sábado, 11 de março de 2017

A SAGA DE UMA VIRA-LATA MUITO ESPECIAL

Já vou começar assim: Vida, ou Vidinha, aquela cadela que me inspirou a escrever várias crônicas há 17 anos, faleceu. Foi trágico, mesmo sendo morte normal, por idade avançada e coisa assim. Era uma excêntrica e tagarela cachorrinha atrevida, que foi encontrada no Contorno Rodoviário de Itabira, por André Sana, meu filho, e  sua noiva na época, Clarissa Leal. Ela, a futura feliz cachorrinha, estava entre a vida e a morte. Porque sobreviveu, recebeu o nome de Vida, na intimidade Vidinha. Na nossa casa oferecemos pousada para ela até o casamento dos dois. Ela morou e por aqui se engravidou muitas e incontáveis vezes.

Ela deu à luz a 31 cachorrinhos. Desses, 30 eram filhos de um só também vira-lata, embora peludo e bonito. Todas essas três dezenas de caninos sobreviveram e  Vidinha, com o seu peludinho foi extremamente fiel. Quando Vidinha saiu de nossa casa, onde tinha encontros furtivos com o peludo e dele se distanciou, arrumou um filhote com um super vira-latão de três patas. E foi fatal: no parto o filho bastardo nasceu morto. Querem uma lição maior e mais clara que essa? Nem pensar é necessário porque o recado natural foi muito escancarado. Para ajudar nisso, as trompas da Vidinha foram ligadas na Faculdade de Veterinária da UFMG. Vejam que luxo!

Na casa de André e Clarissa, além de Elis e Clara, essas duas minhas netinhas muito lindas, Vida levou uma vida de rainha da Inglaterra, com pompas, séquitos e muito cuidado. O palácio real era dentro de casa em almofadas perfumadas. Lá fora latem, uivam e rosnam não menos que meia dúzia de outros vira-latas. Cuidados especiais somente para Vidinha e Malu. Por incrível coincidência, justamente as duas faleceram recentemente. Malu, mais bonita e charmosa, caiu em problema talvez picada por uma cobra; Vidinha juntou paixão com saudade e velhice. Se ela tinha 20 anos de vida verdadeira, o tempo equivale a 90 longas primaveras, segundo os veterinários e outros especialistas.

Não posso falar de voz alta, ou neste caso grafar com letras maiúsculas, porque senão a mãe adotiva dela me arrebenta de vez. Com pequenininhas letras vou escrever a frase ousada: “Vidinha era feia”. Acrescentando mais um reforço ao adjetivo, digo que “de doer”. E não era muito simpática. Tinha o dom de ser útil para prevenir de alguns assaltos. Certa vez estava dormindo sozinha em nossa casa a minha sobrinha Bethânia. Não sozinha, mas acompanhada pela Vidinha. Um atrevido ladrão entrou pelos fundos para roubar uma moto. A moto era do pai adotivo da Vida. Vidinha latiu até acordar Bethânia que acendeu todas as luzes da casa. O amigo do alheio deu no pé, deixou a mercadoria que seria a sua aquisição maligna para trás. Conclusão: Vida salvou a moto.


Na velhice meio complicada de Vidinha, deu que seus “pais” e “irmãs” tiveram que viajar. E para longe: Londres. O retorno se deu no dia 7 de março. Vidinha, inteligentemente, como sempre (me esqueci de mostrar essa virtude dela), resolveu morrer na véspera, como se fosse um peru quando chega o natal. O aviso fúnebre foi transmitido por WhatsApp. Quando seus donos chegaram, no dia 8, ela já ocupava a tumba de um cemitério escolhido por seu zeloso veterinário. Considerando o fato, previsto por sua avó adotiva, Dona Zilda, registra-se mais um acontecimento na vida incomum de uma cadela muito especial. Descanse em paz, Vidinha!

Nenhum comentário:

Postar um comentário