No centro da
cidade, ou porta de um banco, um cidadão
meio filósofo, disse-me que estava ali assentado, observando o semblante das
pessoas. Como ele se referiu à tristeza e eu que sou inimigo número um dela e
estou pregando para os quatro cantos que a vida é bela, resolvi assentar-me junto
dele para ouvi-lo com atenção. Engraçado era que ele anotava o que via. Quando
pude falar, perguntei como foi a minha classificação: otimista, pessimista ou
realista? Ele chegou a dizer que eu era mais ou menos. Foi quando pude
contestá-lo com expressões extraídas de alguns livros que li, simples como
qualquer coisa: “Aparências não são verdades” e “Quem vê cara não vê coração”.
Dali retornei ao
meu caminho de sempre, o de casa. Pelas ruas Água Santa e Tiradentes, depois as
avenidas João Soares da Silva, Carlos Drummond de Andrade, João Pinheiro e
Mauro Ribeiro pude sentir, apreciar e anotar a barulhada que toma conta de
nossa cidade. O que intriga qualquer um é que a origem dos tremendos ruídos não
é mais a propaganda eleitoral, e nem sequer comercial, que azucrinam Itabira cotidianamente.
O que tumultua o ouvido do itabirano são os sons que seriam comuns se não
fossem particulares. Hoje em dia, o sujeito que se julga bom da boca, rejeita
colocar um rádio e um toca-fitas com um pequeno alto-falante no seu veículo
para a sua serventia. Mas apela apaixonadamente por um som maligno, que faz
tremer até um prédio de cimento armado.
A propósito,
alguém fez uma pesquisa do barulho passageiro em três avenidas de Itabira,
exatamente a Daniel de Grisolia, João Pinheiro e Mauro Ribeiro. Informa o
resultado que de quatro em quatro minutos, a zoeira dessas vias atinge o mais insensível
dos ouvidos estridentemente. Já na Mauro Ribeiro, o barulho é mais contundente:
somam-se aos sons de veículos, o estrondo de motos cheias de vontade de voar,
que explodem sobre os quebra-molas inofensivos e oferecem uma perturbação de
deixar louco o mais surdo dos seres humanos.
Então está aí
uma dica para a fiscalização. Senhora Fiscalização de Sons com Decibéis
Malignos, eu vos declaro inerte, preguiçosa e rude diante do que fiscalizam.
Sei que atendem reclamos da população, mas, infelizmente, ninguém se queixa do
tal barulho passageiro, ou seja, aquele que vem, passa, mas é substituído por
outros, talvez em formação de uma quadrilha contra a nossa saúde mental.
Para este pobre
escriba, Drummond explica, numa estrofe de Confidências do Itabirano, a
tristeza detectada por meu amigo sentado á porta de um banco:
“...
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro...”
Para o tumulto
ensurdecedor das vias públicas, no entanto, o nosso poeta não teve uma só
palavra, mesmo porque foi ele de outro tempo, diferente época, apreciou outros
ares. Escreveu ele sobre outro barulho o seu Poema Patético assim:
“Que
barulho é esse na escada?” – escreveu ele...E era apenas coisa leve, mais de sentimentos.
Agora são outros
quinhentos. O poeta não gostaria de ouvir, com certeza. Se já tinha medo de ver
as transformações itabiranas, retornaria na mesma condução em que acabava de
chegar, seja de carro, de ônibus, de trem, de cavalo, ou no primeiro automóvel,
a tal “Que Coisa-Bicho” do
Chico Osório.
E a nova aurora, que não é a mesma de outrora, agora é a destruição de
nossos tímpanos e o anúncio de que vamos para o hospício, em breve. E sem
retorno para a vida normal, nunca!
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