sexta-feira, 19 de maio de 2017

Por que somos tão babacas assim?

Faz dois dias que o Brasil acordou estupefato. Só se ouvia dizer por aí a frase: “Puxa! Você viu ontem no Jornal Nacional?” Abro um parêntesis para dizer que em nosso país tudo acontece nos jornais da Rede Globo de Televisão. Não somos ninguém, sequer existimos. A famosa Globo pensa por nós, diz por nós e toma decisões por nós. Somos felizes ou infelizes se a dona da audiência concordar. Fecho o parêntesis.

Uma pessoa que conheço mais ou menos desde quando me entendo por gente me surpreendeu de maneira espalhafatosa. Estava irreconhecível, pelo jeito que conheci dela em anos a fio. Dançava, rebolava, requebrava. Comemorava porque o tal de fulano de tal foi apanhado com a mão na massa. Tenho também uma prima muito amada e até idolatrada que me mandou uma mensagem mais ou menos assim: “E agora, o que acha do seu queridinho fulano de tal?”

O pior é que a ficha do brasileiro, ou do ser humano, não caiu foi nada. Entro por estradas nas redondezas e vejo carros com faróis baixos apagados. A lei federal determina: “Faróis acesos e baixos o dia todo”. E, claro, nas noites. Uns estão desligados, outros somente os faroletes acesos, outros nem se sabe se têm faróis. Uma fulana de tal bem instruída, de cursos superiores no cangote (acho que na cabeça só o antigo mobral) me confessou humilde e humanamente que não sabe discernir entre farolete e farol baixo. E tem carteira de motorista há quase dois séculos. Deus do Céu! A ficha fica sempre entalada no brasileiro em tudo. Como buzina nas ruas! Como fura a fila nos self-services! Como interrompe bate-papos! Chega!!!

Mas voltando ao Brasil atônito de anteontem, deu-se a impressão de que, finalmente, estávamos saindo do verdadeiro inferno e nos aportando no legítimo céu. Mas que tolice! Babaquice sem tamanho, vou acrescentar, deixando o ponto de exclamação por conta do cada cabeça. Tirando a Rede Globo, que pensa por nós, age por nós e argumenta por nós, parece que o cidadão mundial acredita piamente que o ser humano é puro, correto, limpo, certíssimo, perfeitíssimo. Mas tem uma anotação que precisa ser feita: somos divinos enquanto não descobrem que há canalhice por trás de tudo. Isso seria cinismo, fingimento ou hipocrisia?

Se me perguntarem o que devo dizer daquele tópico lindo, irretocável, fantástico do Gêneses, na Bíblia, “Deus fez o homem à sua semelhança”, direi técnica e sentimentalmente que é também uma verdade intocável e incontestável. Aí vem a pergunta que não cala nem na boca de idiotas: “Mas será que Deus é assim como os nossos políticos? - Ladrão, safado, corrupto, desgraçado, filho de uma viga ou prostituta? (desculpem-me essa, porque já penso que todos somos iguais, putos e putas)...

No esquentamento de uma suposta crise — uma tia minha me escreveu assim: “O trem tá feio!” — o ser humano não aproveita o barulho da lata e diz de si para si: “Precisamos refletir que se somos divinos, podemos ser, também, filhotes do demônio?”. Ou não parece? Ora um, ora outro, numa alternância insuportável! Minto? Que contradição fica ruminando o nosso interior! Precisamos sair dela. Urgente!

Ora, vou encerrar por aqui. Fico no pensamento de José Saramago: “Aprendi a não convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro”. Mas deixo no ar uma certeza: se continuarmos nessa grotesca canalhice, pode ser que o mundo passe e simplesmente alcancemos diploma de idiotas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário