Em toda a vida em
que me entendo como gente já tremi em
cima dos sapatos algumas vezes, principalmente, quando ouvia ou lia o seguinte
assunto: o hospital tal, tal e tal corre o risco de fechamento. O motivo é
sempre o mesmo: falta de verbas, falta de recursos, falta de tudo. A ameaça
pesa como uma carga de pedras em burro magro.
Imediatamente
após o tenebroso anúncio, a comunidade em que a casa de saúde está inserida,
mobiliza-se e cai na rua pedindo socorro. Em pouco tempo ocorre uma novidade
exuberante: o hospital não vai mais ser fechado porque a maioria da população impediu,
fez o que pôde e a pátria foi salva. A comunidade, de repente, espalha a boa
nova e volta a dormir tranquila e feliz.
Os fatos já
ocorreram incontáveis vezes com o Hospital Nossa Senhora das Dores, de Itabira,
fundado e dirigido pela irmandade do mesmo nome, em 1867. Algumas
personalidades salvadoras apareceram para liderar o resgate da história e
colocar a entidade em ordem. Cito dois exemplos de baluartes da existência do HNSD:
Dom Mário Teixeira Gurgel, de saudosa memória, e Márcio Antônio Labruna, que
vive aí entre nós, esbanjando energia e motivação.
O Hospital Padre
Estevam, de Santa Maria de Itabira, já tirou a calma e a alegria de viver de
muita gente só com ameaças. Essas nunca foram produzidas externamente, mas
arquitetadas por problemas técnicos e administrativos. Graças à presença constante
do santa-mariense, “garrucheiro”, por obra de coragem intimorata nas suas
determinações, o pior já passou. Felizmente, aí está o valente Padre Estevam
desafiando os pessimistas e os profetas das nuvens negras.
O Hospital
Regional de Guanhães é mais um antigo cliente das crises momentâneas. Já esteve
no CTI várias vezes, com maus agouros de fim de atividades. Com todas as forças
que são possíveis ser sugadas — participação do povo, entrada de políticos em
ação e mobilização dos próprios funcionários — o esteio guanhanense tem se
sustentado. No meio de uma de suas dificuldades, acabou dando um salto
fenomenal: deixou de ser uma casa de saúde apenas de Guanhães para expandir-se regionalmente.
Todos esses
lembretes fiz porque não tenho palavras, compreensão e entendimento para absorver
a estupefata notícia: a Câmara Municipal de Morro do Pilar reuniu-se no último
dia 30 de outubro e decretou, pela decisão de 5 votos a 4, que está
sumariamente extinta a Fundação Hospitalar Joaquim Bento de Aguiar, que se agigantou como
mantenedora do hospital do mesmo nome durante 39 anos.
Em 1978, como presidente da Câmara Municipal de Itabira,
fui convidado a participar da inauguração da casa de saúde de Morro do Pilar.
Recordo-me as salvas de fogos, os aplausos dos morrenses, as bênçãos do Padre
Tarcísio Nogueira, os discursos dos políticos — dentre os quais do prefeito
Geraldo Matos e de deputados. Está vivo em minha memória um trecho do pronunciamento
do deputado José Machado Sobrinho. Ele soltou, parecia, uma bomba atômica no
meio das palavras eloquentes: “Este hospital é uma prova de que Deus não
existe”. Engoliu uma seca saliva, ergueu um copo d’água, consumiu o líquido, e
arrancou gritos da expectativa da multidão que se acotovelava no meio da via
pública: “Repito que Deus não existe; Deus é, simplesmente é!” — fez o verbo
retumbar-se sua abaixo e rua acima.
Em sua metáfora
retumbante, o deputado quis e conseguiu provar que aquele empreendimento tinha,
sim, o timbre sagrado de obra do Criador. E foi ovacionado até o fim da festa. Então,
aí está um óbvio que ressoa como uma benção desde aquela ocasião: o Hospital
Joaquim Bento de Aguiar, também prestigiado pelos prefeitos que governaram no
tempo sequente, e idolatrado pelo povo como uma obra de Deus, repito,
sobreviveu às intempéries de amarguras que assolam praticamente todas as casas
de saúde brasileiras.
Mas, eis que um
fato surpreendeu todos: em plena atividade, esse hospital recebe uma punhalada
nas costas ao ser declarado extinto. Contudo, crime covarde não atinge os maiorais
que são gatos pingados, mas em cheio a gente trabalhadora e sofrida. A reação
vai acontecer? Acredito que sim. Creio que os nobres vereadores morrenses, pelo
menos um dos cinco que foram ludibriados pela sensação de fazer o certo e
correto e agiram em sentido contrário da maioria do povo, vai rever o seu
posicionamento.
A esperança se
reacende na mobilização que começa a ganhar vulto por meio do Ministério Público Estadual. Sentindo a
decisiva manifestação de cidadãos da cidade nas redes sociais, deve buscar, em
primeiro lugar, a anulação da sessão fatídica e espúria de segunda-feira passada;
depois, se preciso for, graças à vontade popular, transformar os 5 a 4 em, quem
sabe, num contundente 9 a 0.
Não há o que
discutir mais. Um comentarista da notícia postada na internet disse o seguinte:
“Uai, o povo de Morro do Pilar não adoece mais?” A resposta seria nada mais,
nada menos a seguinte: “O povo morrense agora é de aço. Esse aço está fabricando
seres imortais, com a volta triunfal ao Morro de Gaspar Soares do
empreendedorismo. E estamos em 1809, a terra é administrada por Manuel Ferreira da Câmara Bittencourt e Sá, o
Intendente Câmara”. Não há justificativa para, numa sessão legislativa, ser tratado
um assunto tão lúgubre, ao invés de algo
promissor. Para justificar o ato só mesmo o seguinte: o mundo acaba de acabar
agora.
Eu já disse: O Clério Lima, o Geraldo Titino, o Padre Tarcísio, o Joaquim Bento e até o Intendente Câmara estão incomodados com a comodidade, falta de visão, fraternidade e até mesmo com a covardia dos que tomaram está decisão. Vamos resgatar e reerguer a Fundação Hospitalar Joaquim Bento de Aguiar. Para o bem dos enfermos e felicidade geral da população morrense.
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