Amigos,
se pudesse escrever o que gostaria mesmo, faria o mundo tremer. Vivo com tanta
coisa entalada e ando engolindo sapos triunfais de pernas abertas. Mas há o que
me é dado anotar, considerando aquela citação muito cotidiana: a esta altura do
campeonato da vida, há muito o que pode ser dito, mesmo que desperte horror e
terror.
E
vai lá: ser negro, pelo menos no Brasil, não é mais preconceito. Isso é bom e
serve para calar a boca dos sem assunto. Acabou o racismo exatamente quando se
descobriu que a cor negra tem belezas até mais significativas que as demais. E,
completando, outros preconceitos estão em extinção, especialmente o da
homossexualidade. Entrou no lugar dele a homofobia, que virou citação até de
analfabeto.
Escrevo
em cima de leis naturais. A lei mais forte que existe garante que no Planeta
Terra há apenas um deus. Aquele que consola o coração de muitos serve para
enganar um por um, principalmente os que se auto-denominam devotos. Na verdade,
incontestavelmente, o deus que vem mandando por aqui é o Senhor Dinheiro. Acima
do Dinheiro é o Senhor Poder, quando esse tem a capacidade de gerar dinheiro
infinitamente. Em via de qualquer dúvida, o Poder resolveu passar a coroa para
as notas de cem reais, dólares ou euros.
Dito
isso, vamos ao verdadeiro preconceito da humanidade: a pobreza. As pessoas
dizem: “Gosto de pobres, amo os pobres, coitado dos pobrezinhos”. Mentira pura!
Ninguém gosta de pobre. Para a humanidade, caso ela queira ser franca e
decisiva, “pobre tem que explodir”, como era dito naquele programa de humor na
TV.
Faz
tempo tenho observado por aí como é feita a discriminação dos pobrezinhos. Se
alguém supõe que um fulano de tal qualquer “está cheio da gaita”, como diziam
na minha terra natal, esse nunca fica sozinho. Aqui em Itabira, até para me
distrair, passava horas e horas olhando para um
suposto rico chegar a numa roda de “amigos”. Ele não tem sossego e
parece o mais bonito de todos, pois lhes enchem os olhos de lágrimas só por
olhar nos olhos dele. Lágrimas dos invejosos e deleite do invejado. Deus do
Céu! – este é o reserva da humanidade, que é lembrado quase sempre na hora do
aperto, quando a barra pesa.
E quem
não tem dinheiro sofre por vários motivos: ninguém percebe quando chegou ou
quando saiu. Aí ele se sente humilhado, principalmente se já foi rico ou
poderoso. Essas dores são maiores que a abstinência de tudo que o miserável tem
que praticar na vida. Se falta comida, bebida, roupas e teto, aí o moço ou a
moça não são pobres simplesmente. São coitadinhos.
O
dinheiro não traz felicidade. Está certo. Mas 99,99% dos seres humanos
trocariam a felicidade pelo dinheiro. “Pode ir embora, felicidade, e entre para
a minha vida, Senhor Dinheiro” — essa frase parece viva nos lábios e olhares de
cada ser humano. Hipócrita é quem nega. Uma cidade, um estado, um país, o mundo
acordam cedo e todos se movimentam atrás
do todo-poderoso Dinheiro. No crepúsculo retornam para o descanso merecido, em
casa.
Até
no ambiente familiar, o menosprezo vem quando faltam centavos nos bolsos das
pessoas. Quantos lares são desfeitos. “Vai caçar serviço!” – essa já é uma
frase que as mulheres dizem aos seus companheiros. Parece uma cócega, esse tal
de vil metal, que precisa sossegar um pouco, pois, quanto mais o tempo passa
mais ele se sobrepõe aos seres humanos.
A
regra infalível para ficar livre disso ainda não foi muito seguida em nosso
planeta. Nem perspectivas há, por enquanto. Os pregadores do Apocalipse sonham
com esse momento. Quem dera o mundo mudasse! Por enquanto, é rara a criatura
que nega esse valor transitório, principalmente porque tanto o amor quanto a
amizade ainda são comprados no atacado e no varejo por esse deus de discórdia
que governa o mundo todo.
Sei
que a constatação incomoda muitos e sei que muitos já estão me condenando,
preparando uma cruz para nela me afixar. Mas, infelizmente, hoje, agora, neste
momento, sou obrigado a concordar com o escritor Nelson Rodrigues, que chegou a
escrever que o amor é eterno, se acabasse não seria amor, mas também deixou
outra frase gravada e atribuída a um de seus personagens de contos e crônicas:
“O dinheiro compra tudo, até o amor verdadeiro”.
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