segunda-feira, 28 de outubro de 2024

ENTREVISTA IMAGINÁRIA COM UM LEÃO


Ele é uma figura humana especial, mas  difere de nós pela sua coragem intimorata e decisiva tomada de medidas assim: “Eu quis ser prefeito de Itabira; depois quero a Presidência da República Federativa do Brasil”

 

Esta entrevista tenta clonar o cara que tem as seguintes iniciais — MAL — ideias avançadas do saudoso jornalista, escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues ao apelar para o termo imaginário. Para o inspirador, essa ideia é a melhor possível, que acompanha a verdade. Imaginariamente, todo mundo fala a verdade. Nunca o ser humano diz o que pensa se postado diante de um microfone oficial, mas numa entrevista imaginária ele consegue atingir esse objetivo. O povo preza pela sinceridade.

 

Diferentemente do escritor nordestino, este autor – ZdB não é vigiado por uma cabra vadia, mas por duas figuras inseparáveis: o Bom Cabrito e Zé do Burro ou Burro do Zé. Quem faz as perguntas é o ZdB.

 

O local do bate-papo foi escolhido unanimemente: o Coliseu Itabirano, novo palco local do Pão & Circo. O horário de início é exatamente  meia-noite, quando as assombrações estão soltas, como garante o inesquecível, incomparável e imortal Machado de Assis. Eis a conversa:

“Adoro puxa-sacos”

ZdB — Por que os sapos se afastam quando chega um repórter perto do senhor?

LeãO — Sempre mando sapos saírem de meu convívio para não perturbar os contatos que tenho com a Princesa, paralelamente à minha conversa. Ela é minha orientadora oficial.

ZdB — Mas o senhor não gosta de puxa-sacos?

LeãO — Adoro os puxa-sacos, mas só para encontros rápidos e alternado ou em festas. Gosto de imitar o Daniel Grisolia, ser sempre carregado em triunfo. Não os tolero com a presença de outros capangas ou companheiro ou repórteres. Quem não gosta de ouvir que a barba está bonita, a inteligência afiada e que sou o melhor prefeito que Itabira já teve?

ZdB —  O senhor acredita nas declarações dos baba-ovos?

LeãO — Tranquilamente os admiro e, portanto, creio neles.

ZdB — Quem manda no senhor?

LeãO — Ninguém. Apenas recebo orientações em casa, na maioria das vezes debaixo do cobertor quando está fazendo frio e de um virol, quando o calor aperta. Mas, aviso a você, peço o favor de falarmos pouco de assuntos particulares.

ZdB — Um assunto que vai ficar para depois ou ser ignorado é este: questão pessoal. Mas foi o senhor que o focalizou. Só sei que a cidade inteira e os distritos sabem em quem o senhor confia. Vamos ao que interessa: você ama Itabira?

LeãO — Pergunta inteligente, parabéns!  Não só amo Itabira como mais de 76% de Itabira me adoram. Preciso dizer mais alguma coisa?

“76% declararam que sou bom gestor”

ZdB — Não precisa, mas quero saber se o senhor se considera um bom gestor?

LeãO — É claro que não só me reconheço como também o povo reconhece. Pelo menos 76% me declararam bom gestor. E bom festeiro.

ZdB — O senhor vai continuar reformando e criando praças, promovendo festas, consertando telhados?

LeãO — Sim, o meu fraco são as festas, já cansei de dizer e repetir isso. Jamais abandonarei as festanças. Pequenas obrinhas também terão a minha iniciativa e participação. Um marqueteiro já disse que sou o “prefeitinho das obrinhas”. Vou honrá-lo.

ZdB — Qual é a sua maior obra até agora?

LeãO — O tapamento de buracos e a reforma da Praça Dr. Acrísio de Alvarenga. Não são as melhores de meu governo apenas, mas de todos os governos de todos os tempos.

ZdB — O senhor acredita em Deus?

LeãO — Acredito e não acredito.

ZdB — Como assim?

“Pelo menos ainda não sou comunista. Tem problema?”

LeãO — Sou um herege declarado, mas banco o religioso fervoroso.

ZdB — O senhor é comunista?

LeãO — Por enquanto, não sou comunista. Agora, neste momento, sou socialista. O comunismo vem depois, agora não.

ZdB — O senhor confessa que trabalhou durante os quatro anos apenas para a sua candidatura à reeleição?

LeãO — Diga-me o que  faria se você estivesse no meu lugar?

ZdB — Eu seria mais discreto e menos escancarado. Ser prefeito é coisa boa? O poder faz bem ao coração?

LeãO — Sim. É o melhor medicamento para a saúde. Não me falta nada, comemos o que queremos, viajamos às custas do povo por nada; hospedamo-nos em hotéis de luxo; mandamos, todos obedecem. Temos muita água.

ZdB — Por que o senhor não investiu um centavo em desenvolvimento econômico?

LeãO — Ora, já afirmei que sou socialista, não cem por cento democrata e queremos que haja igualdade entre todos. A nossa meta é tirar mais da classe média para colocar na classe sofrida.

ZdB — Por que não tira da classe rica?

LeãO — Tiramos, sim, da classe superior, a esnobe, que não quer contribuir. Quem quer ajudar, vem se instalar com os ricaços, ganhará fortuna quem acreditar em nós. Mas queremos ter uma ilha, como Fidel Castro conseguiu e deixou para a família dele.

“Esse pessoal que temos aí  irá todo embora”

ZdB — Por causa disso abandonou a Unifei?

LeãO — Já disse que a Unifei é assunto federal. Onde já se viu o município ajudar o governo federal? Reafirmo que da prefeitura não sai um centavo para esse fim.

ZdB — E as casas populares? O senhor prometeu construí-las mas ainda não cumpriu a promessa. Neste segundo mandato atenderá o primeiro?

LeãO  Não farei isso. Até 2041 Itabira continuará se empobrecendo. Esse pessoal que temos aí irá todo embora. As casas que sobrarem, as ocuparemos com o tempo e não haverá em Itabira mais déficit imobiliário.

ZdB — O primeiro presidente da Vale criou o fundo de exaustão para socorrer os municípios da região ao longo do tempo. Com a privatização da Vale, foi extinta a ajuda aos municípios. O senhor prometeu reativar o benefício. Por que não cumpriu, ainda, essa promessa?

LeãO — Porque já temos, por enquanto, muito dinheiro. Olhe em volta e verá que o povo está nadando no dinheiro. Não vamos ajudar gente rica.

ZdB — Seu governo desistiu de construir o presídio?

LeãO — Isto está claro. Itabira não tem bandido. Não vamos desperdiçar dinheiro.

“Serei presidente da República”

ZdB — O senhor será candidato a deputado daqui a dois anos?

LeãO — Acertou em cheio com essa pergunta. Serei, sim, candidato a deputado federal. Preciso arrumar um estadual. Talvez seja o Gabriel Quintão. Mas não serei apenas deputado federal. Serei candidato ao Senado, depois serei candidato a presidente  da República e devo disparar e vencer quem quer que apareça. Para mim nem o céu é limite. Itabira merece um grande presidente.

ZdB — O senhor prefere ser Leão ou ser o MAL?

LeãO — Eu sou o bem. Sou manso como o Leão de Barão de Cocais, que mora quase no centro da cidade e não come ninguém.

 Zé do Burro e Vice-Versa com Bom Cabrito vigiando

Foto: Arquivo Notícia Seca

sábado, 12 de outubro de 2024

HORÓSCOPO DE ITABIRA PARA OS PRÓXIMOS QUATRO ANOS


Ano 2025

 — Serão nomeados os novos secretários. Gabriel cresce em poder e será o novo primeiro-ministro, com a possibilidade de ser lançado candidato a deputado federal com apoio do prefeito. Márcio Passos não aceita mais ocupar cargo algum na prefeitura. Falta de água até no rio Tanque. Incêndio na caixa d’água do Saae só incomoda a água. Prefeito busca mão de obra no exterior. Cubanos chegam em caminhões-tanque para a área de medicina. Duro na queda quer mais serviço e só resta asfaltar fundo de quintais. Levantamento aponta a necessidade de construir mais 297 praças. Técnicas em enfermagem não terão aumento de salários nem reenquadramento.

Ano 2026 

— Torneiras secas em toda a cidade. Prevê-se a instituição chamada de Faculdade Papagaio, que ensinará o itabirano a viver de boca seca. Por falar em faculdade, a Unifei reduz seus espaços em 50%. Na próxima formatura será fechada. O dinheiro vindo do ICMS e do Royalty cai pela metade. Entraram 2 mil chupa-cabra na prefeitura e o prefeito será obrigado a demitir. Primeiramente os que são da cidade terão os pés no bum-bum. Os hospitais estão rachando de doentes, mas o atendimento piora por falta de médicos. Prefeito lança seus candidatos a deputado estadual e federal,  Bernardo Rosa, e Gabriel Quintão, respectivamente, que são eleitos.

Ano 2027

Arrecadação municipal continua despencando. A Vale arruma as trouxas e malas. Prefeito corre para as lives e avisa que é temporário.  O povo continua com cara de tacho e confiante. Agora a cidade vai crescer mesmo porque tem deputados. A oposição ficou  rouca, depois perdeu a voz, finalmente morreu. Itabira volta a ser uma cidadezinha qualquer. O povo fica sabendo o motivo pelo qual não precisava de casas próprias. Sobrarão apartamentos, casas, barracos e até mansões próprias por falta de gente. Duas fábricas serão inauguradas ainda neste ano: uma de rapadura e outra de pipocas e algodão doce. As filas de recrutamento de pessoal vão daqui a Nova Era e João Monlevade, retornando pelo Trevo da 381. 

Ano 2028

Novo ano eleitoral. Hora de trabalhar para se reeleger. Prefeito lança sua candidata, a primeira-dama. Ela tem tudo para vencer. Se preciso subirá em mesas para fazer discurso. Doação de simpatia sem miséria. Neste ano começa a abertura de valas para manilhas e captação de água do rio Tanque. Um problema: o rio Tanque secou e está sendo chamado de rego Tanque. O que fazer é o novo desafio. Correr atrás da Vale não adianta mais. Ela é empresa particular e dá uma banana para Itabira. O jeito é reativar a Faculdade Papagaio, o único bicho, ou ave que vive sem água. O itabirano aprende ou morre para não ficar na seca. Cadê a lista de realizações feitas pelo prefeito? Nem água e nem emprego. As fábricas de rapadura e pipocas precisam de quatro funcionários cada uma. A promessa das eleições deste ano é duplicar as suas produções.

 

A vida continua. Se Deus permitir, será lançado o Horóscopo 2029 a 2032, se Itabira não virar "cidade fantasma", como previu o presidente do maior sindicato de Minas Gerais.

 

Assinado: Bom Cabrito (o maior e melhor pai de santo da região)

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

QUESTÕES CIDADÃS DIRIGIDAS À COMUNIDADE ITABIRANA. TEMA: A VALE ESTÁ FECHANDO AS MINAS

 





Apresento, a quem topa encarar esta listagem de desafios a princípio composta de  11 questões que requerem respostas de autoridades, entidades, cidadãos itabiranos e de quem quer que seja, principalmente políticos:

 

1. A Vale abriu o processo “fechamento de mina”, que significa, segundo se pode deduzir e comprovar, o processo de desativação total de minas, que envolve a remoção de infraestruturas e o encerramento da atividade mineral. Apresento uma listagem de 11 questões que seguem e pedem  respostas de autoridades. Automaticamente, o município em que se dá a situação não teria que acompanhar, paralelamente, as ações técnicas? E por que não se faz esse trabalho em Itabira?

 

2. O “fechamento de mina” envolve o acompanhamento da parte afetada pelos resultados sociais da iniciativa. Por que Itabira ainda não participa desse fórum de soluções econômicas?

 

3. Itabira está em processo de inauguração de dezenas de praças, algumas desnecessariamente, pois que consomem gastos de  milhões de reais. Como serão mantidas essas praças, sabendo-se que todas as construídas pela Vale, em atendimento à Licença de Operação Corretiva (LOC), foram depredadas pelo uso e abuso, porque não foram cuidadas. Serão daqui para a frente vigiadas 24 horas por dia?

 

4. Diante da ocorrência do item 1 desta lista, a arrecadação municipal será radicalmente afetada, haverá uma recaída drástica de receita. Como serão supridos os valores para pagamento do funcionalismo da Prefeitura, do Saae, da Itaurb, dos pensionistas e aposentados?

 

5.Os vereadores que consomem gastos altos para sua atuação no sistema legislativo continuarão recebendo pagamentos pelo trabalho. onde virão os valores para cobrir as despesas, sabendo-se que o fechamento de minas consumir  mais que o orçamento atual?

 

6. Com a falta de recursos da queda drástica de impostos e outras fontes de arrecadação, como sobreviverão o comércio e as pequenas indústrias da cidade?

 

7. Itabira tem, hoje, grande número de condomínios espalhados pela cidade, até na periferia. Com o esfriamento da economia, ficará a maioria  fechada por falta de moradores. O que será dos prédios abandonados ou caindo seus valores no mercado? A Prefeitura reconhecerá a desvalorização e reduzirá drasticamente os valores hoje cobrados de IPTU?

 

8. Itabira não tem água para sobreviver até por volta de 2026, ou mais adiante. É o ponto chave para atração de empreendimentos. Caso a Prefeitura se preocupe com a questão econômica, a falta de água não constitui mais um obstáculo para o desenvolvimento? Significa que agir no sentido de atrair empreendimentos agora seria perder tempo?

 

9. Grande dúvida é,também, a Universidade Federal de Itajubá (Unifei). É, à primeira vista, o grande empreendimento que pode alavancar, junto da Faculdade de Medicina,  a opção da Cidade Universitária Itabirana. Mas o prefeito já declarou que não investirá em iniciativas federais. Há uma solução para essa intrigante e preocupante questão?

 

10. O governo reeleito tem anunciado que a sua concentração de esforços  será em um ou  mais distritos industriais. Somando-se a produção e o rendimento  dos DIs que funcionam, ou dobrando a arrecadação de ambos existentes, não seria esse um caminho ainda insignificante para recuperar a economia itabirana?

 

11. Dependendo de outras respostas, o governo municipal não pretende voltar suas vistas para o Parque Científico e Tecnológico (sequência da Unifei), Porto Seco e Aeroporto Industrial, que constavam de projetos anteriores a este governo?

 

PS-1.: Este documento, que será registrado em cartório, com novas assinaturas ou sem elas, abre a participação a todos os itabiranos, especialmente órgãos públicos e sociedade civil organizada, que queiram acompanhar e transformá-lo num manifesto que a cidade requer ou não requer.

 

PS-2 Que a minha alma e dos que amam Itabira tenham o pensamento do futuro e a certeza de que se não houver união jamais seremos uma nova comunidade num futuro que bate à nossa porta.

 

PS-2: Para qualquer mudança, corte, alteração, deixo o meu telefone/WhatsApp: 31-99529-8235.

 

Itabira, 10 de outubro de 2024.

José Almeida Sana

Foto: Arquivo N.S.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

CHEGA DE ERRAR: ITABIRA COMPLETOU 191 E NÃO 176 ANOS DE EMANCIPAÇÃO

 



A preservação da história e da memória é fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade

 

Era outubro de 1948, o então prefeito, médico e professor Dr. José de Grisolia, quis fazer uma festa, ele tinha motivo. Esse era que, no nono dia do mês, Itabira completava 100 anos da mudança simples do nome, isto é, de Vila, emancipada em 7 de outubro de 1833, recebeu os foros de cidade. Havia 115 anos e dois dias a verdadeira cidade estava emancipada politico-administrativamente.

 

Uma  figura que  também abordou o assunto em entrevista foi o cidadão, ex-vice-prefeito e prefeito, José Machado Rosa (in memoriam), na edição número 70, de outubro de 1998, páginas 8 a 10, da revista DeFato.

 

Alguém quer outras fontes? Confira quem assim o desejar na Câmara Municipal de Caeté, cidade que se denominava Vila Nova da Rainha, a que Itabira do Mato Dentro pertencia. Ou consulte escritos do historiador santa-mariense José Antônio Sampaio (in memoriam), que se responsabilizou pelo Museu do Ferro durante vários anos. Ou confira entrevista da historiadora e professora Terezinha Fajardo Incerti/ in memoriam) (Itabira e Centro-Leste em Revista, décima edição, outubro de 1993, páginas 17 a 20.

 

O PORQUÊ DO ERRO

 

Como dito, José de Grisolia, não tinha marqueteiro mas, sim, vaidade, ou não quis deixar passar em branco uma data que, na verdade, tinha um cunho de importância. Não tanto significativa quando o 7 de outubro de 1833, quando até os móveis ocupados por Major José Paulo de Souza foram trazidos para a real sede dos poderes Legislativo e Executivo, simultaneamente. Estavam naquela data instalada em Itabira do Mato Dentro a sua emancipação.

 


 OS PRIMEIROS DIRIGENTES

 

Compunham a primeira Câmara Municipal de Itabira, cujo presidente exercia o cargo de chefe do Poder Executivo, os seguintes membros:

 

Major Paulo José de Souza (presidente e prefeito),

Capitão João Camilo de Oliveira (não Major Lage)

Padre Manoel Pinto Ferreira,

João Antônio de Freitas,

José Luiz Rodrigues de Moura,

Padre José Freitas Rangel e

José Maria Freitas Rangel.

 

OUTROS ERROS HISTÓRICOS

 

A História de Itabira é rica em fatos e também recheada de erros de datas, acontecimentos e registros importantes. Podemos citar, por exemplo, um trabalho executado pela ex-vereadora, presidente da Câmara  e professora Maria José Pandolfi, durante o mandato de João Izael Querino Coelho (2005 a 2008 e 2009 a 2912).

 

Neste longo e valioso documento, intitulado “Desmistificando a História de Itabira”, constam fatos interessantes e que jamais poderiam ficar de fora de quaisquer trabalhos históricos.

 

 


Fontes: José Antônio Sampaio, Terezinha Fajardo Incerti, Maria José Pandolfi, Museu de Itabira, Câmara Municipal de Caeté.

 

Fotos: Museu de Itabira, Arquivos, Brás Martins da Costa Fontes: José Antônio Sampaio, Terezinha Fajardo Incerti, Maria José Pandolfi, Museu de Itabira, Câmara Municipal de Caeté.

 

José Sana (Em 7 de outubro de 2024)

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

POR QUE MARCO ANTÔNIO LAGE VENCEU DE GOLEADA?

 


Vitória incontestável ocorrida por vários motivos, mas que traz uma responsabilidade sem limites para o vencedor

 

Uma assertiva popular dizia: “Em mineração, barriga de mulher e boca de urna ninguém sabe o que vai sair”. Mas isso era pensamento incontestável de meu tempo de criança. E já não estou nesta faixa etária, sequer o mundo. A verdade de ontem virou mentira hoje.

 

De mineração temos as prospecções geológicas que determinam as riquezas ou a exaustão das minas; de barriga de mulher sabe-se antecipadamente pelo ultrassom e de boca de urna temos seguramente pesquisas bem elaboradas. Tudo resolvido e fica a pergunta do por que Marco Antônio Lage se reelegeu prefeito de Itabira? E de “balaiada”.

 

Não sou dono da verdade, ainda mais num tempo desse em que o povo mais se dispersa em pensamentos. A ideia coletiva configura-se mais complicada, então voltamos à estaca zero. Contudo, tenho a minha opinião baseada no que sabemos dos tempos da chegada do candidato quase totalmente desconhecido da população itabirana.

 

Para dar resposta a uma pergunta, fica um outro questionamento: por que Marco Lage se elegeu em 2020? Resposta que me parece a mais segura: encontrou uma oposição muito capenga, pouco decidida, mal elaborada, desorganizada.

 

Ao vencer, ele e sua orientadora inarredável decisiva me disseram: “Nunca mais perderemos eleições em Itabira”. A princípio não levei a sério. Mas mudei um pouco de opinião em março de 2022. Naquele dia, Marco chegou improvisadamente ao palco de uma Conferência de Saúde. Lá borbulhava um zum-zum-zum, dando conta de que ele estaria fora do próximo pleito eleitoral.

 

Cutucaram a onça com vara curta. No mesmo encontro, que era técnico, ele o politizou, lançando-se “definitivamente” candidato em 2024. Com claras orientações de marqueteiros de alto conhecimento, traçaram esses um caminho simples de ser percorrido. Com bilhões de reais nas mãos, restou a ideia de promover festas e festas e festas. Por trás, com os  cofres transbordados de bilhões de reais, planejou um governo de pracinhas e reformas. Cometeu uma loucura imprevisível que muitos chamaram de anúncio de suicídio: “Não vou investir um centavo na  Unifei, isso é obra do governo federal”.

 

Já no início de sua governança, Marco Lage e Câmara Municipal tornaram-se inimigos cruéis. Diz alguém por aí que ele agora em 2024 está tranquilo porque  fez maioria na Câmara de Vereadores. Não é verdade, sempre teve essa maioria até quando uma voz doida de pedra  retumbou do palácio neste tom: “Vereador  é chute no saco”. A expressão foi impensada, um verdadeiro canhão desferido na Casa do Povo, um poder que merece respeito. A partir daí estava iniciado um debate épico, que na época chamaram de “terceira guerra mundial do Paraguai”.

 

Ele  dobrou seu estilo, ultrapassando as linhas do populismo. Não se importou de rebolar ridicularmente em palcos, contratou mais e mais forasteiros e procurou crianças para abraçar e beijar. E assim, de março de 2022 até agora andou fazendo o que ninguém fez — nem o populista da idade média, Daniel Jardim de Grisolia — faltou subir em caminhões e sair pelas ruas hasteando bandeiras.

 

Foi ainda mais ousado: desviou-se de assuntos que mais deviam preocupar o itabirano — a falta de água e a prática efetiva de ações visando o futuro. Há anos a cidade procura a sua vocação econômica com  Paulo Roberto Haddad (Li Guerra), Sauer Consultoria (Jackson Tavares), João Izael (Unifei) e grupos chineses (Ronaldo Magalhães). Abandonou, como já disse, o foco da Unifei, do Parque Tecnológico, do Porto Seco, do Aeroporto Industrial e até do Presídio. Espero que retorne, peço aos itabiranos que rezem por isso, se fé houver. Estou duvidando.

 

A pergunta continua no ar: por que Marco Antônio Lage venceu, não, deu “balaiada”, como diz a voz popular? Vamos somando os motivos. Parece, para reforçar o populismo, o foco, o desejo, as palavras nunca mais perderão o sentido enquanto viver.

 

A cidade cheia de pracinhas, as torneiras sem água, o povo reclamando, chorando, a saúde debilitada, tudo complicado, ele foi treinado para dar as suas desculpas. Aparece agora com R$ 1 bilhão da Vale, não é vantagem, a Vale ainda deve o Rio Tanque e a Central de Resíduos (lixo). Tanta responsabilidade, sem contar que a Itaurb está com o pé na cova. Até a explicação da falta de água teve uma tendência quase justa: seca, seca, seca. A culpa da seca foi da natureza, ou de São Pedro. Definitivamente é sabido que seca é fato normal.

 

Mas venceu. Era o que queria. Minaram as fontes resistentes. Ferrenhos inimigos antigos descerraram suas bandeiras e ergueram o estandarte branco do sossego, calaram-se as vozes ou tornaram-se roucas de cansaço. Ainda houve uma teimosia em dividir as tropas para o front que não ocorreu. Discursos desentoados, o principal —futuro de Itabira — pouco ocupou a agenda.

 

Marco Lage agora aparece também como um fenômeno, diz-me um amigo. Ele não teme ir à frente. Creio o entusiasmo leva ao sucesso e foi o que disse e seu braço direito — “não perderemos eleições em Itabira”. Acredite quem quiser, as arquibancadas já falam na eleita vereadora Dulce Citi para sucessão. Assim se dá o nascimento de lideranças.

 

Fim de papo. Rabisquei demais. Esqueci-me de abordar a máquina administrativa que impulsiona o candidato. Só espero que nesta terra que adotei há 57 anos, em que nasceram meus filhos e netos, não ocorra o fato previsto pela própria Vale em 1942 que me faz tremer dos pés à cabeça, o temível “bolsão de pobreza”.

 José Sana

7/10/2024 (data real de emancipação de Itabira)

Foto: Arquivo

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

"O SILÊNCIO DOS INOCENTES"

 



Espera-se o despertar da salvação, apesar de  ferrenhos ataques do inimigo cruel e ameaçador

 

Vamos viver um grande filme? Ou melhor, já estamos  vivendo esse romance de terror? Denominemos a peça o mais rápido possível, nada de surpresas. “O silêncio dos inocentes” é o filme que se expõe em cartaz.

 

O ingênuo também sai logo do armário e se chama Itabira, ou itabiranos. E que a cidadezinha qualquer resista e nunca se entregue ao mal. Rica para sempre, pobre sempre, cabeça de cuité,  diz um cidadão que quase entra para a Forbes, mesmo vindo  de um lugarejo deste nome mesmo, perto de Santa Maria de Itabira. É o Cuité, sim, Seu Zé.

 

Melhor dizer logo que a rica e penosa nunca soube de seu poder, ou tomou  conhecimento por meio de forasteiros. O inesquecível João Bragança afirmava taxativamente que “Itabira é como o boi, não sabe a força que tem”. Uns vieram para explorar, outros para alertar quando a vaca está praticamente dentro do brejo.  

 

A obra tradicional  foi escrita por Thomas Harris e publicada em 1988. Agora, do outro lado do disco, existe uma das mil interpretações sobre a terra de Carlos Drummond de Andrade.

 

Disse Drummond:  Na cidade toda de ferro as ferraduras batem como sinos. Os meninos seguem para a escola. Os homens olham para o chão. Os ingleses compram a mina. Só, na porta da venda, Tutu Caramujo cisma na derrota incomparável”. Isso é tudo, diria um juiz de tribunal.

 

Acreditem os incautos, por aqui vinham os sonhadores com riquezas minerais. Chegavam a estas bandas displicentemente, por vir. Por acaso, talvez. Eram vistos como uns malucos de pedra, com bengalas, chapéus  e sem rumo, e nada para  ou por fazer. Falavam “línguas emboladas”, como um tal de  Percival Farquhar que, apesar de animado e quase falando o português, vindo da América do Norte, aproveitou-se para começar a praticar o seu jogo e envolver os nativos.

 

 

No ano de 1910 lá na Suécia estava o teimoso Percival procurando tornar-se líder em Estocolmo ao participar do I Congresso Mundial de Mineração. Foi ele próprio que deu início à guerra do minério, ou soltou os cachorros ao cravar quem numa cidadezinha qualquer, nada mais que uma com o sobrenome Mato Dentro, detinha a maior concentração de hematita, própria para a siderurgia, rica em ferro.

 

E essa aglomeração de fortunas, para início de tudo, chama-se Cauê, antes pico e agora cava. Na verdade ele, Percival, já tinha adquirido, por preço de banana, aquele aglomerado que acabou sendo o início da formação da fase de maior atração humana a esta terra.

 

O Silêncio dos Inocentes  no filme era a caça ao canibal, um serial killers de alta periculosidade. Transportado para Itabira, trouxe um maior criminoso chamado Buffalo Bill, preparado para morrer caso fosse correto o plano, espera-se ainda.

 

Em Itabira, a tática foi passar pelo  homem perigoso, o Hannibal, até chegar em Buffalo Bill, dominado por uma mulher, uma grega exportada, para transformar a cidade em uma trupe de inocentes pessoas, todas silenciosas, com surpresas para colocar em prática, quem sabe!. É o capeta contra o demônio com satanás no apito. Confusão, portanto.

 

O romance mais que aterrorizante e de suspense  desenvolve-se a mil por hora. Veremos o que pode ocorrer em 6 de outubro, o Hannibal violento espera a vitória, os inocentes continuam silenciosos. Diz a sabedoria caipira mas atenta que em boca de urna, barriga de mulher e vontade do povo tudo pode acontecer.

 

José Sana

Em 25/09/2024

Imagem: Arquivo

domingo, 22 de setembro de 2024

A “PAPAGAIADA” APITOU NA CURVA IMITANDO O TREM PARA ALERTAR BABACAS MAUS PESQUISADORES

 



O tradicional e da velha política  Festival de Besteiras que Assolam Itabira (Febeatabira)  chegou, finalmente, para quem ganha eleição antes de começar. E manipula...

 

Saí por aí como um “doido de pedra”, expressão popular que pode significar, também, uma pessoa atualizada, por dentro de tudo, à procura de informação segura, sem amigos protetores, perguntando nos botecos, salões de beleza, esquinas e velórios o que seria mais importante neste momento, as pesquisas ou a conversa ao pé de ouvido.

 

Caminhada de ida e volta, no retorno nem parecia ato de pesquisador querer saber algo sobre o Festival de Besteiras que Assolam Itabira (Febeatabira). Cada um deu o seu palpite, mesmo alguns reconhecendo-se  trôpego, considerando que, no decorrer dos 23 pleitos eleitorais passados, de 1972 até o deste ano e aqui computados, em todos a história se repete insistentemente, as  trapaças se empilham sobre trapaças.

 

Como sempre houve, tem candidato que mata até a mãe para não largar as tetas  da prefeitura originárias de hematitas holandesas, japonesas, americanas, alemães  ou chinesas.  Temos pseudo formadores de opiniões que, embora não entendam a filosofia do grande político e escritor que foi Nicolau  Maquiavel, desenvolvem  a mania de copiar o que entendem de seu pensamento filosófico. É um jogo de rato e gato, não se esquecendo de que tudo não passa de “papagaiadas”, como bradou um bem escolado opinante.

 

No primeiro contato, recebemos  palpites nascentes  de uma roda de  cervejeiros em que um emérito consumidor da artesanal puro malte assim registrou no caderno de apontamento, como já disse : “Já começou a papagaiada das pesquisas”. Mais na frente, um despretensioso, palpiteiro parece ter dado uma sequência lógica ao tal entrevistado, soltando o seu verbo: “As maiores anedotas e barbaridades do mundo ocorreram em Itabira e, aposto, vão se repetir neste faminto ano de pleito eleitoral”. A invasão forasteira não trouxe novidades, continua em ação a velha polícia dos tempos de José Maria Alkimin, Benedito Valadares e outros menos votados.

 

ANO: 1972

 

Não existiam pesquisas naquele tempo, simples enquetes, embora denominadas com  nome científico.  O mais cotado para vencer  o pleito seria Virgílio Gazire, mas a previsão indicava Wilson Soares, da mesma coligação, o voto era por legendas encabeçadas por MDB 1, MDB 2 e MDB 3, ou  Arena I, Arena II, Arena III. Virgílio estava sendo impugnado perdera na primeira e na segunda instância. Venceu na etapa justiça federal e, considerando a revolta popular, deu uma senhora balaiada nas legendas da Arena. Quem vivia e vive lembra-se disso.

 

ANO: 1976

 

Os pesquisadores eram os jornais que faziam enquetes no comércio e pequenas empresas, além de setores da Vale. “O Passarela” acertou em cheio o resultado do pleito, repetição de legendas emedebista x arenista. Padre Joaquim Santana de Castro era forte candidato, mas não teve forças para enfrentar Jairo Magalhães Alves, “o homem do sapato branco”.

 

Aí lembrava-se  aquela previsão do tipógrafo Emílio Novaes: “Este ano a eleição vai terminar empatada porque todos dizem que vão ganhar!” Novaes acertara, sim, ou quase, em 1963, na memorável disputa Wilson Soares x Jodi Machado, diferença de 3 sufrágios que, recontados viraram 4 a favor de Wilson. Essa história Dr. Colombo Alvarenga contou em seu livro publicado recentemente.

 

ANO: 1982

 

Terceira etapa do período militarista que continuava com grupos chamados de legenda em que os votos se somavam. Era agora o PDS contra o PMDB. A ideia de resultados continuava sendo baseada no seguinte : “Em mineração, barriga de mulher e boca de urna ninguém sabe o que vai sair”.

 

Mas sabia, sim. O Passarela, jornal que circula há mais de 50 anos em Itabira, previu a vitória de Virgílio Gazire, que acabou vencendo as eleições.  Além do fator pesquisa, que já era hilário, surgiram os causos do candidato que fingiu saltar de paraquedas e outro sendo sequestrado de mentirinha. Tudo ajudou ou atrapalhou ou engordou o previsto pelo jornal que assinava “Grupo Felmar” (Felíciano e Marcos Gabiroba).

 

TEMPOS MODERNOS


Na era moderna, ou contemporânea,  o homem aprendeu a fazer pesquisas que, a princípio, pareciam cheias de lógica, carregando o epíteto “estudos científicos” Os bobos acreditavam,  iam na conversa porque pensavam que todos os eleitores itabiranos tinham sido consultados, menos ele.

 

Com 2 mil questionários aplicados ou até menos, é possível chegar a resultados precisos sobre as preferências de um universo de 90 mil votantes, como é o caso de Itabira? Sim, mas se for observada a lei de distribuição de pensamento dos grupos. Por isso tornou-se fácil manipular os números e as caras moradoras em locais determinados, escolaridade e idades. 


O Bairro Praia, por exemplo, sempre foi o preferido dos eleitores da marca esquerdista. Populoso também, o Jardim da Gabiroba destaca-se como direitista. Os espertinhos sabem disso e fazem a vontade do encomendador das pesquisas sem que a própria ciência descubra. Trata-se de características diferentes itabiranas. Por isso, o primeiro observador deu o seu palpite irrefutável: “papagaiada”.

 

Vou dar um exemplo de resultado em Itabira em que se deu um fato diferente, extraordinário, foram do embasamento das pesquisas. João Izael era candidato a prefeito em 2004 e todos esperavam que vencesse, segundo as pesqusas. Contudo, um instituto de pesquisa fez um levantamento no meio da semana antecedente ao pleito e constatou o seguinte: a vitória seria de Damon Lázaro de Sena. Também disputavam Jackson Tavares, Ângela Guerra e Ciganinho.

 

No último dia de comícios, o pessoal estava com levantamento do  “meio de semana” em que Damon ganhava disparado. O comitê secreto, instalado num bunker escondido por aí, de João, agitou-se. Foram chamados os “entendidos” para analisar o quadro. Triste conclusão para a turma de Izael, que perderia com frente massacrante.

 

E O QUE DEU?

Todos foram para o comício final acabrunhados, cabisbaixos, derrotados. O encontro seria na ponta da Avenida Mauro Ribeiro e poderia se estender pela nova via itabirana construída por Ronaldo Magalhães. Surpreendentemente, calculadas 20 mil pessoas  expandiram-se pela avenida afora, ocupando todos os seus espaços.

 

Inacreditável, os  analistas de pesquisas tornaram-se incompreendidos entre si. Enquanto  que as concentrações dos outros candidatos eram compostas de  meia dúzia de “gatos pingados”, não concluíram seus raciocínios.  Aí veio  a claridade não ofuscante de uma luz assim definida: “pesquisa só é válida em Itabira se feita em fim de semana”. Tornou-se lei natural. Por quê? Ora, ora, ora, os donos da casa, homens e mulheres, estão no trabalho. O “meio de semana” entrevistava crianças ou domésticas. Por isso, o resultado das urnas foi o seguinte:

 

JOÃO IZAEL (PL)                  28.308        43,98%

DR. DAMON (PAN)               17.538        27,25%

DR. JACKSON (PT)               15.756        24,48 %

ANGELA GUERRA (PFL)      1.959          3,04%

CIGANINHO (PSDC)                802          1,25%


 

Na conclusão deste trabalho, fica uma homenagem ao senhor fulano de tal, que pediu para não ser mencionado seu nome. A sua frase ficou para a história dos chutes itabiranos dos novos tempos: “Já começou a papagaiada das pesquisas”...

 

Para reforçar o exemplo acima claro e incontestável, no ano 2000, o ex-candidato à reeleição Jackson Tavares, favorito em tudo, com 86% contra 16% de Ronaldo Magalhães, perdeu o pleito. Tratava-se de outro erro de cálculo e de manipulação de pesquisas. Quem venceu não foi Ronaldo, acreditem. O vencedor foi, inevitavelmente, a lenda mais que viva chamada Pé de Pato. Mas isso é outra história. 

Será que o itabirano aprende?

 

JOSÉ SANA

Em 22 de setembro de 2024.

Fotos: Arquivos