A fogueira está
acesa. Pega fogo nas beiradas, no meio e por baixo. Não há mais água nem outro
extintor de incêndio que debelem tantas chamas. Refiro-me ao mundo. O fogo não é
aquele conhecido nosso, a labareda que arde na lenha ou no fogão. A palavra é
agitação, desassossego, incêndio. Tudo provoca polêmica e, em seguida, debates,
brigas, desentendimentos. O ser humano, nós, no meio de tudo isso, uns
participam do teatro e outros tentam entender o que se passa. A maioria pira.
O que estaria
acontecendo? Como definir a situação? Precisamos fazer um pequeno retorno à
origem. Diz a Bíblia que Deus criou o mundo em seis dias (ou seriam sete? Não,
foram seis mesmo, porque descansou ou descansa no sétimo). A maioria das
religiões já aceita que nada foi de repente, ou seja, que o casal do princípio
constituiu apenas símbolo. Adão e Eva nunca tiveram infância? Estranho, não?
Então, os seis dias representam milhões de anos — essa é a única lógica
possível. Cientista e naturalista que hoje goza de muita credibilidade é
Charles Darwin (1809-1882 - Inglaterra), autor da teoria evolucionista, que se
encaixa perfeitamente neste contexto.
Resta saber
quando, como e por que tudo começou.
Detemo-nos agora no conjunto. O conjunto é o globo terrestre, a ele anexado
tudo o que Deus criou em milhões de anos, incluindo todo o ecossistema, com
destaque para a terra e a água. Para entender como funciona este conjunto e
saber que tudo caminha paralelamente, ou em todo o processo, vamos a um dado: a
terra tem 2/3 de água; nós seres humanos, parte ligada a esse todo, temos a
mesma proporção do líquido no corpo. Seria isso apenas coincidência? Duvido.
Pulando
detalhes, nos deparamos com a lei das transformações, outro processamento de
medidas que ocorreram e ocorrem no
decorrer de milhões de anos. O autor,
Antoine Lavoisier (1743-1794 - França), que lançou a hipótese mais tarde
transformada em tese, depois lei: “Na natureza nada se perde, nada se cria,
tudo se transforma”. Com esse triunfo assustador na humanidade, a maioria não
entendeu que um cientista abre portas para a religião. Como? Se tudo se
transforma sempre, quer dizer que o nada inexiste e daí a certeza absoluta de
que alguém fez ou coordenou alguma coisa, até porque surgiu outra lei inalienável
chamada causa e efeito. Enquanto não o entendemos completamente, a lógica nos
obriga a chamá-lo por um nome: Deus.
Mas por que a
confusão generalizada nos dias de hoje? Ora, evoluindo sempre o homem precisou
chegar ao máximo, ou quase máximo, para embaralhar tudo o que inventou
corretamente ou não no decorrer da vida e das gerações. Criamos valores. Valores
são entendidos diferentemente porque a sua criação foi sem critérios. Hoje em
dia, o certo se mistura com o errado por causa dessa atrapalhação, embrulhada,
mistifório. Tomados como verdade, com o tempo o certo se tornou errado e
vice-versa. Um dos exemplos saltam da palavra sexo.
Cada dia mais
aberta, livre, desimpedida, a questão sexual vai perdendo todo aquele clima de
segredo, reserva, que tinha no passado. Vamos citar o exemplo da gravidez e do
parto. Antigamente tentavam encobrir muitos fatos que eram proibidos até quando
pudessem. O estouro da situação virava escândalo. Hoje? Nem pense nisso,
somente em casos extremos, mas o medo de focalizar o tema acabou de vez.
Da mesma forma
que fatos isolados se sucederam — que provam que agimos de acordo com a evolução do conjunto — assim também as
discussões sobre cultura, política, futebol, religião etc. se travam. Há os que
preferem ficar sempre calados para não entrarem em conflito. Contudo, no bojo
da questão, os interesses de cada um ficam envolvidos sem que os seus
contendores o percebam.
Apenas para
concluir por hoje, nunca se deve afastar o comportamento do egoísmo dentro de
nosso conjunto. O instinto humano, como escreveu Schopenhauer (1788 - 1860 -
Alemanha), trabalha, em primeiro lugar para preservar a espécie. Sem tal
instinto, certamente haveria no mundo constantes suicídios coletivos. O
cientista e filósofo alemão nomeou o instinto como sendo de conservação da
espécie, que se defende automaticamente do fim, do nascimento à morte. Egoístas,
poucos seres iluminados lutam contra tal manifestação, que transpira e
transparece no ser humano.
Nos tempos
atuais pensamos que sabemos mais que
todo mundo. Mentira? Já ouviram falar do
sábio Platão (428/427 - 348/347 a.C.- Grécia)?
É claro, não é? Apostaria eu que, se estiver reencarnado por aí, como um
NeoPlatão, teria outra frase para marcar a sua “sabedoria: “Só sei que tudo
sei.”
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