Meus amigos, vou
lhes apresentar o distrito de Brejaúba, situado às margens da MGC-120, vizinho
de Ferros, São Sebastião do Rio Preto e Santo Antônio do Rio Abaixo, a 60 quilômetros
de Conceição do Mato Dentro, a sede do município e a 70 de Itabira. No passado,
era um lugarzinho de muitas festas, moças bonitas aos montes (hoje tem também,
mas no tempo distante havia abundância), pacato, apesar de uns tiroteios de vez
em quando e acolhedor (também permanece
essa virtude). Eram mais de três mil habitantes, hoje não passam de 800
os moradores, incluindo a zona rural; votavam duas mil pessoas, reduzidas a 200
na atualidade.
Não tinha luz elétrica, telefone, sky, água encanada. Mas contava com gente famosa, da estirpe de um Luiz Campos, José Faria, Nonô, Bastião Neneca, Expedito Coelho, José e Antônio Morais, Família Otoni e tantos outros. Hoje o lugarzinho é asfaltado, pros cocos mas é, não tem campo de futebol, que foi traga do pelos córregos, mas há cerveja gelada nos bares. Antigamente, nas prateleiras mantinham garrafas quentes com poeira, além da sempre presente cachaça, cuja embalagem era vedada com sabugo de milho.
Brejaúba tem uma
linda igreja de São José, o padroeiro do arraial, em estilo semibarroco, com
sino doado pelo Imperador Dom Pedro II, que leva a sua assinatura na aba.
Dentro da igreja apareceu recentemente a imagem de Cristo, fato que atrai centenas
de cristãos para apreciar o aparente
milagre. Há três escolas no distrito,
espalhadas pela área, sendo uma municipal, e a outra, a Carolina Otoni, estadual
e dividida em duas unidades: na sede, com 90 alunos, e no subdistrito de
Socorro, com 80, a dez quilômetros de distância. Socorro e Santa Rita compõem
uma geografia interessante: o primeiro pertence a Conceição do Mato Dentro; o
segundo, atravessando a ponte, é Santa Rita do Rio de Peixe, da jurisdição de
Ferros.
Nos velhos
tempos, nas festas de Brejaúba, sempre viajamos para ajudar na religiosidade
dos eventos. A Banda do Godó, meu avô, de que meus irmãos, pai, tio, primos e
amigos faziam parte, além do velho Godofredo, fazíamos uma viagem das mais
atrativas, a cavalo. No meio da jornada, tínhamos que atravessar dois rios,
nos seus solenes encontros: o Preto e o
Santo Antônio. Eram caudalosos, não dava para os viajantes enfrentarem as águas
como nos dias de hoje. Havia um barca,
assim chamada, em que se tornavam seus passageiros, nós e os burros, mulas,
bestas, cavalos e éguas. Momentos de nos encher os olhos, a travessia parecia
algo bíblico, com Cristo e os apóstolos cumprindo as suas missões evangelizadoras
decorridas há mais de dois mil anos. Meus 9 a 14 anos foram bem-vividos quando me lembro desses dias cheios
de atrativos.
De paradeiro em
paradeiro de Brejaúba, recentemente, traficantes aproveitaram o sossego do
lugarzinho para nele montar um centro de distribuição de drogas. Quando o pau
estava quebrando escancaradamente, foi montada uma espécie de força-tarefa para
conter o crime. Helicópteros sobrevoaram a região durante vários dias, a
polícia estadual em ação, foram presos alguns distribuidores da desgraça
humana. Antes disso, houve um arrastão na vila, com assaltos à mão armada e
furtos, deixando os humildes filhos do
lugar em polvorosa. Recentemente, um maluco sem definição, adentrou o lugar à
luz estridente do dia e desferiu 76 facadas em um cidadão indefeso e sem
nenhuma ligação com o matador, nem com quem lhe podia inspirar tão ousado
ataque.
Vejam como
progrediu a região: chegaram luz elétrica, telefone, sky, boas estradas e, para
ornamentar tudo, o crime, desenhado com o tráfico. Endossando a necessidade de
socorro à educação brasileira, parte de minha luta desigual, que travei nas
escolas e mantenho nos meus escritos (Facebook e Blog), no último fim de semana
(24 para 25 de agosto), dois adolescentes estudantes do estabelecimento escolar
de Socorro, ainda não detidos até o fim de agosto, resolveram atear fogo no
prédio da Escola Estadual Carolina Otoni II, acabando com todos os arquivos, a cozinha
e destruindo 13 computadores.
Este é o
progresso atual. Não é culpa direta nem minha, nem de quem me lê neste momento,
mas de todos nós que ainda não sabemos como definir o que é a vida em meio a
tantos misteriosos acontecimentos que se espalham mundo afora. O que parecia ser
a chegada do progresso, definitivamente não é mais. Urge que nos inteiramos dos
fatos para saber como nos armar para conter tamanha violência que se trava hoje
em dia na face do Planeta Terra.
Sabendo que o
couro está comendo em todas as partes, mas com pena de quem nada fez para pagar
tão cedo o pato, recorro a uma oração que prometo repetir e que peço seja
proferida por quem ama a paz: “Deus, meu Deus, olhai para a nossa Brejaúba!”
Amém.
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