Há pouco tempo,
cerca de seis meses, escrevia eu sobre o “foragido” gerente Bruno Barcelos
Amaral, do Restaurante e Pizzaria Apricci, ponto nobre localizado no porão de
meu apartamento. Digo porão porque quase tem uma escada para o chope
obrigatório de todas as sextas-feiras. Depois de viciar os clientes com um
atendimento diferenciado, eis que ele fugiu, se foi, tirou o time de campo — é
o que digo sempre de alguém que deixa saudade.
Informei nas mal
traçadas linhas que veio uma senhora de fino trato para ocupar o seu lugar.
Elisângela Guimarães, belo-horizontina, vinda de Governador Valadares, casada,
mãe de um belo casal. Ela tinha uma meta bastante arrojada: substituir um
gentleman que se vivesse há mais de dois mil anos seria o garçom da Santa Ceia.
E ela, “Do Lar”, como escrevia o meu tio e escrivão de São Sebastião do Rio
Preto, Noé Augusto de Souza, para definir uma mulher que cuida da casa. E
executiva, como diz hoje o linguajar popular ou mesmo o especializado.
Aula dos filhos,
gripe, tosse, noites maldormidas, corre-corres diários, alimentos na hora
certa, faltam pizzaiolo, chope, iguarias, cozinheiro, garçom, caixa — o acúmulo
de tarefas para uma só heroína a faz pular como pipoca em panela quente, dia e
noite, noite e dia. E ela tem que se virar. Ela se virava de moto, até
enfrentava o perigo das noites agitadas ou quietas, sempre um risco,
principalmente para elas, as mulheres.
O segredo de
comprar e vender numa casa de comidas e bebidas está no equilíbrio do estoque.
Não pode faltar, como não pode sobrar. Todo excesso resulta em prejuízo para
quem administra ou sustenta a casa comercial. É sério o caso da mão de obra,
apesar do choro geral de que vivemos em pleno período de desemprego. A verdade
é outra: falta profissional qualificado no mercado, um pouco porque o governo
resolveu engessar a preguiça do cidadão com o famigerado Bolsa-Família e outro
tanto por culpa da cultura brasileira.
Refiro-me a uma
mãe de família e executiva ao mesmo tempo. Que carrega no cérebro
cotidianamente as palavras amor, carinho, orientação, compreensão, bondade e,
ao mesmo tempo, é obrigada a deixar entrar os ataques de real, dólar, mercadoria,
caixa, entrada e saída, fluxo de caixa, viabilidade econômica e outras
expressões financistas incompatíveis. Mas o seu cérebro é abençoado e ela
consegue o equilíbrio disso tudo, como do estoque e da paz no ambiente de
trabalho.
Confesso de sã
consciência que toda vez que entrava no Apricci, seja para almoçar ou para uma
chopada com a família e/ou amigos, olhava com muita pena essa nossa amiga
Elisângela. Vez por outra tinha que sentir o seu olhar meio triste, desculpe-me
se estou sendo um mau e falso psicólogo, mas era a pura verdade.
Acostumamo-nos
com a sua receptividade. Seu incomum jeito de ser tão notável que ela, por
estratégia comercial já conhecida, sempre reclamava de ausências e faltas.
“Você sumiu!” — a queixa sempre acompanhada de um forte ponte de exclamação.
Mal tinha tempo para olhar para todos os lados e ver as brechas do comércio, a
distração do funcionário, o atendimento, tudo enfim, mas não lhe faltou o tempo
do carinho aos seus clientes.
Agora,
finalmente, Lis vê realizar o seu sonho. Ela própria um dia me disse: “Casei-me para estar sempre
com o meu marido e a minha família”. Agora alcança a meta, trabalhando como ela
sempre quis, isto é, sem sair do Grupo Tia Eliana. Só que estando em BH, vai se
afastar de nós, itabiranos, como um dia o Bruno o fez, e deixar uma grande
lacuna na amizade que construiu.
Mas a vida
continua. Chega para junto de nós, no Restaurante e Pizzaria Apricci, Delmo
Coelho e esposa, acostumados em nos servir com o atendimento na indelével
Farmácia do Dario (saudosa figura) para outro tipo de serviço, igualmente digno
de nossa apreciação.
Que todos sejam felizes nos novos rumos que tomam. A amiga Elis, a quem dedico esta página, que leve a sua simpatia para outros lugares onde possamos vez por outra ir usufruir desse seu especial jeito de ser. Abraços.
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