Corre
celeremente o ano de 1966. Chega o dia 28 de maio. Estamos no auditório da
velha Companhia, ouvindo uma palestra sobre a empresa. Era o meu primeiro dia
de trabalho na Vale. Depois de muitos e muitos anos lutando contra o
desemprego, eis que consigo ingressar no sonho de muita gente na época, cuja
função nem sabia de que se tratava, embora a chamassem de “apropriador”.
Na palestra do
escritório do Areão, o apresentador, o saudoso Sinésio Valeriano Alves, que
seria o meu primeiro chefe, falou muito de exaustão do minério de ferro.
Desconhecedor do tema, saí daquele ambiente tomado de depressão. Pensava com os
meus botões e fechos ecleres: “Que droga! Vivo tempo me esticando para
conseguir um emprego e já passo a me preocupar com o minério que vai acabar!”
Trabalhei
durante 13 anos na grande Vale e aí comecei seriamente a vida profissional.
Tornei-me chefe nela, até daquele que fora o meu superior dez anos mais tarde. Demitido,
tornei-me dono do meu próprio nariz em duas frentes de atividades: primeiro no
Cantinho do Pão de Queijo, com três lojas na cidade e, depois, na revista
DeFato, onde permaneci como editor durante 20 anos. Fui vereador, promovi
seminários, encontros, debates; apresentei projetos, propostas diversas; o I
Encontro de Cidades Mineradoras me custou o próprio cargo na mineradora por
causa de minha função pública cobradora. Em todas as etapas em Itabira, de vida
particular a pública, o meu e o tema geral era uma obsessão só que tocava a
marcha fúnebre de somente uma nota: “o minério vai acabar”.
A privatização
da antiga CVRD, em 1997, apesar de ter eu lutado contra, tornou Itabira viável
por mais anos, previsão para mais 75 anos de fartura. Assim, as prospecções,
somente possíveis graças à privatização, salvaram a terra de Drummond pelo
menos na expectativa do povo. A partir do anúncio da longevidade da mineração, a
cidade borbulhou de gente, empregos
chegaram a virar a tendência de todas as crises, arranha-céus subiram no céu
itabirano.
Mas ninguém
pensou nas palavras do presidente
Fernando Antônio Roquette Reis, meu até então chefe imediato, que alertou não
para o fim do produto que a natureza dá de graça, mas direcionado à falta do
mercado consumidor, item fatal no caso do empreendedorismo. Tivemos outro alerta
faz alguns poucos anos e agora, num verdadeiro coice de mula, como dizem lá na
minha terra, o presidente da empresa, Murilo Ferreira, anuncia a possibilidade muito
forte de fechar as minas. A Vale teve quase dez bilhões de dólares de prejuízo
em três meses de 2015, o preço do minério de ferro está abaixo de uma dúzia de
bananas verdes e o estoque interno subiu consideravelmente. Fazer o quê? Rezar,
dizem as beatas nossas de cada dia.
“Cada um de nós
tem seu pedaço no Pico do Cauê.
Na cidade toda
de ferro
as ferraduras
batem como sinos.
Os meninos
seguem para a escola.
Os homens olham
para o chão.
Os ingleses
compram a mina.
Só, na porta da
venda, Tutu Caramujo cisma na
derrota
incomparável.”
E pergunto, perplexo como no meu primeiro dia
de Vale: o fantasma itabirano voltou?
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