Faz dois dias
que o Brasil acordou estupefato. Só se ouvia dizer por aí a frase: “Puxa! Você
viu ontem no Jornal Nacional?” Abro um parêntesis para dizer que em nosso país
tudo acontece nos jornais da Rede Globo de Televisão. Não somos ninguém, sequer
existimos. A famosa Globo pensa por nós, diz por nós e toma decisões por nós.
Somos felizes ou infelizes se a dona da audiência concordar. Fecho o
parêntesis.
Uma pessoa que
conheço mais ou menos desde quando me entendo por gente me surpreendeu de
maneira espalhafatosa. Estava irreconhecível, pelo jeito que conheci dela em
anos a fio. Dançava, rebolava, requebrava. Comemorava porque o tal de fulano de
tal foi apanhado com a mão na massa. Tenho também uma prima muito amada e até
idolatrada que me mandou uma mensagem mais ou menos assim: “E agora, o que acha
do seu queridinho fulano de tal?”
O pior é que a
ficha do brasileiro, ou do ser humano, não caiu foi nada. Entro por estradas
nas redondezas e vejo carros com faróis baixos apagados. A lei federal
determina: “Faróis acesos e baixos o dia todo”. E, claro, nas noites. Uns estão
desligados, outros somente os faroletes acesos, outros nem se sabe se têm
faróis. Uma fulana de tal bem instruída, de cursos superiores no cangote (acho
que na cabeça só o antigo mobral) me confessou humilde e humanamente que não
sabe discernir entre farolete e farol baixo. E tem carteira de motorista há
quase dois séculos. Deus do Céu! A ficha fica sempre entalada no brasileiro em
tudo. Como buzina nas ruas! Como fura a fila nos self-services! Como interrompe
bate-papos! Chega!!!
Mas voltando ao
Brasil atônito de anteontem, deu-se a impressão de que, finalmente, estávamos
saindo do verdadeiro inferno e nos aportando no legítimo céu. Mas que tolice!
Babaquice sem tamanho, vou acrescentar, deixando o ponto de exclamação por
conta do cada cabeça. Tirando a Rede Globo, que pensa por nós, age por nós e argumenta
por nós, parece que o cidadão mundial acredita piamente que o ser humano é
puro, correto, limpo, certíssimo, perfeitíssimo. Mas tem uma anotação que
precisa ser feita: somos divinos enquanto não descobrem que há canalhice por
trás de tudo. Isso seria cinismo, fingimento ou hipocrisia?
Se me
perguntarem o que devo dizer daquele tópico lindo, irretocável, fantástico do
Gêneses, na Bíblia, “Deus fez o homem à sua semelhança”, direi técnica e
sentimentalmente que é também uma verdade intocável e incontestável. Aí vem a
pergunta que não cala nem na boca de idiotas: “Mas será que Deus é assim como
os nossos políticos? - Ladrão, safado, corrupto, desgraçado, filho de uma viga ou
prostituta? (desculpem-me essa, porque já penso que todos somos iguais, putos e
putas)...
No esquentamento
de uma suposta crise — uma tia minha me escreveu assim: “O trem tá feio!” — o
ser humano não aproveita o barulho da lata e diz de si para si: “Precisamos
refletir que se somos divinos, podemos ser, também, filhotes do demônio?”. Ou
não parece? Ora um, ora outro, numa alternância insuportável! Minto? Que
contradição fica ruminando o nosso interior! Precisamos sair dela. Urgente!
Ora, vou
encerrar por aqui. Fico no pensamento de José Saramago: “Aprendi a não
convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma
tentativa de colonização do outro”. Mas deixo no ar uma certeza: se
continuarmos nessa grotesca canalhice, pode ser que o mundo passe e simplesmente
alcancemos diploma de idiotas.
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