Gente do mundo
todo, pelo menos os doidos que me leem: detesto entender de futebol! Ou melhor,
detesto achar que entendo. Como mais uma grande ilusão desta parte do universo —
e o que aqui no Planeta Terra não é fraude? — queria ser ignorante total no
esporte mais popular do Brasil. Aqui no mundo de dolo, traição, motejo, gostoso
é ignorar as coisas. Queria entender somente de chuta pra lá, chuta pra cá e,
como diziam no meu tempo de criança e ainda bradam em Portugal, “fura o golo!”
Para provar,
pelo menos para os de boa vontade comigo, que entendo deste riscado, vou tentar
pregar agora algumas lições que aprendi deste maravilhoso esporte. Maravilhoso
porque é um esporte coletivo, que depende de bom entendimento para ser
bem-jogado. Repito que gostaria de ser como aquele personagem de Nelson
Rodrigues que vai ao campo de futebol e não se cansa de perguntar: “Quem é a
bola?”
Regra número 1 —
Todo time bom precisa de ter na meta um bom goleiro. Exemplo: o São Paulo
Futebol Clube não é mais uma boa equipe porque o seu goleiro atual, Renan
Ribeiro, é fraco, não inspira confiança e não lidera. Mesmo assim, o treinador
Rogério Ceni, que foi um dos maiores guarda-metas do futebol brasileiro, e hoje
é treinador do mesmo time, o São Paulo, não enxerga isso. Se enxerga, por que
não exige uma contratação desta. Existe um grande goleiro sobrando no futebol
brasileiro: Rafael, do Cruzeiro, que não deve odiar uma contratação deste
nível.
Regra número 2 —
A chamada “parede de beques”, os dois zagueiros, precisa ter rapazes altos,
boons de cabeça e também limpos no domínio da bola rasteira. Vez por outra um
time perde o jogo porque os dois zagueiros não se entendem, batem cabeça e não
cortam as bolas cruzadas.
Regra número 3 —
O meio de campo precisa ter um bom cabeça de área, aquele que guarnece a
entrada do espaço de defesa. Os outros, talvez mais dois, devem ser os
responsáveis pelas saídas de bola da defesa. Time que não tem essa jogada
perfeita não é time que merece confiança. Diante do futebol moderno, dois bons
alas ajudam bem.
Regra número 4 —
Não é mais o tal camisa 10 tão badalado. Trata-se de um cérebro, aquele que
comanda o espetáculo com habilidade, sabe fazer uma leitura do jogo, joga de
cabeça alta, distribui bem as bolas e chuta também. Este é indispensável.
Entrar em campo sem ele é mero suicídio. Exemplo: ontem o Cazares desempenhou
esse papel e muito bem. Agora o risco: o dia em que ele não jogar, quem fará a
tarefa? Ninguém, por enquanto.
Regra número 5 —
Bons finalizadores. Indiscutível este item. Alguém que chuta dos dois pés e
cabeceia e não um aleijado de direita ou de esquerda. Como exemplo, o Galo tem
dois, Fred e Rafael Moura. O He-Man está em melhor fase. E precisa, para
alternar esquemas de jogo, de velocistas. Ah, armar contra-ataques é um bom
esquema.
Regra final — Um
bom time precisa de “liga”, ou “engrenagens” funcionando. Às vezes um time vai
mal, apesar de ter os mesmos homens em campo. O treinador pensa, arquiteta e
age: coloca um cérebro que liga todos de uma vez. Eis a regra primordial de
quem entende de futebol: um jogador só pode transformar o pior time do mundo,
um tal de Íbis Futebol Clube, em um Real Madri ou Barcelona. E atenção: não se
faz jogador mudar de característica – esse o pecado-mor dos treinadores,
principalmente os brasileiros – para fazer o que o técnico pensa, mas pensar do
jeito que o jogador é. Exemplo: Elias, no Galo, não joga bem atrás. Tem de
fazer um esquema para ele encaixar a sua habilidade. Senão não se precisa dele,
escale outro qualquer, um Pierre ou Leandro Donizete da vida. Repito que essa é
a maior burrice praticada por 99% dos “entregadores de camisa”, como diz o meu
amigo radialista Renato Martinho.
Antes de
encerrar, um apelo dramático ou uma lamentação sincera, humilde e humilhante ao
principal tema destas mal traçadas linhas: meu caro Futebol, não quero entender
de você!
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