segunda-feira, 20 de abril de 2015

A VIDA SEGUE EM ITABIRA DO MATO DENTRO. TRISTE E BARULHENTA...

No centro da cidade, ou porta de um banco,  um cidadão meio filósofo, disse-me que estava ali assentado, observando o semblante das pessoas. Como ele se referiu à tristeza e eu que sou inimigo número um dela e estou pregando para os quatro cantos que a vida é bela, resolvi assentar-me junto dele para ouvi-lo com atenção. Engraçado era que ele anotava o que via. Quando pude falar, perguntei como foi a minha classificação: otimista, pessimista ou realista? Ele chegou a dizer que eu era mais ou menos. Foi quando pude contestá-lo com expressões extraídas de alguns livros que li, simples como qualquer coisa: “Aparências não são verdades” e “Quem vê cara não vê coração”.

Dali retornei ao meu caminho de sempre, o de casa. Pelas ruas Água Santa e Tiradentes, depois as avenidas João Soares da Silva, Carlos Drummond de Andrade, João Pinheiro e Mauro Ribeiro pude sentir, apreciar e anotar a barulhada que toma conta de nossa cidade. O que intriga qualquer um é que a origem dos tremendos ruídos não é mais a propaganda eleitoral, e nem sequer comercial, que azucrinam Itabira cotidianamente. O que tumultua o ouvido do itabirano são os sons que seriam comuns se não fossem particulares. Hoje em dia, o sujeito que se julga bom da boca, rejeita colocar um rádio e um toca-fitas com um pequeno alto-falante no seu veículo para a sua serventia. Mas apela apaixonadamente por um som maligno, que faz tremer até um prédio de cimento armado.

A propósito, alguém fez uma pesquisa do barulho passageiro em três avenidas de Itabira, exatamente a Daniel de Grisolia, João Pinheiro e Mauro Ribeiro. Informa o resultado que de quatro em quatro minutos, a zoeira dessas vias atinge o mais insensível dos ouvidos estridentemente. Já na Mauro Ribeiro, o barulho é mais contundente: somam-se aos sons de veículos, o estrondo de motos cheias de vontade de voar, que explodem sobre os quebra-molas inofensivos e oferecem uma perturbação de deixar louco o mais surdo dos seres humanos.

Então está aí uma dica para a fiscalização. Senhora Fiscalização de Sons com Decibéis Malignos, eu vos declaro inerte, preguiçosa e rude diante do que fiscalizam. Sei que atendem reclamos da população, mas, infelizmente, ninguém se queixa do tal barulho passageiro, ou seja, aquele que vem, passa, mas é substituído por outros, talvez em formação de uma quadrilha contra a nossa saúde mental.

Para este pobre escriba, Drummond explica, numa estrofe de Confidências do Itabirano, a tristeza detectada por meu amigo sentado á porta de um banco:

... Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro...

Para o tumulto ensurdecedor das vias públicas, no entanto, o nosso poeta não teve uma só palavra, mesmo porque foi ele de outro tempo, diferente época, apreciou outros ares. Escreveu ele sobre outro barulho o seu Poema Patético assim:

“Que barulho é esse na escada?” – escreveu ele...E era apenas coisa leve, mais de sentimentos.

Agora são outros quinhentos. O poeta não gostaria de ouvir, com certeza. Se já tinha medo de ver as transformações itabiranas, retornaria na mesma condução em que acabava de chegar, seja de carro, de ônibus, de trem, de cavalo, ou no primeiro automóvel, a tal “Que Coisa-Bicho” do Chico Osório.


E a nova aurora, que não é a mesma de outrora, agora é a destruição de nossos tímpanos e o anúncio de que vamos para o hospício, em breve. E sem retorno para a vida normal, nunca!

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