, está na LOC, portanto há 25 anos que já está sendo licitado agora, o que é fundamental e moderniza muito o nosso tratamento de resíduos na cidade. Teremos separação de lixo e vamos viver basicamente de lixo, muito bom”. Perguntem aos porcos do Lixão de Itabira.
Sensacional é isto aí: “Tem muito tempo que dizem a frase ‘o minério vai acabar’ e nunca acaba. Foi assim previsto o fim para agora em 2025 e estamos apenas fazendo adequação. Depois faremos readequações. Temos que acreditar ou nem podemos acreditar na Vale, ela acabou com o Cauê e tem um monte de minas para fechar e vai levar uns 16 anos, até lá pode mudar de ideia.
Lembram-se do que ocorreu na fase da Covid-19? Eu fui ao presidente da Vale, ajoelhei-me nos pés dele como se não fosse agnóstico e ele um santo, pedi que reabrisse as minas que estavam fechadas fazia 15 dias ele me atendeu. Foi um pedido de filho pra pai ou de pai pra filho. Então, eu pergunto: que futuro não conseguimos driblar? Ninguém me conhece. Pergunte à minha esposa se não dobro todo mundo, inclusive ela?”.
Para concluir, não se esqueça de que ele disse sobre o futuro: “Acreditamos que as festinhas, festas e festanças trarão muita gente aqui para que os pipoqueiros e algodoeiros doces faturem. Se abandonamos o Porto Seco, o Parque Tecnológico e o projeto do Aeroporto, temos muitos mais e vamos sossegar”.
Para garantir que não há crise, nem readequação, nem contingenciamento, nem nada de se importar, eu, o Advogado do Diabo fiz um levantamento: durante a entrevista crise foi citada apenas 158 vezes e os demais em torno de 35 somados.
Assinado: ADVOGADO DO DIABO
07/06/2025
Fotos: Arquivo e redes sociais